Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
28/03/2015 00h36
FELIZES OS MISERICORDIOSOS

            Esta é a quinta lição que Jesus ensinou no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia (Mt 5,7).”

            Que é um homem misericordioso, então? É todo aquele que ama desinteressadamente os míseros, que são os sofredores, os deserdados do mundo, os humilhados e ofendidos, os enganados e roubados, os menos favorecidos, os nossos irmãos menores ou mais fracos; enfim, os retardatários na longa caminhada de retorno ao aconchego do Pai. Consola-os com paciência e alivia-lhes o sofrimento.

            Quase sempre me esqueço de me incluir entre os míseros, pois preciso contemplar a mim mesmo com um profundo olhar de misericórdia, principalmente agora que está terminando o período dos 40 dias que decidi entrar no deserto psicológico para treinar o meu espírito no controle dos desejos da carne e sofri derrota em todos os itens de avaliação, até no mais simples deles que foi o controle alimentar. Por isso devo ser misericordioso não somente em relação àqueles que sofrem, mas também a mim mesmo. Sou como aquele que foi atacado por ladrões, saqueadores e ficou despojado da maravilhosa morada interior e agora perambula pelo mundo. O meu saqueador é o desejo da carne que rouba os frutos do meu espírito.

            Um modelo de misericórdia que devo observar é o de Francisco de Assis, que praticou sua misericórdia sem esperar jamais qualquer retribuição ou recompensa, nem na terra nem nos céus. Seu fazer é naturalmente uma simples e pura consequência do seu ser. Quando o ser é bom, ele faz o bem em virtude de um transbordamento lógico, necessário e espontâneo, ele faz o bem por amor a própria bondade. Logo seu fazer não obedece a nenhuma condição, é simples doação, sem esperar qualquer gratidão por parte dos homens, nem mesmo um prêmio celeste por parte de Deus.

            A própria graça divina que devo alcançar, segundo essa lição, deve ser incondicionada, deve ser graça que vem de graça, porque nenhum ser humano pode causá-la ou merecê-la, já que seria inconcebível eu reivindicar direitos em face de Deus. A graça vem, e vem necessariamente, pois conforme as leis cósmicas que regem o Universo, a misericórdia de Deus está sempre aberta e escancarada, à disposição de toda e qualquer criatura que se lhe torne idônea e receptiva, que lhe seja fiel, que já esteja afinada pela mesma frequência vibratória do infinito.

            Para que tudo isso funcione no âmbito qualitativo da Metafísica, não basta que eu faça o bem, é necessário que eu seja bom, incondicionalmente bom, indefectivelmente bom, bom para com os bons e igualmente bom para com os maus. É preciso que eu seja capaz de amar os meus semelhantes pelo que eles são e não pelo que eles fazem, possam ou deixem de fazer. Qualquer criatura de Deus, dotada de livre arbítrio, é filha da Bondade Absoluta e tem a mesmíssima natureza do Pai, é uma luz divina no mundo, ainda que temporariamente escondida debaixo do velador ou do alqueire. Como estou longe ainda de atingir esse estágio, pois o que prevalece na minha mente é ainda o repúdio por alguém que se aproxima de mim nos semáforos pedindo uma ajuda, pois penso logo no uso de drogas, na ameaça que ela pode me causar... Não consigo ver o Deus que está escondido nela debaixo do velador!

            Assim, se eu pratico qualquer espécie de mal ou de maldade, por ação ou omissão, é porque ignoro, pelo menos naquele momento, minha própria natureza e filiação divina; é porque mantenho uma visão separatista em relação ao Pai Celeste. Por isso mesmo a grande vítima do mal é sempre o malvado. Se eu não souber disso, ou sabendo deixar de praticar, então serei tão ignorante, hipócrita ou malvado quanto ele. Desse modo, o círculo da ignorância e da maldade tende a aumentar. Só existe uma forma de quebrar esta dura e aflitiva dicotomia de mal e de maldades. É a conscientização da Paternidade Única de Deus e a consequente fraternidade universal das criaturas.

