Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
28/04/2019 00h26
CONVERSA COM O MAR

            Na última caminhada que fiz da Praia do Meio para Ponta Negra, tive a companhia constante do mar, que sempre estava do meu lado esquerdo, e por cima dele eu percebia a ascensão do sol.

            Tive oportunidade de sentar um tempinho na areia e ficar deitado numa pequena piscina feita entre as pedras, protegida das ondas, de aguas claras e refrescantes. Ouvia o som nostálgico e constante das ondas do mar batendo nas pedras, se espalhando pelas areias. Era uma linguagem já conhecida, que está armazenada no fundo da minha consciência, dos tempos remotos, onde deste mar eu fazia meu berço. Lembro a minha formação como uma simples célula, tal qual uma ameba, a passear por esse oceano, sem ter ainda nem um pingo da consciência que tenho hoje. Foram tantos milênios, até eu chegar na condição que me encontro hoje, reconhecendo o meu passado e prospectando o futuro. E tu está aí, querido mar, como ontem, como hoje, guardando segredos ainda desconhecidos, mesmo que já tenhamos pisados na lua. Te demos um Deus, Poseidon ou Netuno, seres miraculosos como dragões ou sereias, mas talvez o mais miraculoso tenha sido nós, gerados no teu ventre e agora viajando pelas estrelas.

            Fiquei a meditar a parecia ouvir a voz sem timbre da energia marinha... sim, filho, és fruto das minhas entranhas e até hoje corre em tuas veias o sabor salgado da minha natureza, tua constituição ainda tem 70% da minha participação. O Pai de todos nós delegou a mim a tua formação biológica, saístes do meu seio para a terra com os principais instintos desenvolvidos, capazes de tua sobrevivência. Fico muito satisfeito, que hoje estejas aqui a conversar comigo, sabendo o papel que eu tive para contigo, sabendo da existência do Pai que te criou e me criou. Por isso entendo quando tu corres e me identificas como “irmão mar”, pois é isso que sou, apesar de ter tido um papel de padrasto ao lado de tua madrasta, a terra. Fico satisfeito, pois reconheces tudo isso. Mas, por outro lado estou triste, como se estivesse sofrendo a síndrome do “ninho vazio” que vocês humanos referem, quando os filhos vão embora cumprir seus destinos. Assim também me sinto contigo, pois vejo que estás abandonando o corpo que tanto acolhi, que focas agora o teu interesse na evolução do espírito, a energia própria do Pai. Porém, sei que deve ser assim, e por outro lado, me sinto orgulhoso por você ter atingido esse estágio e estar aqui falando comigo, reconhecendo o meu papel e dividindo comigo os teus afetos.

            A brisa acariciava meu corpo trazendo consigo a maresia que eu sentia como se fosse o abraço compreensivo do mar. Senti escorrer uma lágrima pelo rosto e não consegui distinguir o sabor dela salgado com o sabor das águas que me envolvia. Reconheci que por onde eu andasse, enquanto eu tivesse este meu corpo como instrumento, com ele estaria o mar que tanto me ensinou e protegeu.

            Vou sim, em direção as estrelas, mas carregarei sempre na bagagem das minhas memórias a importância do “irmão mar” para a minha aproximação efetiva com o Pai.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 28/04/2019 às 00h26
 
27/04/2019 00h26
QUEM CHORARÁ POR MIM?

            Chorar por alguém significa que esse alguém guarda algum afeto, profundo, por tal pessoa.

            Lembro que certa vez sai para correr na praia, fui da Praia do Meio até Ponta Negra, um percurso aproximado de 15 quilômetros. Estava com uma pessoa no meu apartamento e não disse a ela que iria fazer tal exercício.

            Passei muito tempo nesse exercício, pois a maior parte foi na forma de caminhada, limitada pelo cansaço.

            Quando voltei, percebi o desespero da pessoa que havia ficado no apartamento, sem saber para onde eu tinha ido. Procurou se informar e a recepção do prédio informou que eu saíra para a praia e que já fazia muito tempo. Foi o suficiente para passar mil ideias catastróficas na cabeça dessa pessoa. Acionou os meus parentes, irmãos e já estava intencionada de ampliar ainda mais o número de pessoas para a minha procura, pois só imaginava o pior. Tudo isso regado à muitas lágrimas.

