Aqui no mundo material existe uma preocupação básica da quase totalidade das pessoas, em trabalharem para construir um patrimônio. A não ser que a pessoa tenha alguma alteração no seu sistema cognitivo, congênito ou adquirido, assim é que funciona.
Acontece que viemos do mundo espiritual para aprendermos a evoluir nos problemas que a matéria nos traz. Este problema de conquistar patrimônio material é dos mais severos. Isso pode focar toda nossa atenção na conquista desse patrimônio e esquecermos e até não relembrar o mundo real, espiritual, de onde viemos e cujo patrimônio é diferente. Os bens materiais que podemos ajuntar aqui na vida material, não podemos levar conosco quando voltarmos à pátria espiritual.
Como a vida real acontece no mundo espiritual, onde temos a eternidade pela frente, e aqui no mundo material tudo é fugaz, não tem persistência, é importante que saibamos montar as devidas hierarquias e prioridades em nossas vidas. Manipulamos aqui na Terra apenas as aparências, principalmente o nosso corpo, que sofre transformações ao longo do tempo, de criança á velhice, até entrar em falência e se decompor no meio da matéria disforme, liberando o nosso espírito.
Conhecendo essa realidade e usando a inteligência, iremos nos dedicar e praticar as lições do Cristo, no sentido de irmos conquistando valores espirituais que possam seguir conosco e fazer parte do nosso patrimônio celeste.
As dificuldades que enfrentamos na Terra muitas vezes têm o sentido de favorecer esses bens espirituais, já que podemos viver uma vida sem potencial de conquistar um patrimônio espiritual.
Mesmo com toda dificuldade, a pessoa com sua inteligência pode superar as dificuldades da vida material e ficar em posição de construir um bom patrimônio. Mas, é preciso muita atenção, pois no processo de conquista do patrimônio espiritual não nos preocupamos com o patrimônio espiritual. Mais ainda, podemos contrair dívidas ao conquistar o patrimônio espiritual com base em ações criminosas, que exigem o retorno à Terra na condição de expiação ou reparação.
Também devemos prestar atenção ao que pedimos em nossas preces, sabendo que Deus sempre está a nos ouvir e pode atender o solicitado. Será que pedir ajuda para superarmos uma vida de privações, não vai interferir com essa vida que Deus nos deu para alcançarmos valores espirituais? Pela lógica, se Deus nos atende nesse pedido de vivermos melhor na vida espiritual, iremos sofrer desfalques no patrimônio da vida espiritual, que seria o esperado se cumpríssemos sem a Sua ajuda as dificuldades pelas quais estejamos passando.
Voltar a sentir alguma emoção negativa é o que chamamos ressentimento. Em todas as áreas das nossas vidas ele está presente, principalmente na vida de um alcoólico. O que devemos fazer é identifica-lo e evitar que ele prospere em nosso psiquismo.
Na minha vida profissional observo bem essa questão. Faço o acolhimento e procuro ajudar o alcoólico e seus familiares quanto a melhor conduta dentro do caso. Todos recebem a orientação de procurar a irmandade de Alcoólicos Anônimos (AA), mas tanto o alcoólico quanto os familiares têm a maior dificuldade de seguir essa simples orientação, que não implica em nenhum custo financeiro, comparado os remédios, internações, consultas, psicoterapias. E na maioria das vezes o paciente que aparentava ir bem, sofre uma recaída. Surge em nós, profissionais, o sentimento de incompetente, e no paciente o sentimento de incapacidade. O ressentimento à nível do médico faz com que surja a rejeição contra esse paciente e até novos. Tenho colega que envia os alcoólicos sistematicamente para mim, com o argumento de que não consegue tolerar e cuidar dos alcoólicos. Por que? Ressentimento!
O ressentimento a nível do alcoólico, que fica decepcionado com sua recaída, pois estava convicto de não voltar a beber, leva a um risco maior. Ele percebe que não consegue administrar sua vida, de evitar o sofrimento em si e em sua família e todos que estão ao redor, e surge o pensamento de morte, que muitas vezes se concretiza no suicídio.
