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02/09/2024 00h01
ILUMINISMO POR MARCELO E LUCAS (01) INÍCIO

            A Brasil Paralelo levou para a entrevista no programa Conversa Paralela, conduzida por Arthur Morrison (AM) e Lara Brenner (LB), os professores Lucas Lancaster (LL) e Marcelo Andrade (MA). Como é um tema de grande importância para compreendermos o mundo em que estamos, onde estávamos e para onde estamos indo, resolvi colocar aqui de forma resumida. Primeira parte.



            LB - Vamos situar no tempo e no espaço, qual foi o século do Iluminismo, quando ele comecou, se há divergências a respeito disso... se comecou de fato na França...



            MA – Há divergência quanto a periodização. Alguns autores colocam no começo do século XVIII, 1713, e colocam o fim em 1789 com o começo da Revolução Francesa. Outros estendem para frente e para trás. Alguns dizem o começo no século XVII, já no tempo de John Locke e estende até a morte de Immanuel Kant, no começo das guerras napoleônicas, em 1804. Mas no foco ninguém diverge, que o auge do Iluminismo foi o século XVIII, desde o comecinho até a Revolução Francesa. É mais correto colocar pelo menos o final até 1804, quando morre o Kant. Mas é uma questão de interpretação e não de fato.



            AM – Comecou onde, foi na França?



            MA – Teve vários iluminismos. Na Escócia, na Inglaterra, na Prússia, agora o principal foi na França, quando a gente fala na alma do Iluminismo, com figuras como Voltaire, Montesquieu, Diderot... é francesa, mas comecou na Inglaterra, foi importado.



            LB – Quando se fala em Iluminismo se pensa em luz. Por que luz, e em contraposição a que? Nós vivíamos nas trevas? Qual era o contexto em o Iluminismo acendeu (ascendeu?)?



            LL – A ideia que se tem, aquilo que nos é passado nas escolas... um movimento intelectual que surgiu na França, em opressão à monarquia absoluta. É assim que geralmente as pessoas imaginam o Iluminismo.



            LB – As trevas viriam dessa monarquia?



            LL – Todo o status quo que existia na França pré-revolução e que estava relacionada com um governo absolutista, expressão que surgiu no curso da Revolução Francesa, não existia antes. Que é um movimento intelectual que se levantou para substituir um governo injusto por uma realidade mais justa. Mas o Iluminismo não é isso, é muito mais, é um movimento filosófico, literário e ideológico, que tinha como pretensão mudar toda uma cosmovisão existente. Não apenas em matéria política, seria apenas consequência de uma mudança de base que não estava relacionada somente com a monarquia ou ao governo francês de então. Claro que o Estado, sobretudo no reinado de Luis XV, os últimos anos de Luis XIV e o reinado de Luis XV, foram ambientes propícios para essas ideias frutificar. Esse contexto era um pretexto para um movimento já existente de substituição de cosmovisão. Uma definição perfeita de Iluminismo, de Kant, que no final desse movimento ele define o Iluminismo ou esclarecimento num texto que nas primeiras palavras ele resume bem: “O esclarecimento ou iluminação é a saída do homem do estado de menoridade, do qual ele próprio é culpado. Quando o homem não se deixa guiar pelo seu próprio entendimento e permite ser conduzido por outrem. O Iluminismo seria uma saída da menoridade da humanidade”. Neste caso, a humanidade amadureceria para que o indivíduo pudesse guiar-se pelo seu próprio entendimento.



            LB – Então seria a figura central do Iluminismo o próprio homem.



            LL – Perfeito. Tem um autor, muitos séculos antes do Iluminismo, que é o sofista Protágoras, que ele dá o tom do que é o Iluminismo. Ele dizia que o homem é a medida de todas as coisas. Isso é o Iluminismo.



            Esta primeira parte coloca de forma clara, a origem do movimento que tenta mudar a cosmovisão do Cristianismo, onde a obediência a vontade de Deus é o motor do comportamento social, das relações interpessoais, para dispensar esse freio comportamental que possuímos no sentido de deixar livre nossos anseios egoístas. Em nome da liberdade dos limites impostos por Deus, que abrange a todos, vamos terminar na escravidão da maioria imposta por uma minoria com maior poder, bélico ou financeiro.


Publicado por Sióstio de Lapa
em 02/09/2024 às 00h01