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03/09/2024 00h01
ILUMINISMO POR MARCELO E LUCAS (02) TEMPLO DA RAZÃO

            A Brasil Paralelo levou para a entrevista no programa Conversa Paralela, conduzida por Arthur Morrison (AM) e Lara Brenner (LB), os professores Lucas Lancaster (LL) e Marcelo Andrade (MA). Como é um tema de grande importância para compreendermos o mundo em que estamos, onde estávamos e para onde estamos indo, resolvi colocar aqui de forma resumida. Segunda parte



            AM – Quando se diz, o homem no centro, é por isso que os iluministas lutam contra a religião, entendida como uma autoridade, e que o homem não teria capacidade de organizar e cuidar da sua própria vida?



            MA – Antes de chegar nesse ponto, quando você pensa no Iluminismo você pensa imediatamente na Idade das Trevas. Quem criou o termo Idade das Trevas foi Petrarca, mas em outro sentido. O termo aplicado ao que nós chamamos de Idade Média como Idade das Trevas surgiu no Renascimento. Haveria três idades: a Idade Antiga, a Idade Média e a Idade do Iluminismo. Sendo a Idade Média a Idade das Trevas e depois viria o Iluminismo. Quem desenvolveu a teoria das três idades foi Joaquim de Fiori, uma influência joaquinista. Estabeleceu-se Idade Antiga, Idade Média e Iluminismo. Muitos dos elementos do Iluminismo pegam do Renascentismo, que foi tudo, menos algo racionalista. Estava cheio de coisas místicas, esotéricas, cabalistas, gnósticas. O Renascimento comecou com o Humanismo que foi se desenvolvendo, se desdobrando e depois vem o empirismo, revolução científica até chegar no Iluminismo que tem ao mesmo tempo o culto ao homem e o culto da razão. Muitos desses traços do Iluminismo vão chegar em Auguste Comte que vai ter até o Templo da Razão. Na Revolução Francesa existiu o Templo da Razão. Foi um movimento no qual o homem estava no centro de tudo, principalmente sua razão.



            LB – Nós trazemos essa palavra “razão” com bastante frequência quando falamos do Iluminismo. Então a racionalidade, a razão, todo um elemento que se contrapõe à questão da fé. É como se o tempo inteiro o homem estivesse se colocando como racional, trazendo a razão, sua própria razão para o centro da questão. Porque isso seria um jeito de combater aquela escuridão da fé, colocando essas duas coisas como contrapostas. Havia de fato uma contraposição no período que antecede o Iluminismo, à razão? Havia um ódio à razão?



            LL – O conceito que os iluministas têm de razão é uma ideia desenraizada da realidade. A razão iluminista, alicerçada na filosofia cartesiana de Rene Descartes, não é uma razão tal como os gregos e os medievais compreendiam. Quando observamos a mentalidade iluminista, veremos que é tudo menos racional. Ela é racionalista porque reduz toda possibilidade de conhecimento humano a essa razão que na prática se converte em uma faculdade ilimitada e que tudo pode realizar. Através da sua razão o homem pode destruir o que existe, colocar no chão como fazia Voltaire, e construir um novo a partir das utopias e do que ele acha justo, adequado e bom, que é o que fazia Rousseau. O que o Iluminismo faz por trás dessa fachada de trazer luminosidade para a vida humana, o que se faz é fechar a vida humana em certas construções teóricas desenraizadas da realidade, desenvolvida por alguns indivíduos.



            Podemos ver que o termo “razão” foi sequestrado pelas novas formas de pensar, como se nos períodos anteriores não existisse razão. Tudo que nós construímos desde o tempo das cavernas tem o toque da racionalidade. O desenvolvimento do Cristianismo foi o grande triunfo da racionalidade, tirando o homem de uma estrutura de barbárie, da lei do mais forte, que implica em constantes guerras fratricidas com grande poder de destruição e sofrimento, para uma sociedade mais fraterna onde o amor pode ficar acima dos instintos animais. A vitória da racionalidade cristã, conquistando inicialmente o poderoso e perseguidor império romano foi uma amostra dessa forma de pensar e agir religiosamente. Mesmo que os seus agentes tivessem consigo a preponderância dos instintos animais, da luta pelo poder, mas colocava nesse ponto a racionalidade cristã como arma de combate. Portanto, dizer que os iluministas foram o descobridor da razão e que chegaram até a criar uma religião com templos e rituais nesse sentido, é mais uma artimanha populista para mudar a cosmovisão existente para outra, usando como massa de manobra os inúmeros ignorantes que se movem em busca dos seus interesses pessoais, próprios do egoísmo animal. Os iluministas revolucionários que proveram o banho de sangue na França, percebem hoje o fiasco de suas primeiras ações racionalistas criando a religião da razão, que hoje poucas pessoas conhecem essa faceta dos revolucionários, como eu. Eles continuam exibindo como símbolo do sucesso a bandeira tricolor com os temas de Liberdade, Igualdade e Fraternidade como motor condutor das massas e que se repete até hoje com suas falsas aplicações, onde podemos ver que na práticas eles fizeram totalmente o inverso do que prometiam.


Publicado por Sióstio de Lapa
em 03/09/2024 às 00h01