Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
13/07/2016 07h57
MAL OU BEM?

            O instinto sexual é uma força significativa presente nos seres humanos, principalmente nos homens, nos quais se mostra com uma maior amplitude, comparada à mulher que mostra maior profundidade. Isto é, o homem tem mais facilidade de se envolver com várias mulheres, enquanto a mulher tem mais facilidade em aprofundar o relacionamento com um só homem. Esse aspecto já é bem conhecido pela ciência, principalmente nos estudos da sociobiologia, quando foca o assunto no sucesso reprodutivo. O homem desenvolve a estratégia de quanto mais mulheres puder fertilizar ao longo de sua vida, com seus milhões de espermatozoides, melhor para a sua performance reprodutiva; a mulher deve ter o cuidado de escolher aquele companheiro que pode lhe ajudar todo o tempo na criação do filho gerado pelo seu único óvulo.

            Essa situação gera um conflito, pois no encontro homem-mulher, apesar de no primeiro momento os interesses coincidirem, no desenvolver do relacionamento as estratégias inconscientes de cada um irão se chocar na consciência e no surgimento dos desejos: o homem irá perceber com mais clareza as diversas oportunidades femininas ao seu redor e a mulher irá fortalecer o seu lado de segurança para garantir a presença exclusiva do companheiro ao seu lado.

            Para evitar um relacionamento injusto devido a força física do homem, o casamento se tornou uma instituição poderosa para conter esses poderosos instintos, principalmente do homem, que tenderia a desestruturar a família, com a geração de diversos filhos espalhados sem o devido apoio financeiro e emocional.

            Poderíamos então, pensar que esse instinto é um mal incrustado dentro de nós? Não, pois ele serve à preservação de cada espécie animal, dentro dos quais nos incluímos. Ele não poderia ser criado de forma diferente? Acredito que não, pois quem assim fez foi o Criador, inteligência suprema dos Universos, não susceptível de erros, e que gera uma Natureza harmônica e progressiva.

            Pois bem, se o instinto sexual não é um mal e sim um bem, como evitar que ele cause tanto estrago como o que vemos na sociedade? Inclusive com a destruição de tantos casamentos? Reconheço que ele é um importante instrumento de sobrevivência, mas por outro lado um importante instrumento de desagregação, de egoísmo, de manipulação.

            A única solução que vejo para transformar o potencial periculoso do instinto sexual em ação benéfica nos relacionamento afetivos, é fazer a aplicação do Amor Incondicional e usar a bússola comportamental que o Cristo nos ensinou: “Fazer ao próximo o que desejaríamos que fosse feito a nós”.

            Quando encontro uma mulher e sinto despertar dentro da mente o desejo sexual, tenho que observar as condições ao redor, verificar que tipo de dano vai existir se esse desejo se expressar: se é uma mulher casada e de boa convivência com sua família, se é uma jovem que sonha em ter um companheiro somente para ela, se é alguém que no momento precisa apenas da minha ajuda material e não afetiva... enfim, se uma ação de cortejo a essa pessoa irá causar mais constrangimento, ou até mesmo prejuízos que ela não pode perceber por imaturidade, mas eu sim; que eu não iria querer que isso fosse feito comigo ou com uma filha minha, então, com certeza, essa ação sexual jamais deverá se manifestar!

            Mas não fica somente nesses cuidados. Para o instinto sexual se transmutar do mal para o bem, é necessário que eu não o repudie na sua força de aproximação com o outro. Aquele desejo de fazer o bem deve permanecer, não para ter uma recompensa sexual, mas porque o outro conseguiu despertar forças dentro de mim, de fazer bem ao próximo, e que posso até usar como modelo para ter o mesmo comportamento com pessoas que não despertam esse desejo sexual. O instinto se torna assim instrumento do Amor Incondicional.

