Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
24/06/2015 14h06
O VERME

            Apareceu em minhas leituras a consideração sobre o verme em dois textos, e mesmo sem ter uma empolgação para refletir sobre isso, intuí que é mais uma vontade de Deus para dirigir meus pensamentos no objetivo de burilar a minha alma. Não foi preciso ir muito longe para observar que o direcionamento do Pai estava correto quanto voltar à minha consciência para a minha insignificância, longe de pensar ser um profeta especial com a missão de conduzir um grande trabalho do Seu interesse.

            Como hoje é ponto facultativo no trabalho, saí apenas para atender um paciente particular e voltar logo em seguida para conduzir os trabalhos que precisam ser realizados dentro do apartamento. Ao chegar perto de casa e passar por um restaurante próximo, veio logo a tentação de entrar e fazer uma refeição caseira que ele oferece. Como era previsto, enchi o prato e coloquei mais de um quilo de alimento, lembrando que eu estava prevendo passar o dia com o mínimo de comida, mesmo porque logo mais a noite eu teria uma atividade espiritual onde é orientado a mínima alimentação, evitando principalmente as carnes vermelhas, o que eu consumi com gosto.

            Quando terminei o almoço e saí empanturrado do restaurante, foi que eu percebi a pertinência do que o Pai quer me ensinar ao apontar os textos dos vermes e comparar com o meu comportamento. Os vermes são seres reconhecidamente inferiores, que vivem se alimentando continuamente com o objetivo de degradar o que não mais atende a funcionalidade da Natureza e transmutar os seus elementos em unidades básicas que podem ser reaproveitados na construção de outras vidas, com outros objetivos, mas que tudo e todos convergem para a sabedoria final do Criador. Com esse meu comportamento de atender sem forte resistência aos desejos da carne, é que acumulo no meu corpo com um sobrepeso e mesmo sabendo disso continuo a comer de forma exagerada indo em direção à obesidade, e assim, a comparação com os vermes chegam bem próximo de mim. O Pai quer que eu reconheça essa condição, mesmo tendo conseguido erguer a cabeça para o “alto” e visto a Sua luz e que estou tentando interpretar e cumprir a Sua vontade.

            Mas vamos ver o que dizem os dois textos: o primeiro eu encontrei no verso da pagela do dia 22-06-15 da folhinha “Coração de Jesus”. ANIMAIS NO ALTAR – O verme certamente não é um belo ornamento. Mas é um belo símbolo da corrosão das riquezas e das grandezas humanas. Símbolo também da coisa mais baixa que possa existir. Assim, quando o justo diz no Salmo 22,7: “Sou um verme e não mais um ser humano”, está renunciando a todo orgulho, vaidade, soberba e prepotência. Por isso a frase é aplicada ao Cristo crucificado. Mas por trás está a certeza do amparo do Senhor, como já dizia o profeta Isaías: “Não tenhas medo, vermezinho, porque eu te assisto, eu sou teu fiador, diz o Senhor Deus” (Is 41,14). O verme aparece pintado, quando as figuras lembram o desprezo pelos bens deste mundo, que são devorados pelos vermes, o abraço generoso e convicto dos bens eternos.

            O segundo texto fui encontrar no livro Fontes Franciscanas e Clareanas, no item 44 da biografia feita por Juliano de Espira sobre a vida de São Francisco de Assis: “Ele tinha a mesma compaixão afetuosa não só pelos animais e criaturas mais dignas, mas também por aquelas vis e pequeníssimas. Já que do Salvador se lê: Eu sou um verme e não um homem (Sl 21,7), muitas vezes retirava os vermezinhos da estrada para não serem pisados.

