No estudo espiritual realizado na Associação Médica, a discussão maior foi sobre o meu comportamento, se estava seguindo os critérios cristãos. Durante a leitura do texto foi encontrado o seguinte: “O espírito para trabalhar por sua depuração, deve reprimir as más tendências, vencer as paixões, vendo as vantagens no futuro; para se identificar com a vida futura, devemos para ela dirigir nossas aspirações e preferi-las à vida terrestre; é preciso não só nela crer, mas compreender; é preciso representa-la sob um aspecto satisfatório para a razão, em completo acordo com a lógica, o bom senso e a ideia que se faz da grandeza, da bondade e da justiça de Deus”.
Com a reflexão sobre o texto, coloquei como exemplo a minha decisão de mudar a minha forma de considerar o exclusivismo afetivo e sexual que caracteriza o casamento. Mostrei que apesar da minha firme decisão ao casar, de manter a fidelidade conjugal, passei a sofrer convites para envolvimento sexual fora do casamento. Era uma colega de trabalho, que durante os meus plantões enquanto acadêmico de medicina, fazia os seus convites para sairmos qualquer dia e realizar uma transa sexual. Ela era uma pessoa sensual, casada tanto quanto eu, e ambos sabíamos que seria uma ação que teria efeitos só para nós, iriamos ter um prazer sexual que não deveria importar a terceiros. Eu resistia, pois estava convicto que isso era um erro, eu estava comprometido com a promessa de fidelidade conjugal, eu deveria me envolver sexualmente apenas com minha esposa. Acontece que os constantes convites despertavam cada vez mais os meus desejos, ativava os meus instintos de reprodução, que eu poderia caracterizar como as “más tendências”. Porém, entrou nas minhas racionalizações os conceitos do Amor Incondicional, as lições do Mestre Jesus, de fazer ao próximo aquilo que desejaríamos para nós. Eu tinha ao lado o meu próximo mais próximo, uma mulher sensual que desejava fazer sexo comigo. Dentro desse contexto não haveria problema de sair com ela, pois eu também desejava que isso acontecesse. O impedimento para que isso acontecesse, era a existência da minha esposa e do marido da minha colega. Acontece, que pelo que ela relatava, o marido costumava ter suas experiências extraconjugais. Eu seria um elemento de trazer justiça para ela. Mas, com a minha esposa era diferente, ela nunca teve outra experiência sexual e seguia com rigidez o compromisso de fidelidade conjugal prometido diante do altar. A minha lógica dizia que eu não podia me permitir sair com minha colega, já que minha esposa cumpria a promessa feita e eu esperava isso dela. Foi essa amarração entre mim e minha esposa que constituía o obstáculo para eu sair com minha colega. Mas o desejo cada vez ficava mais forte e a racionalização apontava que a minha esposa era o obstáculo, pois representava o compromisso que assumimos.
Fiquei me sentindo prisioneiro dentro de uma gaiola que eu mesmo construíra e que a minha esposa era a carcereira dessa condição. Senti que o meu sentimento de adaptação e harmonia conjugal ia se deteriorando cada vez mais. Eu procurava manter as aparências de uma vida tranquila, mas cada vez o esforço era maior. Previa que isso estava deteriorando o meu casamento, e que não bastava eu renegar esse desejo que foi formado. Isso iria ficar na minha memória, outros desejos iriam surgir, outras lutas iriam ser feitas e o meu sonho de viver feliz com minha esposa até o fim da vida, estava ruindo. Não era culpa dela nem minha, eu concluía. Tudo surgiu dentro de uma naturalidade, dentro de uma constituição biológica que o Pai construiu para nós.
Percebi que, para manter o meu casamento com a mesma qualidade afetiva, eu teria que quebrar os meus preconceitos machistas e dar a minha esposa o mesmo direito que eu desejava ter agora, experiências extraconjugais. Se eu desse esse direito a ela, então quebraria a barreira que impedia de sair com minha colega. O desejo tão forte que eu passei a ter por ela fez com que eu quebrasse na minha consciência o impedimento que minha esposa nutria da fidelidade e exclusivismo sexual. Pensando assim, sai com a minha colega algumas vezes, o que me trouxe muito prazer. Não havia culpa nem para mim, nem para ela. Ela estava fazendo justamente o que seu marido fazia; eu estava fazendo o que minha esposa também teria o direito de fazer quando a ocasião chegasse e ela assim desejasse.
