Na Bíblia está escrito que o homem pode deixar sua casa, sua mãe e irmãos e se unirá a mulher, fará com ela um só corpo, carne da mesma carne, sendo o homem o cabeça do casal. Esta é uma missão difícil de ser cumprida, pois não depende da vontade, pensamentos e motivações de uma só pessoa, e sim de duas.
Eu me esforcei bastante para cumprir essa orientação bíblica, chegando ao cúmulo de quebrar o meu tradicional preconceito machista e me sentir bem permitindo a minha companheira sair para encontros afetivos com outras pessoas, pois isso era o que ela queria e o que a fazia sentir bem, e o que eu fazia também. Como ela era carne da minha carne, eu tinha que sentir o mesmo prazer que ela estava sentindo, mesmo que os meus instintos protestassem e fizessem pressão psicológica no campo mental para eu não permitir tamanho agravo à minha posição de macho e de respeitabilidade dentro da comunidade. Mas o meu espírito resistia, sintonizado com a coerência bíblica. Acontece que minhas companheiras não tinham essa mesma perspectiva bíblica, deixavam se levar pela raiva instintiva quando percebiam que eu estava trocando afetos com outras pessoas. Eu não conseguia deixar de me comportar da forma que eu considerava correta e de acordo com a vontade de Deus, e elas não conseguiam tolerar o meu comportamento, instigada pelos instintos e pela pressão social quando os parentes e amigos as criticavam quando percebiam o que estava acontecendo.
Dessa forma fui expulso da casa que construí para morar com elas, de forma violenta, inclusive, mesmo eu sendo pacífico e jamais as tendo agredido com palavras ou atos. Aceitava o meu destino e ia pelo mundo cumprindo o meu destino. Devido a minha índole pacata, solidária e afetiva, logo chegavam outras pessoas se sentindo bem ao meu lado e querendo consolidar uma nova união. Mas eu já estava “escaldado” com duas, talvez três ou quatro experiências malsucedidas de manter uma união estável.
Não deixo que ninguém que se aproxime de mim fique enganada sobre a minha forma de pensar e agir. Mesmo que alguém pense e confirme que vai me entender e tolerar a minha forma de manter esse comportamento que afirmo ser irredutível, pois está associado aquilo que imagino ser a vontade de Deus para mim. Mas será justo que eu afaste quem garante que vai me suportar e chegar ao nível que eu cheguei, de ser uma só carne, sentindo o prazer que eu sinto quando troco afetos com outras pessoas?
Pode existir interesses materiais com a formalização dessa união estável. Para mim não importa perder bens materiais quando a união é rompida. Posso sair pelo mundo novamente como Jesus andava, sem ter um teto para lhe acolher, uma conta bancária para lhe sustentar. O que importa para mim é a missão espiritual, de amar sem barreiras, sem preconceitos mundanos. A minha fidelidade prioritária é com o amor à Deus, de fazer a Sua vontade, e de nenhuma outra pessoa neste mundo material ou espiritual. Não quero andar escondido, mantendo falsas aparências, quando sinto que estou no Caminho da Verdade que o Cristo ensinou.
Será que a pessoa que quer formalizar comigo mais uma união estável está pronta para enfrentar um desafio tão forte, capaz de resistir as críticas externas de parentes e amigos e ainda por cima os seus próprios instintos animais de posse? Posso pensar em duas possibilidades para que ela demonstre que sua decisão de ser carne da minha carne dentro de uma união estável formalizada: a primeira, a união estável seria formalizada com completa transparência para parentes e amigos. Não quero cometer os mesmos erros que cometi antes, vivendo em uma união estável formalizada, mas com todos pensando que eu estava obedecendo aos mesmos princípios culturais, de manter uma fidelidade afetiva dentro da relação, e me considerando traidor quando percebiam que a realidade era outra; a segunda possibilidade seria a de formalizar a união estável dentro de um segredo que cabe apenas a nós dois, que todos saibam que temos a liberdade de fazermos o que achar mais importante, independente da vontade do outro, pois não existe um contrato formal.
Estas são as duas formas que eu me sentiria mais confortável, pois não estaria fazendo coisas erradas, como dividir o meu amor com outras pessoas e trair uma relação que implica na fidelidade comportamental.
Resumindo, se formalizo a união estável de forma pública, os votos devem ser também públicos, para ninguém cobrar de mim o que não posso fazer; e segundo, se formalizo a união estável de forma privada, os votos não são necessários ser públicos. Mas, a qualquer momento que se queira publicar a união estável, também deve ser publicado os votos. Acredito que desta forma a justiça está sendo feita, e se eu for, mais uma vez expulso da união, pelo menos não sairei com o carimbo de traidor, que nunca mereci.