            Passaram os anos. Voltei a fazer o mesmo percurso. Dessa vez não havia ninguém comigo no apartamento. Fui e voltei no mesmo espaço de tempo, talvez maior. Entrei no apartamento da mesma forma que saí. Sem ninguém com qualquer nível de preocupação. Ninguém estava a chorar por mim.

            Foi aí que passei a refletir na situação e ouvi uma música do cantor Leonardo, cuja letra traz também essa reflexão

Quem É Que Chora Por Mim?

Nas asas da saudade/Eu deixei a liberdade ir embora

Quem é que chora por mim?/Quem é que chora?

Pelas curvas da paixão/Eu deixei meu coração cair fora

Quem é que chora por mim?/Quem é que chora?

Revirei os quatro cantos/Procurando seus encantos

Que o vento levou/Só ficou água de pranto

E a dor em cada canto/Que a gente se amou

Quem é que chora por mim?/Quem é que chora por mim?

Quem é que chora?

Restam/As marcas de batom numa cortina

O seu maiô á beira da piscina/E a nossa toalha sob o Sol

Resta/A sua imagem nua no chuveiro

Meu coração que sofre o tempo inteiro/E o cheiro do seu corpo em meu lençol

            Essa canção é integralmente romântica, foge hoje ao meu perfil, que é prioritariamente espiritual. Será que as lágrimas têm esse foco tão forte no romantismo? É preciso definir melhor a motivação dessas lágrimas. Tenho facilidade de chorar... não sei bem se esse seria o termo. Uma situação em que me vejo envolvido empaticamente com os personagens, que podem até ser fictício, seus sentimentos deixam correr minhas lágrimas. Pode ser até numa situação desse tipo que o cantor Leonardo musicou. Coloco a minha alma sintonizada com a alma do cantor, que imagino estar passando por tal situação, e sinto as lágrimas correrem. Sinto o drama da pessoa que deixou um ser amado ir embora, que procura pelo mundo e não a encontra, somente a dor em cada decepção. Os rastros da pessoa pela casa, nos objetos, só fazem reforçar um tempo que se foi e não volta mais.

            Recorro as lições de Jesus para sair desse conflito. Faz ao próximo o que desejarias que fizessem a ti. Não fazes ao próximo o que não queres para ti. Fazer o outro chorar é um sofrimento, mas também pode ser um sentimento de empatia pelo outro. No primeiro caso, do sofrimento, não quero fazer ninguém sofrer, pois não quero que ninguém me faça sofrer. Sofrer por empatia, é uma escolha de cada um, uma sensibilidade adquirida, não é por culpa de ninguém.

            Chego à conclusão: quem chorará por mim, empaticamente? Por saber que tenho na mente uma missão a cumprir que tem o potencial de me deixar viver sozinho, sem a companhia de ninguém, pois ninguém consegue aturar a minha forma incondicional de amar, sem oferecer exclusividade de amor a ninguém, e cada pessoa que encontrei até hoje tem a necessidade desse amor exclusivo?

            Quem chorará por mim?

Publicado por Sióstio de Lapa
em 27/04/2019 às 00h26
 
26/04/2019 00h22
CORRIDA NA CHUVA

            O dia estava favorável. Nublado com pingos de chuva. Decidi fazer a corrida mais ampla possível, da Praia do Meio até o Morro do Careca em Ponta Negra. É um percurso longo, cerca de 15 quilômetros, vai além das duas horas de exercício que costumo fazer nessa fase da quaresma.

            Comecei a corrida da mesma forma que faço quando estou em casa, correndo no mesmo lugar e alternando com a Marcha Militar e com o Polichinelo. Faço 75 passos contatos com o pé direito no chão, e intercalo com 30 movimentos da Marcha Militar ou o Polichinelo, de forma equilibrada entre os dois. Conto dez sequencias de 75 passos da corrida com os 30 movimentos da Marcha Militar ou do Polichinelo, com os dedos da mão. Quando termina, coloco um indicador sobre a mesa, de que fiz a sequência completa, e recomeço tudo mais uma vez, até colocar 6 indicadores sobre a mesa. Dessa forma, contabilizo 150 passos da corrida com pé direito e esquerdo multiplicado por 10, os dedos da mão, que totaliza 1.500 passos. Esse número é adicionado com 5 sequencias de Marcha Militar e 5 sequencias de Polichinelo, sendo 30 cada uma, soma 150 de cada. Esta sequência completa é multiplicada por 6, os indicadores que coloco sobre a mesa. Tenho assim o valor total de 6 x 1.500 passos da corrida = 9.000; 6 x 150 Marcha Militar = 900; e 6 x 150 Polichinelo = 900. Juntando tudo, tenho 10.800 movimentos do exercício completo que dura cerca de 1h30m.