São esses ressentimentos que podem ser trabalhados e atenuados numa sala de AA, com a ajuda do Poder Superior que pode nos devolver a sanidade, nos livrando das imperfeições alimentadas pelos ressentimentos que se alastram nas diversas áreas da vida do alcoólico. A prece se torna um instrumento poderoso, rogando o alcoólico ao Poder Superior saber qual a Sua vontade e ter forças para realizar essa vontade.
Após fazer a oração, o pedido do que necessita, o alcoólico permanece em silêncio, em meditação, procurando ouvir na intimidade de sua consciência a resposta do Poder Superior. Assim, os ressentimentos irão se dissipando com a claridade do despertar espiritual que irá experimentando.
O apadrinhamento em Alcoólicos Anônimos (AA) tem um papel importante na recuperação do alcoólico que chega pela primeira vez em busca de ajuda. Como é difícil para qualquer pessoa a adaptação em novos ambientes, com novas pessoas, a figura do padrinho para ajudar nos primeiros passos a serem dados é muito útil. Sabemos que o pai e a mãe do alcoólico é a própria irmandade, mas outro membro, com mais conhecimentos da literatura, pode ter esse papel de padrinho, de substituo em algumas ocasiões, dos verdadeiros pais.
No papel de médico amigo de AA, passei a frequentar regularmente as reuniões que aconteciam nos domingos, o dia mais fácil na minha agenda. Tinha o objetivo de apoiar com minha presença os pacientes que eu encaminhava ao grupo. Sempre era chamado à cabeceira de mesa no final da reunião, para falar sobre alguma coisa de interesse. Eu assistia a reunião sempre anotando em minha agenda alguma informação interessante que eu ouvia nos depoimentos, e aproveitava esse convite para falar sobre o que eu havia anotado.
Sinto que a minha presença dá mais segurança ao paciente que chega e pretende permanecer em AA. Os que ingressam escolhem seus padrinhos entre os companheiros mais antigos . Ao refletir sobre esse apadrinhamento do membro que ingressa, comecei a perceber que a minha atuação persistente dentro do grupo, passou a representar um certo apadrinhamento do grupo. Tanto o que escuto nos depoimentos, quanto o conteúdo da literatura que abordo na minha fala, leva a uma melhor compreensão daquilo que é dito ou escrito, sem fugir dos princípios da irmandade.
Dessa forma, acredito que se cada grupo tivesse esse tipo de apadrinhamento profissional, seria um reforço muito bom para o grupo. Não seria obrigatório o profissional ir ao grupo todas as semanas como estou fazendo, bastaria a cada 15 dias ou mesmo uma vez no mês. O grupo seria beneficiado diretamente e o próprio profissional também. Os seus pacientes ou clientes seriam melhor assistidos e ele mesmo sentiria a influência dos 12 passos e do Poder Superior em sua vida.
Pai, quero te falar agora, de filho para Pai, como acontece de os filhos falarem com os pais biológicos, pois veem, tocam, sentem... mas como isso não acontece contigo, eu sei apenas da tua existência por minha racionalidade, minha intuição, pela lógica... mas não posso te ver diretamente como veria meu pai biológico. Pois também nem ele eu tive oportunidade de ver... tenho na minha lembrança apenas um dia que ele passou por mim, e olhou para mim. E depois, nunca mais! Fui criado por minha mãe e principalmente por minha avó. Meu pai biológico nunca mais se fez presente, de nenhuma forma, enquanto Tu, Pai, também não vejo, mas sei que está presente. Posso Te identificar no vento, no sol, no calor, nas folhagens... em tudo sei que ali estás e sempre perto de mim, na Natureza que é o Teu retrato.
