Para defender a Santa Igreja Católica é preciso saber como está se procedendo os ataques, quem são os atores e quais são as instâncias deliberativas no campo administrativo para que a demolição da Igreja como foi construída no passado, venha acontecer. Vejamos o que nos diz o Capítulo III do livro “O Processo Sinodal, uma caixa de Pandora – 100 perguntas e 100 respostas”, na sua 17a. pergunta.
17. Que justificativa teológica é apresentada para a necessidade de escutar?
O Papa Francisco, os organizadores do Sínodo e seus documentos preparatórios insistem ad nauseam nesse ponto: “A totalidade dos fiéis (...) não pode enganar-se na fé: E esta sua propriedade peculiar manifesta-se por meio do sentir sobrenatural da fé do Povo todo, quando este, desde os bispos até ao último dos leigos fiéis, manifesta consenso universal em matéria de fé e costumes (...) Aquele famoso infalível “in credendo” não pode enganar-se na fé”.
Como se justifica teologicamente tal afirmação?
Entre 2011 e 2014, a Comissão Teológica Internacional (CTI) realizou um estudo sobre o significado da fé, que levou à publicação do documento O sensus fidei na vida da Igreja. Esse estudo descreve o senso de fé dos fiéis como “uma reação natural, imediata e espontânea, comparável a um instinto vital ou uma espécie de faro, pelo qual o crente adere espontaneamente ao que está conforme a verdade da fé e evita o que se opõe” (n. 54). Esse aspecto espiritual deriva “da conaturalidade que a virtude da fé estabelece entre o sujeito crente e o objeto autêntico da fé, isto é, a verdade de Deus revelada em Cristo Jesus” (n. 50).
Esse sensus fidei fidelis “é infalível em si mesmo quanto ao seu objeto, a verdadeira fé” (n. 55). Mas não é infalível em cada crente, porque se desenvolve proporcionalmente à virtude da fé. Por isso ele é proporcional à santidade da vida de cada pessoa (n, 57). Além disso, no mundo real as intuições dos fiéis podem coincidir com opiniões puramente humanas, ou até mesmo com erros predominantes em seu contexto cultural.
Por esse motivo, o documento da CTI acrescenta, citando o parágrafo 35 da declaração Donum veritatis da Congregação para a Doutrina da Fé: “Se, portanto, a fé teologal enquanto tal não se pode enganar; o fiel pode, ao contrário, ter opiniões errôneas, porque nem todos os seus pensamentos procedem da fé. Nem todas as ideias que circulam entre o Povo de Deus são coerentes com a fé” (n. 55).
Apesar de não estar dentro da Igreja Católica, aceito a preponderância dela no que diz respeito a fé nos ensinamentos de Cristo e respeito todos os pais da Igreja que procuraram com bom senso e sabedoria fortalecer em nosso psiquismo a verdade do Caminho que o Cristo nos ensinou. Na condição de crente eu adiro espontaneamente ao que está em conforme a verdade da fé, como é o caso de eu aceitar o amor incondicional acima de qualquer outra lei humana e com isso transformar minha forma de conduzir o meu casamento, do amor exclusivo para o amor inclusivo, como já expliquei isso em outras ocasiões dentro deste diário. Mas sei que esse meu posicionamento não é infalível, eu posso estar errado. E eu não tenho uma vida de santidade tão perfeita que me sirva como aliado às minhas pretensões. A minha intuição enquanto fiel pode estar coincidindo com o meu instinto humano, associado a erros do meu contexto cultural. Assim, eu sou uma prova real de que nem todos os pensamentos de fiéis cristãos ser coerentes com a verdadeira fé. Portanto, eu posso estar enganado na fé, o “in credendo” em mim pode estar enganado na fé. E isso pode incluir até mesmo pessoas preparadas dentro dos seminários, quando estas deixam de considerar a prevalência dos ensinamentos do Cristo e passam a valorar outras fontes.