Perguntas feitas ao espírito Atanagildo, no livro “A vida além da sepultura” e suas respostas para nossas reflexões, incluindo os leitores físicos que logo terão essa oportunidade e meus convidados espirituais, principalmente Jesus e seus apóstolos, que contribuirão com suas intuições, aos quais agradeço antecipadamente. Esta é a segunda pergunta do capítulo 9: Considerações sobre a desencarnação.
Pergunta - E como sentiste a separação da família terrena?
Resposta – A minha desencarnação significou-me a revelação positiva do mundo que já palpitava em mim, uma vez que já havia me libertado das ilusões provisórias da vida material. Embora eu ainda permanecesse operando num corpo de carne, em verdade o meu espírito participava demoradamente da vida astral do “lado de cá”, porque de há muito desistira de competir nos debates aflitivos do personalismo da matéria, para ser apenas o irmão de boa vontade no serviço do bem ao próximo.
Encontrava-me no limiar dos vinte e oito anos e vivia sozinho, pois meu pai havia falecido aos quarenta e oito anos de idade, deixando-me criança, em companhia de uma irmã de quinze anos. Embora eu tivesse noivado poucas semanas antes de desencarnar, ainda não me deixara escravizar pela ideia fixa de só ser feliz constituindo um lar material. Eu considerava o casamento como grave responsabilidade espiritual, certo de que na vida prosaica do lar doméstico teria de por à prova minha bagagem de afetos ou aversões, que ainda pudesse trazer de vidas pregressas. À medida que vamos nos libertando dos preconceitos, paixões e caprichos humanos, também nos desinteressamos de garantir a identidade de nossa personalidade nas formas do mundo material. Compreendemos, então, que todos os seres são nossos irmãos, enquanto que o exclusivismo da família consanguínea não representa a realidade da verdadeira família, que é a espiritual. Embora os homens se diferenciem através dos seus organismos físicos e raças à parte, todos provém de uma só essência original, que os criou e os torna irmãos entre si, mesmo que queiram protestar contra esta afirmativa.
O lar tanto pode ser tranquila oficina de trabalho para as almas afinadas desde o passado, como oportuna escola corretiva e de ensejos espirituais renovadores entre velhos adversários, que podem se encontrar algemados desde os séculos findos. Sem dúvida, o ninho doméstico é generosa oportunidade para a procriação digna de novos corpos físicos, que tanto auxiliam os espíritos desajustados do Além, aflitos para obterem o esquecimento num organismo de carne, a fim de atenuarem o remorso torturante do seu passado tenebroso.
Mas é evidente que, quando há grande capacidade do espírito para amar a todos os seres, isto lhe enfraquece a ideia fundamental de constituir família consanguínea e normalmente egocêntrica, sem que esta atitude represente um isolacionismo condenável. Jesus manteve-se solteiro e foi o mais sublime amigo, irmão e guia de toda a humanidade. E durante a sua desencarnação, certamente não sofreu pela separação da família carnal, porque, em vida, o seu coração já se revelara liberto da parentela física. E ele bem nos comprova esse grande amor por todos, quando formula a sibilina indagação à sua mãe: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?”
Deste modo, ser-vos-á fácil compreender que não passei pelo desespero e pelas angústias perturbadoras no momento da separação da minha família consanguínea, porque em vida física já me habituara à confraternização sincera com todos os seres que cruzavam o meu caminho, resultando que a minha saudade abrangeu uma família bastante extensa e paradoxalmente desligada da ilusão consanguínea.
Tenho também esta convicção da família universal e por isso o meu comportamento frente aos familiares consanguíneos parece muito estranho, tanto para os parentes como para tantos que me observam. Parece que fui bem além com a compreensão do amor incondicional, não exclusivista, o que fez mudar a minha visão do casamento com sua exigência da fidelidade conjugal que eu passei a entender como um reflexo do amor exclusivo, contrário o que eu agora considerava correto, o amor inclusivo, acima de qualquer preconceito, desde que obedecesse a lei principal que Jesus nos ensinou. Não encontro reprovação a esta forma de pensar, mesmo na presença do Mestre e de seus apóstolos.