Mesmo sem ninguém saber disso, inclusive a minha esposa, o meu casamento deixava de ser fechado, exclusivista, para ser aberto. Voltei a ter a mesma alegria de antes no casamento, mesmo sabendo que um dia teria que dizer a minha esposa da minha transformação.
Nesse ponto fica colocada a questão: sofri o arrastamento das más tendências e pequei contra a lei de Deus? Ou obedeci a Lei do Amor, deixando fluir afetos íntimos com o próximo, abrindo a perspectiva da inclusão de um amor mais especial?
Essa retomada de posição fez uma reviravolta na minha vida, passei a viver em sociedade dentro de uma cultura que defende o amor exclusivo nas relações conjugais, mas que na verdade praticam as relações extraconjugais de forma escondida, se mantem sobre o manto da mentira. A minha forma de viver, apesar de tão destoante da cultura está envolta no manto da verdade. Vivo assim até hoje, mesmo sendo criticado por tantos que dizem que estou equivocado, que não estou fazendo a vontade de Deus como eu imagino estar fazendo. Não tenho como provar com minhas pobres argumentações que eu estou certo, mesmo porque eu posso realmente estar errado, e todos os críticos estarem certos. Mas estou pronto para ser julgado pela justiça divina, que sei que é incorruptível e que estou pronto para reparar o mal que eu sem querer possa ter causado, como é dito no sentido final das críticas.
Estou afundando, perdendo a consciência num copo de bebida alcoólica. Sinto que vou morrer afogado, não tenho mais forças para resistir a tamanha atração que arrebata a minha alma sob os desejos da carne, a compulsão por mais um gole que anestesie os meus tormentos. Quando a minha consciência sobe à superfície por um momento, que vejo a destruição ao meu redor, tudo que fiz e continuo fazendo de errado, vem uma vontade de deixar essa existência tão triste, onde me vejo algemado a uma garrafa de bebida alcoólica. Passo a pensar no suicídio, não vejo outra solução. Sei que muitas pessoas como eu encontraram essa solução para sair desse aperto.
Fui na sala de Alcoólicos Anônimos, os colegas que foram falar na cabeceira de mesa mostraram que eram impotentes frente ao álcool. Reconheci que não era diferente deles, também sou impotente frente ao álcool. É ele que está me levando cada vez mais ao fundo do poço. Não tenho forças para resistir a esse arrastamento que consome o meu corpo e minha alma como areia movediça: quanto mais me debato querendo sair, mas afundo na lama. Não tenho nenhum ponto de apoio no qual possa me sustentar, possa fazer força e sair. Minha família não acredita em mim, meus colegas de trabalho se afastaram, restam apenas os amigos de copo, que como eu, também estão sendo arrastados na mesma areia movediça.
Mas alguém me fala de um Poder Superior, uma forma de encontro com Deus da maneira que eu possa imaginar. Dizem que somente um Poder Superior poderá me livrar dessa obsessão que torna minha vida ingovernável. Não acredito que exista um Deus capaz de tamanho milagre. Recuso-me a ser enganado. Mas, eu vivo dentro de um engano. Vivo dentro de um redemoinho que eu mesmo construí e que suga a minha vida. Agora chega perto de minha consciência uma ajuda que poderá me livrar dessa agonia, e eu recuso pois tem um nome que nunca respeitei, nunca dei crédito na sua existência.
Por que não me agarro a esse tipo de salva-vidas que alguém me atirou? Só porque tem o nome de um Poder Superior que eu não consigo ver, medir ou pesar? Mas também não consigo ver, medir ou pesar essa obsessão pelo álcool e que destrói a minha vida. Porque não posso aceitar essa sugestão, mesmo que seja só para experimentar um pouquinho de sua realidade? Porque não deixo à minha mente aberta para a possibilidade de um milagre acontecer na minha vida? Afinal, a ciência aceita a existência dos milagres, dos fatos que acontecem e que ela não consegue provar ou explicar.