Mas, Pai, além de tudo isso tem algo muito mais forte, importante, que é a sabedoria, inteligência infinita que ninguém pode alcançar. Sei que fui criado com capacidade de compreender com a imaginação, consciência, com todas essas ferramentas que agora eu uso para poder falar contigo. E aí, Pai, sei que tens projetos para mim, missão para eu cumprir, porque Tu fizeste o mundo de forma evolutiva, nada está parado tudo está se preparando, se construindo, e cada ser criado tem um papel nessa criação, nessa evolução. Eu também devo ter, Pai, e é isso que eu procuro saber para não me perder em outros caminhos que não sejam os teus. Sei que me deu ferramentas que eu possa caminhar, para meu espírito administrar essa jornada material, mas, esse corpo que possuo agora tem muitos desejos forte para se manter existindo no mundo material e que isso não é o objetivo do Espírito. Ele apenas está usando como uma ferramenta, um veículo para que eu possa ir e vir e fazer a vontade de alguém. Quer dizer, minha ou Tua. Mas sempre passa por meu livre arbítrio a decisão de fazer a minha ou a tua vontade, ou de pessoas que estão ao meu lado, que influenciam meu comportamento com vontades diferentes. A quem o meu espírito vai atender? Pela lógica, como Tú és a sabedoria infinita que ninguém pode alcançar, e que ninguém pode ter a pretensão de ter uma sabedoria maior que a Tua, então o caminho de ninguém, nem o meu, pode ser melhor que o Teu. Por isso, Pai, eu quero fazer a Tua vontade, porque com certeza será o melhor para mim.
Agora, Pai, eu tenho que vencer os obstáculos, das minhas dúvidas, dos meus desejos corporais, dos medos, da preguiça, de todos aqueles pecados capitais que estão perto da gente e muitas vezes controlam nosso comportamento, apesar da nossa vontade espiritual. Este é o dilema, Pai. Eu sei que Tú estás me ouvindo, avaliando o que estou falando, minha intenções, limitações, fraquezas, deficiências... meu livre arbítrio que podes observar, mas não interferir, senão seria muito fácil, tu me comandaria como se eu fosse uma marionete, mas tu não que isso, quer que eu seja autônomo, independente, livre, com minha consciência associada a Tua.
Então, Pai, este é o meu caminho, propósito de vida para começar agora o novo ano. Tenho tantos projetos, tantos caminhos que colocastes em minha vida, de pessoas que colocaste ao meu contato que podem me auxiliar nessa tarefa, num trabalho de simbiose espiritual, onde possamos crescer numa só direção em busca de Ti, Pai. Basta construir a viabilidade deste caminho na prática, com ações, trabalho, força, coragem, honestidade, com todas as qualidades que o amor nos proporciona.
Por isso, Pai, eu agradeço, neste ano que termina e no próximo que começa, a Tua sempre presença perto de mim. Sei que tens cuidado com todos e por isso me colocas como instrumento para ajudar os mais necessitados, tanto física quanto espiritualmente. Matar a fome, a ignorância, para que possamos caminhar para um mundo de regeneração, para um mundo perfeito, onde Tú estarás mais perto da gente, na coletividade.
Este Pai, é o meu desejo e os meus agradecimentos. Pelo ano que passou, por tantas coisas que colocastes ao meu dispor. Desejar ter forças... não sei se posso pedir ou que eu tenha de adquirir por meus próprios esforços, se isso faz parte da estrutura do meu aprendizado, para conquistar e não ganhar, força e coragem para implementar as ações que sei fazerem parte de minha missão e que assim determinastes. Sei, Pai, estou pronto, eu vou tentar, não vou garantir fazer, pois não sei a profundidade das minhas limitações. Se eu vou recuar ou tombar nesse caminho que sei, devo caminhar. Mas, sei, Pai, que está sempre comigo, me orienta, me ajuda, com tantos irmãos superiores que estão dispostos a fazer a tua vontade, me auxiliando, assim como faço a tua vontade auxiliando os outros que mais necessidade tem do que eu.
Era isso, Pai, que queria falar contigo neste novo ano de 2020. Que seja bom ano para nós, Teus filhos, a humanidade que espera cada vez ficar mais próxima de Ti.
No filme da Netflix, baseado em fatos reais, são apresentados diálogos interessantes entre o papa Bento XVI e o cardeal Jorge Bergoglio, que é importante vermos e refletirmos. Vou ter a permissão de entrar na conversa, como uma ovelha disposta a aprender com meus pastores, podendo colocar minhas opiniões e dúvidas sobre o que se está tratando. Deixo a mesma permissão aos meus leitores, e principalmente nas críticas por minhas intervenções.
O Cardeal Jorge Bergoglio, da Argentina, termina a conversa com o papa Bento XVI em sua residência de verão, caminhando ambos pelo jardim.
-B – Ah... esse é seu ego falando. Acha que é dono da verdade?