            Lembro de quando dava plantões médicos e era chamado para atender uma jovem cheia de vitalidade e atributos sensuais. Como eu era atencioso e procurava fazer tudo para ser simpático e solidário! Lembro que quando era chamado para atender uma idosa que perdera com o tempo esses atributos, ou mesmo um homem que não despertava em mim desejos sexuais, como ficava tentado a ficar abusado, crítico de comportamentos inadequados, mas a lembrança do comportamento que eu fizera alhures com aquela jovem, freava de imediato essas minhas reações hostis. Eu me aproximava do Amor Incondicional forçado pela coerência que devia ter, e devo isso a força que experimentara dentro de mim do instinto sexual, e agora, ao aplicar a bússola comportamental do Mestre, eu teria de ser da mesma forma, solidário e paciente.

            Dessa forma concluo que, o instinto sexual é um importante instrumento para a harmonia dos relacionamentos, para o fortalecimento da família, principalmente a Família Universal, quando devidamente compreendido e aplicado dentro do critérios do Amor Incondicional, seguindo a bússola do Cristo.  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 13/07/2016 às 07h57
 
12/07/2016 19h33
TRILHA DO PARAÍSO

            Encontrei uma frase no livro de “Urântia” que despertou minha atenção: “Cada mortal sabedor de Deus, que abraçou a carreira de cumprir a vontade do Pai, já embarcou na trilha longa que vai até o Paraíso, na busca da divindade e do alcançar da perfeição.”

            Refleti que já atendo a quase totalidade dessa informação. Sou sabedor de Deus, reconheço Ele como o meu Pai transcendental e procuro cumprir a vontade dEle, e portanto já estou dentro da trilha que vai em Sua direção.

            O que me faz ficar atento ainda e em alguns momentos com interrogações, é se a minha mente conseguiu fazer a devida interpretação do que Deus quer de mim.

            Utilizo o máximo de racionalização para checar sempre se esse caminho do Amor Incondicional construindo a família ampliada com perspectivas da Família Universal, está correta, se isso é mesmo “Amor Incondicional” ou simplesmente um artifício que encontrei para dar vazão aos meus instintos, como muitos dos meus críticos dizem.

            Mas não tem jeito, sempre que aplico a bússola comportamental que o Mestre nos ensinou (fazer ao próximo o que eu desejo para mim mesmo) a minha razão considera que estou correto. O que eu sinto que está ainda precário é o nível de transparência, do que eu faço, por onde ando, com quem caminho. Mas sei que se for totalmente transparente nesse aspecto, irei causar mal-estar ao meu redor, talvez de forma desnecessária, quem está ao meu lado no momento talvez não tivesse interesse em ter tal informação, como algumas companheiras já afirmaram isso.

            Portanto, continuo a seguir a trilha para o divino, muitas vezes não sabendo qual o passo que irá ser dado um pouco mais à frente. Vejo quantas alterações já ocorreram desde que decidi entrar na trilha, mesmo sem, perder o meu foco eu sei que o caminho foi radicalmente modificado, sem que disso eu tivesse feito nenhuma projeção. Tudo acontece de forma inesperada, como se o Pai colocasse em alguns momentos tipo uma bifurcação da estrada, para ver qual é o caminho que sigo. Sei que sempre tem um caminho melhor que outro, e que ambos conduzem a Deus, agora de uma forma mais ou menos rápida, mais ou menos complicada, dolorosa.

            De alguma forma eu percebo que essa Família Ampliada está se dilatando, mesmo sem eu planejar essa ampliação. É como se o Pai desse as opções convenientes para que eu siga a Sua vontade, que ela seja feita de forma perfeita e que só depende da minha decisão, do meu livre arbítrio, seguir o caminho mais coerente. Por isso é que eu imagino que tudo tem mais a participação do Pai do que minha, é Ele quem coloca constantemente as diversas opções para que a trilha siga em direção a Ele, que seja mais objetiva, mais precisa.

