Tenho dificuldade de manter um relacionamento com uma pessoa que pretende ser minha companheira. Cada uma que conheci pretendia viver comigo para sempre, mas de acordo com os limites que a consciência de cada uma colocava. E esses limites sempre eram incompatíveis com o senso de liberdade que para mim é precioso.
Cada uma das companheiras que resolveram conviver comigo esperavam que eu dedicasse um amor exclusivo, que a minha forma de amar integral, amor que pudesse chegar até a intimidade sexual, deveria ser dirigida somente a elas e a mais ninguém.
Por outro lado, a minha compreensão da vida, e seguindo fielmente as lições que o Cristo deixou, era de que o meu amor deveria ser incondicional, reconhecer Deus como o Pai criador de todos nós, e por esse motivo todos somos irmãos e que devemos nos amar fraternalmente, fazendo ao próximo o que desejamos ser feito a nós, ou, não fazendo ao próximo aquilo que desejamos não ser feito a nós.
Seguindo esse princípio cristão, para ser fielmente realizado, de acordo com o veredicto da minha inteligência, aquela pessoa que deseja trocar afetos comigo e se o meu desejo é recíproco, e se eu estivesse no lugar dela desejaria que o afeto fosse realizado, dessa forma tenho por dever realizar.
A todas candidatas para conviver comigo, eu digo de antemão como é o meu pensamento e prática, para nenhuma delas entrar no relacionamento enganada. Elas resolvem tentar a convivência e que acreditam que podem suportar ou que eu mude o meu pensamento e comportamento. Isso não acontece, e quando acontece de eu me envolver com outra pessoa, sou repudiado e geralmente com o epíteto de traidor.
O caro leitor que me acompanha pode muito bem concluir que eu não mereço esse rótulo de traidor, pois todas sabiam do que poderia acontecer, o que estava programado em minha consciência com o selo do divino.
No último relacionamento que estava participando, a pessoa também ficava incomodada quando percebia a minha troca de afetos por outra pessoa. Resistia a tentação de me expulsar da sua vida e continuava no convívio comigo. Talvez sentisse a frustração de não me ver modificado, mas eu nunca imaginava que o comportamento dela iria justificar a traição, diferente do meu que já estava esclarecido que não era traição.
Eu sentia que ela flertava com outro relacionamento, mas ela sempre estava advogando uma união estável entre nós, que não iriamos trocar a nossa companhia por outra. Então eu ficava tranquilo, apesar dos seus flertes fora de nossa relação. Imaginava que eu também flertava e trocava afetos por outra pessoa, mas não estava em cogitação eu ir com essa outra pessoa, trocar a minha convivência com ela e deixar minha companheira a “ver navios”.
Mas aconteceu o que eu não esperava. A minha companheira tão firme na sua expressão de ter uma união estável comigo e que não me trocaria por nenhum outro relacionamento, certa noite quando já estava à caminho de casa recebo telefonemas de amigas de que a minha companheira tinha avisado que estava de partida para outro relacionamento.
Todos ficaram perplexos, mesmo que tivessem notado que ela estava diferente há alguns dias. Será que estava preparando esse momento? Mas ela não estava sempre me afirmando uma união estável, que não trocaria por nenhum outro relacionamento? Quando cheguei, realmente ela não estava me esperando em casa como sempre acontecia, me dizendo amor profundo e que eu era tudo para ela. Entendi logo. Era verdade o que me foi dito pelo telefone.
Ela deixou o lar e foi em busca de outro relacionamento. Então, isso não consiste uma traição? Não é justo o sentimento de ter sido traído por uma pessoa que até pouco tempo dizia que nunca iria terminar o relacionamento comigo?
Mas a corrida para esse outro relacionamento terminou não se concretizando, alguns parentes e amigos foram avisados e a resgataram do caminho para essa fuga. A levaram para o hospital e foi ali que a encontrei. Estava sonolenta, inebriada pelos prazeres do novo relacionamento enquanto um soro descia por suas veias. Olhei compadecido para seu olhar mortiço, pedindo para voltar para casa.
O médico do plantão orientou que era caso de internação, pois ela queria viver um outro relacionamento, deveria ficar sob vigilância severa para ela não conseguir o que queria e que o médico e todos ao redor dela achavam que não era bom deixar o relacionamento comigo e partir para outro.
Eu não poderia a obrigar a viver comigo, não é do meu feitio obrigar ninguém a fazer nada contra sua vontade consciente. Se ela está determinada a viver um outro relacionamento, eu não posso induzi-la ao contrário, pois poderia estar advogando em causa própria, querendo o meu conforto sem pensar na felicidade, no desejo do outro.
Se é uma questão de patologia, de doença, tem que ser diagnosticado e tratado por outro médico, eu me sinto impedido de conduzir tal terapia. Devo ficar à distância para não interferir nos resultados mais coerentes com a vontade da minha ex-companheira.
Devo trata-la assim, pois ela já tomou a decisão de ter um outro relacionamento. Decidiu não ser mais a minha companheira. E devo respeitar a sua vontade, pois se eu estivesse no lugar dela, desejando outro relacionamento, eu adoraria ter ajuda para realiza-lo. Mesmo que todos ao redor considerassem errado, covardia, loucura.