Hoje é dia de eleição municipal no Brasil. Quantos candidatos espalhados por esse pais continental tentam obter uma fatia do poder, muitos usando de qualquer recurso ao seu alcance, mesmo que não sejam dignos de um “candidato”, um ser que deveria ser revestido de candura, de pureza, de inocência... infelizmente não é o que observamos. Mais de uma vez já estive revestido dessa condição de candidato, assumi o máximo de candura que podia, não procurei comprar votos, não troquei o meu trabalho por votos, não prometi o que não podia fazer por votos... não tive os votos suficientes para me eleger. Assim foi em todas as eleições que participei. Jamais deixei o meu slogan: PELA DIGNIDADE HUMANA. Sempre procurei tratar o meu provável eleitor como uma pessoa digna e a mim mesmo com a mesma dignidade que eu via no outro. Não fui ouvido, e se fui ouvido não fui entendido... não pela quantidade suficiente de pessoas para me eleger. Para que minha voz alcançasse muitos ouvidos e sensibilizassem muitos interesses era necessário que eu mudasse minha forma de proceder, que eu procurasse mentir, trocar ou comprar votos; que eu não considerasse o meu irmão, próximo e eleitor com a dignidade que ele merece... isso eu jamais poderia fazer! Decidi não mais perder um tempo nessa tarefa inglória. Ouvi o chamado de meu Deus e me candidatei a outra função para a qual ele me aceitou de imediato: ser obreiro de sua Seara e procurar descobrir a verdade de sob as mentiras, subterfúgios e preconceitos; de corrigir os erros da humanidade a partir da correção dos meus próprios erros, de minha pequena área de contorno relacionais que são reflexos do que acontece na sociedade; de aprender a retirar as impurezas supérfluas do amor mundano de sobre a pureza divina do amor incondicional; e de procurar me fortalecer a cada momento para resistir as pressões que irei sofrer, tanto dos instintos do meu corpo, quanto dos interesses egoístas de quantos se relacionem comigo.
Este era o lamento de Francisco de Assis diante da cruz do Cristo. Parece um grande paradoxo, uma pessoa que se dedicava exclusivamente a fazer o bem, curar os doentes, ensinar a verdade, não ser amado por essas pessoas. Mas foi realmente o que aconteceu com Jesus Cristo. Condenado a conduzir o pesado madeiro, após ter sido derrotado na eleição pública e aberta em detrimento de Barrabás, por aquelas mesmas pessoas que foram alvo do seu amor, agora estava pregado na cruz, coberto de suplícios e olhando para baixo a turba que o agrediam.
Tenho às vezes a impressão de que isso também ocorre comigo. Sei que dedico o meu amor ao redor tentando ser o mais honesto possível com minhas convicções. As pessoas mais próximas também são os alvos mais constantes desse amor. No entanto, invariavelmente, essas pessoas passam a desejar que esse amor que dedico a elas sejam exclusivos, sejam somente seus. Começam a nutrir essa expectativa e quando percebem que não estão tendo êxito, vêm a frustração e com ela a raiva, o ressentimento... até mesmo o ódio!
Mesmo com essa situação sendo observada, mesmo assim não deixo de amar a quem me agride, injuria, menospreza...
Do alto do meu sofrimento, da incompreensão e intolerância sofridos, rogo a Deus que Ele nos abasteça, a todos, com o seu amor divino e assim sejamos capazes de tolerar a justiça ou injustiça das ações reativas; que sejamos capazes de persistir com firmeza nas ações afetivas se isso for de sua inteira vontade; que sejamos capazes de perdoar as injúrias sofridas mesmo sabendo que elas não são justas; que tenhamos a sabedoria necessária para reconhecer os nossos erros, perdoar a nós mesmos e pedir o perdão a quem tenhamos ofendido.
Santa Terezinha do Menino Jesus dizia assim: “Deus não inspira desejos irrealizáveis, portanto, apesar de minha pequenez, posso aspirar a santidade.”
Não desejo alcançar a santidade, apesar de me esforçar para ser um homem de bem e talvez isso seja sinônimo de santidade. Então, o que desejo fazer nesta atual fase da minha vida corporal? Desejo seguir a vontade de Deus que Ele instalou em minha consciência, por paradoxal que seja para quem avalia de fora com os atributos legais e morais da comunidade.