            Assim, ao ler um texto com esse conteúdo, eu me sinto integrado à vontade do Pai, mesmo sabendo que consigo ter ido tão avante pela extrema bondade dEle ao querer incentivar as minhas intenções.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 12/07/2016 às 19h33
 
11/07/2016 00h01
O BONDOSO

            Não sabia ainda nada sobre o amor... eu era uma criança de oito anos quando sem saber porque desenvolvi uma atenção toda especial por uma coleguinha da sala de aula. Era uma menina esbelta, de porte aristocrático, grandes olhos, sorriso enigmático, pele morena, curiosa, inteligente. Não posso dizer que era minha amiga, eu pouco falava com ela, apenas a olhava à distância. Afinal eu era muito tímido para me aproximar e começar uma conversa, principalmente quando o meu coração ficava inquieto com a pessoa, como acontecia quando eu a via. Por isso eu posso dizer que foi a primeira manifestação de amor romântico dentro de mim, pois eu ficava imaginando e sentindo como seria bom uma aproximação com ela, de conversar, ver o seu sorriso dirigido para mim, a sua voz me indagando ou respondendo. Ela não percebia essas minhas inquietações, a vontade de fazer algo de bom para ela, que ela pudesse sentir algo de bom vindo de mim assim como eu sentia algo de bom vindo dela, apesar dela não fazer nenhuma ação nesse sentido.

            Foi um dia especial para mim, que ficou incrustado na minha memória, quando eu ganhei um livro de histórias, um gibi colorido, que achei a coisa mais encantadora. Logo pensei na minha pequena “amada”, que ela devia sentir o que eu estava sentido ao ler aquelas histórias e ver as gravuras. Enchi- me de coragem e levei o gibi para a escola, mas como eu não tinha coragem suficiente para chegar perto e falar sobre ela do conteúdo da revista, continuei à distância, porém abri o livro de forma que ela pudesse ver o conteúdo. Meu objetivo foi alcançado com relação a percepção, mas não com relação a emoção. Eu imaginava que ela iria se sentir grata por aquela visão, mas demonstrou irritação, como se eu quisesse me mostrar para ela só porque estava com uma revista nova. Falou com suas amigas de forma irritada e disse palavras irônicas para me atingirem. Não lembro que palavras foram, mas sei até hoje a marca que me deixou na alma, no coração.

            O tempo passou e vim a conhecer o que era o amor romântico e principalmente o amor incondicional. Mas nunca mais voltei a sentir aquele mesmo sentimento por outra pessoa, fui adolescente, amadureci e agora estou descendo a montanha da vida. Meus cabelos se perderam nas estradas da vida e o pouco que restou ficaram pintados de neve.

            Lembro que procurava sentir aquela sensação com tantas das mulheres que passaram na minha vida. Queria ver o que acontecia se determinada pessoa correspondesse aos meus sentimentos, acredito que seria uma experiência do paraíso. Mas cada pessoa que eu simpatizasse, que começasse a sentir a mesma sensação do passado, logo uma cortina de frieza me gelava a alma, o coração desacelerava, e o encanto se perdia. O que salvou minha vida, foi o conhecimento do amor incondicional. Ele me ensinou que o mais importante era a capacidade de amar sem condicionamentos, que se a pessoa amada me amasse em correspondência, ótimo! Mas se tal não acontecesse a minha vida seria digna, somente pela capacidade de amar ao próximo e a Natureza, que representa a figura de Deus sempre ao meu lado.

            Mas, confesso, queria ter essa experiência de um amor correspondido, mas não podia me aproximar dos meus relacionamentos, pois uma força muito mais forte me impedia de aprofundar esse relacionamento. Foi então que eu passei a frequentar os cabarés, as boates, locais onde as mulheres se prostituíam para ganhar a vida. Como esse aprofundamento do relacionamento até a intimidade sexual fazia parte do trabalho delas, passei a frequentar pelo menos uma vez no mês esses ambientes. Queria aprender como chegar perto de uma mulher, aprofundar o relacionamento, trocar fluidos, ter a relação sexual. Mas não tive sucesso. Até hoje continuo virgem. Mas encontrei paz em minha consciência.

            Sim, teve um momento que tudo indicava que eu iria ter sucesso e essa história não fica completa se eu não relatar esse momento. Eu passei a ser considerado nos diversos bordeis que frequentava como o “Bondoso”. Isso porque a garota que ficasse comigo naquele momento, tinha a oportunidade de falar um tanto da sua vida, receber bons conselhos, algumas vezes até encaminhamentos para algum emprego, eram recompensadas acima do esperado, mas não era realizado o ato sexual. A minha fama se espalhou e quando eu chegava a esses locais, logo as inquilinas ou frequentadoras do bordel se insinuavam para mim no sentido de serem eleitas companheiras para aquela noite. Sabiam que quem ficasse comigo, teria no dia seguinte uma vida até transformada, não tanto pelo generoso pagamento que recebiam como pela orientação ou mesmo um bilhete para se apresentarem em determinada empresa para um trabalho.

