Esse texto sobre a amizade que fiz no diário de ontem ficou ainda reverberando sobre o racional da minha narrativa de vida. Eu ainda não tinha cogitado de uma amizade ser finda por causa de um partido político. Talvez eu estivesse a colocando num nível do amor. Então resolvi voltar ao tema para que minha narrativa que ficou estremecida volte a se harmonizar com o sentido mais coerente que devo aceitar como correto.
A Revista Logosofia, online, em uma coletânea, exprime o seguinte conceito sobre a amizade: “A amizade, tal como é no fundo e em sua singeleza, equivale ao afeto que, nascendo no coração dos seres humanos, emancipa-se de toda mesquinhez e interesse, enaltecendo e enobrecendo o pensamento e o sentimento dos homens.”
Quanto ao amor, peguei uma das inúmeras definições, fiz algumas adaptações e apresento para o confronto: “O amor genuíno, puro, emerge da base fundamental do amor a si mesmo, de característica indissolúvel. Ele se manifesta através de uma conexão profunda e respeitosa entre os parceiros, em quaisquer condições de relacionamentos que eles se encontrem, como amizade, conjugal, profissional, etc. Envolve aceitação mútua, apoio incondicional e um desejo sincero de ver o outro crescer e prosperar”.
Observo de imediato que o amor está numa posição conceitual hierárquica superior em comparação com a amizade. Verifico que isto está de acordo com o que Cristo ensinou, de “amar ao próximo como a si mesmo”.
Voltemos ao contexto da amizade dentro de ideologias diferentes, considerando o Partido Político como gatilho para destruição desse sentimento. Vamos corrigir o primeiro ponto, que não é o Partido Político que está sendo a causa da destruição da amizade, e sim a ideologia que esse Partido defende.
Tenho exemplo de várias pessoas que pertencem a partidos políticos diferentes e orbitam em meus relacionamentos com a característica de amigos. Essas pessoas se comportam dentro da ideologia que considero correta.
Mas não é tão simples assim, tenho pessoas que estão dentro da ideologia oposta à minha e que o sentimento da amizade é tão forte que parece ter resistido à destruição. Como isso se explica? Essa pessoa atua dentro dos seus relacionamentos com o mesmo comportamento ético, fraterno, espiritual que sintoniza com os meus. A amizade então se instala com força. Mas porque a pessoa defende uma ideologia contrária a minha, que é contra aos comportamentos que exibimos nos relacionamentos? Não existe uma incoerência, uma contradição, uma dissonância cognitiva?
Se o meu comportamento está de acordo com a minha ideologia, a minha crença que move meu comportamento está sintonizada com a realidade ideológica que imagino como correta. Estou dentro da consonância cognitiva.
Se o meu comportamento não está de acordo com a minha ideologia, a minha crença que move meu comportamento não está sintonizada com a realidade ideológica que imagino como correta. Estou dentro da dissonância cognitiva.
Talvez este seja o motivo da amizade não ter sido destruída pela ideologia, pois o meu racional considera como atenuante que o meu amigo esteja vivendo uma dissonância cognitiva, e como ele tem bons princípios chegará o dia dele corrigir o que está dissonante na sua forma de viver.