Os dons e talentos que recebi de Deus são como ferramentas para alcançar o meu alvo. O vigor físico potencializa essas ferramentas no contexto material e me sinto apto a realizar o que a consciência aponta como correto. Sei que os irmãos que convivem comigo neste mesmo espaço físico e temporal, também procuram suas realizações e como todos somos filhos do mesmo Pai, a solidariedade deve ser uma constante em todos os relacionamentos, principalmente nos interpessoais. Fazendo assim, sei que estou sendo útil através do trabalho realizado. Existe a recompensa material pelo tempo e qualidade do trabalho que é realizado, alguns exageram nesse aspecto porque buscam acumular além de suas necessidades para formar um poder financeiro que facilitará a vida no futuro. Sei que a prevenção das incertezas da vida é um elemento de prudência que todos devemos ter, mas sempre estou atento para que não deixe minha vida escravizada aos interesses puramente materiais. Os dons que recebi são suficientes para deixar a minha vida em relativa segurança, mas sei que devo ser útil também ao próximo com o uso de minhas ferramentas e quanto mais aplicado nessa tarefa mais recompensa terei no mundo espiritual. A utilidade maior que vejo na ação do meu corpo neste pequeno período de vida material, é no ajuste dos relacionamentos que originam com uma base egoísta, material, mas que deve progredir para a solidariedade coletiva, atingindo o ponto ideal da família universal. Nesse ponto a vida atinge o ápice de ser útil ao próprio Deus, na contribuição da harmonia em todos os aspectos da natureza. O prazer ou sofrimento que as circunstâncias me oferecem, agora não tem tanta força no direcionamento do meu comportamento, pois a minha meta está sintonizada com a vontade do Criador e sei que tudo pertence a Ele, tudo se confunde com Ele, inclusive meu corpo com suas dores e alegrias.
Para qualquer lugar que nos dirigimos é sempre bom saber os hábitos dos seus habitantes, da cultura, dos paradigmas coletivos. Tenho intenção de ir/construir o Reino de Deus, seguindo as instruções que o seu filho mais graduado nos ensinou. Jesus dizia que devíamos nos preocupar mais com os valores da alma do que com os valores materiais, pois estes são fúteis e passageiros, frágeis e ilusórios; enquanto aqueles são seguros e eternos, que farão parte de vestimenta espiritual para todo o sempre, que nenhum ladrão poderá os roubar. Os valores da alma estão todos associados à Lei do Amor, a principal lei do mundo espiritual e que se confunde com o próprio Criador. Tudo aquilo que tende a inclusão, à aproximação, a fraternidade, fazem sintonia com a Lei do Amor e servem para costurar com delicadeza e perfeição cada vez maior a nossa vestimenta espiritual.
Desde que tive conhecimento dessas informações, percebi a sua lógica e que eu é quem decidiria o meu futuro, colaborando com o futuro de todos ao meu redor, decidi que iria construir minha vestimenta espiritual e me preparar para ser também um cidadão do Reino de Deus. Procuro aperfeiçoar os meus sentimentos, pensamentos e emoções em direção à Lei do Amor, e corrigir todos os derivativos do Egoísmo, sentimento que se contrapões frontalmente ao Amor. Sinto que caminho satisfatoriamente nesse sentido, porém as parceiras que caminham comigo com o mesmo propósito, não conseguem se livrar com o mesmo empenho das mazelas do campo material. Percebo que a vestimenta espiritual delas ainda estão tingidas por essas cores tão escuras e tétricas, do exclusivismo, intolerância, pessimismo... Rogo a Deus que ilumine as reentrâncias de suas consciências, que percebam a verdade da vida, do que o Pai espera de cada um de nós... gostaria muito de entrar no Reino de Deus em suas companhias!
São Francisco dizia que “ao corpo é doce cometer o pecado, e amargo é servir a Deus; porque como diz o Senhor no Evangelho, todos os vícios e pecados brotam e provem do coração dos homens (Mc 7,21)”. Dizia também que nada temos neste mundo nem no futuro; que julgamos possuir por muito tempo as vaidades deste mundo, mas somos iludidos, porque virão o dia e a hora em que não pensaremos e que desconhecemos e ignoramos; o corpo adoece, a morte aproxima-se e assim morreremos de morte amarga; que todos os talentos e poder, ciência e sabedoria que julgávamos ter serão tirados.
