Partimos de Jerusalém em direção à Nazaré, na companhia de Jesus. Eu me sentia confuso, o coração batia de forma estranha, pensamentos acelerados, procurava algum assunto para iniciar novo diálogo com o Mestre.
A minha consciência estava pesada, eu tinha omitido para o Mestre a minha real condição, quem de fato eu era e de onde tinha vindo. Considerava isso como uma mentira ao Mestre que simbolizava a Verdade.
Perguntei de onde ele tinha vindo quando chegou a Jerusalém e ele respondeu que tinha vindo do deserto da Judeia, onde passou 40 dias. Teve a intenção de se retirar da agitação exterior e mergulhar na intimidade de si mesmo, com a condição de se conhecer melhor e identificar os projetos que o trouxe à presente existência, o sentido mais profundo da sua vida. Precisava meditar profundamente sobre a balbúrdia existente no coração da humanidade. Muitas vezes a criatura humana fala, mas silencia a voz do verdadeiro sentimento.
Recordando o que li nos Evangelhos, quanto a tentação do gênio do mal, perguntei se nesses dias ele não recebera nenhuma visita de ninguém, nenhum contato estranho.
Tive a impressão que naquele momento, no seu sorriso, ele sabia quem eu era, um viajante do tempo com informações privilegiadas, e falou assim: - Se tu, Sióstio, te referes a alguma presença física, te digo que não. Mas se referes a alguma presença espiritual, também digo que não. Os grandes embates são de natureza interna, estabelecidos dentro de nosso coração, e nesses longos dias, questionei-me sobre a tarefa que me cabe. Em Espírito, sintonizei-me com Aquele que me enviou e entendi perfeitamente e, de forma definitiva, minha tarefa na Terra. É por isso que disse ao sacerdote Hanã que tenho a missão de implantar o Reino de Deus por aqui mesmo.
Perguntei se João tinha participação nesse projeto e ele respondeu que sim, das mais importantes. Que ele veio da parte de Deus com a missão de preparar o terreno para a vinda do Messias, profetizado nas Escrituras. Mas foi confundido com o próprio Messias, por ser um homem de profunda oração, que prega o batismo no Jordão para que a criatura humana busque a remissão de seus equívocos, convidando a todos a realizarem a sua conversão ao bem. E João esclareceu que era indigno de desamarrar as correias das sandálias do Messias, pedindo a humanidade que endireite o seu caminho rumo ao Senhor, como havia dito o profeta Isaías. João é o sinal da chegada dos tempos messiânicos, anunciando que a esterilidade se tornará fertilidade e o mundo sairá do silêncio quanto as verdadeiras coisas da alma. Disse que o seu primo é muito mais que um profeta, é o grande mensageiro de Deus. Recebeu o nome de Batista porque marcou com o batismo um novo ritual. Aquele que aceita a sua oportunidade de transformação, buscando preparar-se para o Reino de Deus, recebe a água das mãos dele, o que significa que ninguém vai a Deus a sós, necessitando sempre estar junto dos irmãos. Ainda, diante daqueles que se encontravam junto ao Jordão, quando tive a oportunidade de encontrar-me com ele, o seu reconhecimento quanto a mim serviu para que todos me identificassem como o Messias que haveria de vir.