            Qualquer um pode fazer o bem, até mesmo pelos motivos mais egoístas e anticósmicos possíveis. Quando será que uma igreja, templo ou centro espírita, que corretamente condenam e abominam certos egoísmos terrestres, deixarão de incentivar e fazer a apologia de determinados egoísmos celestes, como a salvação da alma em troca de boas obras? Quando será que um partido político ao assumir o poder e fazer boas obras que é o seu dever, deixarão de corromper as instituições em busca de lucros financeiros indevidos e manutenção no poder pernicioso? Será que Deus deve pagar um preço ao homem pelo fato dele cumprir o seu dever? A tentativa de vender a alma a Deus não passa de um equívoco, um sentimento frágil e mercenário do ego.   

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em 28/03/2015 às 00h36
 
27/03/2015 21h36
A TENTAÇÃO DO DIABO

            Norman Mailer, escritor norte-americano, ganhou o prêmio Pulitzer de literatura com o livro “O Evangelho Segundo o Filho”. Nesse trabalho ele coloca a tentação que Jesus sofreu no deserto pelo Diabo da seguinte forma:

            Teu Pai não pode exigir uma obediência completa de Seu povo – a fala do Diabo. Ele não entende que as mulheres são criaturas diferentes dos homens, e que possuem diferente percepção. De fato, teu Pai não faz a mínima ideia do que sejam as mulheres, e esse desdém que sente por elas é partilhado pelos Seus profetas, que expressam, dizem eles, Sua voz. Não me parece que estejam equivocados, pois raramente são repreendidos! Veja Isaías! Diga-me que não é para louvar seu Pai que ele ameaça aquelas a quem chama de “filhas de Sião”, e que acusa de serem, segundo afirma, “desobedientes”, e de “andarem de cabeça erguida e olhos cobiçosos, gingando”, e as ameaça com a espada do Senhor, assegurando que Ele “descobrirá suas partes “secretas”. Suas partes secretas – repetiu o Diabo, sempre citando Isaías: - “O Senhor tirará seus braceletes e gorros, os ornamentos das pernas, os brincos, os anéis e as joias do nariz, a roupa, as capas e os véus. E acontecerá que em vez de perfume haverá podridão; e no lugar de tranças, cabeça raspada; ferro em brasa em vez de beleza.”

            - Através da boca do profeta, meu Pai falava da nação de Sião – repliquei (Jesus). – É o que nos ensinaram.

            - Não – respondeu o Diabo. – Ele finge falar da nação de Sião. Mas refere-se às mulheres, que Ele menospreza. As maldições poderosas Ele as guarda apenas para os homens: “A indignação do Senhor cai sobre todas as nações e Sua fúria alcança todos os exércitos. Ele os destruiu completamente, entregando-os ao massacre. Eles serão eviscerados e seu sangue regará as montanhas.” Quanta ira! O coração do teu Pai queima em razão de tantos fracassos! Existe prova maior de que não seja Todo-Poderoso? Não! E Ele não tem coragem ao menos de reconhecer: “Sim, perdi, mas meus soldados foram honestos e lutaram bem.” Não, Ele é vingativo. “Os palácios serão abandonados”, diz Isaías, “os fortes e as torres se transformarão em covis, até que o Espírito seja despejado sobre nós, vindo do Altíssimo.” Mas quando isso se dará? – perguntou o Diabo. – Teu Pai mandaria você na frente, para suavizar o coração dos homens enquanto o Seu próprio coração queima com o sangue das vítimas dos massacres. Suas maldições contradizem Seu amor a tudo que Ele criou. Suas fúrias podem ser poderosas, mas não satisfazem Seu desejo. Sua linguagem revela, sim, o quanto Ele adora a grandeza que pretende desprezar.