Vejo ao redor, na sala de AA, tantos exemplos desse milagre, e todos tiveram a ajuda desse Poder Superior. Porque somente eu deva ser melhor ou pior do que eles e não ser alcançado por esse milagre? Devo parar de lutar com a minha descrença. Não posso acreditar em Deus e desafiá-lo ao mesmo tempo. Acreditar significa confiar e não desafiar. Porque não considerar nos companheiros abençoados pelo milagre da abstinência o refúgio da minha fé? Talvez dentro dessa sala, frequentando, aprendendo e servindo, a minha fé se amplie. Talvez eu chegue a ver o rosto de Deus, algum dia quando cansado de servir ao próximo, quando muitas almas eu tiver ajudado a sair do desespero contando a minha história e estendendo a minha mão, quando eu fitar com meus olhos umedecidos pela fé, o meu próprio espelho.
Bom dia amigos.
Quero agradecer ao Poder Superior mais um dia de existência e a oportunidade estar aqui, no meio de vocês, sendo convidado para dizer algumas poucas palavras neste importante evento comemorativo de 43 anos de existência de AA no Rio Grande do Norte. Agradeço a acolhida de vocês à minha participação enquanto técnico, pois muito aprendi sobre uma das doenças mais terríveis da humanidade: o alcoolismo. Uma doença que os bancos da academia não ensinam como melhor abordar a questão, como melhor orientar ao alcoólico que se encontra mergulhado nos miasmas da embriagues.
Confesso que o AA me ensinou a descobrir o ser humano que existe sob a pele do famigerado alcoólico, ser desprezível que não escuta nem respeita amigos ou parentes, que abandona o trabalho e as responsabilidades do lar, da ética e do respeito ao Criador, e destrói a cada dia o melhor presente que o seu espírito recebeu: um corpo físico.
Este ser humano que se tornou alcoólico, pode chegar ao meu consultório ou receber minha visita dentro de uma enfermaria de hospital psiquiátrico, mas sem reconhecer que é portador dessa doença, não ver o prejuízo que está causando a sua vida e de quem esteja por perto na convivência. A minha fala, os comprimidos que eu possa prescrever para conter os sintomas que afetam a sua existência, não conseguem chegar ao núcleo da sua mente e dissolver o forte desejo que impede o juízo crítico de perceber o dramático de sua situação. Sou uma figura apenas paliativa, um médico que diz palavras de orientação, de advertência, às vezes com palavras duras, mas que não conseguem deter a atenção do alcoólico no ponto que ele mais está comprometido: a intenção de continuar bebendo da forma que ele deseja.
Fiquei muitas vezes frustrado, sentindo-me incompetente por não conseguir retirar o paciente dos laços dessa doença, nem mesmo de faze-lo reconhecer que é portador de tal patologia mental. Uma patologia que matava lentamente o meu paciente, ou as vezes de forma imediata, através do suicídio, de um acidente, de uma briga, de um acometimento fatal num órgão vital como o fígado, coração ou pâncreas.
Foi em tais circunstâncias que vim a conhecer a Irmandade de Alcoólicos Anônimos. Estudei a sua literatura e vi a importância da sua existência para o enfrentamento do alcoolismo, a doença invisível que mata lentamente a pessoa, destruindo todos os seus valores éticos e morais, atingindo inclusive seus familiares. Aprendi a falar, a convite, na cabeceira de mesa, sobre os meus conhecimentos técnicos, como médico psiquiatra, e como é importante o trabalho de AA para ajudar o alcoólico na ativa. Reconheci algo que na academia não ensinaram, da importância do Poder Superior, de Deus da forma que o entendemos, em nossa vida e principalmente na nossa recuperação. É ele que nos dá a força, conforme diz o segundo passo, para resistir ao forte desejo que habita dentro da minha mente, que está sedento pelo primeiro gole, pois é daí que vem tantos outros goles.
Hoje estou muito feliz, por ver este auditório cheio de doentes saudáveis. Pessoas que mantém a sua doença sob o controle dado por essa consciência coletiva que se manifesta aqui e agora e que se replica a cada momento, a cada dia, em praticamente todos os bairros da capital, todos os municípios do estado, todos os estados do pais, todos os países do nosso planeta.
Não sou alcoólico, mas quero agradecer profundamente a todos vocês, à Irmandade, por me reconhecer como membro, por ter me dado uma opção de vida que posso oferecer aos meus pacientes, a ser um profissional mais competente naquilo que digo e que faço, e por saber que o meu paciente pode encontrar bem perto dele, uma sala aberta que o receberá de braços afetuosos, sem preconceitos, que oferecerá um cafezinho, um local acolhedor para sentar e ouvirá de cada um que for à cabeceira da mesa histórias muito parecidas com a sua. Sentirá que naquele dia, naquele local, com aquelas pessoas, ele é a pessoa mais importante.