-J – Eu sou argentino. Como um argentino se mata? Ele sobe no topo do próprio ego e pula.
-B – Há... Há... Há... Eu não conheço essa parte do jardim. Onde estamos?
-J – Vamos para aquele lado, tem sombra.
-B – Sim, talvez encontremos Deus ali, no caminho. Eu te apresento a Ele. Defendemos dois mil anos de tradições, mas o cardeal Bergoglio é quem sabe mais.
-J – Não, não. Passamos os últimos anos disciplinando qualquer um que discordasse da nossa visão sobre o divórcio, controle da natalidade, ou sobre ser gay. Enquanto o planeta está sendo destruído, enquanto a desigualdade crescia como um câncer, nos preocupávamos se a missa seria falada em latim, se meninas podiam servir no altar... Construímos muros ao nosso redor enquanto o real perigo estava dentro, conosco.
-B – Do que está falando?
-J – Creio que sabe do que estou falando. Sabíamos que sacerdotes, bispos, padres e homens da igreja molestavam crianças, e o que fizemos?
-B – Nós...
-J – Ouvimos a confissão deles e os mudávamos de paróquia, onde podiam começar tudo de novo.
-B – Acreditamos que a confissão...
-J – Melhor nove crianças sofrerem, do que nove milhões perderem a fé por causa de um escândalo.
-B – Não, claro que não. Isso é grotesco.
-J – Um bispo me disse isso.
-B – E o que disse a ele?
-J – Pedi para que tirasse o padre do ministério e que iniciasse um julgamento canônico. Imediatamente! Não acreditei que palavras mágicas de um sacerdote iriam fazer tudo ficar bem.
-B – Palavras mágicas? É assim que chama um sacramento?
-J – A confissão limpa a alma do pecador, mas não ajuda a vítima. O pecado é uma ferida, não uma mancha. Ela precisa ser curada, ser tratada, e o perdão não é suficiente.
-B – Você diz “nós”, mas está culpando a mim.
-J – Santo Padre, por favor...
-B – Preste atenção! Sua aposentadoria é um protesto contra a Santa Sé, e me pede que eu ratifique. Não quer mais ser cardeal arcebispo, será que ainda quer ser um padre? Não concordo com nada do que diz.
A conversa seguiu por caminhos diferentes. Ocorre choque de opiniões. O cardeal Jorge tem razão, a simples confissão do erro do padre pedófilo não é suficiente para resolver o sofrimento das crianças que ele abusou. A simples mudança de paróquia não é garantia para que a sua doença não se manifeste outra vez. A convocação de um julgamento com a punição proporcional ao crime cometido é necessária, mesmo que isso cause um escândalo dentro da igreja. As vezes o escândalo é necessário, mas ai de quem o provoca, frente as leis do próprio Deus.
Observo que o cardeal Jorge é bem criterioso com as ocorrências dentro da igreja, que procura se nivelar com o que ocorre no mundo, corrigindo atitudes férreas da Santa Sé com um bom nível de tolerância, assim como punindo criminosos da mesma corporação, cortando na própria carne. Até aí não vejo desvios da vontade de Deus. O que não me parece correto é a minimização dos crimes ocorridos fora da igreja. Entendo que os pastores devam ser exemplos para suas ovelhas, não podem ser criminosos e se assim forem, devem ser punidos com mais severidade, pois conhecem muito bem a lei de Deus e com isso assumem maior responsabilidade. Mas as ovelhas que cometem seus crimes devem ser punidas com a mesma justiça, pois foi assim que o Cristo ensinou: julgarmos com os mesmos critérios da lei de Deus, tanto dentro como fora da Igreja. Sim, sim; não, não. Os criminosos que matam milhões em nome de uma ideologia não podem simplesmente ser perdoados por fazer os seus crimes em nome de uma justiça social, que se orgulham de realizar tais crimes. Pessoas que não chegam a confessar os seus crimes ao ouvido do padre, mas frequentam as igrejas para mostrar as ovelhas das quais querem tosquiar, que seguem as lições do Cristo. Um pedófilo que abusa de dezenas de crianças deve ser punido conforme a natureza e amplitude do seu crime; mas um corrupto que abusa de milhões de pessoas, também deve ser punido conforme a natureza e a amplitude do seu crime.