A Brasil Paralelo levou para a entrevista no programa Conversa Paralela, conduzida por Arthur Morrison (AM) e Lara Brenner (LB), os professores Lucas Lancaster (LL) e Marcelo Andrade (MA). Como é um tema de grande importância para compreendermos o mundo em que estamos, onde estávamos e para onde estamos indo, resolvi colocar aqui de forma resumida. Terceira parte
MA – O que era chamado de Idade das Trevas mostra um desprezo completo pela tradição e muitas coisas que são relacionadas com o Iluminismo, que quem é favorável não gosta de divulgar, por exemplo, o trabalho do Rousseau quando ele analisa da “Vontade Geral”, onde autores como Talmon e Johnson, e outros, relacionam como um princípio do Totalitarismo moderno. Rousseau coloca claramente, quando ele estuda a Grécia antiga, ele dá razão para Esparta que era a versão totalitária da Grécia antiga, em detrimento de Atenas. O Rousseau desprezava expressamente quando ele deu as cartas em resposta a Sociedade, ele falava que as artes e a ciência estavam prejudicando a civilização. Ele chegou a criticar a razão, na realidade ele entrou em contradição, uma hora elogia, outra critica. Muitos colocam ele como anti-iluminista por ter exaltado o irracionalismo. Essa questão da “Vontade Geral” é muito pouco explorada em Rousseau. Quando falam de Rousseau só querem falar do “Bom Selvagem”, que aliás é ridículo, mas esquecem da “Vontade Geral”, que foi um princípio que teve desdobramentos e foi um dos fundamentos do Totalitarismo moderno. Para ele, depois das pessoas terem compreendido o que seria essa misteriosa “Vontade Geral”, deveria ser imposta para a sociedade com um Estado forte e que todos deveriam obedecer. Dizia também que o individualismo deveria ser dissolvido no Estado. Isso foi o Totalitarismo no século XX. Tem um pouco de Hegel que veio depois. É o mesmo traço na mesma visão do que Hegel vai desenvolver depois. Sim, Rousseau foi um dos pais do Totalitarismo moderno. Robespierre leu Rousseau, Napoleão leu Rousseau, Marx se baseou muito em Rousseau... então vemos aí que autor terrível que foi o Rousseau, inspirador do Totalitarismo, de um racionalismo e do individualismo de uma sociedade atomizada.
Esse aspecto mostra uma grande falha da nossa educação, de mostrar exclusivamente um lado dos fatos, geralmente da linha ideológica que o professor segue. Seria sempre interessante colocar o contraditório nas narrativas que são construídas como verdades. Entramos na vida adulta e vamos trabalhar e reproduzir o que aprendemos como verdade unânime. Quando lá na frente temos conhecimento de outra forma de pensar aqueles fatos, observamos que os nossos heróis se transformam em vilões. Mas acontece que o estrago já está feito, já passamos as falsas narrativas à frente como verdades penhoradas pelo nosso valor de cidadão honesto. Ficamos mais atentos ao que recebemos como verdade, podemos deixar de sintonizar veículos que repassam essas falsas narrativas e que noticiam os fatos enviesados. Tive como exemplo, para mim de forma clara, o que aconteceu com o mandato presidencial de Bolsonaro, onde uma pessoa idônea foi atacada por seus críticos, cheios de iniquidades, mas como tinham o poder de veicular essas falsas narrativas a sociedade ficou contaminada, não só as pessoas analfabetas que é um grande contingente, mas até pessoa de alto nível acadêmico, as próprias universidades. Agora com a internet facilitando a comunicação, nos libertando das algemas informacionais, podemos acessar conteúdos como este, que observamos o esforço para colocar a verdade no seu devido lugar e meus antigos heróis como Che Guevara e agora Rousseau, posso colocar no lixo da história. Infelizmente não consigo ajustar o pensamento de pessoas de grande afeto, pelo nível avançado de contaminação ideológica, se perdeu o poder de racionalização, pois a deusa razão está virada para outro lado.