Para a construção do Reino de Deus é importante que haja a predominância do Amor sobre qualquer outra condição ou sentimento. Surge um elemento importante nesse contexto que é a energia sexual. O amor tende a fazer a aglutinação e harmonização entre todos os seres humanos; o sexo tende a individualidade, ao sentimento de posse, a geração de conflitos. Ambos são necessários, mas que estejam harmonizados e hierarquizados. Claro, a hierarquia maior deve ser do amor, a maior força do universo que se confunde com o Criador. Não é possível entender outra força que esteja acima dela, que mereça a prioridade.
A energia sexual é diretamente responsável pela perpetuação da espécie, e por esse motivo é tão forte. Sua função de criar novos seres, e isso causa uma forte ligação entre os dois gêneros, gerando uma energia potente chamada de paixão. Os dois seres assim envolvidos por essa energia, sentem imenso prazer em ficarem juntos um do outro e realizar o ato sexual que culmina com o ápice do prazer. Essa forte ligação origina o sentimento de posse que pode se perpetuar até depois que a força da paixão se dissipa por efeito do tempo. Geralmente as pessoas já estão casadas nesse momento e passam a reforçar o sentimento de posse, os compromissos conjugais, geralmente atrelados a juramentos de fidelidade mutua quanto ao envolvimento afetivo-sexual com qualquer outra pessoa. O “amor” que cada um sente passa ser de exclusividade de um para o outro, e vice-versa.
Esse contrato conjugal de efeitos civis e referendado pela igreja, se divorcia dos mecanismos biológicos criados por Deus e também das regras morais ensinadas pelo Cristo, que defende o amor inclusivo. Jesus respondeu que a principal lei que supera todas as demais, é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Portanto, sendo a Natureza o reflexo da presença de Deus, com todas suas leis em funcionamento, inclusive as leis da biologia, incluindo os instintos, teremos que ter cuidado para não a descumprir pensando estar obedecendo. O complemento da lei primordial, amar ao próximo como a si mesmo, traz em si a essência da lei moral dentro dos relacionamentos. Eu tenho que desenvolver o amor a mim mesmo para me capacitar a amar ao próximo dentro dessa condição. Se, por força dos instintos criados por Deus, eu me aproximo de uma pessoa, com afetos e com desejos, e se essa pessoa corresponde na mesma intensidade, e se aprofundar a intimidade até o ato sexual vai fazer o bem tanto a ela como a mim, não posso colocar barreiras quanto a isso. A não ser que existam circunstâncias dentro do Amor Incondicional que podem estar impedindo. Por exemplo, a pessoa ter prometido fidelidade a outra pessoa, e ao interagir sexualmente com uma terceira, comete um ato de traição. Este tipo de impedimento pode ser retirado com o uso da verdade. Se a pessoa tem essa compreensão, que o amor inclusivo deve ser praticado na sua vida, com o potencial de chegar até o envolvimento sexual, isso deve ser esclarecido com quem queira de si se aproximar e conviver. Então, a traição deixa de existir, o amor inclusivo pode ser praticado, a família nuclear abre maior amplitude e a família universal pode começar a funcionar.
Os tijolos para construção do Reino de Deus são representados por nossos corações, livres da supremacia do egoísmo, sintonizados com o amor incondicional. Este é o primeiro trabalho que devemos fazer, a olaria dos tijolos para a construção do Reino de Deus. O Cristo já nos mostrou esse caminho, o da reforma íntima. Para burilar esses tijolos e deixa-los assando prontos para serem usados, devemos usar a energia do amor incondicional.
Feito isso, é hora de juntarmos os tijolos para a construção do Reino. Observaremos que as oficinas disso acontecer são as famílias que deverão passar por uma mudança de mentalidade: do predomínio da família nuclear, para o predomínio da família universal. A importância da família nuclear continuará e será restrita à responsabilidade que teremos com os companheiros e com os filhos e pais. Mas a prioridade ética será com a família universal. Onde encontrarmos qualquer pessoa próxima que seja considerada como filho, pai, irmão biológico, amado como se fosse a nós mesmos. Não haverá mais desamparo, fome, guerras. Todos serão prioritariamente de nossa família, de acordo com a necessidade que exibam.
Essa passagem ética de prioridade da família nuclear para a universal será o maior trabalho que teremos. Para que isso aconteça, é necessário criarmos serviços devotados exclusivamente ao bem, sintonizados com a misericórdia ensinada pelo Cristo a todos que honestamente procurarem por isso.
