O materialista sempre associa a fé com uma falsa realidade, algo que não existe, que é uma fantasia na cabeça dos crentes, alimentada por uma série de dogmas, por milhares, milhões! Defende que somente acredita naquilo que percebe por seus órgãos dos sentidos, ou no máximo, por aparelhos fidedignos. O mundo espiritual para o materialista é pura fantasia. Mas, vejamos só, como a fé pode transformar ou mesmo construir uma realidade. Vejamos o exemplo de Jesus Cristo. Defendia que era filho de Deus, uma fé que tentava passar para todos ao seu redor e que associado a isso deveria ter toda uma gama de comportamentos condizentes com essa filiação e com os irmãos, todos os seres humanos criaturas do mesmo Pai. No início houve muita dificuldade, o Mestre foi julgado e condenado a uma morte torturante, a crucificação. Os seus ensinamentos permaneceu existindo, passando de boca em boca, por quem o conheceu e por quem sem o conhecer aceitou a verdade do ensinamento, a verdade da fé que estava embutida nos ensinos. Várias pessoas também foram sacrificadas, supliciadas, mortas como objeto de diversão nos circos romanos. Este comportamento baseado numa fé se estndeu ao longo dos séculos e ao longo dos países, ao longo do tempo e espaço. Hoje moramos num continente que naquela época nem era considerada a sua existência, o continente americano, o Brasil. Mesmo assim os efeitos daquela fé atingem nossa comunidade e nosso comportamento coletivo. Estamos em plena época natalina, há toda uma transformação na sociedade que adquire aspecto mais solidário, existem mais doações, mais acolhidas, mais compreensão. Então podemos dizer que nossa realidade foi profundamente afetada por nossa fé. O clima coletivo é que devemos preparar o Natal que é data do nascimento do filho de Deus, Jesus de Nazaré. Mas existe uma diferença, quem mesmo assim não considera o mundo espiritual, participa da mudança coletiva, mas não consegue sentir Deus no coração, sentir Deus na sua vida.
Eu falo dessa forma como uma crítica aos materialistas de um ponto de vista bem interessante e bem conhecedor da causa. Digo assim porque até pouco tempo também eu era um materialista, conhecedor profundo do mundo acadêmico, onde a fé não tinha nenhum espaço. Mesmo agora depois que revi meu comportamento e percebi de forma racional que nada pode existir sem ter uma causa, e a causa última, inevitavelmente, é uma força organizadora, que arquiteta todo o universo. Essa inteligência superior, apessoal, que perpassa toda a natureza á a quem denomino de Deus. a essa concepção tenho que render minha prepotência e o aceitar como meu Criador, meu Pai, a quem devo respeito e amor. Então, a minha aceitação do mundo espiritual não está ainda devidamente amadurecida, em me entroso no mundo espiritual, mas sei que ainda não absorvo dele o que ele tem para oferecer.
Vivo hoje a realidade do Natal como uma homenagem ao nosso grande professor, Jesus, o espírito mais evoluído que já chegou até a terra. Mas sei que ainda falta muito para eu atingir o nível que o Mestre possa considerar como regular.
Alá, Buda, Krishna, Tupã, Jesus, Deus, jeová... Tantas quantas sejam as comunidades humanas. Tantos quanto são os nomes que encontramos para designar o Senhor da Vida, o arquiteto do universo, a mãe Natureza. Coube a mim nascer no Ocidente, num pais essencialmente cristão, cujo nome da divindade maior é Deus. Mas se eu tivesse nascido mais um entre os bilhões de orientais? Eu teria Krishna ou Buda como divindades maiores. Se eu tivesse nascido numa tribo de índios no Brasil? Teria como divindade a Tupã... e assim sucessivamente. Agora vem a pergunta: qual o grupo que está certo? Qual a divindade verdadeira e todas as outras falsas? A tendência é que eu reconheça a minha divindade como a verdadeira e todas as outras falsas. Mas vamos nos colocar na pele de um índio e ouvir de alguém que Deus que eu acredito é falso! Ou na pele de um oriental, de ouvir alguém dizer que minha divindade milenar, muito mais antiga que o cristianismo, é uma divindade falsa, que a divindade verdadeira é aquela surgida na terra de Ur, que escolheu uma nação a partir de um patriarca, Abraão; que enviou para a terra o seu filho “único” para salvar a humanidade; que seus seguidores passaram a corrigir o mundo à força da espada com as Cruzadas ou com a força das fogueiras, nos julgamentos eclesiásticos...
