Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
23/06/2024 00h01
PAPA, MAÇOM E NATURALISTA

            O júbilo com o qual o Pequeno Tigre sentia ao imaginar o desfecho de um Papa maçom e naturalista reinando na Cátedra de Pedro, pode muito bem ser desfrutado agora por seus militantes descendentes:



            O objetivo é tão belo que nós devemos necessariamente içar ao vento todas as velas a fim de concretizá-lo. Se quiserdes revolucionar a Itália, olhai o Papa cujo perfil acabamos de descrever. Quereis estabelecer o reino dos eleitos no trono da Prostituta da Babilônia? Que o clero marche sob o vosso estandarte, enquanto acreditam ingenuamente que estão marchando sob o estandarte das Chaves Apostólicas.



            Quereis exterminar o último vestígio dos tiranos opressores? Lançai vossas redes como Simão Bar-Jonas! Lançai-as profundamente na sacristia, nos seminários e nos mosteiros, ao invés de no fundo do mar. E se não vos apressardes, vos prometemos uma pescaria mais milagrosa do que essa!



            O pescador de peixes se tornou um pescador de homens. Vós também pescareis alguns amigos e os conduzireis aos pés da Sé Apostólica. Vós tereis pregado revolução em tiara e pluvial, precedida pela cruz e pelo estandarte, uma revolução que necessitará tão-somente de uma pequena ajuda para incendiar as regiões do mundo.



            O plano do Pequeno Tigre não inclui panfletos, armas, derramamento de sangue ou mesmo eleições políticas. Ele requer uma infiltração passo a passo, primeiro entre os jovens, depois no clero, e então, à medida que o tempo passar, entre aqueles dentre os jovens e o clero que se tornarem cardeais e, então, o Papa.



            O Papa Gregório XVI foi o primeiro a adquirir o documento da Alta Vendita, o que situa sua composição provavelmente nos anos do seu pontificado, de 1831 a 1846. Em 1832, ele emitiu a encíclica Mirari vos, sobre o liberalismo e indiferentismo religioso. O documento foi escrito contra “os homens insolentes e facciosos que se esforçaram para erguer o estandarte da traição”. O Papa Gregório XVI escreve contra o que parece ser uma Revolução Francesa sendo impulsionada de dentro da Igreja Católica. Em Mirari vos, ele analisa e condena sete erros correntes que invadem os corações dos católicos:




  1. A abominável conspiração contra o celibato clerical;

  2. Qualquer coisa contrária à santidade e indissolubilidade do honrado casamento dos cristãos;

  3. Indiferentismo. Essa perversa opinião está difundida por todos os lados pela fraude dos perversos, os quais sustentam ser possível obter a salvação eterna da alma pela profissão de qualquer tipo de religião, desde que a moralidade seja mantida;

  4. A proposição errônea a qual a liberdade de consciência deve ser necessariamente garantida a qualquer um;

  5. A liberdade de publicar o que quer que seja e de disseminar isso para o povo... sendo que nós lemos que os próprios apóstolos queimaram um grande número de livros.

  6. Ataques à confiança e à submissão devidas aos príncipes; as tochas da traição estão sendo acesas em todos os lugares;

  7. Os planos daqueles que desejam veementemente separar a Igreja do Estado, e quebrar a concórdia mútua entre a autoridade temporal e o sacerdócio.



            Católicos atuais podem ficar chocados ao constatar que papas em nossos dias defendem os opostos diametrais dessas condenações estabelecidas em 1832. Documentos papais e conciliares correntes, e o direito canônico, abriram passagem para o casamento clerical, o divórcio e o novo casamento, a liberdade de consciência acima da lei moral objetiva, a liberdade de imprensa, a rebelião política, e a completa separação entre a Igreja e o Estado. Entre o pontificado de Gregório XVI e o nosso tempo, a trama da Instrução Permanente da Alta Vendita de fato se enraizou profundamente.



            O sucessor de Gregório, Papa Pio IX, incentivou Jacques Crétineau-Joly a publicar o texto integral da Alta Vendita em 1859. A trama para enxertar “nossas doutrinas nos corações do clero jovem e nos monastérios” estava sem dúvida na mente do Papa Pio IX quando ele emitiu seu Programa de Erros em 1864, o qual explicitamente atacava os oito erros da maçonaria e dos Carbonari, divididos em 10 seções:




  1. Contra o panteísmo, o naturalismo e o raciocínio absoluto;

  2. Contra o racionalismo moderado;

  3. Contra o indiferentismo e o latitudinarismo;

  4. Contra o socialismo, o comunismo, as sociedades secretas, as sociedades da Bíblia e as sociedades clericais liberais (uma condenação geral, não numerada;

  5. Defesa do poder temporal nos Estados Papais, o qual fora derrubado seis anos antes;

  6. Relacionamento da sociedade civil com a Igreja;

  7. Da ética natural e cristã;

  8. Defesa do casamento cristão

  9. Poder civil do Pontífice soberano nos Estados Papais;

  10. Contra o liberalismo em toda a forma política.  



Os maçons lutavam pela deificação panteísticas dos seres humanos – assim como Satanás lutara pela deificação panteística dos seres angélicos. E uma vez mais, a guerra preternatural chegou à Terra. Em alguns poucos anos apenas, os maçons concluíram a derrubada da independência política do papado e o Papa Leão XIII iria ver misticamente demônios se reunirem em Roma.



Dentro deste contexto fica compreensível que seja necessário a vinda de Cristo mais uma vez para perto de nós. Talvez seja necessário também a vinda de um precursor para advertir mais uma vez a multidão dos incautos que não estão percebendo o ataque das trevas.


Publicado por Sióstio de Lapa
em 23/06/2024 às 00h01