            “Diga-me que teu Pai não está tomado de adoração pelas mulheres, embora esconda de Si mesmo! O que odeia é o poder feminino de espicaçá-Lo. Ezequiel é quem sabe o que mora no coração de teu Pai. Afinal, ele ouviu as palavras do Senhor: ‘Jurei-te e entrei em acordo contigo e te tornaste minha. Lavei-te com água; sim, purifiquei teu sangue e te ungi com óleo. Vesti-te com seda, te cobri de ornamentos e pus braceletes em tuas mãos, e uma corrente em teu pescoço, e brincos em tuas orelhas, e uma linda coroa sobre tua cabeça. Assim, enfeitada de ouro e prata, tu comeste o melhor pão e o mel mais suave; excessivamente bela, prosperaste num reino. Os pagãos conheceram teu renome em virtude de tudo o que te havia prodigalizado.’ Agora – continuou o Diabo – ouça Suas piedosas lamentações e veja como Ele se queixa! ‘Mas confiaste em tua beleza e fazendo jus ao teu renome, bancaste a prostituta, e despejaste fornicações em todos que passaram, multiplicando a tua idolatria. Insaciável, fizeste isso com os egípcios, teus vizinhos, e com os assírios. Por isso, prostituta, porque tua vileza foi espargida, tua nudez descoberta, reunirei os teus amantes e te entregarei a eles, e eles acabarão com a tua importância, tirando tuas roupas e joias, e te deixando nua e exposta, e te apedrejarão e te trespassarão com suas espadas. Depois disso queimarão tuas casas e te difamarão aos olhos de muitas mulheres.’

            “Por acaso – perguntou o Diabo – terá sido para depreciar Jerusalém que Ele fez tudo isso acontecer? A linguagem de seu Pai exala desejo, é evidente.

            Suas palavras estão poluídas. – Queria despertar toda a minha fúria para responder, mas só conseguia repetir: - Sua palavras estão envenenadas.

            E Satã replicou:

            - Tão intoxicada de luxúria quanto a minha é a língua de teu Pai.

            Sentia-me confuso. Não podia negar que meu corpo estremecera ao ouvir a repetição das palavras de meu Pai.

            Corretíssima a interpretação do autor na tentação que o Diabo faz a Jesus no deserto usando os próprios textos da Bíblia, os relatos dos profetas. A coerência dessas tentações justificam deixar Jesus confuso e sem argumentos, ele que está sendo preparado para defender a Verdade e a Justiça. De repente vem o Diabo e tira do livro sagrado as informações incontestáveis que lá está escrito do comportamento libidinoso, perverso e injusto do Pai. Mas Jesus venceu essas tentações, pois sabia de informações que o autor não sabia. Esse “deus” descrito no Velho Testamento se refere aos espíritos inteligentes, porém malvados, deportados do planeta Capela para cá. Fizeram-se passar por deuses com toda a impiedade de seus corações. Jesus sabia dessa história, pois foi um dos espíritos superiores que participaram da organização dessa deportação. Então a confusão que o Diabo tentou fazer na mente de Jesus, não surtiu efeito por esse motivo. Jesus sabia que o Deus que o Diabo se referia não era o Pai Misericordioso, a essência do Amor, que havia lhe enviado.

            Portanto a falta de conhecimento desses fatos serviu para criar uma obra bastante polêmica e coerente com a visão que o autor desenvolve. Fico contente em saber que eu também não ficarei confuso se alguém quiser me confundir com a natureza do Deus que eu acredito.

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em 27/03/2015 às 21h36
 
26/03/2015 23h59
FOCO DE LUZ (46)

