Sióstio de Lapa
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10/01/2025 00h01
IGREJA CATÓLICA 3-XEQUE

            Continuando e acompanhando o pensamento do Padre David Francisquini (Revista Catolicismo dez/2024) sobre a Igreja.



            Depois de Santo Agostinho – o qual, em sua controvérsia com os donatistas, que existiam apenas num reduto geográfico, insistiu no caráter territorial do conceito de universalidade da Igreja – considera-se ordinariamente a “catolicidade” no sentido de difusão exterior. Mas o melhor é unir a explicação de Santo Agostinho à de São Cirilo e insistir a respeito da catolicidade qualitativa (comunhão de fé, de culto etc.) com primazia sobre a catolicidade quantitativa, ou seja, a universalidade territorial. Porque é nisso que a “catolicidade” e a “unidade” da Igreja aparecem como dois aspectos de uma mesma realidade.



            Aqui o Padre Francisquini associa o aspecto da unicidade a catolicidade, e não deixa de ter razão. De que adianta a universalização da Igreja se não leva consigo os mesmos princípios tradicionais para onde for?



            Esta consideração da unicidade e catolicidade da Igreja é muito importante, porque, sob o pretexto da “sinolidade” – ou seja, de “caminhar juntos” à escuta de todos, especialmente dos “marginalizados” – está se promovendo um conceito de “universalidade” que põe em xeque  a unidade da Igreja. A catolicidade da Igreja consistiria em Ela ser inclusiva, isto é, capaz de uma abrangência ilimitada, disposta a acolher e assimilar benignamente todas as opiniões, desde que sejam defendidas com sinceridade, por mais contraditórias que sejam entre si e com o seu ensino tradicional. É o que está nas entrelinhas da frase do Pe. Costa, segundo o qual “na diversidade é possível ser-se unido na fé”.



            Assim, por exemplo, em matéria de reconhecimento de uniões homossexuais, poderia haver uma prática diferenciada entre as igrejas da África – supostamente influenciadas pelos condicionamentos da cultura local – e as igrejas da Alemanha e da Bélgica, liberadas dos preconceitos “rigoristas” do passado e abertas a abençoar e a integrar nas comunidades paroquiais os pseudo-casais do mesmo sexo.



            Esse novo conceito de “catolicidade” é absolutamente estranho aos escritos dos Padres e aos ensinamentos dos catecismos e do magistério. Não se pode colher um termo consagrado por séculos de uso e atribuir-lhe um significativo totalmente novo, o que resulta extremamente enganoso.



            Porém, já nos idos de 1970, Leonardo Boff o reivindicava no seu livro Igreja: carisma e poder, afirmando que “o catolicismo, como se mostrou historicamente até hoje, implica coragem para a encarnação, para assunção de elementos heterogêneos e sua refundição dentro dos critérios de seu ethos católico específico. A catolicidade como sinônimo de universalidade só é possível e realizável sob a condição de não fugir ao sincretismo, mas, antes, pelo contrário, de fazê-lo o processo da produção da própria catolicidade”.     



            Segundo o ex-frade franciscano a “lei de encarnação” faz aparecer o que ele chama de “sincretismo de refundição” como algo positivo e “como processo normal da constituição do catolicismo”. Uma religião como o cristianismo, afirma ele, “conserva e enriquece sua universalidade na medida em que é capaz de falar todas as línguas e de encarnar-se, refundindo-se, em todas as culturas humanas”.



            Essa ideia investe na universalidade desconectada com a pureza material do que se deseja entregar, que são os ensinamentos do Cristo. Ele pretende enriquecer a universalidade refundindo-se com todas as culturas humanas. Sim, ele pode ter sucesso agindo dessa forma e é o que está acontecendo com a Santa Igreja Católica. Deixou de ser impermeável a atos e culturas que não sintoniza com a verdade do Cristo e agora o que resta não é mais o Cristianismo, e sim um amálgama de todas essas culturas.


Publicado por Sióstio de Lapa
em 10/01/2025 às 00h01