Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
07/12/2024 00h01
BEM-AVENTURANÇAS

            Tivemos sempre dificuldade de compreender as lições que Jesus trouxe para nós do mundo espiritual, uma vez que vivemos intoxicados pelos valores materiais. Nós da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da comunidade da Praia do Meio, em Natal-RN, que cremos fielmente nas lições do Mestre e queremos coloca-las em prática, organizamos o Projeto Foco de Luz e a Associação Cristã de Moradores e Amigos da Praia do Meio (AMA-PM) com esse objetivo.



            Mas continuamos com nossa mente intoxicada dos valores materiais e corremos o risco de sair do foco cristão. Vejo o exemplo de Mateus como útil para nossas reflexões e aproveitar para nos aproximar cada vez mais do que o Mestre quis ensinar.



            Logo que começou o apostolado, um pequeno grupo de infelizes procurou Mateus pela manhã em sua confortável residência. Eles desejavam explicações sobre a Boa Nova do Reino de Deus, de modo a trabalharem com mais acerto dos ensinamentos de Cristo.



            O ex-coletor da cidade manifestou certa estranheza. Afinal, disse ele aos infortunados, o novo Reino congregará todos os corações sinceros e de boa vontade, que desejem irmanar-se como filhos de Deus. Mas que podeis fazer na situação em que vos encontrais? Que poderás realizar, Lisandro, aleijado como és?! E tu, Áquila, não foste abandonado pela própria família, com sérias acusações? E tu, Pafos? Acaso edificarias alguma coisa com as tuas atuais aflições?



            Essas pessoas se entreolharam, cabisbaixos. Reconheciam suas penosas deficiências. A palavra rude de Mateus os despertara. Tomara-os uma dor sem limites. Jesus dizia em suas pregações carinhosas, que o seu amor viera buscar todos os que se encontrassem em tristeza e angústias do coração. Eles queriam ser de Deus conforme o Cristo ensinava, mas as palavras de Mateus os jogara novamente à desdita.



            O grupo de pobres e infortunados retirou-se em desalento, no entanto, o Mestre pregaria no monte naquele fim de tarde, e quem sabe, Ele ensinaria o que necessitavam?



            Após alguns instantes, Jesus em companhia de André deu entrada na casa de Mateus e se puseram os três em animada conversa. Em certa altura da conversa, Mateus, sorrindo ingenuamente, relatou a ocorrência com o grupo que ele já conhecia e fora à sua casa procurando explicações, para os quais ele disse que falara com essas palavras:



            -Que conseguiria o Reino de Deus, com esses aleijados e mendigos? Não vejo como aceitar a contribuição desses desafortunados e vencidos que nos procuram.



            Jesus fixou o olhar no discípulo com grande cuidado e falou com bondade, batendo-lhe levemente no ombro:



            - No entanto, Mateus, precisamos amar e aceitar a preciosa colaboração dos vencidos do mundo!... Se o Evangelho é a Boa Nova, como não há de ser a mensagem divina para eles, tristes e deserdados na imensa família humana? Os vencedores da Terra não necessitam de boas notícias. Nas derrotas da sorte, as criaturas ouvem mais alto a voz de Deus. Buscando os oprimidos, os aflitos e os caluniados, sentimo-los tão unidos ao Céu, nas suas esperanças, que reconhecemos, na coragem tranquila que revelam, um sublime reflexo da presença de nosso Pai em seus espíritos. Já observaste algum vencedor do mundo com mais alta preocupação do que a de defender o fruto da sua vitória material?



            Mateus sentia-se comovido e procurou explicar, algo desapontado:



            - Senhor, minhas observações partiram do meu intenso desejo de apressar a supremacia do Evangelho entre os que governam no mundo!...



