Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
05/01/2013 21h12
SÃO JOÃO NEPOMUCENO NEUMANN DA FILADÉLFIA (1811-1860)

            João Nepomuceno nasceu em 1811 em Prachatitz, cidade da República Checa, sul da Boêmia, com população atual de 11.789 pessoas. Dizia que seus pais eram ótimos cristãos e que o pai lhe deu castigo severo quando criança por faltar a verdade. Daí em diante não mais faltou a verdade, o castigo foi salutar. Tinha grande amor pelos livros a ponto da mãe reclamar dizendo que era maluco pelos livros. Não fazia apenas ler, refletia e procurava aprofundar o que havia lido. Nos passeios levava sempre um livro à mão, não queria se sentir ocioso. Compreendia que era necessário a mortificação dos sentidos para se progredir na virtude e aos 16 anos alimentava-se só uma vez por dia, pela manhã e pela tarde alimentava-se com um simples pedaço de pão seco. No segundo ano do estudo da Teologia desenvolveu uma forte vocação de ser missionário na América do Norte e a partir desse momento não pensava em outra coisa.

            Suas memórias revelam a seriedade com que procurava chegar à perfeição cristã, é comovedor o tom de humildade na acusação de suas mais insignificantes faltas. Dizia que era um solitário, que todos fugiam de si, os maus porque não concordava com seus planos e os bons porque procuravam os perfeitos.

            Enfim começou o sacerdócio na América com muita dedicação aos pobres e necessitados até com a custa de sua saúde, e chegou a ser o Bispo de Filadélfia onde desenvolveu muita atenção a criação de escolas. A condição de Bispo não lhe tirou a dedicação do sacerdote. Morreu relativamente jovem, 48 anos, pelo excesso do trabalho realizado, morreu caminhando, ia ao correio despachar uma encomenda para um padre: foi o seu último gesto de caridade.

            Tenho o mesmo gosto de Nepomuceno, posso ser considerado um devorador de livros, talvez mais do que ele, pela quantidade de livros que coloco em leitura, mesmo não tendo tanto tempo disponível para isso. Apesar de não ser adepto da mortificação dos sentidos para privilegiar o desenvolvimento das virtudes, também costumo fazer uma só refeição durante o dia, sem a ajuda dos pães que ele usava pela manha e a tarde. O que complica em mim é que quando tenho oportunidade como mais de três vezes ao dia e em grande quantidade. Tenho esse acordo com a gula, de deixá-la repremida algum tempo, mas logo que possível a deixar liberada. Isso não acontecia com Nepomuceno, era firme no controle da gula. Com relação ao distribuir da caridade e se oferecer até em sacrifício pessoal em função do próximo, não há comparação. O Bispo de Filadélfia tem muito mais estrutura caritativa, até mesmo em comparação com seus pares.

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04/01/2013 11h37
SANTA ÂNGELA DE FOLIGNO (1248-1309)

            Sua memória é celebrada pela Ordem Franciscana da cidade de Foligno, uma comuna italiana da região da Umbria, província de Perúgia, com cerca de 56.036 habitantes. Quando jovem entregou-se as vaidades femininas, uma vida folgada e tranquila com marido e filhos. Não lhe faltaram também graves culpas morais culminadas numa série de comunhões e confissões sacrílegas. Aos 37 anos de idade mudou radicalmente seus costumes de vida. A morte do seu marido e filhos trouxe-lhe grandes dores e provações. Nessas trágicas circunstâncias mostrou uma força espiritual acima do comum. No ano de 1285 São Francisco lhe apareceu em sonho e exortou-a a percorrer com coragem o caminho da perfeição. Ângela entrou na Ordem Terceira de São Francisco e empreendeu uma peregrinação até Assis. Essa peregrinação deixou-lhe na alma um traço profundo. Foi durante essa viagem que Ângela teve experiências místicas desconcertantes. O beato Arnaldo de Foligno, seu confessor, pensando tratar-se de fenômenos diabólicos, obrigou-a a contar-lhe suas experiências interiores.

            A necessidade de iluminar as profundezas desta alma invadida pela graça deu origem a um dos mais preciosos livros sobre as experiências místicas de uma alma favorecida por Deus de modo especial. A autobiografia que Ângela ditava em trinta passagens descreveu o que acontecia na sua alma, desde o momento de conversão até 1296, quando essas manifestações místicas tornaram-se menos frequentes e deram lugar a novas manifestações espirituais.