            Foi numa noite destas que eu cheguei e procurei sentar numa mesa discreta, como sempre fazia. Fiquei a observar as diversas garotas à distância, elas sabiam que eu não gostava do exibicionismo sexual e sempre escolhia quem demonstrava ser a mais discreta também. Foi quando observei, através da luz negra da boate, aquela mulher linda, vestida de forma sóbria, sem muito glamour ao redor dela. Sua pele morena, seus olhos grandes, seu perfil aristocrático, logo enviou a minha memória ao passado e trouxe a imagem daquela menina que nunca saiu dos meus pensamentos. Não tinha nos lábios mais o sorriso enigmático, mas eu sabia que era ela. Meu coração acelerou como naquele dia, parece que o tempo não havia passado. Ela percebeu o meu olhar fixado nela, mesmo assim não fez nenhum gesto de sorriso, nem demonstrou me reconhecer. Eu percebia que estava travado, aquela cortina de gelo queria me envolver mais uma vez, mas agora eu já estava treinado com aquelas garotas e dei um sinal para ela se aproximar.

            Seu caminhar continuava nobre, uma rainha num corpo de prostituta. Sentou a minha mesa de forma profissional, como se dissesse com seu silêncio que estava pronta para o serviço a ser solicitado. Perguntei o seu nome. Respondeu. Perguntei se queria beber alguma coisa. Uma soda limonada. Suas respostas eram breves, precisas, cirúrgicas, sem emoção. Sim, definitivamente, ela não me reconheceu. Ela certamente sabia que eu era uma pessoa excêntrica, e isso deve ter justificado na sua mente a minha postura tensa, com os meus olhos fugindo dos seus na maioria das vezes, de não tomar atitudes eróticas, de evitar até em tocá-la...

            Eu sentia a dificuldade de comunicação, não sabia mais o que dizer além dessas primeiras perguntas iniciais. Não queria tocar no nosso passado, sabia que seria muito constrangedor para ela. Principalmente quando eu dissesse quem era eu, e o que ela fizera comigo e que me marcara para sempre. O silencio se tornava pesado naquela mesa. Foi ela que veio em meu auxílio, perguntou o meu nome. Respondi a verdade, sabia que ela não iria fazer conexão com aquele menino esquisito de sua sala de aula. Perguntou se eu gostaria de dividir com ela a soda limonada. Aceitei. Perguntou o que eu queria fazer. Conversar com você, respondi. Só isso? Mostrou pela primeira vez seu sorriso e descobri nele aquela mesma ironia de criança. Então converse... me provocou.

            Jamais me senti tão perdido na vida. Não sabia o que dizer, o que pedir. Ela era a esfinge do enigma, pronta a me devorar. O coração sempre acelerado parecia querer fugir de dentro do peito. Por outro lado, eu sabia que ali estava a solução do meu problema. Se eu conseguisse agir com ela como uma prostituta, leva-la para o quarto e a possuir com a vitalidade de macho, estaria livre do feitiço que ela me colocara sem saber. Mas o meu afeto estava acima dos meus instintos. Acima da oportunidade de usá-la como um objeto sexual para exorcizar os meus demônios, estava o meu desejo de ajuda-la, como uma pessoa muito especial e que me ensinara, mesmo de forma torta, como era o sentimento do amor.

            Não sei de onde veio tal intuição, certamente do meu anjo da guarda, vendo a minha aflição: de que forma posso lhe ajudar a realizar um sonho que você tenha? Perguntei. Ela parou, surpresa e refletindo... e você pode fazer isso? Quem sabe? Devolvi a pergunta. Mas agora ela é quem estava na berlinda, devia dizer ou não o que tanto desejava?

