Quando Jesus estava seus 40 dias no deserto recebia visita das tentações a cada momento pra provar sua resistência. Nada comparado a Ele, não quero essa equiparação pois sei da sua elevação moral e espiritual muito superior a minha. Mas, seguindo os seus exemplos, é que me deixei envolver por esse deserto mental que pretendo ficar nessa Quaresma, caracterizado mais pela solidão no lar em que moro. Tenho que desenvolver minhas atividades do cotidiano, mas sempre procurando deixar minha mente vazia de interesses mundanos e cheia da presença de Deus com o objetivo de testar minhas convicções frente à missão que entendo estar na minha consciência como vontade de Deus. Já tive vários enfrentamentos e sempre sou derrotado na testagem do bem com o egoísmo, com os prazeres individuais. A caridade é uma delas, sempre estou sendo derrotado, não consigo encontrar o caminho para a prática da caridade de forma natural, humana, solidária, fraterna. Surge um sentimento de... vergonha... ou medo de estar sendo usado por pessoas maldosas? Não sei ao certo, mas é uma falha enorme que identifico na minha estrutura mental. Também a gula, sempre estar me derrotando quando abro espaço para ela, como aconteceu no sábado na viagem para Caicó. Fui derrotado, comi de forma exagerada e sofri logo em seguida as consequências. Mas logo tento corrigir o erro, desde segunda feira, dia 25-01-13, entrei em jejum absoluto, tomando só água. Somente na manhã do quarto dia permiti comer algumas frutas para logo em seguida retomar o jejum no qual estou até agora, no sexto dia. É exatamente outro sábado onde vou a mesma viagem para Caicó e enfrentar a mesma pressão da gula, na ida e na volta. Acredito que estou preparado para o embate e confiante que dessa vez vencerei.
Mas o que quero destacar aqui foi uma visita que tive ontem e que testou os meus princípios e dessa vez fiquei orgulhoso, pois meu comportamento foi digno de um filho de Deus coerente com a missão que pretende executar. A irmã da mulher pela qual eu desenvolvi a última paixão carnal me procurou. Disse que a sua irmã, que tinha me deixado para viver maritalmente com um companheiro em sua cidade do interior, estava em dificuldades. Seu companheiro não convivia mais com ela e a mesma estava com medo de tudo e de todos, chegava a dormir com uma faca de lado para se defender. A filha de cinco anos, desse relacionamento, estava ao seu lado e correndo riscos. Pedia desculpas por ter vindo me ocupar, sabendo que eu tinha tantos afazeres, mas perguntava como eu podia ajudar. Percebi que nenhum sentimento negativo aflorou em meu coração, nem indiferença para o caso. Senti que ali estava uma “pessoa da minha família” que Deus com os seus mecanismos fez com que assim acontecesse e que eu fosse testado para ver se a considerava mesmo da família. Aí estava o grande teste da Família Universal que o Pai quer implantar na terra, quer saber se eu estou a altura dessa missão ou se o meu empenho nesse trabalho é pelo potencial sexual que posso usufruir dele. Pois bem, sem nenhuma perspectiva sexual, sem nenhum desejo consciente ou inconsciente por uma relação carnal, eu me sinto cheio de compaixão, motivado para ajudar aquela irmã que ontem deitava comigo e que hoje passa tanta dificuldade. A família dela agora é minha família, e a minha família também é sua família. Ela está chegando a Natal neste fim de semana e prometi no domingo procurar falar com ela e ver o que posso fazer nesse clima de família, e reforcei isso para a sua irmã quando saiu me agradecendo pela atenção e interesse, que ela não ficasse inibida em me procurar, pois ela era também minha família.
Estou no meio do tempo que tenho que passar aqui neste deserto, mas o resultado desse teste me deixou muito animado frente ao Criador. Diz que estou apto a cumprir a missão que Ele me determinou, mesmo que envolva ações íntimas e até de conotação romântica, mas não deixa e nunca deixará de estar subordinada ao amor incondicional e a ele prestar serviços!
Algumas vezes sou chamado de radical porque tento praticar a vontade de Deus com toda integridade. Mas está lá em Deuteronômio 11,18-19, onde o Senhor diz: Incuti as minhas palavras em vosso coração e em vossa alma! Atai-as, como sinal, a vossas mãos, e ponde-as como faixas em vossas cabeças. Ensinai-as a vossos filhos, falando-lhes delas, seja quando estiverdes sentados em casa, seja andando pelos caminhos, tanto ao deitardes quanto ao levantardes”.