            Sei que não estou num nível tão baixo, comparados à maioria dos meus irmãos que se encontram encarnados ou desencarnados em torno deste planeta. Mas ainda estou numa enorme dependência dos desejos da carne e isso impede minha visão mais clara dos objetivos espirituais. Essa é a constatação que faço quando promovo a introspecção. Por outro lado, quando percebo minha atuação dentro dos relacionamentos humanos, em qualquer nível que seja, começo a perceber o meu papel parecido mais uma vez com o humilde verme, de transmutar aquilo que não mais serve para a funcionalidade da vida, em elementos que serão necessários para a construção de um novo mundo. Tal como um verme, o meu papel é o de corroer as estruturas egoístas que fazem adoecer todos os relacionamentos e mostrar os elementos básicos do Amor Incondicional que podem ser construídos a partir dos elementos deletérios do egoísmo, assim como o corpo, em deterioração pela morte, oferece os seus elementos para a constituição de um novo ser, com todo o seu potencial de crescimento na direção de Deus.

            Assim, não terei mais a vergonha de colocar como o título de um texto como este - “Sou um verme”, ao invés de simplesmente “O verme”.

            Sou um verme sim, tanto do ponto de vista biológico onde o corpo ainda impera na procura dos seus desejos materiais, como sou um verme no campo espiritual, com a nobre tarefa designada pelo Pai, de corroer a estruturas deletérias do egoísmo e da ignorância e proporcionar novos nascimentos da alma, pela iluminação do espírito.  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 24/06/2015 às 14h06
 
23/06/2015 18h43
A VERDADE

            Assisti ao filme “A história de Ruth”, uma moabita que se torna judia e sempre usando a verdade ultrapassa as maiores dificuldades, até se tornar a mãe de um dos antepassados de Jesus, na linha genealógica do Rei Davi. Também li um trecho do livro “O grande amigo de Deus” onde Estêvão, na casa do Rabi Gamaliel, conversa também com José de Arimatéia e exorta sobre a verdade. Como a verdade serve para mim como um instrumento para a realização da minha missão, quanto a aplicação do Amor Incondicional dentro dos relacionamentos, será bom refletir sobre o que Estêvão diz para Gamaliel:

            “A verdade é unitária. É totalmente verdadeira ou inteiramente falsa. Deve exigir tudo que um homem é ou nada exigir. Foi isso o que os profetas nos disseram e o que o nosso Salvador e Redentor nos disse: ‘Quem for amigo deste mundo é inimigo de Deus.’ Em suma, o mundo é um grave erro e não se pode servir a um erro de manhã e ao Senhor à noite. ‘Quem não está Comigo, está contra Mim.”

            Gamaliel passou os dedos sobre os lábios barbados e olhou Estêvão pensativamente e com preocupação.

            - Todavia, disse, os séculos serão infestados de comentadores que darão interpretações novas ou reinterpretações, levando à confusão dos crentes, causando-lhes descrença, enfraquecendo-os, e o surgimento de muitas línguas e muitas opiniões. Cada homem é, interiormente, um espelho e reflete-se nele, mesmo em sua fé.

            - A verdade é tão pura e tão simples – disse o jovem Estevão. – Os anjos não tem dificuldade em aceitar isso. Só os homens cobrem-na com sua sombra.  

            - Se não estou enganado – disse José de Arimatéia, sorrindo -, há mesmo uma quantidade de anjos que não acham a verdade tão simples. Voce está exigindo quase demais do homem.

            Estêvão riu. Dedicou-se com prazer às excelentes iguarias à sua frente no luxuoso salão de Gamaliel e os velhos o olharam com muita satisfação. O rapaz falou:

            - Quando digo que a verdade é simples e pura, não significa que ela seja sempre evidente, pois nada há tão misterioso e sublime quanto a simplicidade. Um homem precisa, na verdade, tornar a nascer da água e do Espírito Santo para compreender a verdade, pois então seus olhos não estão velados, só ouve uma voz e não comentários controvertidos, todos irrelevantes e discordantes. Vê as coisas totalmente claras e na sua unidade. É apenas um erro que sua complexidade e eternidade abram-se à mudança. Quem conhece a verdade não é dogmático, no sentido que damos à palavra, nem selado como um dos vasos de Salomão. Está apenas consciente do erro, mas longe dele, e propaga a verdade que conhece com dedicação íntima, modo gentil, mas resolutamente. Ele vê a montanha enraizada no granito e imóvel, enquanto os que estão em erro dizem: ‘Você diz que aquilo é uma montanha, mas pode ser uma miragem, um muro ou uma ilusão. É uma questão de opinião’.