Muito obrigado pela atenção.
Hoje, domingo, é o dia que a Igreja Católica comemora como sendo da Assunção de Nossa Senhora. Chegou à minha mente mais uma intuição de fazer mais um trabalho: diário do pastoreio. Tenho a firme convicção de fazer a vontade do Pai, assim como Ele a coloca em minha consciência, seguindo as orientações de Jesus Cristo, o filho mais evoluído do Pai, que serve como modelo para nosso comportamento. Nossa Senhora, a Sua mãe e a nossa, deve ter influenciado para que essa intuição chegasse até minha consciência, pois este é um dia dedicado a ela.
Como estou cercado de pessoas que passam por muitas dificuldades, de todos os níveis de gravidade, como tenho uma formação técnica capacitada para ajudar como profissional e como irmão, sinto que o Pai me enche de tarefas das quais não posso dizer “não”, apenas tendo o cuidado de manter as ideias em funcionamento, mesmo que seja com a ajuda de outras pessoas.
Esta intuição que veio agora foi a de organizar as ideias em outro bloco de anotações, com as atividades práticas que devo realizar em torno das diversas necessidades que forem surgindo à minha frente. Tive a visão de um pastor que tem a obrigação de cuidar de suas ovelhas, lembrando da lição que Jesus nos deixou. Sei que sou uma das ovelhas sob os cuidados do Bom Pastor, que é o Cristo. Sei que de suas ovelhas, algumas seguem suas orientações e se tornam mais aptas a cuidarem de suas irmãs. Considero-me uma dessas ovelhas mais estudiosas e que se capacitou a cuidar agora de suas irmãs, assumindo o papel de um monitor, uma característica de um pastor, seguindo os passos do Mestre. Espero que das ovelhas sob meus cuidados diretos, surjam aquelas mais capacitadas a desempenhar o mesmo papel que eu agora estou tentando desempenhar.
Lanço um olhar pelo campo onde se espalham as minhas ovelhas e distingo alguns setores em particular, onde uns podem se desdobrar dentro de outros. O setor da minha família nuclear caracterizada pelas mulheres com as quais tive relacionamentos íntimos, principalmente com aquelas que germinaram sementes; o setor da família consanguínea; o setor da família Vital; o setor da comunidade; o setor da psiquiatria; o setor da espiritualidade; o setor da mútua ajuda. É bom lembrar que essa indicação de Pastor, não quer dizer que eu esteja num patamar muito superior ao das ovelhas. Eu também sou uma ovelha e também necessitado de ajuda, de compreensão, de perdão para meus erros. Porém, como muito já me foi ofertado, e como muito eu já absorvi, então tenho que ter a responsabilidade de muito ter de colaborar, pois o que de graça se recebe do Pai, de graça devo devolver aos meus irmãos mais necessitados, não importa as motivações de natureza animal que possam existir. Os valores espirituais sempre devem ter a primazia, ser hierarquicamente superior e comandar as ações no cotidiano.
Hoje fui ao setor da Mútua Ajuda, fui ao Seminário de Alcoólicos Anônimos que comemora 43 anos de existência em nosso estado, Rio Grande do Norte. Encontrei muitos alcoólicos em recuperação, velhos conhecidos, que me cumprimentaram com grande alegria. Expliquei a alguns que estava trabalhando no grupo de alcoólicos de Ceará-Mirim, que estava na companhia de José Maria que ingressou no AA e se encontra em abstinência há 2 meses. Conversei com duas senhoras, Conceição e Socorro, que fazem parte do Al-Anon de Ceará-Mirim, funcionando na mesma sala do AA nas quintas feiras, e disse que estaria encaminhado familiares de alcoólicos.
Sempre encontro dificuldades na compreensão de como deve ser exercido o perdão. Na palestra que realizei hoje à noite em Ceará-Mirim, que fala das famílias-problemas, e que foi abordado o tema do perdão, encontrei fortes divergência na forma de ser o comportamento de quem pratica o perdão para com a pessoa que praticou contra si algum tipo de pecado, de ofensa.
