Falso ego significa aceitar que este corpo é a própria pessoa. Quando alguém compreende que não é este corpo, mas sim uma alma espiritual, chega então ao seu verdadeiro ego. O ego existe. Condena-se o falso ego, não o verdadeiro ego. Este sentido de “eu sou” é ego, mas quando o sentido de “eu sou” é aplicado a este corpo falso ele é ego falso. Quando o sentido do eu é aplicado à realidade, isto é o verdadeiro eu. Há alguns filósofos que dizem que devemos abandonar nosso ego, mas não podemos abandonar nosso ego, porque ego significa identidade. Devemos, é claro, abandonar a falsa identificação com o corpo.
Tenho esta compreensão bem clara em minha consciência. O corpo falso, como o Baghavad Gita o classifica, é porque ele se transforma ao longo do tempo e chega um dia que voltará ao pó de onde se originou. Então, este corpo que hoje eu possuo, que já passou por tantas transformações ao longo da minha vida, logo mais retornará ao pó, desaparecerá da face da terra. Então, quando isso tiver acontecido, eu também terei desaparecido? Claro que não! Todos os estudos místicos, religiosos e até os científicos, defendem que a vida continua alem do corpo físico. A minha consciência permanecerá viva, não importa quantas experiências eu tenha ao longo de minhas existências em corpos materiais.
Esta dicotomia de corpo e alma também me ajuda a melhor manter o Autocontrole sobre as exigências do corpo. Caso eu permanecesse com o falso ego, de acreditar que “eu sou o meu corpo” haveria uma tendência maior de procurar cumprir os desejos. Mas como não é assim, eu vejo o corpo como um veículo, um instrumento de educação que o Pai me permitiu para que eu aprendesse as lições fundamentais que a matéria pode oferecer. A minha devoção ao Pai não é contaminada pelo erro do falso ego e sei da responsabilidade do espírito em administrar os desejos e necessidades do corpo.
Os sentidos são tão fortes que estão sempre ansiosos por obter prazer. Ninguém deve curvar-se a estas exigências desnecessárias. Devem-se satisfazer os sentidos só até o ponto de manter o corpo saudável para que se possa cumprir o dever de progredir na vida espiritual. O sentido mais importante e mais incontrolável é a língua. Se alguém pode controlar a língua, então há toda a possibilidade de controlar os outros sentidos. A função da língua é saborear e vibrar. Portanto, por regulação sistemática, a língua deve estar sempre ocupada em saborear.
Até agora eu não tinha dado tanta importância a língua, como acontece no Baghavad Gita. Pensava que o sexo era de longe o sentido mais importante. Mas dando o foco que Baghavad Gita oferece, vejo que tem certa razão. Agora mesmo, ao digitar este texto, estou com a minha língua ocupada em chupar picolés, sorvete, gelo... ela não consegue ficar parada. É ela que está a serviço da gula e que representa um dos meus grandes adversários com o qual estou em constante luta, usando a jejum para me contrapor os efeitos da gula sobre meu corpo.
O Autocontrole está direcionado as exigências do corpo. Ele tem suas necessidades justificáveis, mas devido o prazer que oferece nesse cumprimento de dever, termina por entrar no abuso que pode ser observado em todos os aspectos, se tornando tal comportamento um vício, uma dependência, que termina por estragar o próprio corpo.
Não devo esquecer que o prazer que o corpo oferece para que execute determinados comportamentos, dizem respeito a sobrevivência do próprio corpo. Mas isso deve ser administrado com sobriedade, pois senão a busca por esse prazer de forma indevida termina por lesar o mesmo organismo que eu desejava preservar.
Também observo a importância desse Autocontrole nos relacionamentos afetivos. Dentro do relacionamento afetivo, romântico, existe por trás de tudo o interesse da biologia, dos gens, da reprodução e criação do filho, da segurança oferecida pelos pais. Nesse sentido a exclusividade do relacionamento é sentida dentro do amor romântico. Eu devo ter a segurança que o meu filho vai ser bem cuidado pelos pais, então tenho que exigir que nenhum dos pais se envolva afetivamente com qualquer outra pessoa, pois senão os recursos existentes irão ser divididos. É um pensamento de cunho egoísta, mas é isso que é observado, é isso que se procura cumprir, é isso que está na Lei.