            A pobreza, a humildade, a caridade e a paz eram seus grandes temas e ela dizia assim: “O supremo bem da alma é a paz verdadeira e perfeita... Quem quer, portanto, perfeito repouso trate de amar a Deus com todo o coração, pois Deus mora no coração. Ele é o único que dá e que pode dar a paz.”

            O início de muitas almas alcançadas pela graça de Deus é de uma vida pecaminosa, para depois reconhecerem a dimensão de outra forma de pensar e de viver. Um exemplo marcante é o de Santo Agostinho, mas o de Ângela também faz lembrar esse percurso. É uma forma até natural de entender esse processo, já que assumimos um corpo biológico cheio de instintos e nossa alma sutil muitas vezes não tem força para se contrapor a eles, os instintos, principalmente na juventude quando os hormônios banham com fartura todos os meandros do corpo, da carne, dos desejos materiais de reprodução e manutenção da vida biológica.

            Eu reconheço esse processo na minha trajetória de vida, reconheço que na juventude, apesar de viver dentro da igreja católica, eu tinha pouca preocupação com os valores espirituais. Minha mente estava sempre envolvida com os prazeres carnais, como era que eu podia obtê-los apesar de toda a vigilância da minha avó que me criava e educava. Entrei nos estudos acadêmicos com essa mesma distancia dos valores espirituais, estava envolvido profundamente com o estudo da matéria e com a forma de obter os desejos. Porem eu tinha dentro de mim um forte senso de justiça que fazia eu não abusar dos direitos do próximo.

            Foi com a idade de Santa Ângela, acredito, que passei a voltar um olhar cada vez mais intenso para o mundo espiritual. Era a época de arrefecimento da força dos hormônios. Desenvolvi assim como Ângela um forte desejo de registrar minhas experiências, não com a intensidade mística que ela apresentava, mas com a facilidade tecnológica que hoje está ao meu alcance. Ela recebeu uma forte influência de São Francisco, a partir do sonho no qual ele lhe apareceu e orientou. A minha facilidade em ter contato com diversas fontes divinas, de outras culturas inclusive, fez eu centrar minha atenção no princípio criador de tudo, no próprio Deus e considerar de importância fundamental todos os ensinamentos dos diversos avatares que surgiram em diversas partes do globo, onde é reconhecido entre Eles, a prevalência moral e divina de Jesus de Nazaré. Partilho com Ângela a certeza de que Deus mora em nossos corações e que sua Lei está escrita em nossas consciências. Quando todos reconhecermos essa condição, então estamos prontos para construirmos o Reino de Deus prometido por Jesus.

 

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04/01/2013 00h53
SANTA GENOVEVA DE PARIS (422-502)

            Genoveva levava tudo muito a sério, jejuava frequentemente e quando podia, retirava-se procurando renovar sua vida espiritual. Tinha apenas 30 anos quando se envolveu na política. Em 451 Paris estava sob a ameaça dos hunos de Átila. Os parisienses queriam fugir, mas Genoveva os convenceu a ficarem na cidade, confiando na proteção divina. Assim aconteceu, embora os bárbaros ameaçassem invadir várias vezes a cidade de Paris, uma força invisível os obrigava a recuar e a desviar a rota. Mesmo assim ela correu o risco de ser linchada pelos mais medrosos. Expulsos os bárbaros, sobreveio a carestia. Genoveva tomou então um barco, foi até o Sena e procurou alimento junto aos camponeses, depois os distribuiu generosamente. Quando morreu edificaram sobre seu túmulo um oratório de madeira que foi a semente de uma célebre abadia construída por Luis XV, depois transformada em basílica. Era particularmente invocada por ocasião de grandes calamidades, como epidemias, secas ou inundações. Os jacobinos da revolução francesa destruíram-lhe parcialmente as relíquias e profanaram a basílica transformando-a no famoso Panteon, mausoléu dos franceses ilustres.