            Importante dizer que os indicadores do número da sequência total dos exercícios realizados e colocados sobre a mesa, procuro dar um significado espiritual, usando as cores à minha disposição. Assim, o primeiro objeto que coloco tem a cor avermelhada que representa o corpo físico, obrigado que está sendo pelo espírito para iniciar o exercício; o segundo objeto tem uma cor alaranjada, como se o corpo começasse a se aliar aos interesses do espírito; o terceiro tem a cor azul que é o predomínio do espirito sobre o corpo, fazendo a vontade do Pai, que é cuidar do corpo adequadamente; o quarto objeto tem uma cor leve, esverdeada, que representa a vigilância do Pai sobre o exercício realizado; e finalmente, as duas últimas sequencias, tem a tonalidade da quarta com um pouco mais de avivamento, como se o Pai tivesse enviando os seus eflúvios para ajudar nas dificuldades que o espírito tem com o cansaço do corpo e sua tendência de ociosidade.

            Também deixo à disposição caderno e lápis sobre a mesa para notação de qualquer inspiração que surja durante o exercício, que sempre surge, mais de uma, e que devo refletir e procurar implementar no dia-a-dia.

            Após os exercícios aeróbicos, coloco a esteira e faço exercícios abdominais e de apoio, também em número de 30 cada um deles.

            Finalmente, os exercícios totais terminam por volta de 2 horas, quando vou ao banho, ver o peso e dou por encerrado os exercícios.

            Durante a corrida da praia, claro, não poderei fazer todo esse ritual como posso fazer em casa. Mas faço os exercícios aeróbicos, abdominais e apoio, sempre em direção ao meu objetivo final, atingir o Morro do Careca. Para contabilizar as sequencias da caminhada, procuro colocar algum tipo de pedra encontrada no caminho dentro do bolso do calção. Interessante, não encontrava nada de pedra que pudesse ter esse papel. O jeito foi substituir por seres vivos, como plantas e algas.

            Após as seis sequências, parei para fazer os exercícios abdominais e apoio. Aproveitei e fiquei bastante tempo numa espécie de piscina entre as pedras. Como a maré iniciava a fase de enchimento, as ondas se tornavam cada vez mais forte. Entre uma e outra a agua ficava limpa da areia e transparente. Eu podia ver com facilidade diversas pedrinhas, bastante polidas pelo constante fluxo das águas. Escolhi algumas delas interpretando como oferta dada pelo trabalho conjunto das águas, do vento formando ondas e da mãe Terra com a matéria prima.

            Nessa altura já tinha se passado as duas horas do exercício regular, da corrida, e eu ainda estava na metade do caminho. Não poderia mais correr, não tinha mais energia para tanto. O jeito foi completar com a caminhada, de forma lenta, fazendo eu chegar na meta final com mais três horas, totalizando cinco horas ao total. A chuva não caiu com intensidade, mas durante todo o percurso eu sentia os seus pingos sobre o meu corpo, como se quisesse atenuar os efeitos dos raios ultravioletas do sol que conseguem ultrapassar as nuvens.

            Finalmente, fui até o ponto de táxi e contratei com o motorista me deixar de volta no apartamento, pedindo para ele comprar água de coco, pois estava sem dinheiro, mas que eu pagaria tudo no final do trajeto. Assim aconteceu e me senti totalmente sintonizado com o Pai, fazendo aquilo que Ele esperava que eu fizesse.

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em 26/04/2019 às 00h22
 
25/04/2019 00h22
HOMEM ANJO

            Durante o processo evolutivo do espírito, a partir da sua condição de completo ignorante, vamos observar a conquista lenta e gradativa do necessário para atingir a condição pura, perfeita, a condição de anjo.

            Na minha corrida e caminhada da Praia do Meio à Praia de Ponta Negra, consegui visualizar e comparar movimentos que podem representar as duas primeiras fases evolutivas, a primeira onde predomina o movimento do cavalo, a força dos instintos, da biologia. Na segunda fase, identifiquei o movimento do caranguejo como a saída do espírito de sua “toca” mental e conduz o movimento do corpo virado para o leste, para o nascer do sol, astro que representa Deus em muitas civilizações, como o poderoso Egito.

            O meu corpo forçado a se movimentar virado para o astro-rei, é uma prova da força do espírito sobre a competência da força biológica, instintiva, representada pelo cavalo, que segue sempre em linha reta.