            Em 26-03-15, às 19h, teve inicio mais uma reunião do Projeto Foco de Luz e AMA-PM, com a presença das seguintes pessoas: 1. Edinólia 2. Cíntia 3. Aninha 4. Netinha 5. Adriano 6. Ivânia 7. Juliano 8. Damares 9. Sílvia 10. Paulo 11. Aparecida 12. Luzimar 13. Davi 14. Ezequiel 15. Ana Paula 16. Rawllinson 17. Sued e 18. Francisco. Foi abordada inicialmente a oficialização da Associação. Paulo e Luzimar estão trabalhando neste sentido e foram até o cartório para pegar o Estatuto e as orientações de como proceder para reativar a Associação. Adriano colocou a proposta de ser feita uma nova Associação, mesmo usando o nome da antiga, pois isto é possível do ponto de vista legal. Nesse sentido o procedimento fica mais simples. Seria apenas publicado o Edital de convocação de uma Assembleia na comunidade para a criação da Associação dentro de 15 dias. Nessa Assembleia serão feitas duas atas, uma com os resultados da Assembléia e aprovação do Estatuto e outra com os resultados da eleição. Como já foi feita uma reunião onde os cargos dessa nova Associação já foram definidos, o procedimento se torna mais ágil. Adriano ficou de passar mais uma vez os documentos para orientar a construção do Edital para o email de Francisco, Paulo e Luzimar e na próxima reunião deverá ser apresentado, aprovado e divulgado de imediato. Em seguida Edinólia disse que se reuniram às 17h, ela, Cíntia e Aninha, para a organização da Páscoa e que planejaram para ser realizada na Escola Olda Marinho. Ezequiel protestou com energia sobre o local escolhido, pois acredita que o local melhor para ser realizado é na Rua do Motor, na praça por trás do muro do HUOL, com a projeção de filme e palestra referente ao momento cristão. A discussão se tornou acalorada com a defesa dos dois locais para a realização do evento. Foi necessário recordarmos do que aconteceu com a Igreja Primitiva nos seus primeiros dias, quando estava sendo construída com a participação de poucas pessoas, como acontece conosco neste momento. Naquela época surgiu também um forte conflito entre os trabalhadores de Cristo, principalmente de Pedro e Tiago que queria que todos os novos cristãos fossem circuncidados como os judeus, e Paulo, como apóstolo dos gentios, defendia que as pessoas que não eram judeus, mas queriam seguir os exemplos do Cristo, não tinham porque seguir o costume judeu da circuncisão, cuja população condenou o Cristo e o crucificou. Naquela época Pedro reconheceu a justiça das palavras de Paulo e ficou aceito por todos que os judeus podiam ser cristãos e circuncidados, mas os gentios podiam ser cristãos e não circuncidados, se eles assim desejassem. Então deveríamos tirar a sabedoria dessa decisão e decidir agora no nosso grupo, fazer o evento na Escola como o grupo planejou e fazer também o evento na Rua do Motor como Ezequiel e outras pessoas acham importante. Entramos dessa forma em concordância de fazer o evento da Rua do Motor no dia 03-04-15, sexta-feira da Paixão, deixando a nossa reunião da quinta feira santa cancelada para todos irem na sexta feira, e no dia 09-04-15, quinta feira, fazer o Evento na Escola dentro do espaço da reunião. Ezequiel colocou também a ideia de ser feita uma passeata na Rua do Motor em defesa da Paz, tendo em vista crimes que acontecem na comunidade deixando um rastro de medo e de dor nos moradores. Finalmente a reunião foi encerrada as 20:30h como previsto, com todos conscientizados da dificuldade que é participar de um projeto cristão como este, cuja motivação maior é “servir ao próximo” sem esperar recompensas materiais de qualquer espécie, muitas vezes nem o reconhecimento público, pois o seguir a lição do Cristo de fazer a caridade sem ostentação implica nisso. Mas entendemos que todo o trabalho que fazemos e o sacrifício que oferecemos tem como recompensa maior a conquista de melhor qualidade para nossa alma, sempre apoiando o companheiro que tenha mais dificuldade e aprendendo a tolerar qualquer atitude que nos pareça presunçosa ou arrogante. Enfim, todos estamos na mesma escola tendo Jesus como Mestre que está sempre ao nosso lado observando nossas lições. Ezequiel conduziu a oração do Pai Nosso e Luzimar concluiu com uma oração do coração. Todos posamos para a foto coletiva e seguimos em paz para nossas casas.

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em 26/03/2015 às 23h59
 
25/03/2015 23h59
FOME E SEDE DE JUSTIÇA

            A Justiça tem inúmeros significados. Em sentido metafísico, vertical e transcendente empregado por Jesus, no grande Sermão, não tem nada que ver com essa justiça que geralmente conhecemos, essa justiça no Direito. A justiça no Direito, por sua própria natureza, ignora o homem em seu ser, conhece-o tão somente por sua projeção externa, em seus atos, no campo funcional do seu fazer. Ela é quantitativa e tem por finalidade estabelecer uma reciprocidade ou retribuição entre os seres humanos, dando a cada um o que ele merece, seja um bem ou seja um mal, tendo em vista um comportamento ou conduta anterior. No fundo não passa de um simples freio ao egoísmo individual e à libertinagem coletiva. Só serve realmente para administrar a violência e a coexistência precária e sofrível dos profanos em sociedade e aí, o máximo que ela consegue atingir é certa tolerância, um armistício, uma paz armada.