            É um exemplo de fé associada as ações políticas. Mesmo que ela não tivesse nenhum cargo público, tinha influência junto aos dirigentes para efetivar os seus planos de caridade. Eu já senti essa necessidade muito forte de ajudar aos mais carentes com uma atividade política. Cheguei a me candidatar diversas ocasiões para um cargo público, sempre com o lema da “Dignidade Humana”, que eu procurava honrar mesmo no calor da refrega da conquista dos votos. Esse comportamento não facilitava angariar os votos suficientes para minha eleição, eu não queria corromper a vontade do eleitor com o atendimento de suas necessidades. Os políticos que não tinham esse escrúpulo facilmente me ultrapassavam, mesmo eu atuando como um médico nas comunidades carentes, mas em nome da dignidade, eu jamais trocaria um voto por uma consulta ou um frasco de medicamento. Da mesma forma, chegar perto de um político para obter os seus favores, sempre implicava na troca de votos por alguma necessidade de eleitor. Então eu me afastava intuitivamente dessa condição. Não tive nem terei o sucesso de Genoveva junto aos políticos, acredito, pois não estou a procura. Devo fazer algo semelhante, mas contando com a ajuda das pessoas mais humildes que seja. Caso algum gestor público se associe com essa ideia, sem o intuito de vantagem lá na frente, então poderei chegar perto. Mas essa é a minha opinião,, não sei o que Deus pretende fazer na minha trajetória de vida.

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em 04/01/2013 às 00h53
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03/01/2013 00h01
BASÍLIO MAGNO DE CESAREIA MAZACA DA CAPADÓCIA (329-379)

            Os exemplos ao nosso redor de pessoas vivas ou que já partiram, mas deixaram seus escritos, são importantes fontes de motivação e de comparação com o que já fazemos ou que desejamos fazer. Irei procurar fazer essa comparação ao longo deste ano, acredito que assim terei oportunidade de aprender mais sobre pessoas que também foram atraídas e caminharam em direção ao Pai, cada um com a sua forma individual e personalista de caminhar.

            O primeiro a ser listado é São Basílio Magno, bispo de Cesaréia da Capadócia, atual Kayseri na Turquia. Falei acima da forma individual, personalista de caminhar que identifica cada um, mas São Basílio tinha um amigo íntimo, outro santo, São Gregório Nazianzeno e estão juntos no calendário litúrgico por terem as mesmas aspirações a santidade, os mesmos níveis culturais, a mesma chama de vocação. Acontece de encontrarmos pessoas com uma forma de caminhar muito parecida com a nossa, mas até hoje eu não consegui encontrar pessoa com a minha forma de caminhar para o Pai, mas sinto que a essência que todos os caminhantes da estrada divina exalam é semelhante a minha, a do amor incondicional e todos os seus derivativos.

            São Basílio participou do Concílio de Constantinopla em 360 convocado pelo Imperador romano Constâncio II para resolver o cisma ocorrido no Concílio de Selêucia em 358 sobre a natureza da divindade de Jesus que dividia a igreja. Basílio se juntou aos homoousianos que defendiam que o filho é da mesma substância do Pai, ou seja, ambos são não-criados, o que prevaleceu sobre a tese de Ário de que se o Pai gerou o filho, ele que foi criado teve um início na sua existência. Daí é evidente que houve um tempo em que o Filho não existia. Segue necessariamente que sua substância veio do nada.  

            O que importa mais é que São Basílio tinha como tema preferido a caridade concreta: ajudar aos irmãos necessitados. Dirigia-se a um interlocutor imaginário: “A quem fiz injustiça conservando o que é meu? Diz você. Diga-me sinceramente, o que lhe pertence? De quem o recebeu? Se cada um se contentasse com o necessário e desse aos pobres o supérfluo, não haveria nem ricos nem pobres.” Ele não se contentava com palavras. Às portas da cidade de Cesaréia deu vida a um verdadeiro reino da caridade com hospícios, refúgios, hospitais, laboratórios e escolas artesanais.

            Denunciava os exploradores dos pobres e numa das suas famosas homílias disse: “Conheceis as ruínas imensas que dominam a nossa cidade. Em que época foram erguidos esses castelos que hoje estão destruídos? Não sei. Sei, entretanto, que havia muitos pobres naquele tempo. Em lugar de socorrê-los os ricos preferiram gastar seu dinheiro nessas construções malucas. Mas o tempo soprou sobre essas pedras ciclópicas, derrubando-as como brinquedos de crianças, enquanto seus donos gemem no inferno...”