Posso estar errado nas minhas argumentações, portanto fui ao google e coloquei para pesquisa a frase: “a prática do perdão”. O primeiro site que surgiu eu fiz uma colagem e trouxe para cá, para trabalhar sobre ele argumentando sobre o que diz, para saber se descubro as raízes do meu equívoco, porque não consigo me fazer entender...
A PRÁTICA DO PERDÃO
Em um colégio cristão, um professor de teologia prática dava uma aula sobre perdão. Percebendo que era difícil tratar este assunto apenas na teoria, teve uma ideia: pediu que seus alunos trouxessem para a aula batatas em um saco plástico. Então, instruiu: - Escrevam nas batatas os nomes das pessoas de quem vocês têm algum tipo de mágoa, uma batata por nome. Depois, coloquem nos sacos plásticos e guardem nas mochilas. Vocês deverão levar essas batatas consigo por onde forem até terem permissão para se livrar delas.
Então, aquelas batatas foram se deteriorando. Além do peso, tinham que suportar um terrível mau-cheiro. Assim, reuniram-se e pediram ao mestre.
- Professor, podemos jogar esse lixo fora?
Ao que ele respondeu:
- Claro que sim. Devem jogar essas batatas podres fora, desde que, junto com elas, vocês também joguem fora toda a mágoa e os ressentimentos que elas representam. Caso contrário, o peso e o mau cheiro não sairão de seus corações.
Depois dessa historieta o autor coloca um trecho da carta de Paulo a Filemon (1-25) que não irei reproduzir aqui, e sim as considerações que ele faz da leitura da carta.
O perdão é uma prática essencial do cristianismo que tem o poder de libertar as partes envolvidas. Liberta quem ofendeu de seu erro e liberta a parte ofendida da mágoa, do rancor, da raiz de amargura, que consomem o ser humano e minam sua comunhão com Deus, sua alegria de viver, sua saúde, sua vida.
Filemon era um rico da cidade de Colosso que conhecera o Evangelho através de Paulo. Onésimo era seu escravo que fugiu, furtando-lhe algum bem.
Depois da fuga, Onésimo conheceu Paulo, aceitou a fé e passou a servir o apóstolo na prisão.
Nesta carta, Paulo intercede por Onésimo, pedindo o perdão e a restituição de sua posição na casa de Filemon.
Perdoar é algo que desafia nosso orgulho, nossa natureza decaída, pois não há justiça no perdão. Aliás, não há coisa mais injusta do que o perdão, pois perdoar é não imputar culpa e o castigo que a pessoa os merece. Na verdade, só perdoamos pessoas que não merecem, afinal, se elas merecessem, não seria perdão, seria crédito.
Um exemplo disso, e o maior deles, é o Senhor Jesus, que nos perdoou sem um mínimo de mérito de nossa parte.
Nessa carta, Paulo faz um apelo ao perdão genuíno, dando algumas importantes características desse perdão.
A base do perdão é o amor de Deus em nós.
Paulo apela ao amor de Filemon. Este, não provinha de sua natureza humana, mas de sua fé. Esse amor é inerente aos cristãos e é ele que nos mantém unidos como igreja. Não é algo natural, mas vem do coração de Deus.
Paulo ora para que esse amor seja eficaz.
O amor cristão não pode ser apenas teoria, frases bonitas. Amar envolve atitudes que por vezes contrariam nossa natureza, pois nossa vontade humana é vingar, é fazer justiça; mas Cristo deixou exemplo para que sigamos as suas pisaduras, marcadas pela renúncia, pela auto negação, pelo sangue de uma nova aliança e pelo amor do Deus Pai que enviou seu unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Paulo ensina que o perdão é baseado no amor.
Assim, quem não ama não pode perdoar. Logo, quem não perdoa não ama e se não amamos, não temos a principal marca de Cristo, pois quem não ama, não conhece a Deus, porque Deus é amor.
O perdão é um mandamento de Cristo, mas deve partir do coração.
Paulo poderia dizer: é tua obrigação recebe-lo. Afinal, Filemon tinha uma igreja em sua casa, era um obreiro. Mas Paulo não age assim.
Filemon também era um homem rico, poderia desprezar um escravo. Eu gostaria de dizer que não existe acepção de pessoas na igreja. Que as roupas, o carro, o dinheiro que têm não importam, mas essa não é a verdade. Há pessoas que amam por interesse, amam em troca.
