A Netflix apresenta uma série “Hitler e o Nazismo” que nos oferece uma visão realista da influencia do mal sobre pessoas que se tornam carrascos perversos dos próprios irmãos. Vejamos a quarta parte do episódio 1, “Origem do mal”.
Os húngaros, os tchecos, os romenos, todas essas nacionalidades queriam um Estado próprio, não necessariamente independente, mas soberano. Também havia o Império Alemão que era a economia mais importante da Europa. Era uma potência industrial grande e próspera.
E estava surgindo o chamado pangermanismo – uma ideologia unificadora dos povos germânicos – entre austríacos de ascendência alemã que menosprezavam as etnias do império e queriam se separa dele para se unir ao Império Alemão.
Existia uma crença que se espalhava pela direita de Viena de que o povo alemão era superior aos outros povos, como tchecos ou então os judeus.
O antissemitismo, ou ódio aos judeus, existia há muito tempo na Europa. Mas um novo tipo de antissemitismo surgiu no fim do século dezenove, e agitadores políticos extremistas começaram a escrever tratados que expunham uma visão racista dos judeus como um povo subversivo, que conspirava para enfraquecer a civilização, e destruir os pequenos empresários trabalhadores.
Havia vários políticos de destaque em Viena que eram antissemitas não apenas por um viés político, como também de raça (Tiffany N. Florvil, Professora, University of New México).
Karl Lueger era prefeito de Viena. Ele e seu movimento se denominavam Social Cristãos. E o antissemitismo era um elemento essencial disso. Hitler observou tudo isso na juventude e, até certo ponto, se inspirou nisso.
Desde muito cedo, Hitler desprezava a Áustria e o Império Habsburgo multinacional. Ele se enxergava acima de tudo como alemão, não como austríaco. Ele achava que a Alemanha era a grande nação.
Ele vivia num mundo de fantasia. Hitler gastava mais dinheiro do que podia indo à ópera. Ele era especialmente fascinado pelas peças musicais de Richard Wagner. Para ele, Wagner apresentava a Alemanha a que ele aspirava, uma Alemanha de deuses, de heroísmo, de grandes líderes. Ele se identificou com a música, com as mensagens.
Uma das primeiras óperas de Wagner que Hitler viu foi Lohengrin, uma ópera romântica composta no século dezenove, em que o grande herói Lohengrin de certa forma se sacrifica pela nação. A música poderosa de Wagner alimentou a ideia de Hitler de que um dia ele também se tornaria um grande líder heroico.
Hitler viria a se tornar ditador da Alemanha, e depois conquistador de grande parte da Europa, mas deve-se enfatizar que ele foi um dos tiranos mais cruéis, sanguinários e bárbaros que já existiram. Ele jogou o mundo numa das guerras mais sangrentas e destrutivas da história.
Uma alma traumatizada desde a infância, como a alma de Hitler, pode estar propensa a reproduzir o mal que recebera, mas não que destinado infalivelmente para isso. Certo é que, se tivesse sido aceito para a Academia de Belas Artes, ficasse longe dos jogos de poder, talvez o máximo que pudesse fazer fosse ficar viajando com seus autores famosos como Wagner, e talvez pudesse até dar umas pinceladas de sua arte com conteúdo mitológico e ufanista do grande compositor. Mas ele passou a se envolver com a guerra e os discursos políticos, onde o conteúdo ideológico das palavras contaminadas severamente pelas mentiras e tentativas de iludir ao próximo, ao eleitor fosse a tônica dos seus pronunciamentos. E uma comunidade desatenta para as narrativas mentirosas e sofrendo as injúrias da derrota de uma guerra, se tornou uma vítima fácil e que pagou com muito sofrimento a permissão para que o mal prosperasse com o adubo da mentira.