            Em outra ocasião, comentando as vivendas luxuosas daquele tempo, dizia: “Que prazer tu sentes, em contemplar tuas poltronas de marfim, tuas mesas de prata e teus leitos de ouro, quando milhares de famintos pedem esmola junto à tua porta?... dirás talvez: eu não posso socorrer tanta gente. Eu te respondo: o pão que te sobra na mesa, pertence ao faminto; a roupa que não estás usando, é do pobre desnudo; o dinheiro que esbanjas, é a riqueza do pobre.”

            Interessante, eu com tanto conhecimento acadêmico e até espiritual, trabalho como médico e professor dentro de um Hospital, sou o responsável por uma disciplina chamada Medicina, Saúde e Espiritualidade, até hoje não sabia da importância de São Basílio no meu campo de trabalho, que ele foi o pioneiro dos hospitais, das vilas dos pobres, dos abrigos e dos artesanatos.

            Agora, se eu tivesse participado do Concílio de Constantinopla, eu não iria votar na opinião dele e sim na de Ário. Eu não colocaria a substância de Jesus semelhante a de Deus.

Mas a caridade concreta que ele implementou é fantástica. Sintonizo plenamente com o seu pensamento nesse aspecto, só que não consigo colocar em prática como ele fez. Trabalho num hospital que é cercado por um cinturão de pobreza que chega às raias da miséria. Tenho até planos de fazer uma associação, um projeto e criar condições de ajudar aquela comunidade, mas o tempo nunca é suficiente, sempre estou envolvido com outras atividades. Mas o seu exemplo serve como alavanca motivadora,, um dia sairei dessa inércia prática!

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em 03/01/2013 às 00h01
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02/01/2013 00h44
ORAÇÃO DE JANEIRO

 

            Meu Deus, mais um ano se inicia, mais uma vez a esperança vem se aninhar no meu coração, para que eu consiga encontrar a reta vereda que segue a direção da Vossa vontade, que eu não me perca nos escaninhos da vaidade, do orgulho ou da prepotência.

            Sinto a minha pequenez frente a Vossa magnitude, mas percebo também a Vossa vontade entranhada na minha consciência, e isso eu não posso ignorar, pois já faz parte da minha essência.

            Já não vivo nesse mundo perdido nos esforços de sucesso material que nunca está a contento, de perseguir uma felicidade longe do meu coração, de buscar a verdade divorciada do relacionamento com meu próximo, de me sentir órfão de um Pai universal.

            Sei que minha compreensão da verdade total ainda é ínfima e nunca alcançarei o suficiente para reconhecer o formato e alcance completo de Vossa existência, o conjunto completo de Vossa criação.

            Mas sei que devo ser humilde, devo apenas aprender as lições básicas do Amor Incondicional que nosso irmão maior, Jesus Cristo, teve como por vossa incumbência nos ensinar com tanto sacrifício.

            Com o esforço que Ele fez para nos ensinar a forma de amar como é a essência do Pai, é que me conforto hoje quanto faço as minhas lições e sinto o sofrimento correr por dentro da minha pele, do meu coração. 

            Sofrimento quando sinto a dor de minhas companheiras envoltas em sentimentos egoístas que entram em conflito com essa forma de amar, de inclusão de todas, do perdão, da tolerância, do reconhecimento, do apoio, do acolhimento... que ameaçam a nossa estabilidade afetiva, que ameaçam o rompimento de nossos laços, que ameaçam deixar-me sozinho na estrada...

            Como é, Pai, que posso cumprir a Vossa vontade se ficar a caminhar sozinho? Como é que eu posso mostrar a todos a beleza do amor inclusivo, que considera todos os próximos como irmãos, todas as crianças como filhos, todos os velhos como pais?

            Não me incomodo, Pai, pelo sofrimento que tudo isso causar no meu coração, mas será que podemos evitar que minhas companheiras sofram tanto por esse motivo? Será que podemos deixar na consciência de cada uma delas a intuição da Vossa verdade, da Vossa vontade e que não estamos neste mundo para executar e cumprir os nossos próprios desejos e vontades, e sim os Vossos desejos e vontades?

            Apenas peço a Vós, meu Pai, forças para suportar toda carga de sofrimentos que se abater sobre mim, ter sempre um sorriso nos lábios nos momentos mais tristes, ter sempre um abraço fraterno nas crises hostis, manter sempre à disposição de tantos que colocas ao meu alcance o amor com o qual Vós me abastece com tanta generosidade.

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em 02/01/2013 às 00h44
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