Continuando com a resenha do livro do jornalista Johnson. “Intelectuais”, vamos ver abaixo mais um trecho da resenha
Rousseau, na opinião de Johnson, “foi o primeiro a combinar as características do Prometeu moderno: a afirmação do direito de rejeitar, em sua totalidade, a ordem vigente; a confiança na capacidade de reformar tal ordem a partir da base de acordo com as regras que ele próprio estabeleceu; a crença de que essa reforma podia ser feita por meio de um processo político; e, não menos importante, o reconhecimento do papel valiosíssimo desempenhado na conduta humana pelo instinto, pela intuição e pela impulsividade”.
Johnson sustenta que as “Confissões” de Rousseau, embora interessantes, mentem muito. Até os 30 anos, Rousseau levou uma vida fracassada, passando por 13 empregos. A fama só começou aos 39 anos. Depois de 1750 (ele nasceu em 1712 e morreu em 1778, antes da Revolução Francesa), tornou-se, como escritor profissional, protegido da aristocracia.
Jean-Jacques Rousseau, o filósofo suíço seria o Prometeu totalitário. “O Contrato Social” não provocou impacto ao ser publicado. “Quase não foi lido até sua morte e só foi reeditado em 1791. Uma pesquisa feita em 500 livrarias da época mostrou que apenas uma delas possuía uma cópia do livro”, revela Johnson. O culto a Rousseau começou com seu romance “A Nova Heloísa” e com “Emílio”.
Rousseau parecia ser o Carlos Lacerda francês. Transformava seus amigos de ontem em ferozes inimigos. Chorão, quando lhe convinha, era profundamente egoísta. Gostava de dizer: “Nasci para ser o maior amigo que jamais existiu”. O que Johnson revela de interessante é que, mesmo Rousseau dizendo amar a humanidade com intensidade, na convivência cotidiana não dava certo com as pessoas. Para ser diferente, o filósofo gostava de usar roupas largas e era cabeludo. “Ele foi o primeiro dos intelectuais cabeludos.”
Habilidoso na arte da autopromoção, Rousseau foi o primeiro a perceber que “a maioria das pessoas resiste às ideias, principalmente às novas. No entanto, é fascinada por personagens. Ter uma personalidade extravagante é uma maneira de dourar a pílula e induzir o público a voltar sua atenção para obras que tratam de ideias”. Como muitos intelectuais, tinha mania de perseguição. E isto é, de algum modo, sintoma de que a pessoa se julga muito importante, o centro do universo no qual circula.
Uma das coisas que Rousseau mais gostava de fazer era perambular pelas ruas da periferia exibindo as nádegas para as mulheres. “O prazer descomunal que eu sentia expondo-as diante de seus olhos não pode ser descrito”, confessou. Embora escrevesse sobre como educar as crianças, não gostava de crianças e abandonou seus cinco filhos na porta do Hospital de Crianças Encontradas.
Mais grave é a análise que Johnson faz da filosofia política de Rousseau. “O Estado de Rousseau não é apenas autoritário: é também totalitário, uma vez que regula todos os aspectos da atividade humana, inclusive o pensamento. Submetido ao contrato social, o indivíduo seria obrigado a ‘se alienar de si, justamente com todos os seus direitos, em prol do conjunto da comunidade’.” Uma análise nada ortodoxa, pois o filósofo é sempre apresentado como democrata e o intelectual que pensou o social. Para avaliá-lo de modo mais adequado deve-se ler “Jean-Jacques Rousseau: A Transparência e o Obstáculo” (Companhia das Letras, 424 páginas, tradução de Maria Lucia Machado), de Jean Starobinski.
Se todos soubessem a verdadeira personalidade de seus ideólogos, mais cultuados, certamente entrariam em dissonância cognitiva. Mas, a escola que também foi tomada pelos esquerdistas, coloca sempre as falsas narrativas acima da verdade histórica e isso deixa a humanidade alheia da realidade do que realmente aconteceu. Portanto, somente a aplicação da ideologia de Jesus de Nazaré, que defendia que a Verdade pode nos libertar, e que nos salvará desse mar de ignorância em que vivemos.