A confusão fica maior quando a divindade diz que todos somos irmãos, pois todos somos criação dEle, e que devemos amar ao próximo como se fossemos nós mesmos, pois no próximo também está a sua imagem e semelhança. E nós dizemos amar ao nosso Deus e ao mesmo tempo sou intolerante com o próximo que tem um outro nome para a divindade.
Sei que existe um só Deus e que Ele criou e continua a amar qualquer espécie de sua natureza, inclusive nós. Não me incomoda ou fere os ouvidos que a divindade suprema seja chamada de outro nome que não seja Deus. sei que qualquer que seja o nome dado, é o mesmo nome que cultuo: Deus.
“Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios, não trilha o caminho dos pecadores, nem se assenta entre os escarnecedores. Feliz aquele que se compraz no serviço do Senhor e medita sua lei dia e noite.” (Sl 1,1-2).
Interessante como os Salmos iniciam com essa advertência quanto aos conselhos. Adverte para não ser dado ouvidos a tudo nem a todos ao redor – sempre existem aqueles com pensamentos ou palavras sem valor, que não ajudam em nada. É importante aprender a distinguir entre o que convém e o que não, e buscar a orientação de Deus em oração e por sua palavra que pode estar camuflada em qualquer livro, principalmente os sagrados, como a Bíblia, ou na boca de um inocente, principalmente de alguém com o coração limpo do egoísmo. É assim que aprendo a agir com amor e humildade e a buscar o que realmente importa em minhas decisões. Quando chego a conclusão de que algum conselho é incoerente, esqueço-o. Caso a ideia seja boa, procuro ser humilde e a praticar, mesmo que antes eu não a tenha cogitado. Mas não perco tempo com ideias que só incomodam e não levam a lugar nenhum. Mesmo porque já tenho estabelecido na consciência o que Deus quer de mim, de colaborar com os ensinos de Jesus e viabilizar o Seu reino dentro das relações humanas. Como o Reino de Deus está fundamentado na aplicação integral do Amor Incondicional em todos os relacionamentos interpessoais, isso implica que a exclusão que é prevalente em nossas relações, principalmente as familiares que tiveram início com o amor romântico, devem deixar lugar para a inclusão. Então o meu projeto de vida está repleto de situações onde a crítica e o conselhos chovem no sentido de mudar minha atuação, principalmente junto as mulheres que desenvolvem afeto por mim e que desejam o aprofundar até o nível do companheirismo. Então, essas mesmas pessoas são as que colocam conselhos mais vigorosos no sentido de evitar o comportamento de distribuir o amor com o próximo, qualquer que seja ele, e que não possua limitações preconceituosas de aprofundar até o limite da sexualidade harmônica, solidária, simbiótica, justa e evolutiva para ambos. São colocados argumentos os mais pesados, como chegar ao ponto de descaracterizar o Deus que prega o Amor Incondicional, de colocar os textos dos livros sagrados, sem atentar que têm a inspiração divina, mas que foram feitos pelos homens, com suas paixões seus interesses mundanos. A verdadeira fonte divina surge na nossa consciência, quando conhecemos os fatos e absorvemos as verdades dentro deles, usando a coerência da Lei maior: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Com essa atitude é que eu me mantenho feliz, pois me satisfaço no serviço do Senhor, como adverte o salmista, como aceita a minha consciência.
O verso 25 do capítulo 9 do Baghavad Gita diz o seguinte: “Aqueles que adoram os semideuses, nascerão entre os semideuses; aqueles que adoram os ancestrais irão ter com os ancestrais; aqueles que adoram os fantasmas e espíritos nascerão entre tais seres; e aqueles que Me adoram viverão comigo.”
