Os grupos de Alcoólicos Anônimos (AA) dão para todos nós uma forte lição sobre como podemos corrigir ou pelo menos bloquear os defeitos que prejudicam a nossa evolução moral e biológica, com ameaça de nossa integridade física e espiritual.
Aqui vou discorrer sobre o alcoolismo amparado por diversas obras da literatura de AA que não vou mencionar neste texto, com a intenção de direcionar para outro defeito bem mais nocivo que o alcoolismo, que é o egoísmo exagerado, selvagem, que tanto mal causa ao indivíduo, família, e sociedade em geral.
Lembrando que o consumo de álcool pode ser feito de forma normal, socialmente aceito como “lubrificante” das relações sociais, sem caracterizar uma doença. Da mesma forma, o egoísmo é uma necessidade para a preservação da nossa vida biológica e familiar, e se é controlado, disciplinado, não se torna selvagem, não prejudica ninguém, não é considerado doença.
O alcoólico tradicional, mais competente em sua doença, se apresenta de forma ridícula, sujo, maltrapilho, prejudicando a si mesmo e sua família. Por outro lado, o egoísta tradicional, competente, se mostra de forma refinada, vencedor, higiênico, perfumado, “beneficiando” a si mesmo, a família e PREJUDICANDO milhões de pessoas, ao redor de si, do país e do mundo.
Ambos não reconhecem a doença que são portadores, o primeiro por lesão dos neurônios que pode levar à demência, o segundo por orgulho, vaidade e falta de empatia (característica da psicopatia).
Ambos precisam de tratamento que não é fácil em nenhum dos casos. O alcoólico mostra a negação da doença dizendo que bebe porque quer, e deixa de beber a qualquer momento que decida. Isso não ocorre e a sua doença vai progredindo até o momento fatal, por questões biológicas ou sociais. Mas neste caso existe a alternativa da internação involuntária, se o alcoólico não consegue alcançar uma percepção saudável da necessidade da internação voluntária, a família pode requerer ao psiquiatra a internação involuntária, que, respaldada pela justiça tem o objetivo de o paciente alcançar a lucidez necessária para aceitar o tratamento necessário. Logo o paciente perceberá que somente remédios psicotrópicos não serão suficientes para conter os impulsos automáticos de desejo, compulsão, criados pelo hábito nocivo do consumo do álcool. Neste ponto surge a importância do AA com sua técnica de recuperação alicerçada em 12 passos com forte influência espiritual.
O egoísta selvagem também não reconhece a doença, dizendo que é mais competente que todos os outros e por isso enriquece com mais facilidade. A sua doença vai evoluindo a cada fatia de poder que vai adquirindo com sua tática de despertar nas pessoas próximas, geralmente subordinados com fraco valor moral, o mesmo sentimento de egoísmo selvagem que ele possui. Chega um momento crítico da doença onde a sociedade se torna prejudicada visceralmente pela ação parasita dos egoístas selvagens, que agem sem compaixão, empatia ou discernimento, da verdade, da mentira, da justiça. Aqui, parece que atingimos um ponto crítico, pois mesmo os psiquiatras não contaminados pelo egoísmo selvagem, que fazem o diagnóstico correto, não têm como conduzir o tratamento da doença, pois não há parentes, amigos ou justiça que solicitem a internação involuntária ou compulsória. Agora é o psiquiatra que, se tem coragem de dizer o diagnóstico e a forma de tratamento, que corre o risco de ser internado, medicado e cancelado.
É neste ponto que considero importante e necessário surgir na sociedade um grupo semelhante aos grupos de AA que trabalhem com o nosso egoísmo pessoal para que eles não se tornem selvagem. Importante a criação de grupos de Egoístas Anônimos para pessoas aparentemente saudáveis, como eu, possam participar e se prevenir de em algum momento se tornar egoísta selvagem e tanto mal trazer à humanidade.