1980...
Parece que foi ontem, mas nossos cabelos que ainda restam, tingidos ou não, são testemunhas de que já se vão chegando os 45 anos, onde 100 jovens ingressavam no mercado de trabalho com o diploma do curso de medicina concluído na UFRN.
Uma pequena parte desse grupo, menos de 20%, resolvemos almoçar juntos no restaurante Zeh, no shopping Midway. Foi um desafio para mim, que beiro a síndrome de Asperger, avesso à vida social. Mas todos nós já estamos dentro ou próximo dos 70 anos, o nível de sabedoria e compaixão aumenta, o medo fica mais atenuado.
Vesti a minha melhor roupa e sosseguei o meu coração, afinal nos comunicamos frequentemente pelo grupo no Zap. O problema seria reconhecer os colegas, pois o tempo é implacável e deixa suas marcas. Como foi reservado uma mesa com 20 lugares, procurei me orientar pelo tamanho. Vi alguns rostos familiares, mas não tive certeza, mas logo o aceno sinalizou que eram os meus amigos.
Interessante, como aprendemos a cada dia... observei todos na mesa, nos cumprimentamos, a mente através do cérebro fazia a varredura, do corpo, do rosto, da fisionomia, da aparência de cada um... procurava em cada traço investigado a correspondência com o passado. Mas não foi a mente que fez a conexão, foi o coração. A cada fala, cada sorriso, cada olhar, era o coração que sentia, identificava e iluminava a minha mente, espantava a minha teimosa inibição e fazia jorrar os meus conhecimentos, sentimentos e fé na participação e integração com todos.
Comentamos e nos gratificamos mutuamente pelos frutos dos nossos corpos, através dos filhos, netos e bisnetos que já integram a humanidade com o toque de nossa educação; ouvimos e aplaudimos poesias intuídas no coração com o reforço da fé, do amor e do exercício da profissão; comentamos e nos ressentimos pela perda precoce de alguns colegas e de outros atingidos por doenças e que não conseguem mais nos reconhecer; comentamos e sentimos falta de tantos que por tantos motivos não estão presentes conosco.
Lembrei como nunca daquela lição que Jesus nos deixou, quando falou para seus ouvintes, que, quem eram sua mãe e seus irmãos, eram aqueles que estavam com Ele e que queriam fazer a vontade do Pai. Olhei para meus amigos e percebi a sabedoria do Cristo; sim, eu estava exatamente dentro da Família Universal que Ele ensinou, cada amigo ali presente, reconhecia Deus como Pai e cada um queria obedecê-Lo, amando ao próximo como a si mesmo.
Pedi permissão para sair, tirei a última foto do dia com alguns amigos mais próximos, e reforcei o empenho para que possamos fazer novos encontros como este.
Sai agradecendo a Deus pela oportunidade de me sentir incluído na Sua Família Universal, e que derrame a Sua graça por toda a humanidade, para que reconheçam a Sua existência, o Seu amor e Sua justiça, principalmente nossa turma, Médicos-1980-UFRN.