O pecado venial não traz a morte à alma, mas sim uma ferida. Não é ofensa grave, mas é ofensa a Deus. Não é um mal tão grande quanto o pecado mortal, mas é o pior de todos os males que podem sobrevir a uma criatura.
Desses pecados veniais uns são deliberados, outros não. Os indeliberados, isto é, os que se cometem sem plena consciência ou sem o perfeito consentimento, são menos culpáveis, e nestes caem todas as pessoas. Segundo a Igreja Católica, somente Maria Santíssima teve o privilégio de ser isenta deles.
Mais culpáveis são pecados veniais deliberados ou premeditados, feitos com plena vontade e conhecimento, e mais ainda se são cometidos com uma certa adesão ou apego da vontade, como certos rancores, certas ambições ou certas afetações radicais.
Aqueles que não fazem caso dos pecados veniais, que não se emenda, está próximo em cair em algum pecado mortal. Quanto mais os comete a alma, mais ainda se enfraquece, e ainda mais forte se torna o demônio, e Deus diminui seus auxílios. Está previsto no livro bíblico do Eclasiastes: Aquele que descuida das pequenas coisas, pouco a pouco cairá (19.1). Procuremos fugir dos pecados que por si só podem fazer-nos infelizes nesta vida e principalmente na outra.
Podemos ilustrar com dois exemplos que estão contidos no livro Instrução aos católicos. Diz Paládio que certo eremita, estando em um deserto, rezava noite e dia, levando uma vida austeríssima, pela qual era por muitos honrado. O infeliz teve certa estima a si mesmo, e estava seguro de suas virtudes para perseverar e salvar-se. Mas, aparecendo-lhe o demônio em forma de mulher, o infeliz não soube resistir a tentação e caiu. No momento em que caiu, rompeu o demônio em uma grande risada. Passado isso, deixou o deserto e voltou à vida mundana e se abandonou a todos os vícios, mostrando com seu exemplo quanto perigo há em confiar nas próprias forças.
Mais terrível ainda foi o caso do frei Justino, o qual após ter recusado destinos muito honoríficos que lhe havia oferecido o rei da Hungria, fez-se religioso de São Francisco, e se adiantou tanto na vida espiritual que tinha frequentes êxtases. Um dia, estando no altar no convento de Aracoeli foi arrebatado pelos ares, e todo o mundo o viu ascendido prodigiosamente para venerar uma imagem da Santa Virgem que estava sobre a parede. Por esse fato o Papa Eugênio IV mandou chamá-lo, abraçou-o e, fazendo-o sentar, teve com ele uma longa conversa. O miserável se envaideceu por um favor tão distinto, tanto que, ao vê-lo, São João de Capistrano disse-lhe: Irmão Justino, partistes anjo e voltastes demônio. E tendo progredido desde então com vícios e em orgulho, chegou a matar outro frei com uma facada. Depois fugiu para Nápoles, onde cometeu muitos outros crimes e morreu apóstata em uma prisão.