            - Temo que seu caminho não será ensolarado – disse José de Arimatéia.

            - Ele tem todo o brilho da eternidade – retrucou Estêvão.”

            Eis o caminho apontado por Estêvão que considero de grande lucidez. Tenho uma interpretação do que seja o Amor Incondicional e que em sua essência não possui nenhuma incoerência racional. No entanto, a quase totalidade de quem ouve meus argumentos é de colocar outros conceitos na frente dos meus para desautorizá-los. Preferem dizer que a minha montanha é uma miragem, uma ilusão, um erro. Mas a minha consciência está coerente com uma racionalidade acima de quaisquer preconceitos, e procuro de modo gentil, mas resoluto caminhar com a verdade que já descobri.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 23/06/2015 às 18h43
 
22/06/2015 00h01
A BÍBLIA

            A Bíblia é considerada pela maioria dos povos do mundo ocidental a coleção de livros que contém a palavra de Deus. Sua Santidade o Papa Pio XII, em 1943, na Encíclica “Divino Afflante Spiritu”, assim determinou: “A autoridade da Vulgata (tradução latina) em matéria de doutrina não impede – antes, nos nossos dias quase exige – que a mesma doutrina se prove e confirme também com os textos originais, e que se recorra aos mesmos textos para encontrar e explicar cada vez melhor o verdadeiro sentido das Sagradas Escrituras”.

            Se entende que esses livros da Bíblia foram escritos por homens inspirados por Deus com o objetivo de nos ensinar, convencer, corrigir e educar na justiça. Nos tempos recentes essa compreensão da origem divina dos Livros Sagrados e a sua reta interpretação estão sendo contestadas. A Igreja Católica procura defender a compreensão original com empenho e diligência, com concílios e decretos, determinando que devem reconhecer-se “como sagrados e canônicos os livros inteiros com todas as suas partes conforme se costuma ler na Igreja e estão na antiga Vulgata Latina”.

            O Concílio Vaticano II, para condenar algumas falsas doutrinas relativas a inspiração, declarou que a razão de os mesmos livros deverem ser considerados como sagrados e canônicos “não é porque, tendo sido compostos apenas por atividade humana, a Igreja depois os aprovou com a sua autoridade, nem unicamente porque contêm a revelação sem erro algum, mas porque, escritos sob a inspiração do Espírito Santo, tem a Deus por autor, e como tais foram confiados à Igreja.”

            Todavia, mesmo depois dessa solene definição da doutrina católica que reivindica “aos livros inteiros com todas as suas partes” tal autoridade divina, que os preserva de todo e qualquer erro, houve escritores católicos que ousaram coarctar a verdade da Sagrada Escritura unicamente às coisas relativas a fé e a moral, considerando as restantes, quer físicas quer históricas, como “ditas de passagem” e sem conexão com as verdades da fé. Por isso o Papa Leão XIII com a encíclica Providentissimus Deus, de 18-11-1893, infligiu àqueles erros a merecida condenação, e ao mesmo tempo regulou o estudo dos Livros Divinos com prescrições e normas sapientíssimas. A publicação dessa encíclica é considerada a Carta Magna dos estudos bíblicos. Daí em diante continuaram os estudos para primeiro confirmar e inculcar as determinações da “Carta Magna”, e depois ordenar o que os tempos atuais parecem exigir, para estimular cada vez mais todos os filhos da Igreja que se dão a estes estudos.

