Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
13/08/2025 00h01
NO BAR CANAVIAL

            Procurava na minha mente alguém para ir comigo ao Bar Canavial, eu me sentiria mais seguro e talvez mais inspirado com uma companhia que fizesse sintonia com meus pensamentos. Mas a minha tentativa de pedir opinião à minha companheira sobre convidar o meu vizinho com o qual tenho boa empatia, foi muito negativa. Ela colocou com energia que isso não seria bom, pois eu iria para esse ambiente de comércio de corpos para obter os prazeres da sexualidade, mas o meu vizinho certamente iria com outras intenções que afetariam o relacionamento dele com a esposa. O meu argumento não teve êxito, de que ele poderia pensar assim, mas que o objetivo da nossa visita era levar o Evangelho para aquelas mulheres, nossas irmãs, como forma de ajuda-las espiritualmente e não de utilizar dos seus corpos comercialmente. Expliquei ainda que o meu comportamento catequético poderia arrastar os seus instintos animais para o amor incondicional que iríamos praticar naquele momento.



            A nossa conversa estava caminhando para uma discussão onde os argumentos estavam sendo combatidos com a força dos preconceitos alimentados pelas emoções, dos valores culturais e religiosos. A ideia de analisar racionalmente e com fé a proposta da ida do meu vizinho e amigo comigo à boate, ao Bar Canavial, não estava sendo seguida.



            Deixei a ideia de lado e fui sozinho. Parei na padaria e comprei pães e bolo para tomarmos café e segui. Ao chegar encontrei uma das mulheres/meninas sentada à porta do estabelecimento com sua roupa provocante.



            Fazendo um adendo aqui... sempre que escrevo mulher para me referir aquelas profissionais do sexo, chega uma resistência na minha mente. Claro que essa atividade comercial é tolerada pela nossa cultura e leis para mulheres, mas essas profissionais parecem “meninas”, por serem tão jovens, de corpos tão fragilizados, pouco desenvolvidos, como esta que estava sentada à porta. E dentro do ambiente dos seus trabalhos se comportam de forma retraída ou excessivamente alegres, próprias de uma criança que ainda não perceberam o significado profundo do que praticavam. O meu papel não era de investigador, de condenar o trabalho delas ou de seus gerentes, e sim de levar a palavra que o Cristo me deu para todos, com compaixão e misericórdia para aquelas almas que estavam perdidas em armadilhas que a vida material as tinham levado. Eu estava indo ali com a atitude de um pai consolador e inspirador e não de um policial restritivo e punitivo. Estava sintonizado com a misericórdia do Cristo, o meu Mestre, e não com a justiça de Miguel, o arcanjo que leva à espada aqueles pecadores conscientes e persistentes em seus erros.



            Voltando a minha visita... estacionei o carro no lugar que já estava se tornando costumeiro. Falei com a “menina” que estava sentada a porta, procurei por aquela que era o meu contato e dizia quando eu podia ir. Fomos ao encontro dela, falei com o gerente que estava no balcão e pedi licença para falar por alguns minutos com todas, e que não iria prejudicar o trabalho que elas faziam. Ele permitiu com modos meio aborrecido, apesar de todo o meu trato educado e empático com o que faziam.



            Reuni com as cinco mulheres que estavam trabalhando nesse dia, pois o número varia, já que elas moram em locais diferentes e só comparecem quando tem oportunidade de ganharem com esse trabalho o dinheiro que necessitam. Por isso, eu me sinto na obrigação de deixar com cada, uma gratificação em dinheiro, 50 reais, pelo tempo de 15 minutos que elas gasta comigo. Avalio que corresponde ao pão e peixe que o Mestre providenciou para aquelas pessoas que foram lhe ouvir.



            Expliquei a motivação cristã de minha ida para conversar com elas, que segundo a lei de Deus que está em minha consciência, eu devo pagar como se fosse um crédito educativo os recursos que recebi quando criança para meus estudos. Minha avó que me criou, pois minha mãe não tinha condições financeiras, era dona de uma boate parecida com essa e na qual eu trabalhava junto com ela para adquirir os recursos advindos do trabalho das mulheres para os meus estudos.  



            Li em seguida o primeiro capítulo, Culto Cristão no Lar, do livro escrito por Chico Xavier, Luz no Lar. Fizemos uma rápida reflexão no final e fizemos a oração do Pai Nosso. Nos despedimos fraternalmente e deixei uma mensagem para ser mantida, em qualquer circunstância o amor no coração, apesar de muitos clientes trazerem em suas almas os destroços de suas vidas desamparadas.



            Antes de ir para casa fui intuído de passar na Igreja Católica e vi logo em frente a imagem de Nossa Senhora da Conceicao com uma coroa artificial sobre a cabeça, mas logo acima o esplendor da lua cheia. Entendi que a minha Mãe estava satisfeita com minhas atitudes, apesar de não ter sido tão eficiente como arauto do Evangelho junto com aquelas meninas que também são Suas filhas.



            Entrei na igreja e fui observando lentamente cada imagem, fotografei também a imagem de Nossa Senhora que estava dentro da Igreja e também uma placa comemorativa que explicava o nome das pessoas que estavam dentro do empreendimento, entre esses nomes estava no nome do Papa Francisco, como Sumo Pontífice.



            Fiz questão de fazer a foto exclusiva onde estava o nome:



FRANCISCO



SUMO PONTÍFICE



            Fiquei a refletir... esse Papa que assumiu o nome que também me foi dado em outras circunstâncias, realizou um trabalho dentro da Igreja muito combatido por suas ideias diferentes da cultura da tradição do clero. Será que eu não estou fazendo um trabalho parecido, realizando acoes que são muito combatidas pela cultura da tradição religiosa? Seria também eu um tipo sumo pontífice da palavra do Cristo dentro da mundanidade?


Publicado por Sióstio de Lapa
em 13/08/2025 às 00h01