            Mas, a Justiça dos iniciados, daqueles que se transmentalizaram e, por isso, já sabem que vieram ao mundo e nele estão para servir e não para serem servidos, a Justiça do Eu e não do ego, vai muito além de todos os conflitos, carências, querências, limitações, bem como de quaisquer circunstâncias administradas pelos homens.

Essa Justiça superior, essa verdadeira Justiça, que pode fazer de mim um ser feliz ou bem-aventurado, tem a origem, a natureza e a majestade do Infinito. Ela é a própria “justeza” da criatura com o seu Criador, do filho com o Pai, do homem com Deus. Enfim, ela é pura santidade.

            A fome e a sede dessa Justiça costuma manifestar-se na minha consciência, ainda de forma incipiente, de início como uma estranha insatisfação, uma espécie de angústia metafísica, nostalgia da alma, uma veemente e incontrolável saudade de Deus. É quando me sinto como um estrangeiro, embora estando em minha própria terra; sinto-me enfastiado do mundo, desalojado, praticamente um estranho no ninho. Esta fome e esta sede bem-aventuradas é que me podem abrir a mais sublime de todas as jornadas, essa bendita jornada que conduz o finito ao seio do Infinito, o filho aos braços do Pai. Ao beber dessas águas divinas, sei que nunca mais posso ter sede. Finalmente, então, estarei saciado. Ao atingir as culminâncias da minha consciência experimental evolutiva, passo a saborear em Espírito e Verdade, uma felicidade simplesmente única e indefinível, a de cumprir a Vontade do Pai como se fosse a minha própria vontade.

            Sob esse aspecto já não há diferença entre o filho e o Pai. Assim, posso dizer como Jesus, “eu e o Pai somos um”. Mas para isso, tenho que saber que sou embaixador de Deus no mundo, munido de todos os poderes, e portanto tenho que fazer a Sua Vontade. Sou criatura, é verdade, porém não sou apenas criatura criada. Tenho na mais profunda profundeza de mim mesmo, a natureza do Universo, a poeira das estrelas, a semente do Amor Incondicional que amadureci ao longo de milênios com o meu esforço pessoal. Sou criatura sim, mas já bem amadurecido espiritualmente pelos meus méritos pessoais. Portanto, agora sou, fundamentalmente, criatura criadora, partícipe e colaborador consciente da gigantesca obra da criatividade universal, do Criador Onipotente.

            Dentro desse projeto cósmico e infinito da criação, do Criador, a minha maior tarefa, sem nenhuma dúvida, tarefa que é somente minha, e por isso mesmo irrecusável, insubstituível e intransferível, é o autoconhecimento, a autolibertação e autorrealização de mim mesmo e em favor da Harmonia Universal, ajudando os irmãos mais atrasados a adquirirem essa mesma consciência. Somente então é que serei definitivamente saciado. E cada um de nós tem a mesma destinação nesse Universo, cada um com seu caminho próprio a seguir, desde que esteja em harmonia com a Natureza, fazendo a Vontade do Criador.

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em 25/03/2015 às 23h59
 
24/03/2015 23h59
FELIZES OS TRISTES

            Parece um grande paradoxo associar felicidade com tristeza, mas foi isso que Jesus ensinou na terceira bem-aventurança: “Bem-aventurados os tristes, porque serão consolados.”

            Ao fazer isso, proclamar felizes os tristes, Jesus provocou uma perplexidade e um certo mal-estar jamais vistos no mundo, e tudo isso ainda permanece.

            Um homem comum, intelectivo e profano, não pode mesmo assimilar este conceito tão elevado ou transcendente que parece inteiramente contraditório, fruto de uma rematada estultice. Todavia, ainda que pareça lógico tal raciocínio dos intelectuais, quem pensa dessa forma trabalha sobre o erro, confunde as coisas, cultiva e colhe por isso mesmo, um rosário de enganos sem fim e de misérias sem conta. É que dessa acanhada e medíocre posição em que se encontra, o homem profano, meramente sensitivo e intelectivo, quando busca desordenadamente a felicidade, que é o objetivo máximo de toda criatura dotada de livre arbítrio, ele a identifica desnaturadamente com o prazer! Aqui é que está o grande problema, o incrível descompasso. Pode perfeitamente um homem triste ser feliz ou bem-aventurado. Em verdade, é o único que pode. Pelo menos, é o que se verifica, quanto ao início do autoconhecimento e da auto-realização do ser humano, pressupostos indispensáveis para se conseguir a felicidade.