O Amor Incondicional não respeita essa exclusividade do amor romântico. O Amor Incondicional se derrama por toda a natureza sem exigir condições; ama por amar! Tenho que ter o Autocontrole para não me descuidar de praticar o Amor Incondicional, mesmo que em alguns momentos isso traga prejuízo para meus interesses pessoais.
A Firmeza significa que se deve estar determinado a progredir na vida espiritual. Sem essa determinação não se pode fazer progresso tangível. E autocontrole que dizer que não se deve aceitar nada que seja prejudicial ao caminho do progresso espiritual. Devemos habituar-nos a isto e rejeitar tudo o que bloqueie o caminho do progresso espiritual. Isto é verdadeira renúncia.
Isto é o que diz o Baghavad Gita neste nível devocional. Agora, como construí o meu caminho espiritual para aplicar nele a Firmeza? Primeiro procurei saber o que é Deus. A inteligência Suprema do Universo cuja essência é o Amor Incondicional. É assim que compreendo Deus. Então, minha compreensão de Deus está montada em dois alicerces: Inteligência Suprema e Amor Incondicional. São duas forças que me parecem diferentes, mas complementares. A Inteligência Suprema é aquela que faz o ato da criação com toda sua perfeição, do micro ao macro cosmo; de dimensão eminente, material à transcendental, espiritual. O Amor Incondicional é a força que dá o direcionamento da Inteligência, para onde deverá caminhar a criação, a natureza. Assim, devo concluir que o Amor Incondicional é a maior força, pois é ela que dá o direcionamento da evolução. Então decidi que o meu caminho espiritual deveria ser o trilhar do Amor Incondicional em todos os meus relacionamentos, em todas as circunstâncias. Estou pronto a rejeitar qualquer coisa que bloqueie esse meu progresso espiritual, a aplicação do Amor Incondicional em todos os meus relacionamentos.
Com este foco, aplico a Firmeza para manter o meu comportamento dentro do Amor Incondicional. Isso implica em ter que assumir a renuncia das conquistas do ego, em vencer todas as derivações que possam fragmentar o Amor, em suas formas paternal, filial, fraternal, conjugal, etc, até as exigências do amor romântico, até mesmo em sua expressão mais forte, a paixão.
Dentro do atual estágio do mundo, da predominância dos valores materiais, do acúmulo de bens tangíveis e fugazes, sempre estou em confronto com os critérios culturais que apoiam o paradigma materialista. Por isso termino marginalizado nas relações sociais e até nos princípios religiosos rígidos que veem a necessidade da submissão do homem aos princípios dogmáticos interpretados pela consciência humana e de forte natureza animal. Preciso ter muita Firmeza para não perder o foco e o meu caminho espiritual.
Há duas espécies de limpeza: a externa e a interna. A limpeza externa é mais fácil de vermos a sua necessidade. Caso não o façamos de forma correta, o próprio corpo passa a deteriorar emitindo o mau cheiro característico da condição e que perturba todos os que estejam na proximidade. Então, nesse nível de devoção ao Pai, a preocupação é com a limpeza material, a começar pelo corpo. Banhos diários, limpeza dos dentes e da boca, corte adequado dos cabelos, pelos e unhas. Cuidado com o que ingerimos, tanto em qualidade quanto em quantidade. Limpeza do lar, da organização, do trabalho a ser realizado. Limpeza do meio ambiente em que convivemos, evitar jogar lixo na rua e quando possível limpar a sujeira que outros fizeram, nas casas, nas instituições, no campo, na praia... tenho que ter cuidado com esse nível devocional, pois a tendência displicente que possuo, facilita a tendência de procrastinar o que devo fazer, de acumular serviço e limpeza. Nem me parece que isso é um serviço devocional a Deus, mas o Baghavad Gita tem razão, a Natureza é o corpo de Deus ao nosso alcance e se nós o estamos sujando, estando sujando a Deus com repercussão na sua criação.