            O primeiro cuidado de Leão XIII foi expor a doutrina relativa à verdade dos Livros Sagrados e defendê-la dos ataques contrários. Por isso em graves termos declarou que não há erro absolutamente nenhum quando o hagiógrafo falando de coisas físicas “se atém ao que aparece aos sentidos”, exprimindo-se “ou de modo metafórico, ou segundo o modo comum de falar usado naqueles tempos e usado ainda hoje em muitos casos na conversação ordinária mesmo pelos maiores sábios.” De fato, não era intenção dos escritores sagrados, ou melhor, do Espírito Santo que por eles falava, ensinar aos homens essas coisas, isto é, a íntima constituição do mundo visível, que nada importam para a salvação. Esse princípio deverá aplicar-se às ciências afins, especialmente a história e assim refutando de modo semelhante os sofismas dos adversários e defendendo das suas objeções a verdade histórica da Sagrada Escritura. Nem pode ser taxado de erro o escritor sagrado, se aos copistas escaparam algumas inexatidões na transcrição dos códices, ou se é incerto o verdadeiro sentido de algum passo. Enfim, é absolutamente vedado coarctar a inspiração unicamente a algumas partes da Sagrada Escritura ou conceder que o próprio escritor sagrado errou, pois que a divina inspiração de sua natureza não só exclui todo erro, mas exclui-o com a mesma necessidade com que Deus, suma verdade, não pode ser autor de nenhum erro. Esta é a fé antiga e constante da Igreja.

            Entendo o esforço que a Igreja faz para manter a compreensão de que sejam sagrados todos os livros da Bíblia, no sentido que eles exprimem a palavra de Deus através de seus vários profetas, intérpretes, todos humanos, mas todos inspirados pelo Espírito Santo. Compreendo que sejam colocados em segundo plano todos os erros e equívocos encontrados pelos estudiosos e que ofendem a lógica racional, no sentido de valorizar os ensinamentos morais e éticos. Agora o que não entendo é porque, uma epopeia que vinha sendo contada ao longo do tempo, desde há mais ou menos 1850 anos, com Abraão em Canaã, correspondente à Caldeia do rei Hamurábi, até os anos 70 de nossa era, no império de Nero. Então, temos quase 2000 anos de silêncio, de publicação de livros que mereçam compor a Bíblia. Será que Deus não necessita mais falar com os Seus filhos depois da vinda de Jesus?  Será que Deus não inspira mais os seus eleitos para continuar a divulgar Sua palavra? Será que não seria o momento de unificarmos as nossas crenças sob o domínio de um mesmo Pai e criarmos mais um Livro Sagrado, sob a inspiração dos diversos Espíritos Santos que sabemos permear nosso Universo e influenciar mais do que imaginamos as nossas ações?  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 22/06/2015 às 00h01
 
21/06/2015 00h01
INJUSTIÇAS

            Fui fazer Evangelho no Lar, na companhia de R e E, na casa de uma amiga que mora com seus dois filhos, após a separação conjugal. Ela se sente injustiçada, pois o ex-marido não dá o apoio financeiro nem emocional que os filhos precisam e ainda a trata com ameaças, explícitas ou veladas. O filho mais velho teve que sair. Ficou apenas o mais jovem. Abri o livro “O Evangelho segundo o Espiritismo” ao acaso e o trecho lido, no capítulo VII, foi o seguinte:

            “E vós todos que sofreis injustiças dos homens, sede indulgentes para com as faltas de vossos irmãos, em vos dizendo que, vós mesmos, não estais isentos de censura: isso é caridade, mas também é humildade. Se sofreis calúnias, curvai a fronte sob essa prova. Que vos importam as calúnias do mundo? Se vossa conduta é pura, Deus não pode vos compensar? Suportar com coragem as humilhações dos homens é ser humilde e reconhecer que só Deus é grande e poderoso...

            “Quando Moisés foi, sobre o Monte Sinai, receber os Mandamentos de Deus, o povo de Israel, entregue a si mesmo, abandonou o verdadeiro Deus; homens e mulheres deram seu ouro e suas joias para um ídolo que adorassem. Homens civilizados, fazei como eles: o Cristo vos deixou Sua doutrina, vos deu exemplo de todas as virtudes, e abandonastes exemplos e preceitos; cada um de vós com as suas paixões, fizestes um Deus ao vosso gosto; segundo uns, terrível e sanguinário, segundo outros, descuidado dos interesses do mundo; o Deus que fizestes é ainda o bezerro de ouro que cada um apropria aos seus gostos e as suas ideias.