            Assim, nessas duas fases, podemos considerar a força do corpo e a força do espírito empatados no movimento que se repete até a chegada ao objetivo. Como poderia ser representada a terceira fase, onde o espírito já tem o predomínio total sobre o corpo e pode ser considerado puro, perfeito... um anjo?

            Refleti que essa condição que deveria envolver todos os movimentos ocorridos durante a corrida e caminhada, tanto os movimentos de Marcha Militar (cavalo), quanto de Polichinelo (caranguejo), e também os movimentos da corrida em si.

            Dentro dessa abrangência, com o espírito em completo controle sobre o corpo, posso imaginar que as limitações corporais do cansaço e limites físicos, podem ser superados. Então, a corrida se tornaria menos penosa, o avanço mais rápido. Claro, essa condição eu não alcancei e talvez jamais alcance nesta atual encarnação, neste planeta. Mas fica a promessa de que isso um dia pode ser alcançado, como algumas pessoas que por bilocação podem estar em dois lugares distintos.

            Para atingir essa condição, sei que muitas lutas irão ser travadas entre o meu corpo e o meu espírito. Deverei administrar os prazeres do corpo para que não ocorra exageros, para que não seja provocada doenças ou quaisquer outros problemas que atrasem o desenvolvimento do espírito. E não é só isso, o espírito está consciente que deve exigir do corpo uma cota de sacrifício, tanto para controlar seus impulsos e melhorar a capacidade funcional do corpo, quanto na ajuda aos semelhantes, que implica a sair da zona do conforto.

            Esta luta na qual o espírito mostra a prevalência nos dias da Quaresma, devem ser ampliados para outros momentos e até se tornar o hábito. A forma de lutar com tanto afinco só nesse período e logo que passa os 40 dias volto a ter a mesma complacência com os prazeres do corpo, devo ter cuidado, e manter o controle das rédeas sobre esses desejos carnais, por bem mais tempo. Só assim, a terceira fase do homem anjo pode surgir e permanecer. 

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em 25/04/2019 às 00h22
 
24/04/2019 00h22
HOMEM CARANGUEJO

            Colocando a sequência do meu exercício de corrida na areia da praia, da Praia do Meio até a Praia de Ponta Negra, onde na primeira fase dei o título de Homem-Cavalo, pois nos movimentos alternativos de Marcha Militar, os pés são forçados para trás como num coice de cavalo.

            O próximo movimento que alterno com a Marcha Militar, é um movimento de Polichinelo, onde faço 30 Polichinelos, pulando no mesmo lugar com as pernas abertas e os braços para cima.

            Quando faço esse movimento em casa, sempre é feito no mesmo lugar, como todos os outros. Mas fazendo dentro de uma corrida como esta, para um lugar distante, verifiquei que seria melhor fazer e se deslocando para o lugar de destino. Mas como seria difícil o deslocamento para frente, na execução do Polichinelo, resolvi ficar de lado e assim fazer o movimento de avanço para o meu destino. Percebi que os rastros deixados na areia eram bem interessantes, os pés se deslocando para o lado, como o movimento do caranguejo.

            Comparei com o movimento anterior que parecia com o movimento do cavalo, um ser mais poderoso e exposto na natureza, comparado com o frágil caranguejo que vive de forma introspectiva, dentro dos mangues, escondido em suas locas. Seria essa a comparação, o meu espírito identificado com a introspecção, com a vida sem expressão, comparada com o viril cavalo.

            Acontece que o espírito tem por responsabilidade dominar as forças instintivas do corpo, por mais forte que sejam. Quando o movimento do cavalo é realizado, representa as forças instintivas que estão sendo manifestadas, enquanto no movimento do caranguejo são as forças do espírito que sai da toca e se deixa representar pelos movimentos do corpo. É um sinal do despertar do espírito e que tem por função a domesticação das forças instintivas do corpo biológico.

            Durante o exercício da corrida, os dois movimentos são alternados, como se não houvesse nenhuma evolução a partir daí. É como se houvesse acontecido um equilíbrio, onde o corpo e o espírito estivessem numa situação de empate. Mas, a trilha evolutiva aponta para o predomínio do espírito sobre o corpo e isso pode ser representado também na corrida.

            Mas esse será o tema do próximo texto, que deve encontrar a possibilidade de representar a condição evolutiva do espirito.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 24/04/2019 às 00h22
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