            - Quem governa o mundo é Deus, afirmou o Mestre, e o amor não age com inquietação. Agora imaginemos, Mateus, que os triunfadores da Terra viessem até nós, com suas armas exteriores. Imaginemos alguns generais romanos chegando a Cafarnaum, com seus troféus numerosos e sangrentos, afirmando-se desejosos de aceitar o Evangelho do Reino de Deus e oferecendo-se para cooperar em nosso esforço. Certamente trariam consigo legiões de guardas e soldados, funcionários e escribas, carros de triunfos, espadas e prisioneiros... Começariam protestando contra as nossas pregações pelas estradas desenfeitadas da Natureza. Por não estarem no íntimo, desarmados das vaidades das vitórias, edificariam suntuosos templos de pedra, em cuja construção lutariam duramente por hegemonias inferiores; uns desejariam palácios soberbos, outros empreenderiam a construção de jardins maravilhosos. Recordando a ação das espadas mortíferas, talvez pretendessem disputar a ferro e fogo o estabelecimento do Reino de Deus, exterminando-se reciprocamente, por não cederem uns aos outros em seus pontos de vista, desde que cada vencedor se julga, no mundo, com maior soma de direitos e de importância. A pretexto de lutarem em nome do Céu, espalhariam possivelmente incêndios e devastações em toda a Terra. E seria justo, Mateus, trabalhássemos por cumprir a vontade do nosso Pai, aniquilando seus filhos, nossos irmãos?



            O Apóstolo o ouvia assombrado, em face da profundeza de sua argumentação. O Mestre continuou:



            - Até que a esponja do Tempo absorva as imperfeições terrestres, através de séculos de experiências necessárias, os triunfadores do mundo são pobres seres que caminham por entre tenebrosos abismos. É imprescindível, pois, atentemos na alma branda e humilde dos vencidos. Para os seus corações Deus carreia bênçãos de infinita bondade. Esses quebraram os elos mais fortes que os acorrentavam às ilusões e marcham para o infinito do amor e da sabedoria. O leito de dor, a exclusão de todas as facilidades da vida, a incompreensão dos mais amados, as chagas e as cicatrizes do Espírito são luzes que Deus acende na noite sombria das criaturas. Mateus, é necessário amemos intensamente os desafortunados do mundo. Suas almas são a terra fecundada pelo adubo das lágrimas e das esperanças mais ardentes, onde as sementes do Evangelho desabrocharão para a luz da vida. Eles saíram das convenções nefastas e dos enganos dos caminhos terrestres e bendizem ao nosso Pai, como sentenciados que experimentassem, no primeiro dia de liberdade, o clarão reconfortante do sol amigo e radioso que os seus corações haviam perdido! É também sobre os vencidos da sorte, sobre os que suspiram por um ideal mais santo e mais puro do que as vitórias fáceis da Terra, que o Evangelho sentará suas bases divina!...



            Mateus e André escutavam de olhos úmidos os conceitos do Senhor. Logo chegaram os demais apóstolos e todo o grupo se dirigiu para um monte próximo, onde se acotovelava uma turba imensa. Muitas centenas de pessoas se aglomeravam ali, a fim de ouvir a palavra do Senhor, que pela primeira vez pregou as bem-aventuranças celestiais, que mais tarde o próprio Mateus registrava em seus Evangelho (5:3-12):



            - Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.



            - Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.



            - Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.



            - Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.



            - Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia.



            - Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus.



            - Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.



            - Bem aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.



            - Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, falarem todo o mal contra vós por minha causa.



            - Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.



            Mateus sentiu que uma emoção diferente lhe dominava a alma. Havia compreendido os que abandonam as ilusões do mundo para se elevarem a Deus. Ele percebeu os pobres amigos que o visitara pela manhã desciam o monte, abraçados, com uma expressão de grande ventura. Aproximou-se deles e os saudou transbordante de alegria, compreendendo que o ensino do Mestre iria iluminar o futuro do mundo. No dia seguinte, Mateus abriu suas portas a todos convivas daquele crepúsculo memorável.



            Jesus participou da festa, partiu o pão e se alegrou com eles. E quando Mateus abraçou o aleijado Lisandro, com a sinceridade de sua alma fiel, o Mestre o contemplou enternecido e disse: - Mateus, meu coração se rejubila hoje contigo, porque são bem-aventurados todos os que ouvem e compreendem a palavra de Deus!...


Publicado por Sióstio de Lapa
em 07/12/2024 às 00h01