Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
12/08/2024 00h01
O DISCÍPULO RANZINZA

            Fui a uma festa de aniversário de uma pessoa humilde, mas afoita o suficiente para preparar comida para 600 pessoas. Eu não pensava que seria um evento com tantas pessoas e com baixa espiritualidade.



            Foi assim que entendi logo que cheguei. Um paredão de som em grande altura, tocava músicas dançantes de conteúdo erótico. As pessoas falavam alto para se poderem ouvir, alguns se requebravam ao redor das mesas e a maioria entornava copos de bebidas alcoólicas.



            Fiquei sentado num local onde uma amiga cedeu uma cadeira, cumprimentei alguns presentes e fiquei observando o que acontecia ao redor com um olhar crítico. Como seria possível tantas pessoas reunidas para comemorar um aniversário, e ninguém sintonizava com a espiritualidade, era somente um festival de pessoas dominadas pelos instintos da carne?



            Eu ficava protestando intimamente, no silêncio de minhas elucubrações. Por que tantas pessoas se reúnem em ambiente fraterno e nada do lado espiritual se torna manifesto?



            Assim pensando de forma ranzinza com todos aqueles convidados que estavam mergulhados nos prazeres da carne, foi que as 18h resolvi voltar para casa. Durante o caminho no meu carro, com o brilho da estrela d’alva a iluminar a estrada, estrela que no meu tempo de adolescência sempre evocava em minha alma o desejo de fazer a oração da Ave-Maria, fez mais uma vez eu repetir o velho ritual e uma nova reflexão chegou à minha mente, como uma firme admoestação.



             “Por que você não se comportou como um digno discípulo de Cristo sem ter o medo do peso da cruz que deve carregar? Você sabe que deve se comportar como um pequeno foco de luz para iluminar a mente das pessoas, deve se comportar como o fermento no meio da massa e silenciosamente transformar o ambiente. Você estava certo em suas considerações, aquelas pessoas estavam totalmente envolvidas nos prazeres da carne, o espírito estava encolhido, imerso nos odores do álcool, nos requebros e vozerios do corpo. Quem poderia ali despertar o espírito? Iluminar a mente entorpecida? Brindar a aniversariante com palavras de salvação? Colocar o fermento divino na massa de prazeres mundanos? Que levassem à reflexão dos erros que se cometem, às vezes inconscientemente? Era tu, Francisco! O discípulo preparado por Deus para agir assim naquela ocasião. Mas você escolheu, simplesmente, por não haver o peso da cruz, de fazer críticas condenatórias aos seus irmãos que vivem mergulhados em ambientes de alta periculosidade para o espírito. A sua própria carne escolheu não seguir os passos do Cristo e levar a Sua palavra naquele ambiente com medo do peso da cruz, de ser visto como um carola, de interromper a música onde todos brincavam e festejavam para trazer palavras que a maioria não queria ouvir, de ser uma pessoa inconveniente”.



            Com esta reflexão, percebi a dimensão do meu erro, fui reprovado num teste tão simples, onde o meu espírito não conseguiu se manifestar na arena da minha mente, onde predominava simplesmente os arroubos do Behemoth, fazendo críticas generalizadas aos irmãos que esperavam a palavra que eu estava preparado para falar.



            Eu continuava dirigindo o meu carro de volta para casa, mas agora não podia ver tão claramente, com meus olhos marejados, nem a estrada nem o brilho da minha estrela d’alva que me levou a esta reflexão. Simplesmente deixei a direção do carro no automatismo da minha mente e dirigi ao Pai, mais uma vez o meu pedido, com extrema humildade e desespero na alma: Pai, dá-me, inteligência rápida, sabedoria e coragem para fazer a Tua vontade e não a minha!


Publicado por Sióstio de Lapa
em 12/08/2024 às 00h01