            “Despertai, meus irmãos, meus amigos; que a voz dos Espíritos atinja os vossos corações; sede generosos e caridosos sem ostentação, quer dizer, fazei o bem com humildade; que cada um destrua, pouco a pouco, os altares erguidos ao orgulho. Numa palavra, sede verdadeiros cristãos, e tereis o reino da verdade. Não duvideis mais da vontade de Deus, quando dela vos dá tantas provas. Viemos preparar os caminhos para o cumprimento das profecias. Quando o Senhor vos der uma manifestação mais radiosa de sua clemência, que o enviado celeste não encontre mais em vós senão uma grande família; que vossos corações brandos e humildes sejam dignos de ouvirem a palavra divina  que ele virá vos trazer; que o eleito não encontre sobre seu caminho senão as palmas depositadas pelo vosso retorno ao bem, à caridade, à fraternidade, e então vosso mundo se tornará o paraíso terrestre. Mas se permanecerdes insensíveis à voz dos Espíritos enviados para depurar, renovar vossa sociedade civilizada, rica em ciência e, todavia, tão pobres em bons sentimentos, ah! Não vos restará mais senão chorar e gemer sobre vossa sorte. Mas não, não será assim; retornai a Deus, vosso Pai, e então nós todos, que houvermos servido ao cumprimento da sua Vontade, entoaremos o cântico de ação de graças, para agradecer ao Senhor por Sua inesgotável bondade, e para glorificá-Lo em todos os séculos dos séculos. Assim seja. (LACORDAIRE, Constantina, 1863).”

            Não poderia ser melhor a escolha de um texto para reflexão dentro da problemática de cada um. Iniciei colocando as minhas considerações sobre as lições do texto e ressaltei: sim, devemos ser indulgentes com as faltas de nossos irmãos, mesmo porque isso não parece tão simples. Onde nós avaliamos como estarmos sendo vítimas de injustiças ou de perseguições, ontem ou amanhã seremos nós os vilões. Coloquei como exemplo a minha situação; fui expulso da casa de duas companheiras com as quais convivia, de forma dramática, violenta até... Saí dessas casas sem nenhum bem material comigo, apenas com minhas roupas, livros e CDs/DVDs. Eu me sentia injustiçado, depois de tanto ter feito no campo material, de tanto amor ter depositado dentro daquelas casas, agora eu era escorraçado, considerado uma pessoa não grata, digno da indiferença ou do ódio de todos. Por lado, qual o mal que eu causei a essas pessoas? E aos nossos filhos? Certamente elas têm consigo muitas razões... então, a atitude mais coerente quando sofremos censura, calúnia, desprezo... é baixar a fronte sob essa prova que por trás pode ter sua lógica e justificativa. E mesmo que não haja, suportar essas humilhações, é prova de nosso reconhecimento de que somente Deus pode ser perfeito o suficiente para qualquer acusação ou censura ser injusta. Isso sim, é prova de humildade.

            Como se Deus quisesse colocar à prova o que eu acabara de dizer, E pedia a palavra e passou a me criticar e censurar pelos atos passados, presentes e futuros. Eu ouvia tudo calado sem rebater. Curvei minha fronte sob essa prova. Mais uma vez foi jogado em meu rosto o sofrimento que causei às minhas companheiras e filhos, o que acontece até hoje, segundo o seu julgamento, e que eu deverei pagar por isso frente ao Senhor. Critica com veemência o meu comportamento de colocar o sexo dentro do Amor Incondicional, que para ela é uma blasfêmia. Que ainda estou disposto a gerar filhos e deixá-los sem o apoio afetivo, da proximidade paterna, apenas com o apoio financeiro. Mais uma vez em silêncio curvei minha fronte. Não senti na fala dos outros tanta acusação aos meus atos que foram explicitados. O próprio menor que estava presente, cujo pai também foi obrigado a deixar o lar, e que sentiu na pele o efeito de agressões verbais e físicas, o que nunca fiz, não colocou palavras acusatórias tão fortes contra o seu pai quanto as que ouvi contra mim.

