Lendo Huberto Rohden no seu livro “Filosofia Cósmica do Evangelho” encontrei trechos interessantes que irei colocar aqui 3 deles para nossa reflexão, sendo este é o segundo:
É fora de dúvida que a moral pré-mística, anterior à experiência direta de Deus, é um teste e uma prova de fogo pela qual o homem tem de passar, é o vasto e doloroso deserto que medeia entre o Egito da velha escravidão e o Canaã da futura liberdade; esse Canaã é para o simples crente um país longínquo, no tempo e no espaço, ao passo que o horroroso deserto da sua renúncia diária é fato cruciantemente propinquo.
Entretanto, segundo as eternas leis cósmicas do espírito, tempo virá em que essa moral pré-mística, difícil, se converterá numa ética pós-mística, fácil. Chegará para o crente sincero o dia em que a amarga medicina do duro dever moral passará a ser um laudo festim de suave querer espiritual, dia em que ele saberá por experiência que o “jugo é suave e seu peso é leve”. E em que poderá dizer com o Mestre: “O meu manjar é cumprir a vontade do meu Pai”.
Quando o homem tiver atingido, através de sucessivos estágios evolutivos, as últimas alturas dessa “gloriosa liberdade dos filhos de Deus”, em que o ser-bom é o mesmo que ser-feliz, e o ser-feliz interior transborda irresistivelmente num ser-bom exterior – então saberá ele o que quer dizer “Filosofia Cósmica do Evangelho”.
O Cristo veio redimir uma humanidade profundamente materialista, era natural que Ele insistisse muito mais na necessidade de recusar do que de usar coisas do mundo material. Quem está habituado a abusar, do mundo, como todo pecador, tem de recusá-lo radicalmente antes de o poder usar corretamente; portanto, “o Cristianismo é uma afirmação do mundo que passou que passou pela negação do mundo”.
E até o presente dia é muito mais importante proclamar o Evangelho do recusar do que o Evangelho do usar, porque o abusar é ainda o grande pecado original desta humanidade profana. É até perigoso recomendar a um abusador do mundo que use esse mundo, porque ele confundirá fatalmente o uso correto com o abuso incorreto a que está habituado; e o seu complacente egoísmo facilmente lhe fará crer que é um homem cósmico, quando não saiu ainda das baixadas do homem telúrico.
Isto, todavia, não invalida a nossa tese de que o Cristianismo é, em sua íntima essência, a religião do uso, ou seja, da afirmação do mundo – naturalmente para os que já se libertaram da velha escravidão do abuso das coisas materiais.
É mais fácil recusar radicalmente o mundo do que usá-lo corretamente. Só quem é perito no recusar é que pode ser mestre no usar. O homem cósmico tem de passar pela escola ascética da disciplina espiritual, a fim de atingir a “gloriosa liberdade dos filhos de Deus”. Esta é a Filosofia Cósmica do Evangelho.
Ser competente no recusar para se tornar mestre no uso das coisas materiais, parece ser uma boa tarefa para alcançar um nível mais alto de evolução espiritual.