            A música brega inundava o ambiente, naquele clima carregado de fumaça e pouco iluminado, com a luz negra que refletia em dois pontos de lágrimas que se formavam nos seus olhos Tu não pode me ajudar, disse com melancolia na voz. Perdi a pessoa que me ensinou a amar, mas que nunca ligou pra mim. Quando eu tive coragem e declarei o quanto eu o amava, ele me esnobou e debochou de mim junto com seus amigos. Fiquei com tanta vergonha, que nunca mais consegui encontrar aquela mesma forma de sentir com outra pessoa. Tentei me envolver com alguém sem esse afeto, mas ele me desonrou e me jogou contra meus pais, minha família, e minha comunidade. Sem profissão e sem outra chance de sobrevivência fui convidada a frequentar esses locais onde estou tentando fazer algo para viver com mais dignidade, mesmo que sem amor, pois acredito que jamais o alcançarei. Conto tudo isso pra você, pois já sei da sua fama e do quanto já ajudou as minhas colegas. Mesmo sabendo que o meu caso é mais complicado, pois além da questão profissional e financeira, que você pode ajudar, existe a emocional, onde você não pode fazer nada.      

            O relato dela teve o benefício de trazer paz ao meu tumulto emocional, descobri naquela pessoa como funciona o rigor da lei de causa e efeito: a ironia que ela teve com o meu sentimento por ela, ela sentiu a mesma ironia quando desenvolveu o mesmo sentimento por outra pessoa, mesmo que não tenha feito essa relação.

            Confirmei com ela, sim eu iria ajuda-la. Conhecia um amigo que precisava de uma secretária com suas características. Disse que no dia seguinte iria falar com ele e nessa mesma semana daria o retorno para ela. Notei um brilho no seu olhar e mais ainda quando lhe disse: quanto ao lado emocional, talvez eu não seja tão eficiente em ajuda-la, mas sei da história de um rapaz que sofreu um problema parecido com o seu, mas que se sentiu muito aliviado quando percebeu o quanto nós sofremos por pequenas ações que marcam o nosso destino. Ele também não conseguia amar ninguém, foi traumatizado por alguém como você foi. Mas aprendeu a amar de forma incondicional, isto é, ficar feliz por amar ao próximo, mesmo que não seja amado por ele, mesmo que seja ironizado, humilhado.

            Ela perguntou com olhar surpreso: isso é realmente possível? Sim, respondi, pode ter certeza disso, tenho visto muitas histórias para lhe garantir isso. Faça isso, procure amar dessa forma e você vai observar que a vida é muito maior do que seus medos e frustrações.

            Saí daquela mesa com a sensação de que sofri uma grande transformação. De uma pessoa apagada, acuada, das primeiras palavras, parecia que eu dominava totalmente a situação, onde as minhas palavras tinham uma grande força filosófica, espiritual. Finalmente eu via naquele olhar e no sorriso que se desenhava no rosto essa mesma expressão que eu planejava receber quando criança. Mas, o que com aquele gibi tão colorido não consegui, a minha história recheada com a minha experiência de vida conseguiu. Nos despedimos com a sensação de que a própria vida nos transformou em companheiros de nossas próprias decepções, e que, finalmente, ali, um perto do outro, o feitiço perdeu sua força, estávamos livres.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 11/07/2016 às 00h01
 
10/07/2016 00h01
FAMÍLIA UNIVERSAL

            A ideia da Família Universal está lançada para a humanidade como um desafio, condição para se alcançar o Reino de Deus, com Jesus ensinou, a partir da transformação do nosso próprio coração.¹ foi instituído o casamento e com ele a Família Nuclear, como forma de garantir a continuidade do relacionamento homem-mulher, assim garantindo um mínimo de justiça, evitando a lei do mais forte, mantendo os cuidados com a prole de uma forma mais contínua. Mas isso trouxe dificuldades, por bloquear os instintos de forma radical e o núcleo familiar se impor com prioridade frente ao coletivo, se afastando assim da ideia de Família Universal, do Reino de Deus. Isso é o que observamos na sociedade, a maioria dos casamentos se destruindo e muitos dos que permanecem ficam na base da hipocrisia, fingindo uma fidelidade que não mais existe.

            Observando esse contexto com as lentes do Amor Incondicional, podemos verificar que o amor exclusivo, orientado e exigido pelo Amor Romântico, deve se transformar no amor inclusivo, característico do Amor incondicional.