            Terminamos a reunião com uma hora de duração. Acredito que fomos bem assessorados pela espiritualidade. Acredito que me portei bem frente aos meus irmãos e frente ao nosso Pai.   

Publicado por Sióstio de Lapa
em 21/06/2015 às 00h01
 
20/06/2015 00h01
O TEMPO

            Um autor desconhecido escreveu certa vez que a Alegria, a Tristeza, a Vaidade a Sabedoria, o Amor e outros sentimentos de variadas tonalidades habitavam uma pequena ilha.

Certo dia foram avisados que essa ilha seria inundada. Preocupado, o Amor cuidou para que todos os outros se salvassem falando: Fujam todos, a ilha vai ser inundada. Todos se apressaram a pegar seu barquinho para se abrigarem num morro bem alto no continente. Só o Amor não teve pressa. Quando percebeu que ia se afogar correu a pedir ajuda.

À Riqueza apavorada ele pediu: Riqueza, leve-me com você. Ao que ela respondeu: Não posso, meu barco está cheio de ouro e prata e não tem lugar para voce.

Passou então a Vaidade e ele disse: dona Vaidade, leve-me com voce. Sinto muito, mas voce vai sujar o meu barco.

Em seguida veio a Tristeza e o Amor suplicou: senhora Tristeza, posso ir com voce? Amor, estou tão triste que preciso ir sozinha.

Passou a Alegria, mas se encontrava tão alegre que nem ouviu o Amor chamar por ela.

Então passou um barquinho onde remava um senhor idoso e ele disse: sobe Amor, que eu te levo. O Amor ficou tão feliz que até esqueceu-se de perguntar o nome do velhinho.

Chegando ao morro alto onde estavam os outros sentimentos, ele perguntou a Sabedoria: dona Sabedoria, quem é o senhor que me amparou? Ela respondeu: O Tempo. O Tempo? Mas porque ele me trouxe aqui? Porque só o Tempo é capaz de ajudar a entender um grande amor. Dentre todos os dons que a divindade concede ao homem, o Tempo tem lugar especial. É ele que acalma as paixões indevidas, ensinando que tudo tem sua hora e local certos; é ele que cicatriza as feridas das profundas dores colocando algodão anestesiante nas chagas abertas.  É o Tempo que nos permite amadurecer através do exercício sadio da reflexão adquirindo ponderação e bom senso. É o Tempo que desenha marcas nas faces, espalha neve nos cabelos, leciona calma e paciência quando o passo já se faz mais lento. É o Tempo que confirma as grandes verdades e destrói as falsidades, os valores ilusórios. O Tempo é, enfim, o grande mestre que ensina sem pressa, aguarda um tanto mais e espera que cada um por sua vez se disponha a crescer, servir e ser feliz. E é o tempo em verdade que nos demonstra no correr dos anos que o verdadeiro amor supera a idade, a doença a dificuldade e permanece conosco para sempre.

Neste mundo tudo tem a sua hora, cada coisa tem o seu tempo. Há o tempo de nascer e o tempo de morrer; tempo de plantar e de colher; tempo de derrubar e de construir; há o tempo de se tornar triste e de se alegrar; tempo de chorar e de sorrir; tempo de espalhar pedras e de juntá-las; tempo de abraçar e de se afastar;  há tempo de calar e de falar; há o tempo de guerra e o tempo de paz.

Mas sempre, é tempo de amar.

Magnífica construção de sentimentos e comportamentos. Podemos nos colocar dentro da situação, cada um com suas circunstâncias. Eu, depois que espalhei meu afeto por tantos corações, agora estou ainda na ilha, isolado, vendo passar a Vaidade, a Riqueza, a Tristeza, a Alegria, a Raiva, o Ressentimento, a Mágoa, o Ciúme... são tantos barquinhos que procuram a segurança do monte alto, do exclusivismo, do materialismo, do egoísmo. A todos eu vejo passar e nenhum se dispõe a me levar, pelos motivos que levam seus nomes. Mas sei que o Tempo vai chegar e vai fazer entender a qualidade do meu amor; que vai fortalecer a verdade e desmascarar a mentira.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 20/06/2015 às 00h01
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