O desejo que Ele tem para a minha vida é que eu sirva de exemplo para a construção de uma sociedade onde a natureza do seu Reino seja possível colocar em prática;
Que eu troque o amor de características exclusiva pelo amor de característica inclusivas; e
Que eu trate o próximo da mesma forma que eu gostaria de ser tratado.
Com essa montagem de observações de conduta, procuro seguir a vida dentro dos relacionamentos que o Pai oferece. Respeito a opinião contrária do próximo que se aproxima de mim, mas com a firmeza necessária para cumprir o desiderato que tenho como minha missão.
Hoje é o dia dedicado a São Francisco de Assis que pensava da seguinte forma: “É necessário agir primeiro e depois ensinar, ou melhor, agir e ensinar ao mesmo tempo.” Este pensamento combina com o de Gandhi, que dizia: “Seja a mudança que você quer ver no mundo.”
Concordo com ambos, não adianta pensarmos coisas bonitas e de alto senso de justiça e amor para os outros praticarem, enquanto ficamos no mesmo lugar, sem realizar nenhuma transformação. Por mais que nossas palavras saiam inteligentes e coerentes, é o exemplo o maior recurso didático. Então se eu reconheço as lições dadas por Jesus e outros avatares da humanidade, de que a maior força existente no universo é o amor incondicional e que devemos aprender a aplicá-lo em nossas vidas e nos nossos relacionamentos, devo procurar como fazer isso. Seguindo a bússola que Jesus nos ensinou, de amar à Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, avançar no sentido de aplicar o Amor Incondicional em todos meus relacionamentos. O primeiro conflito que encontrei foi com o amor exclusivo que é defendido em todos os relacionamentos e que estrutura a família tradicional no mundo ocidental. Vi logo que era uma inconsistência, eu defender o amor incondicional que deve penetrar em todos os níveis de relacionamento e ao mesmo tempo evitar amar outras pessoas por regras pré-determinadas. Impedia assim o livre fluxo do amor, a interação afetiva com outra pessoa não era permitida, perdia todo o potencial de crescimento que existia entre nós. Com muito esforço quebrei os meus preconceitos de amar exclusivamente a uma só pessoa, e, principalmente, permitir que minha companheira amasse e se envolvesse até a intimidade sexual, como eu poderia também assim fazer. Com essa quebra de exclusividade senti o amor incondicional fluir com mais volume dentro de mim. Restava ter o cuidado de não machucar ninguém que se aproximasse de mim com ideias exclusivista. Eu já me considero totalmente convicto de que o amor incondicional só pode fluir num ambiente de amor inclusivo, sempre agindo com honestidade e total transparência, e principalmente, usando em todas as ocasiões a bússola que o Mestre ensinou para que não me perdesse nos labirintos dos relacionamentos humanos.
De todos os grandes avatares da humanidade o que chegou mais perto de nós para passar os seus ensinamentos foi Jesus Cristo. No estudo dessas personalidades tão importantes para a evolução moral eu percebo que é Jesus o espírito mais avançado, o exemplo a ser seguido, como diz os orientadores da doutrina espírita. Na época que Jesus esteve conosco o mundo espiritual mostrou toda sua importância, fenômenos que pareciam ferir as leis da Natureza eram realizados por Jesus. Quando ele partiu, ensinou que não seria mais visto na forma material como antes, mas que estava à nossa disposição a qualquer momento, bastaria dois ou três se reunirem em seu nome para isso acontecer. Seus ensinamentos consistiriam em caminho, verdade e vida, e ainda por cima a sua própria presença estaria conosco quando necessário.
Fico numa posição muito confortável ao obter essa compreensão. Tenho comigo um conjunto de ensinos e normas de conduta (o Evangelho) que me orientam a seguir a vontade de Deus colocada em minha consciência. Durante o desenvolver dos relacionamentos eu posso a qualquer momento contar com sua presença (Jesus) nas reuniões que pode contar com um quorum mínimo de duas pessoas para a viabilizar. Não importa o lugar, não importa o drama que estejamos vivendo; o que importa é um coração puro, uma fé raciocinada e inabalável, e intenções coerentes com a vontade de Deus. Na minha evolução pessoal, individual, o melhor recurso que tenho é a prece, com a qual falo diretamente com Deus e escuto os Seus conselhos; na evolução coletiva o melhor recurso continua ainda sendo a prece que pode ser feita por cada um e acompanhada pelos demais, mas a reunião de até dois ou três onde seja invocada o nome de Jesus como o nosso grande mestre para participar conosco e sensibilizar nossos corações e intuir nossas mentes, é um recurso por demais poderoso!