            Na condição de portador da mensagem cristã, devemos fazer a reflexão se não é necessário fazer os ajustes na forma do casamento atual, para o tornar mais coerente com o Amor Incondicional e com o Reino de Deus. O homem e/ou mulher devem ser livres para incluir outras pessoas quando o coração assim pedir e não existir impedimento do Amor Incondicional.

            Passando essa ideia pelo crivo da razão e da lógica, deve ser colocada em prática corajosamente, pois vai de encontro’ a todos os padrões culturais. Mas assim deve ser feito, se a proposta realmente passa e não é repelida pelo bom senso. Sei que é melhor repelir 10 verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea. Isso porque, sobre essa teoria falsa poderia se edificar um sistema completo, que desabaria ao primeiro sopro da verdade.²

            Acontece que já observamos esse desabamento no casamento tradicional. Continuamos a persistir nele, apesar de se constituir um núcleo de egoísmo e que impede o desenvolvimento do Reino de Deus. Apenas certas pessoas abnegadas, vocacionadas para o lado espiritual com muita determinação e força de vontade, controla os seus instintos e tem um comportamento digno de cidadão do Reino do Céus. No entanto, geralmente essas pessoas não se casam, e portanto não forma um paradigma apropriado para uma sociedade que deve se manter e perpetuar com base na reprodução biológica.

            Por todos esses motivos acredito que seja determinante que façamos a correção da atual forma de construir famílias, aceitando com prioridade o Amor Incondicional e respeitar o Amor Romântico apenas como algo fugaz que pode ser sentido mas não entendido como eterno, como o Amor Incondicional deve ser.

            Como eu tenho essa compreensão, depois de profundas reflexões a esse respeito, resolvi aplicar esses princípios à minha vida, pois se assim não fizesse eu não estaria aplicando o meu discernimento na prática, e seguindo na vida uma Maria-vai-com-as-outras, uma atitude que não é aconselhada pelo mundo espiritual.

 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 10/07/2016 às 00h01
 
09/07/2016 00h01
AUTODESCOBRIMENTO (16) – REALIDADE E ILUSÃO

            O mundo pode se nos apresentar na forma real ou ilusória. Geralmente não percebemos de início a forma ilusória, pensamos ser real, daí a justificativa do termo ilusão: algo que parece ser real ao nossos sentidos.

            Vejamos a questão da matéria. Parece incontestável que ela é um composto sólido, que pode ser apresentado nos três estágios clássicos da matéria: sólido, liquido e gasoso. Quando avaliamos com profundidade a questão do estado sólido, pensamos que isso é real, que não existe espaço vazio no corpo sólido. Mas quando investigamos mais a fundo, percebemos que o átomo que constitui a matéria, é formado por um núcleo maciço e envolvido por uma nuvem de elétrons que estão bem distantes. Existe um grande espaço vazio entre o núcleo e os elétrons. Esse espaço vazio, apesar de ser bem maior que o espaço ocupado pelo sólido núcleo, não conseguimos perceber. Daí, a percepção de que tudo é sólido ao nosso redor é o primeiro equívoco, a primeira ilusão.

            A segunda ilusão se refere ao campo psicológico. Nós temos a máscara da personalidade que é dirigido na vigília pelo consciente. Mas se aprofundarmos o estudo, veremos que existe um inconsciente muito maior que o consciente e associados, e que representa a figura do iceberg, onde a ponta visível é a consciência e o grande bloco de gelo submerso, o inconsciente, cheio das memórias de vivências acontecidas nos reinos da natureza: mineral, vegetal, animal e humano.

            Iremos verificar que nossa personalidade sofre alternância de expressões, de acordo com as circunstâncias e conforme os acontecimentos. Essa alternância de expressões vai penetrando na aparência do indivíduo, desvela a realidade, desperta o adormecido, amplia a manifestação do Eu e desvela o ser legítimo.

            Essa alternância de expressões vai imprimindo características à expressão comportamental, onde o Espírito como aluno das forças da natureza material, funciona como uma luz, no início embaçada, mas à medida que evolui, que conhece o inconsciente, tem maior lucidez, provoca burilação dos defeitos encontrados, se tornam aptos a ultrapassagem para um nível vibracional melhor.   