O outro tipo de limpeza, a interna, é mais íntima, nem todos podem perceber, quando muito pode sentir os efeitos de sua ação. Devido a nossa natureza animal, nossa alma funciona dentro de um corpo biológico criado por Deus para ser integrado à Natureza de forma harmônica. Para a sua sobrevivência individual, cada corpo está equipado com uma série de mecanismos instintivos que ficam a serviço do egoísmo. Isso nos primeiros dias de vida tem uma grande importância, pois garante a sobrevivência do recém-nascido. Mas a medida que crescemos, esses mecanismos devem ser controlados pela consciência que entra de posse de conhecimentos superiores, acima dos interesses da vida individual e privilegia os interesses da coletividade e da qual fazemos parte. Então toda a Natureza faz parte da grande família universal, todos filhos do mesmo Pai, principalmente os seres humanos dotados de inteligência, consciência e livre arbítrio. Devo estar sempre atento aos desejos que vêm do meu coração, pois a maioria deles busca um prazer pessoal, corporal, efêmero e muitas vezes não considera o interesse do próximo e pode lhe trazer prejuízo. Devo eliminar, fazer a limpeza do coração desse tipo de desejo, mesmo que eu não o consiga, que o tenha sob rigoroso controle para ele não se expressar e prejudicar quem quer que seja. Por outro lado, devo cultivar as virtudes dentro do grande campo afetivo do Amor Incondicional.
Este nível devocional da Limpeza é de grande importância prática e que o trabalho é a ferramenta prioritária para colocá-la em prática. Portanto, devo compreender que quando estou executando algum tipo de trabalho para providenciar a Limpeza em qualquer condição, estarei em profunda devoção ao Criador. Tenho que desenvolver essa consciência no dia-a-dia, a cada momento, a cada minuto!
Seguindo a orientação do Baghavad Gita, vou avaliar a simplicidade como mais uma forma devocional de amor a Deus. Vejo a Simplicidade como irmã gêmea da Humildade. O livro sagrado ensina que mesmo sem diplomacia, deve-se ser tão direto que seja possível revelar a verdade dos fatos mesmo a um inimigo.
Tenho comigo essa experiência de ter colocado a verdade dos fatos, mesmo com alguma diplomacia, a um pretenso adversário. Até hoje tenho dúvida se fiz o correto, pois isso gerou tamanha rejeição ao meu comportamento, pois a pessoa esperava outro tipo de comportamento, mais tradicional, cultural... o meu comportamento foi baseado na Lei do Amor, completamente distante das normas culturais da nossa filosofia ocidental. Mesmo com essas dúvidas pessoais, com a opinião dos amigos que conhecem os fatos e dizem que fui precipitado, que eu não poderia dizer toda a verdade dos fatos, mesmo assim, no fundo da minha consciência eu me considero correto, que fiz a coisa certa, mesmo que tenha gerado tamanha reação negativa ao meu redor. As pessoas que passaram a me hostilizar estão baseadas nas leis humanas; eu continuo a me comportar com base na Lei do Amor Incondicional que é a principal Lei e a essência do Criador. Fico assim numa posição privilegiada e vendo a incoerência dos meus adversários, eles que dizem seguir a lei de Deus na teoria, na prática estão muito longe de alcançar esse desiderato. E o pior, não têm consciência dessa incoerência que praticam e pensam estar cumprido fielmente a vontade do Pai, enquanto permitem que seus corações continuem repletos de ódio.
O Baghavad Gita continua orientando dentro desse elemento “Simplicidade”, quanto a aceitação do mestre espiritual. Isso é essencial, pois sem a instrução de um mestre espiritual genuíno, ninguém pode progredir na ciência espiritual. A pessoa deve aproximar-se do mestre espiritual com toda a humildade e oferecer-lhe todos os serviços para que ele fique contente e conceda suas bênçãos ao discípulo. Um mestre espiritual autêntico é um representante de Deus.
Fiz a minha aproximação com Jesus Cristo e reconheço nEle um espírito bem evoluído, bem próximo da essência do Criador e que bem O representou em nosso meio material como mestre divulgador da paz e do amor e continua no Seu trabalho na esfera espiritual, na condição de governador do nosso planeta. Procuro me aproximar dEle cada vez mais com humildade e disposto a oferecer os meus serviços, harmonizando os trabalhos que ele exige com aqueles que o próprio Deus colocou em minha consciência. Considero assim que Ele seja o meu Mestre Espiritual, o meu irmão mais velho, mais sábio, mais instruído, mais próximo do Pai; que Ele também sabe da responsabilidade que o Pai colocou em minha consciência e como o representante de Deus irá me ajudar em cada momento de dificuldade nos quais eu tenha necessidade de um apoio.