O verdadeiro amor cristão não é assim. O amor, o perdão não são dons celestiais a serem buscados em campanhas. Não adianta ficar orando pra Deus tirar a mágoa, o rancor. O verdadeiro amor é mandamento de Deus e o perdão é fruto desse amor. Tem que amar. Tem que perdoar. Mas, ainda assim, Paulo diz que deve partir de nós.
Perdoar é uma escolha, uma dolorosa e contraditória escolha. Cristo escolheu perdoar, escolheu dar outra chance a pessoas que não mereciam e quando fez isso, abriu mão da nossa culpa, dos nossos erros, da justiça que nos cabia.
Assim, perdoar é abrir mão do orgulho, da justiça própria, da vingança, de si mesmo, como Cristo da glória celestial. Sendo uno com Deus, foi humilhado como homem, sofreu, chorou, temeu e morreu para nos alcançar este tão precioso perdão.
Perdoar envolve sacrifício.
O nosso sacrifício é abrir mão de nós mesmos, de nossa medíocre justiça humana. É escolher. É dizer de quem nos feriu: “Merecia vingança, o troco, o desprezo, mas eu escolho dar o perdão, assim como eu não merecia, mas também recebi do meu Senhor.
Perdão é receber de volta, é restituição.
Nós costumamos oferecer um perdão medíocre: “Eu perdoo, mas é você lá e eu aqui”. Isso não é perdoar de fato. Perdoar é receber de volta. É dizer: não me deve mais nada, não haverá mais mágoa. Agora será daqui para a frente.
O erro, a mágoa, geram separação, é claro.
Mas se houver perdão, a comunhão é restaurada, sem desconfiança, sem mágoa. Não acredita? Também acho difícil, mas em Deus, isso é possível. Nele, que é a fonte de todo o bem, de todo o amor e de todo o perdão, o nosso exemplo maior, nosso padrão perfeito de vida, a relação, a amizade, o amor, podem ainda ser melhores do que antes. E em Deus eu acredito sem reservas.
O perdão mexe com as emoções.
Nos leva a renunciar tanto de nós mesmos que quando fazemos, tornamos mais parecidos com Jesus e podemos, sem ressentimento, nos aproximar uns dos outros e desfrutar a plenitude do amor de Deus. Quer mais do que isso?
Perdão é deixar erros passados.
Perdoar é esquecer? Não no sentido racional. Não se pode apagar as memórias. Mas perdoar é esquecer no sentido emocional. Tome Deus como exemplo. Quando você fala pra Deus:
- É a segunda vez que cometo este erro!
Ele responde:
- Não me lembro da primeira.
Deus por acaso se esquece? É claro que não. Deus escolhe tirar das lembranças
Meus irmãos, perdoar é não dar lugar a pensamentos de mágoa. É abandonar, é deixar no passado. Não escolho os pensamentos que vêm à minha mente, mas escolho aqueles que alimento. Não devo alimentar o que me faz mal.
A prática do perdão dá ânimo aos corações.
Perdoar é um desafio doloroso que exige muito de nós, mas seu resultado não é terreno, é celestial. Os efeitos espirituais são irrefutáveis, pois perdoar é fazer a vontade de Deus e, ao agir assim, desfrutamos de sua bênção: corações são reanimados pelo amor de Cristo.
E como é bom, como é importante um abraço sincero da pessoa que te perdoou ou da pessoa que você perdoou. Isso é coisa de cristão. É coisa de Deus.
O perdão deve ser liberado em suas emoções. Isso te torna mais parecido com o Cristo e faz de você uma pessoa melhor.
Quando estamos na posição de Onésimo e quebramos um relacionamento por erro nosso, devemos nos arrepender, buscar o acerto, buscar o perdão. Deus abençoará.
Quando estamos na posição de Filemon, ofendidos, prejudicados, machucados por alguém que era próximo, devemos nos permitir perdoar, deixar o amor de Deus fruir em nós.
Quando estamos na posição de Paulo, e vemos nossos irmãos com os relacionamentos rompidos, devemos ter empatia, amor cristão, fazer o papel de mediadores e promover a reconciliação.
Uma boa reflexão e faz me sentir mais confiante com minha forma de pensar e agir. Parece que não estou tão errado como tentam passar nas discussões.