Chega um tempo que ficamos preocupados com nossa idade... estou velho, que fiz até agora? Tantos jovens com mais vigor e disposição e eu aqui, limitado cada vez mais pelos desgastes do tempo, pela idade.
Lembro de Simão, o zelote, um dos mais idosos do apostolado de Cristo. Ele também ficava se sentindo humilhado com os sonhos de João, Tiago e Tadeu, jovens que planejavam ações maravilhosas, levando o Evangelho ao redor do mundo.
Simão, impressionado com essa perda de vigor juvenil devido a passagem do tempo, procurou o Mestre e falou dos seus receios.
O Mestre lhe disse com desvelado carinho – Simão, acaso podemos perguntar a idade do nosso Pai? A vida é como uma árvore grandiosa. A infância é a sua ramagem verdejante; a mocidade se constitui de suas flores perfumadas; a velhice é o fruto da experiência e da sabedoria. Há ramagens que morrem após sentirem os primeiros raios de sol e flores que caem. Assim somos nós, Simão, em face da grandeza espiritual. A vida é apenas uma hora de aprendizagem, e essa hora minúscula encerra tudo que há em nossa consciência. É por isso que vemos jovens que falam com muita experiência e velhos sem reflexão e sem esperança.
Simão, curioso, pergunta: então, Senhor, a velhice é a meta do espírito? – Não, Jesus responde, a velhice enferma e amargurada que se conhece na Terra, mas a da experiência que edifica amor e sabedoria. Aqui devemos reconhecer que o fruto perfeito passou pela frescura da ramagem e a beleza da flor, encerrando o conteúdo divino no mel e na semente do fruto. Achas que os moços poderão fazer alguma coisa sem os trabalhos dos que agora estão envelhecendo? Poderia a árvore viver sem a raiz; a alma sem Deus? Lembra-te de tua parte de esforço e não te preocupes com a obra que pertence ao Todo-Poderoso. Não esqueça que a nossa tarefa, para a dignidade perfeita de nossas almas, deve ser intransferível. Os jovens também serão velhos e seus cabelos brancos contarão profundas experiências. Não te magoes com a fala dos jovens da Terra. A flor, no mundo, pode ser o princípio do fruto, mas também pode enfeitar o cortejo das ilusões. Ame os jovens que revelam trabalho e reflexão, mas não deixes de sorrir para os levianos e inconstantes; são crianças que pedem cuidado, abelhas que ainda não sabem fazer o mel. Perdoa-lhes o entusiasmo sem rumo. Esclarece-os, Simão, não penses que outra pessoa pode fazer o trabalho que te compete. Um velho sem esperança em Deus é um irmão triste da noite, mas eu venho trazer ao mundo as claridades de um dia perene.
Simão se retirou satisfeito, como se tivesse recebido no coração uma energia nova. Voltando para casa, encontrou Tiago falando com alguns jovens e este o avistando fez uma pequena alusão a sua idade, para destacar o seu vigor no plantel dos apóstolos. Simão não se sentiu incomodado e logo que ficou a sós com Tiago lhe falou com brandura: Tiago, meu irmão, será que o Espírito tem idade? Se Deus contasse o tempo como nós, Ele não seria o mais velho? Não nos detenhamos na idade, esqueçamos as circunstâncias para lembrar somente dos fins sagrados de nossa vida que deve ser a edificação do Reino no íntimo das almas.
Tiago ouviu as observações ditas com fraternidade e isso não lhe feriu, nem de leve, o coração. Reconheceu a verdade do que foi dito e exclamou comovido: tens razão!
Naquela mesma tarde, quando o Mestre começou a ensinar a sabedoria do Reino de Deus à várias pessoas, Simão, o zelote, percebeu que havia duas crianças inconscientes que se afastavam do grupo em direção ao mar e que sua mãe estava absorta na reunião. Simão as acompanhou e com boa palavra sentou com elas em uma pedra. Terminada a reunião, as restituiu ao colo maternal em meio a alegria e reconhecimento pela prevenção que ele proporcionou. Ele sentiu que se as crianças tivessem se perdido naquele mar, o júbilo daquela tarde não seria completo. No âmago do seu Espírito havia uma alegria sincera, compreendeu com o Cristo o prazer de servir, a alegria de ser útil.
Naquela noite Simão teve um sonho glorioso. Com a consciência feliz, sonhou que se encontrava com o Messias no cume de um monte. Jesus o abraçou com carinho e lhe agradeceu o fraterno esclarecimento fornecido a Tiago e o terno cuidado com as crianças desconhecidas, pelo amor do Seu nome. Jesus, do alto da montanha mostrava-lhe o mundo inteiro: cidades, campos, rios e montanhas. Simão compreendeu que percebia paisagens do futuro por onde passava a família humana, todos fitando o Mestre com olhos agradecidos e refulgentes de amor. As crianças lhe chamavam “Amigo fiel”; os jovens “Verdade do Céu”; os velhos “Sagrada Esperança”.
Na manhã seguinte, antes de ir para o trabalho, Simão procurou o Mestre com imensa alegria e beijou-lhe a fímbria da túnica: - Mestre, agora Te compreendo!
Jesus contemplou-o com amor e respondeu: - Em verdade, Simão, ser moço ou velho, no mundo, não interessa!... Antes de tudo é preciso ser de Deus!...