Temos a tendência de esquecer de Deus quando nos envolvemos em nossa labuta diária e nossa mente fica quase que completamente envolvida com os aspectos materiais da sobrevivência. Assim, é importante que possamos eleger algo que nos lembre sempre do Criador e caso já tenhamos definido, também de nossa missão. No meu caso, que faço esse esforço diário para não esquecer do Criador, também procuro lembrar sempre da minha missão. No caso da missão já é um pouco complicado de lembrar e seguir a frente como faço com relação a Deus. A missão envolve a participação de outras pessoas que podem não compreender o que é proposto ou mesmo que entenda, que decida caminhar junto no projeto, mas que não encontre forças para adequar o comportamento ao que é requerido, o amor incondicional, o amor inclusivo ou não exclusivo, a tolerância, a fraternidade, ou a ausência do ciúme, da prepotência, do orgulho, da vaidade... É este o terreno que fundamenta o caminho da minha missão. Como tive muito tempo para me preparar e tirar as ervas daninhas do caminho, tenho agora facilidade na caminhada. Mas minhas parceiras voluntárias na empreitada se pereem com esses sentimentos negativos e isso faz eu recuar ou mesmo paralisar o ritmo da caminhada para tentar voltar a harmonizar o conjunto. Sempre existe a tendência ao isolamento, a relação se dar num sentido de exclusão com outras pessoas. Isso vai de encontro ao que estar proposto na essência da missão, de criar uma família ampliada com base no amor inclusivo entre todos os envolvidos. Temos que achar uma forma de colocar lembretes ao alcance de nossa atenção para que não esqueçamos dos propósitos da missão que assumimos para o sentido de nossas vidas. Sem esquecer, claro, jamais, da presença e participação efetiva de Deus em todos as etapas da jornada.
Fiquei com uma sensação estranha depois que sai do consultório do dentista. Sei que estou tratando dos dentes, corrigindo as distorções, evitando doenças e favorecendo uma melhor nutrição com uma melhor mastigação. Também é levado em consideração o lado estético. É nesse ponto que sinto essa inquietação. Parece que estou enganando alguém fazendo isso. É como a história de Dorian Gray. Esse personagem fez um pacto com o próprio diabo para nunca envelhecer, então todo o processo de envelhecimento, inclusive as maldades que ele praticava, era passado para o retrato. Por esse motivo o retrato era guardado de forma sigilosa. Enquanto Dorian permanecia sempre jovem, seu retrato que vivia escondido se tornava um velho rabugento de traços fisionômicos marcados pela maldade. Quando são corrigidas as distorções, que próteses são colocadas, que a estética é restaurada, é como se eu fizesse como Dorian Gray e escondesse o rastro feio dos meus pecados na cobertura de porcelana dos dentes.
Este é o terceiro dia de jejum, o dia está acabando e considero que venci a meta que havia proposta. Considero que não foi nem tão difícil assim. Três dias sem alimentação regular e estou aqui sem nenhuma alteração perceptível em minha fisiologia. Não sinto fome. Porem quando coloco a minha imaginação na lembrança ou possibilidade de comer algum tipo de comida, então sinto o apetite surgir. Tenho que voltar a atenção para o propósito do jejum e logo o apetite também desaparece.
Recebi uma advertência de uma amiga que leu este blog, que o jejum devia se estender para todo tipo de pecado, não só evitar o alimento, mas sim todo tipo de carne, que devemos nos abster do pecado também. Acredito que ela tenha querido me advertir quanto o pecado do sexo irresponsável, libidinoso, libertino. Respondi que considero que esses aspectos também estão incluídos no jejum que faço, pois mesmo sem estar fazendo o jejum de alimentos, eu já procuro fazer abstinência de todos esses aspectos. Sei que nosso corpo tem suas necessidades e procuro cumpri-las da melhor forma possível, isto é, dentro dos limites da normalidade. Pecado é todo excesso que praticamos, todos atos que levam prejuízo a mim ou a terceiros. E quanto a isso procuro os evitar dentro ou não de regimes, jejuns.
Falhei domingo em iniciar o jejum como forma de compensar o exagero de alimentação que fiz no sábado, dia 20. Terminei por não querer ofuscar a harmonia do encontro familiar, onde a alimentação é um ponto forte. Transferi o propósito de iniciar os três dias de jejum a partir de ontem. Permiti apenas a ingestão de líquidos, suco de laranja e dindins. Quando fui pegar Adriana na escola, ela estava comendo umas bolotinhas de chocolate e me ofereceu. Peguei três, sem perceber, e comi na hora. Depois foi que fui avaliar a situação e vi que poderia ter evitado. Mas como foram somente três pequenas bolotas, considerei que não foi quebrado o meu propósito. A noite na janta tomei apenas um copo de laranja, sem nenhum acompanhamento. Ao chegar em casa fiquei tentado em ir à geladeira ou pegar castanhas. Resisti as duas tentações peguei apena dindins. Bem, venci o primeiro dia. Acredito que poderei vencer o segundo.
Fiz a promessa de não comer ontem e iniciar um jejum de três dias. Necessitava corrigir o exagero do dia anterior. Falei para todos que estavam ao meu redor e logo veio a reação na forma de tentações. Minha irmã mostrava o peixe que havia trazido e perguntava se eu iria resistir de não comer pelo menos um pouco do que trouxe. Reconheço que sem grane resistência, lá estava eu a aceitar o convite de comer um pouquinho com eles, mesmo sabendo que ao começar a comer eu não teria esse controle. Não comi exagerado como na noite anterior, mas não fiz nenhum esforço para limitar a alimentação. O que estava limitado era o comportamento de meus parentes, pois todos tinham também exagerado. Só que eu, devido o grau de minha espiritualização e da minha vontade, devia estar no controle mais eficaz da situação. São essas situações que mostram o quanto somos frágeis frente as exigências que o nosso corpo faz ao espírito. Hoje voltarei às minhas atividades com a consciência de que o compromisso de fazer o jejum de pelo menos três dias é crucial para determinar o grau de meu controle sobre as necessidades instintivas do corpo. Terei que vencer o desejo do meu corpo e também as opiniões e tentações de terceiros.