            Na herança evolutiva devemos lembrar que todos os registros de nossas experiências estão armazenados no inconsciente que damos o nome de atavismo. Do descontrole desse atavismo surge surgem as perturbações psíquicas como transtornos psicológicos, angústia, inquietação, depressão e desordens mentais de todos os níveis. Devemos nutrir os valores legítimos de duração permanente, como solidariedade, justiça, fraternidade, bondade, etc. Existem também os valores secundários que servem como recurso pedagógico, como memória, inteligência, atenção, etc.

            Surge no psiquismo o grande desafio, de vencer a hipocrisia, os preconceitos, a confusão dos códigos, os escapismos, as justificativas e até a consciência de culpa, para se fazer a seleção de valores, identificando nossas ações: dentro de um comportamento ético e moral? A ética está para a moral, assim como a musicologia está para a música. A ética é a ciência da cultura e a lei de ouro do ponto de vista passivo é: “Não faças ao outro o que não queres que o outro faça a ti”; e numa atitude proativa: “Faça ao outro o que queres que o outro faças a ti.”

            As reflexões errôneas podem nos levar a ausência de padrões corretos em minha conduta, surgindo daí os desvarios, a agressividade, o pessimismo, a anarquia, a corrupção, etc.

            Os valores éticos são bem identificáveis quando são saudáveis em todas as culturas, são aceitos e recomendáveis, e são classificados como expressão do bem. Podemos citar: gentileza, respeito, bondade, sinceridade, amizade, bom senso, honestidade, etc.

            O princípio ético imbatível é a ação do bem dirigido primeiro para si, depois em favor do grupo social e da comunidade. Todos podem ser considerados como frutos do amor. Monicka Christi explicava que: Priorizando a ação no bem, diluímos nossos defeitos, acentuamos nossas virtudes e nos capacitamos para o aperfeiçoamento.

            As atitudes perniciosas geralmente derivam do primarismo atávico, na forma das manifestações egoístas: perversidade, desamor, traição, ódio, ciúme, orgulho, inveja, maledicência, ira, etc. Se o Espirito não consegue dominar esse atavismo primário, ele vai encher o coração e daí se expressa nas palavras perniciosas, para si e os outros.

            Observamos agora dois paradigmas bem distintos. O primeiro baseado na ilusão, que tem a matéria usando a máscara da solidez dentro de uma personalidade inconsciente; o segundo paradigma está baseado na realidade espiritual, do que existe de verdade, dentro de uma personalidade consciente.

            Na seleção dos valores dentro do variado espectro de ações, iremos fazer o julgamento de qual conduta adotar frente a determinada circunstância. Deve existir o maior cuidado com o erro do prazer imediato, seja por drogas, por sexo, por alimento, que são as ações mais comuns. Esse prazer embriagador trazido pelo gozo e fascínio, logo gera a dependência. O gozo fugaz na mente do indivíduo vai levar ao tédio, a frustração que provoca a deterioração biológica começando pelas áreas mais frágeis.

            Quando conseguimos a superação dos atavismos, veremos surgiu um novo patamar evolutivo, alcançamos novas conquistas, novos descortinos, e estaremos em marcha ascensional, em busca da realidade profunda, da vida plena.

            A busca da felicidade implica no início pelos recursos para atender as necessidades fisiológicas e sociais. No início pode parecer um despertar deprimente, cansativo e sem significado real. Porém, quando nos engajamos na vida psicológica em busca da realidade, atingimos a conduta mental apropriada, uma vida sem conflitos e eu me torno responsável pelos meus atos.

            O físico AE já dizia que: “Se quer viver uma vida feliz, amarre-se a uma meta, não as pessoas nem as coisas.”. Nesta aula percebemos a ilusão gráfica numa folha de papel, onde a ponte representa o atavismo animal e se contrapõe à caravela que cada vez mais que se aproxima da consciência se permite os detalhes que iriam fazer o papel.

            Na próxima aula iremos abordar essa questão com o título “Força Criatura”.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 09/07/2016 às 00h01
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