            Há profundas diferenças entre prazer e felicidade que a inteligência desconhece, mas que a razão pode conhecer perfeitamente. A razão nos mostra que todo prazer, sem nenhuma exceção, é uma coisa quantitativa do ego e sempre nos vem de fora para dentro, enquanto a felicidade é apanágio qualitativo do Eu e somente pode vir de dentro para fora. Por isso Paulo de Tarso podia dizer sem mentir: “Transbordo de júbilo em meio as minhas tribulações.” (II Cor 7,4). Por outro lado, é possível que alguém carregue uma infelicidade total, ainda que navegando no oceano de todos os prazeres.

            Não há qualquer tipo de prazer, físico, emocional ou mental, que não se transforme automaticamente em dor, além de certa duração ou de certa intensidade. É que dor e prazer é essencialmente a mesma coisa: apenas sofrimento! Sim, o prazer também é sofrimento. A única diferença é que, enquanto o homem sofre o prazer agradavelmente, a dor ele a sofre desagradavelmente. Por isso que o prazer e a dor nada têm a ver com felicidade. Um verdadeiro santo não busca o prazer nem foge da dor.

            As pessoas derramam rios de lágrimas porque um filho não nasceu ou porque não conseguiram ficar ricas. Quem, entretanto verte uma lágrima por não ter visto Deus? E aquelas que quase enlouquecem com a morte de seu cachorro ou gato de estimação e não demonstram a mínima sensibilidade para as coisas do espírito?

Os que vivem a murmurar, que clamam ao alto por seus males, que se revoltam, que não se conformam, estão marcando passo. Suas dores não edificam nem depuram. Suas lágrimas são ácidas e amargas, gerando males não programados, amarguras desnecessárias, infelicidade voluntária.

            Dessa forma podemos compreender que a tristeza que nos fala Jesus, não é uma tristeza comum e qualquer. É uma tristeza dentro da mais profunda e mais perfeita alegria. É uma tristeza especial e qualificada, a tristeza da disciplina, que o Eu Crístico impõe ao ego humano, tornando-o dócil e manejável às mais elevadas exigências do Espírito. É o “caminho estreito” do dever cumprido, é a “porta apertada” da renúncia consciente. É o egocídio voluntário que, no começo, pode trazer uma inquietante e profunda tristeza. Mas, como o ego não morre e não pode morrer, pois só morre o egoísmo, acontece o contrário, o ego se integra no Eu, e assim vive muito mais abundantemente. A tristeza inicial converte-se, de uma forma automática, numa bem-aventurança, que é a mais pura felicidade, a mais bela e sorridente alegria. Aquilo que no início tinha sabor de fel, agora tem o sabor do mel.

            Pude comprovar essa argumentação agora neste meu período no deserto. O jejum e a restrição alimentar provocava em mim uma tristeza profunda por desejar me alimentar, tendo os recursos para isso, mas a minha vontade operada pelo espírito mantinha tudo dentro da meta estabelecida de perder diariamente peso. Assim, eu sentia que essa tristeza logo se convertia em felicidade por saber que meu espírito estava domesticando o meu ego. É esta tristeza a qual Jesus se refere, uma tristeza provocada no corpo pela frustração do ego. Isso é apenas a sinalização da subordinação dos desejos da carne às mais elevadas exigências do Espírito.

            Uma migalha desse sabor, uma pitada dessa alegria, um pouquinho dessa felicidade, vale mais que todos os prazeres do Universo.

            Há ainda outro sentido especial para a bendita tristeza que nos redime, para a tristeza que nos liberta, para a tristeza que nos consola... Essa saudável tristeza é a nostalgia da alma, a angústia metafísica das origens, a eterna saudade do Paraíso perdido. É o mais belo conforto que nos advém do próprio Infinito.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 24/03/2015 às 23h59
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