Entendo assim que “Incutir” quer dizer fazer a Palavra de Deus entrar lá dentro do nosso coração. Não posso ficar somente na pregação, na leitura, claro que é necessário lermos e meditarmos a Palavra de Deus, mas é também necessário que a vivamos na prática com intensidade e integridade. Não posso ficar em cima do muro, mais ou menos. Devo querer viver totalmente dentro da Lei de Deus. cumprindo a Sua vontade. Por isso, o Senhor nos exorta ao falar da construção de uma casa. Uma pessoa que construiu a casa sobre a rocha, aconteça o que acontecer: vendavais, tempestades, chuvaradas, ela [casa] permanece firme; por outro lado, aquele que a construiu sobre a areia, no primeiro vendaval, na primeira chuvarada, a casa já ruiu. E como diz a Palavra: “a ruína foi completa”. Entendo que a construção da casa sobre a rocha corresponde a construir minha vida sobre a vontade de Deus e assim ficar resistente a qualquer tempestade que surja no horizonte. Quem não segue a vontade divina, ou fica na condição de mais ou menos, não encontra firmeza nas bases emocionais para resistir as mínimas chuvaradas.
Acontece que eu tenho essa determinação de seguir a vontade de Deus, reconheço o que Ele quer de mim, em nenhum momento da minha caminhada eu vejo sinais de que estou no caminho errado, pelo contrário, todos os escritos que eu leio e até mandam para mim, termina por se encaixar nesse meu propósito divino. Sinto que tenho uma construção sólida, que estou fazendo a vontade de Deus. O problema é que pessoas que decidem me acompanhar nessa jornada, permanecem com sentimentos que não se ajustam a Lei de Deus, do Amor incondicional, e dessa forma gera situações desconfortáveis de conflitos entre nós. Como eu estou assentado em bases firmes, avanço na minha caminhada, mas meus parceiros ficam paralisados, envolvidos na tempestade de suas emoções correndo o risco de desabar.
Este meu período no deserto é o momento que tenho de colocar com toda a clareza, em todos os aspectos, quais são os fundamentos que orientam minha vida e que consistem na vontade de Deus para mim, consiste em minha missão. É o momento de eu ser testado frente a qualquer outro interesse, se tenho condições de levar a frente esse propósito, sabendo que fazendo isso estou “esquecendo de mim” para lembrar de Deus. Toda minha vaidade, orgulho ou pretensão, deverão ser abatidas pela humildade, honestidade, transparência, como aconteceu no último sábado quando perdi a batalha com a gula e fui atingido nos meus brios de homem. Coloquei de forma pública algo tão íntimo e vergonhoso, pois entendo fazer parte de minha missão essa transparência das minhas ações, pois o meu comportamento é a principal lição que devo demonstrar na comunidade para a qual a vontade de Deus quer melhorar os relacionamentos.
Este é o momento de cada pessoa que também está envolvida comigo, principalmente os que estão mais próximos na caminhada, que ombreiam comigo no dia a dia, de fazerem esse exame de consciência íntimo, de qual seja a vontade de Deus para suas vidas e assim descobrindo a seguirem com coragem e determinação. Assim ficarão também em bases sólidas, e qualquer decisão que precisemos tomar, com certeza resistiremos as tempestades que se formarem ao redor.
Como conciliar o relacionamento de um amante incondicional com as pessoas que querem o relacionamento, mas ainda estão presas de forma majoritária aos sentimentos românticos? Os conflitos sempre irão surgir do choque dessas duas formas de amar. Os amantes tentam evitar o conflito omitindo ou mesmo negando, mentindo sobre os pensamentos ou sobre o que faz. Isso é uma forma de empurrar o problema para a frente e que um dia vai explodir com mais prejuízos emocionais.
Também sei que para que haja a harmonização dos amantes é necessário que ambos tenham a honestidade, transparência de tudo que pode acontecer na vida de cada um. E que se querem o relacionamento afetivo, íntimo inclusive, um certo grau de desconforto irá existir até se atingir o nível adequado da harmonização, quando todos já sentem o amor incondicional. Mas que esse desconforto não seja motivo de conflito, pois todos sabem em que situação está vivendo. Sabem de seus pensamentos contrários, do que pensam fazer e até do que realizam que vão de encontro ao que foi acertado. Neste caso é cometido um erro, imaginário ou real, quando o amante pensa ou realiza algo que não foi previamente aceito, é cometido um pecado contra o companheiro. Isso pode ser alimentado, a pessoa diz que aceita a relação verbalmente, mas no íntimo sente e realiza de forma contrária. Enquanto isso não for consertado a relação estará sendo corrompida cada vez mais.
Uma solução para limpar esses pecados do coração é a sua confissão. Deve ser feito um exame de consciência e dizer ao companheiro(o) que pecados cometeu com a maior exatidão possível, com honestidade total, quantas vezes o cometeu, o que pensa a respeito disso. Somente assim a força desse pensamento contrário ao amor incondicional ira diminuir, pois ele se verá a luz do sol, a consciência querendo uma coisa e esse monstro inconsciente que vem à superfície, querendo outra. Agora, se isso não for feito, o monstro mesmo contido pela vontade, ficará dentro da mente criando situações e oportunidades para boicotar o amor incondicional, principalmente na parte do ciúme, exclusivismo e intolerância.