Terá que ser um serviço de poder aglutinador, o cimento onde os tijolos possam ser colocados e tomarem forma. Um tipo de igreja que tem a missão de ligar Deus aos homens. Ao mesmo tempo que tenha o cuidado de procurar a coerência do Amor Incondicional presentes em qualquer outra denominação religiosa. Essa atividade teria um caráter educativo dentro da ótica evangélica e procurando a harmonia de pensamento entre os companheiros e de sintonia entre as instituições. Quem estiver dentro dessa atividade, procurará viabilizar o trabalho de todos de forma justa e vocacional. A dignidade humana deve ser procurada para todos. Todas essas ações tem a cobertura indispensável do amor. Surge assim o título dessa entidade que já foi colocada aqui em outros termos: Escola-Igreja Trabalho e Amor (EITA).
Este é o esboço arquitetônico para a construção do Reino de Deus, seguindo as instruções de Jesus. O desafio no momento é saber se nossos tijolos estão devidamente cozidos para sustentar o peso dessa construção. Mas vale a pena tentar!
A borboleta chegou perto de mim
Coitada, se debatendo no vidro pra sair
Num esforço viril, como a pedir
Queria voar entre as flores do jardim
Eu não podia quebrar essa vidraça
Não podia dar a sua liberdade
Mas tu és minha colega, de verdade
Também me debato na desgraça
Também eu vejo ao longe tanto amor
Que minha alma algemada não alcança
Mas tu, logo foges dessa dor
Tua vida é tão curta, vai embora
Nada fica disso tudo, nem lembrança
Enquanto eu fico por aqui anos afora
Tenho um coração, deveras na prisão
Cujas grades são feitas pelo medo
Sem compaixão desse coitado do enredo
Que chora e se lamenta viver na solidão
Eu sei que existe nesse mundo
Sentimentos de todos os matizes
Que existem tantos seres, tão felizes
Mas para mim, só o poço, este fundo
Nunca ninguém me amou, agora eu sei
Querem apenas me ter nesta gaiola
Me debatendo sem gaita, sem viola
Ninguém sabe a cor da minha alma
Ninguém sabe da dor me trazer calma
Ninguém pode dizer, sim, eu te amei.
A Natureza é bela, digna representante da imagem do Criador. Nela está inserida uma sabedoria que nenhum dos maiores gênios da humanidade chegou perto. Contemplo as estações e vejo a dança do reino vegetal como se quisesse encantar o reino animal, principalmente a nós, seres humanos, com nossos olhos sofisticados e cérebros qualificados como o suprassumo da racionalidade.
Observo o verdor das folhas que se abraçam com os raios do sol, produzindo frutos e cheiros. O tempo passa, as frutas amadurem, as folhas amarelam e caem. A nostalgia parece dá o tom da natureza. É o outono da existência.
Mas eis que vejo, lá no meio uma flor. Como pode um ser tão frágil desafiar o poder da Natureza? Da sua caminhada inexorável em direção ao fim? A flor rebelde perfuma a nostalgia da despedida, enfeita a cena da melancolia com seu vigor derradeiro.
Essa flor é minha conselheira. Estou no outono da minha vida, minhas folhas amareladas já começam a cair. Mas o meu coração, como flor rebelde quer manter o viço do amor, mesmo que não tenha os gametas reprodutores, mas quer perfumar o ambiente com gestos e sorrisos, beijos e abraços.
Eu destoo de todos ao redor, que cabisbaixos seguem a rotina de uma vida cadente, cambaleantes, em direção ao sepulcro, reta final de tal corrida.
Sou amante da Natureza, mas agora filho rebelde, não quero acompanha-la em seus acordes melancólicos. Devo gastar minhas últimas energias na beleza de minhas formas, na maciez de minhas pétalas, na essência do meu perfume.
Quero que, no último alento, seja eu oferecido como prova de amor por algum amante apaixonado que me leva para sua amada; quero representar a cola de unir corações, ver o sorriso da donzela ao me fitar; quero ser colocado num jarro com agua no meio da sala, como prova que o amor pode se expressar na mais suntuosa mansão ou na mais humilde casinha, na beira mar ao som das ondas quebrando na praia, ou no alto da montanha, ouvindo o som da cascata se desmanchando no abismo verdejante de uma floresta virgem da ganância humana..
Quero, ao sentir minha pétalas murchando inexoravelmente, exalar a última gota de perfume ao abraço dos primeiros raios do sol do novo dia, como uma oferenda ao Deus criador pelo presente recebido de ter vivido, de amar e de ser amado; que as primeiras estrelas do crepúsculo, venha ajudar a iluminar meus últimos restos de beleza, como bilhões de velas a crepitar no infinito espaço em honra de tão finito e explosivo amor.
Sim, serei essa flor do outono, filho rebelde do Criador, mas que deixarei nEle o orgulho de ter criado um ser tão minúsculo e tão próximo da Sua magnitude; que trouxe pinturas do amor onde Ele não imaginara por.