Essa passagem desse livro sagrado é de grande importância para situarmos a vida. Tem uma certa semelhança com o que defende a Mecânica Quântica, que a realidade é colapsada pela consciência, que depende do observador determinado fenômeno. Assim, eu posso determinar qual o mundo que quero viver, e qualquer pessoa também. Existem pessoas que não acreditam na existência de Deus, no mundo espiritual, e tudo está restrito à matéria. Eu penso que além do mundo material tem a existência do mundo espiritual, que é hierarquicamente superior ao mundo material, que é habitado por seres inteligentes, conectados com o mundo material na forma de escolas para o melhor estudo e aperfeiçoamento das condições morais; que existe a força superior, inteligência suprema, capacidade criativa e organizativa de todo universo, que denomino de Deus e que associo a qualquer outra divindade, com qualquer outro nome, desde que cumpra ou preencha essas mesmas qualificações.
Mas essa é a minha forma de pensar/adorar o entorno em que me vejo incluído. Mesmo que para alguém que tenha outra forma de pensar/adorar tudo isso não passe de fantasias da minha cabeça, para mim constitui a realidade. Da mesma forma eu posso pensar que o outro que pensa/adora o mundo de forma diferente, esteja equivocado e que se comporta também dentro de suas fantasias. Mesmo que seja a fantasia de que o mundo é composto apenas do lado material, que não existe a dimensão espiritual, e que por isso o alvo de sua adoração seja o poder financeiro, político, bélico, tudo que favorece os prazeres da carne. Também tenho a capacidade de usufruir desses benefícios próprios da matéria, mas possuo além disso uma outra dimensão, a espiritual, a qual penetro e também usufruo dos prazeres e promessas que ela oferece. Quem não consegue fazer essa penetração no mundo espiritual, deixa de usufruir essa oportunidade que a natureza lhe oferece. Mas cada um é livre, como diz o Baghavad Gita, de adorar/criar o mundo que acha conveniente e dentro dele se comportar, sofrer e gozar.
Teilhard de Chardin, geopaleontólogo, estava familiarizado com as evidências geológicas e fósseis da evolução do planeta e da espécie humana. Como sacerdote cristão e católico, tinha consciência da necessidade de um metacristianismo que contribuísse para a sobrevivência do planeta e da humanidade sobre ele . No cerne da questão está a visão filosófica, teológica e mística de Teilhard de Chardin a respeito da evolução de todo o Universo, do caos primordial até o despertar da consciência humana sobre a Terra, estágio esse que, segundo ele, será seguido por uma Noogénese, a integração de todo o pensamento humano em uma única rede inteligente que acrescentará mais uma camada em volta da Terra: a Noosfera, que recobrirá toda a Biosfera Terrestre. A orientar todo esse processo, existe uma força que age a partir de dentro da matéria, que orienta a evolução em direcção a um ponto de convergência: o Ponto Ômega. Teilhard sustentava a ideia de um Panenteísmo cósmico: a crença de que Deus e o Universo mantém uma criativa e dinâmica relação de progressiva evolução.
Em função disso, o sacerdote católico aconselhava assim: “Confia plenamente em Deus que te quer perto dEle. Lembra que estás em suas mãos, fortemente seguro, quando te encontrares triste e caído. Vive feliz, vive em paz, que nada te altere, que nada seja capaz de tirar a paz do teu coração; nem o cansaço físico, nem tuas carências morais... Lembre-se que tudo o que te oprime e te oprime e te preocupa é falso, te asseguro, em nome das leis da vida e das promessas de Deus. Por isso, quando te sentires triste e aflito, adora e confia.”
Este conselho cala fundo em minha alma! Como também tenho um conhecimento acadêmico aprofundado, a integração de Deus com a Natureza para mim é muito coerente. Então, quando Teilhard de Chardin orienta para adorar e confiar em Deus, eu entendo com muita naturalidade, pois eu encontro Deus na Natureza, em tudo que está ao meu redor. Todos os obstáculos que encontro no caminho que escolhi, entendo que faz parte da vontade Deus, já que estou sintonizado com Ele e sempre esperando receber lições das mais diversas fontes, principalmente dos relacionamentos interpessoais, dos relacionamentos afetivos que formam o companheirismo, o nível de família na qual iremos nos inserir.