Na fase de ajuste das ações e sentimentos entre os amantes, os pecados não confessados se tornam uma grande barreira para que relacionamento honesto, fraterno e harmônico acontecer, como prever o amor incondicional.
Acredito que no Reino de Deus exista uma condição que todo cidadão deva praticar: a transparência das ações. Isto é uma condição aparentemente fácil para quem deseja seguir com honestidade a Lei do Amor. Mas para quem ainda vive num planeta de expiação como a Terra, onde o mal ainda predomina em nossos corações, isso pode ser extremamente difícil. Estou percebendo isso com mais clareza, nesse período de permanência no deserto. Como tentamos escapulir de conflitos com mentiras! A omissão até que é tolerável, muita coisa que experimentamos ou que fazemos não interessa a terceiros. Mas se alguém chega a nos perguntar algo, é porque já demonstra interesse. Desde que a revelação disso não traga prejuízo para outra pessoa, é nosso dever dizer a verdade, mesmo que isso gere conflitos. Caso o conflito ocorra com a revelação de uma verdade, é porque não há aceitação entre o que as duas pessoas pensam e se elas não estão dispostas a aceitarem uma convergência de opinião, com sinceridade no coração, a convivência harmônica é incompatível.
Pode ser que uma pessoa queira conviver com outra, mesmo sabendo de comportamentos que não aceita, mas isso não é salutar, pois quando o comportamento acontece o conflito surge de automático. Mesmo que essas pessoas se amem, é importante que fiquem afastados, pois a convivência levará a conflitos constantes, perda da qualidade de vida e até transformação do sentimento positivo do amor, em raiva, ressentimento e até ódio!
Este é um dilema sério que acontece comigo que amo de forma incondicional com as minhas companheiras que amam de forma romântica. Eu defendo e atuo com a inclusão de todas; elas defendem e atuam com a exclusão de todas. Totalmente incompatível! Cada uma quer ser única, ter toda a atenção; eu quero dar atenção a todas, sem excluir ninguém, nem do passado, do pressente ou do futuro. Totalmente incompatível! Vejo cada vez com mais clareza, que um amante incondicional como eu jamais poderá viver com harmonia com ninguém, se ele nunca encontrar outra pessoa que pense e que sinta também como ele, com o amor incondicional.
Nessa situação, tenho que morar sozinho, sem ninguém a compartilhar o meu lar, pois até agora não encontrei ninguém que tenha também esse amor incondicional no coração. Nem ao menos contatos ocasionais como namorados poderão ser tolerados, se nesses pequenos momentos ainda surgir os conflitos. O amor romântico deve estar totalmente subordinado ao amor incondicional, pois senão qualquer tipo de contato de natureza romântica será perniciosa.
Voltando a leitura do livreto IMITAÇÃO DE CRISTO, cap. 20, que fala do amor à solidão e ao silêncio, item 3: “Não pode haver alegria segura sem o testemunho de boa consciência. Contudo, a segurança dos santos estava sempre misturada com o temor de Deus; nem eram menos cuidadosos e humildes em si mesmos, porque resplandeciam em grandes virtudes e graças. A segurança dos maus, porém, nasce da soberba e presunção, e acaba por enganar-se a si mesma. Nunca te dês por seguro nesta vida, ainda que pareças bom religioso ou ermitão devoto.”
Este é um bom conselho que eu devo aproveitar. Tenho uma tendência, de só por que tenho boas intenções, já me considerar seguro, num patamar espiritual superior. Agora, não sinto esse temor de Deus com tanto significado como é colocado no texto. Sinto mais um grande respeito e grande veneração, que Ele está sempre perto de mim e pronto para me ajudar e perdoar os meus erros. Acredito que é assim por causa das minhas intenções. Caso eu tivesse más intenções eu poderia temer à justiça de Deus. Mesmo na ocorrência dramática que passei no sábado, devido ao meu exagero na alimentação, na gula, enfrentei as consequências sabendo que era permissão de Deus, mas que eu podia recorrer a Ele para ser perdoado por minha invigilância. Então, a minha segurança está sempre vinculada ao amor de Deus a todas as criaturas, e principalmente aquelas que conscientemente procuram fazer Sua vontade, deixando de lado os próprios interesses.
Este período que estou passando no deserto quaresmal deve ser único. Deve ser uma espécie de vestibular, de ENEM espiritual onde de acordo com meu desempenho vou ser aceito para uma missão apropriada ao que já conquistei com meus esforços até o atual momento. Como todo estudante que faz o ENEM, eu também enfrento o deserto esperando me capacitar para uma missão que considero muito honrosa e que para tanto vou precisar de professores de alta competência espiritual, da estirpe do próprio Jesus, mesmo porque a missão que eu quero é justamente aquela que Ele veio anunciar: realizar o Reino de Deus neste mundo material, nestas relações interpessoais cheias de egoísmo, nas relações íntimas cheias de exclusivismo.