Esse pensamento de São Francisco me faz refletir que existe um paradoxo na existência. O doce do prazer que experimento no cometimento do pecado, lá na frente será perdido, o corpo se dissolve e o tesouro guardado será repartido por outros. A alma imprevidente se sentirá desnuda frente outra realidade. O amargo de servir a Deus faz o controle dos instintos, do imperativo do corpo e faz com que eu possa aprender e guardar na minha memória novos comportamentos e sentimentos. No final, o doce se tornará amargo e o amargo se tornará doce. Então devo evitar o “canto de sereia” dos prazeres corporais. Devo lidar com eles dentro das necessidades do corpo de sobrevivência, mas sempre evitando o exagero. Nesse particular, lembro de seguidas derrotas que tenho na confrontação com o corpo, na questão da alimentação. Sei que uma quantidade pequena é suficiente para nutrir de forma adequada o meu corpo, mas o desejo que vem lá das profundezas do meu ser, exige que eu continue a comer até o ponto do estômago não ter mais condições de armazenamento, de ficar até incomodo a posição de deitado. O prazer que tenho no momento da alimentação, logo será cobrado com a sensação da dispepsia e um pouco mais distante sei que também serei cobrado dessas tantas derrotas sistemáticas que tenho com o excesso de alimentação. Mas também tenho meus recursos. O jejum é um deles. Consigo ficar três dias sem me alimentar de nada e sinto que posso avançar até mais um dia. Tenho forças para conduzir meu corpo para essa situação de jejum, mas não tenho para limitar o prato durante a refeição. Assim acontece também em outras áreas e é por esse motivo que a evolução espiritual é tão demorada e dolorosa.
Moisés recebeu do Senhor a missão de levar o seu povo à Terra Prometida. Toda a ajuda o Senhor lhe deu para sair das garras do faraó e perambular pelo deserto durante 40 anos em busca dessa Terra. Que sentimentos poderia haver no coração de Moisés durante essa empreitada? Arrependimento por ter tido um momento de falta de fé quando duvidou que Deus forneceria água se ele falasse com uma rocha? Alívio por ter cumprido sua missão? Alegria por saber que se encontraria com Deus? Tristeza por ter de deixar outra pessoa liderar o povo para a entrada na Terra Prometida?
Posso imaginar o tumulto que passava na cabeça de Moisés depois de tantas experiências com Deus, cada vez mais saindo do mundo material e consolidando sua fé com base no mundo espiritual de onde provem toda a influencia de Deus para tudo e para todos. Também sinto que isso acontece comigo. Não na dimensão e responsabilidade que tinha Moisés, longe estou do nível dessa responsabilidade e sintonia com Deus. Mas procuro fazer dessa história um modelo para o meu comportamento e paradigmas. Assim como Moisés reconheço a existência do Pai e tenho consciência da missão que ele colocou em minha consciência, de levar o seu povo, dessa vez toda a humanidade, para a Terra Prometida por Jesus: o Reino de Deus. Sei da dimensão que tudo isso tem e que sozinho jamais conseguirei atingir o objetivo final. Sei que Deus providenciará o concurso de outras pessoas para concretizar a missão num projeto divino de continuidade. Sei que apesar de me esforçar bastante para ser eficaz e procurar ser uma bênção por onde passo, não sou a única pessoa que Deus pode usar para cumprir seus propósitos, inclusive minhas companheiras que comigo caminham nesse projeto, são pessoas tocadas por Deus para cumprir o projeto que é dEle. Assim, devo ter humildade suficiente para reconhecer que Deus sabe muito mais do que eu sobre minha vida, que devo fazer de tudo para trabalhar agradando a Deus e já preparar outras pessoas para assumir o meu humilde lugar, para dar prosseguimento ao que foi começado e está andando. Não posso ser orgulhoso e achar que sou a única pessoa que pode fazer o que Deus quer, colocar seus filhos na Terra Prometida em definitivo, o seu Reino de Amor.
Dom Duarte Leopoldo e Silva dizia que “ler o evangelho com espírito de fé e humildade é beber em sua fonte a força onipotente de Deus”. O evangelho de Jesus conforme está na Bíblia, é composto por 4 livros escritos por pessoas que conviveram com Ele ou que escreveram depoimentos de quem testemunhou suas ações. São as lições e ações de Jesus, culminando com o seu sacrifício na crucificação, que desperta minha consciência para a existência do Deus onipotente, onisciente e onipresente; que posso ter uma relação direta com Ele através da prece e da meditação; que como filho dEle e seguindo Sua vontade, posso adquirir sua força para realizar aquilo que Ele deseja que eu realize. Mas, como foi dito acima, é necessário que seja lido com fé e humildade. Caso não seja assim, a leitura é apenas um exercício de curiosidade. A fé determina a realidade de tudo que foi escrito e que o Criador fonte de todas as coisas pode ser acionado conforme a justiça de meus atos e pensamentos. A humildade é o reconhecimento de ser uma criatura, de ter limitações tão grandes que não posso compreender de forma completa quem me criou; que nem sempre aquilo que desejo ou peço é o melhor para mim e que posso receber justamente aquilo que preciso e contra minha vontade. Também percebo que os ensinamentos do Cristo são motivos para diversos escritores serem sensibilizados e produzirem obras com base nelas. Então vou encontrar hoje, essas fontes evangélicas distribuídos por diversas obras literárias e que posso receber uma mensagem do Pai a partir de uma leitura qualquer. Isso me oferece a força e motivação para prosseguir em direção à meta que o Pai colocou em minha consciência desde o nascimento. Também serve como bússola moral para corrigir a meta quando essa tende a desviar do objetivo.