Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
22/11/2024 00h01
FERIDA MENTAL

            Considero a mente e o corpo como duas instâncias diferentes, mas integradas. O corpo é isto que nós estamos vendo, sentindo e agindo, eu digitando este texto agora e você lendo daqui a pouco ou alguém com mais tempo. Tudo isso fazemos com o corpo, mas operacionalizado pela mente que se manifesta dentro dele, que forma uma consciência, que aciona a vontade de acordo com o livre arbítrio.



            Quando um agente externo atinge o nosso corpo pode provocar ferimento e com o devido cuidado logo se forma uma cicatriz que na maioria das vezes se torna apenas um elemento para evocar a memória do acontecido. Tudo isso é percebido ou não pela mente, pois podemos sofrer grande ferida no corpo, como exemplo a ferida de um procedimento cirúrgico que foi realizado sob anestesia que desacoplou nossa mente do corpo. Quando acordamos da cirurgia é que percebemos a ferida realizada e que foi feita sob nosso consentimento. Essa ferida entra na mente como uma simples memória, a não ser que o procedimento cirúrgico desenvolva algum problema no processo de cicatrização ou que interfira significativamente com o aspecto estético.



            Mas a ferida mental tem outras características que extrapola as limitações do corpo. Podemos sofrer uma ferida mental sem que nosso corpo sofra qualquer lesão. O mesmo evento que causa uma ferida mental numa pessoa pode se apresentar em graus diferentes naquelas que perceberam o fato, quer seja presencial, quer seja informativo por alguma pessoa ou pela mídia, estando próxima ou distante.



            Vejamos o exemplo de uma mãe que ver presencialmente o seu filho ser assassinado por tiros, por uma pessoa mascarada que invade a sua casa. Essa mãe desesperada faz de tudo que é possível para salvar o seu filho, procura uma arma, procura ficar na frente das balas, mas não consegue. O assassino se evade e a mãe fica com seu filho dando seus últimos suspiros, no seu colo, encharcado de sangue. O corpo dessa mãe não apresenta nenhum ferimento, mas podemos imaginar o quão profunda foi essa ferida que ficou em sua mente. Muito superior as feridas que ficaram em todos os envolvidos, dentro do espectro de gravidade em cada pessoa envolvida, de acordo com o parentesco, distância ou sentimento humanitário.



            Dessa forma podemos perceber a gradação de intensidade de um mesmo evento em causar ferida mental na pessoa humana, que tenha capacidade de empatia pelo próximo ou distante. No grau máximo está a ferida mental da mãe e no grau mínimo, um simples arranhão, uma pessoa que está do outro lado do mundo, China ou Japão, sem nenhum conhecimento, amizade ou parentesco com a pessoa assassinada.



            Que fazer com tal tipo de ferida? O primeiro pensamento que vem à mente ferida é o de vingança, como fazer para matar o assassino ou fazer com que a justiça seja feita. Matar o assassino parece a solução mais eficiente, está envolvida com nossas emoções que foram o fermento para gerar a ferida.



            Este é o problema que se forma com a ferida mental. A resolução mais imediata, a vingança, geralmente ocasiona outras feridas mentais em pessoas com outros graus de envolvimento com o assassino e isso pode se tornar uma bola de neve, cada lado querendo compensar suas feridas com a vingança.



            Para evitar esse tipo de comportamento vingativo, elaboramos leis dentro da justiça. Porém, como observamos aqui no Brasil, nestes dias atuais, onde a justiça está pervertida nas mais altas cortes, ficamos desamparados dentro da legalidade. Nossa ferida mental continua aberta e a mente sendo constantemente ferida pelos absurdos que a “justiça” faz e deixa acontecer.



            Nesse contexto, sem ter a quem recorrer para atenuar a gravidade de nossas feridas mentais, lembramos que temos os ensinamentos do Mestre Jesus informando sobre o Reino de Deus. Ele disse que podemos entrar neste Reino a qualquer momento, um Reino que está diretamente sob a justiça de Deus, onde não é admitida a ação do mal e se por algum motivo tal acontecer, a justiça verdadeira é feita de imediato.



            Entrando neste Reino para ficarmos diretamente sob a justiça de Deus, devemos limpar nosso coração da impurezas do egoísmo, onde está presente os sentimentos de ira, ressentimento, vingança. Enquanto ficarmos com essas impurezas, não conseguimos ingresso no Reino de Deus. Portanto, esta é a melhor forma de cuidarmos de nossas feridas, principalmente as mentais.


Publicado por Sióstio de Lapa
em 22/11/2024 às 00h01