Casos de urgência sempre atropelam outras atividades. Foi o que aconteceu ontem. Terminei esquecendo de fazer o comentário do dia. Um monte de assuntos poderiam ter sido abordados, mas ficaram no ostracismo. Isso acontece até com frequencia quando nos envolvemos com muitas atividades. Sempre uma ou outra assume em determinado momento algum tipo de urgência, ou mesmo o atraso em fazer as coisas concomitantemente por simples falta de tempo, termina por fazer isso. Eu já tenho uma sequencia de atividades bem extensa e cada uma delas cobra dedicação para sair com competência. A consciência cobra a competência, mas para fazer isso terei que me dedicar a uma só das atividades. Deixarei de servir dentro de um universo maior e fico restrito em nome da competência. É o dilema: fazer com competência ou servir com amplitude. No que faço com amplitude, a falta de competência que acho que eu teria se fosse dedicado só àquela atividade, não chega a comprometer o serviço que ofereço. Isso é o que me mantém nessa situação, apesar dos momentos de urgência originar falhas como aconteceu ontem, não consegui postar no blog, por esquecimento no horário final, apesar de já termos saído do horário de verão.
É uma situação em que a pessoa entra em decadência e mesmo tendo a consciência de sua situação, não consegue reverter o processo, chega numa condição que não pode descer muito. É um termo muito empregado em dependência química, em alcoolismo principalmente. A pessoa sabe que aquela substância está lhe fazendo mal, ou pode não ter consciência disso, mas ele chegou numa condição que não pode mais descer. O que podemos fazer é somente dar o apoio que está ao nosso alcance e torcer para que a pessoa consiga encontrar as forças para escalar o seu fundo de poço. Nós que estamos fora e que torcemos por essa recuperação, nos sentimos impotentes, parece que todo nosso esforço é insuficiente, desprezível em situação tão grave.
Todos na vida passam por problemas, alguns verdadeiras crises, catástrofes... assim encontrei uma pessoa nessa situação. Abandonada pelo marido, sem ajuda financeira, sozinha com dois filhos menores, desempregada, sem nenhum outro familiar para lhe dar apoio. Em depressão, o pensamento de morte é uma constante. A situação dos filhos passam a não ter prioridade, a não ser o seu sofrimento que procura alívio. Já ensaiou tomando vários comprimidos. Todos tem seus problemas e geralmente os nossos parecem ser maior do que os dos outros. Mas não tem como, aquela mulher tem um problema muito maior do que os meus. Estou na posição de ajudar, mesmo que minhas limitações impeçam de dar uma resposta definitiva. Orientar, apoiar, encaminhar, atestar e motivar para fazer o enfrentamento do problema por maior que ele seja. É o que posso fazer. Ficar torcendo para que ela volte no próximo mês com algum apoio mais sólido. De quem? Do Estado? Da sociedade organizada? Onde estou depois que deixo meu papel profissional neste campo da solidariedade humana. Tenho atividades voluntárias, bem sei, mas parece tão pouco quando vejo situações tão extremas e que precisam de resposta tão profunda e imediata... a crise também é minha?
Na reunião de hoje no Centro o tema em destaque foi a vergonha. Foi colocado pelos dependentes a vergonha que tinham de estarem naquela reunião na condição de dependente químico, do quanto destruíram as suas vidas, da incapacidade que tinham até o momento de tomarem as rédeas de suas vidas. Coloquei que todos nós, dependentes ou não, temos vergonha de alguma situação ou ação que devíamos ter realizado ou evitado e não conseguimos. Na lição que foi lida, Jesus chama a atenção para essa questão, da falibilidade humana em qualquer situação que o homem esteja, escravo ou senhor, rico ou pobre, instruído ou analfabeto... coloquei o exemplo de que também tinha motivos para me sentir envergonhado, pois hoje sendo um técnico bem qualificado, e na minha área de especialização, a psicofarmacologia, talvez eu seja o único que possua o grau de doutor e por esse motivo devo ser o mais capacitado em dependência química. No entanto não consegui salvar a vida do meu primo das garras do alcoolismo, ele que foi o causador de eu ter me matriculado no curso de segundo grau que foi o início da minha caminhada para atingir o nível acadêmico em que me encontro. Dessa forma todos estamos irmanados ao redor dessa mesa em situações vergonhosas, que nos leva à situação de culpa e a sentir a dor desses sentimentos. Mas devemos seguir as lições do Mestre. Que todos nos esforcemos para nos apoiar mutuamente, sabendo que a união de nossas consciências conhecedoras de nossas fragilidades, podemos ir lentamente corrigindo os nossos erros.
As consequências do período do carnaval na biologia forçou a entrada nas atividades somente a partir de hoje, mesmo assim sofrendo ainda efeitos dos exageros da gula. Mas com todo o desconforto que a biologia ainda está provocando, assumo todas as minhas atividades programadas para o dia de hoje. Recebi mensagem de uma amiga pedindo para que eu reavalie as minhas convicções, principalmente na forma de encarar o amor incondicional e o de incluir o aspecto sexual. Confesso que a cada dia faço uma reavaliação dessas minhas convicções e daquilo que considero minha missão, divulgar o amor incondicional tal como penso, e alicerçado nos textos acadêmicos e livros sagrados. Aqui mesmo neste diário estou sempre a citar uma passagem religiosa, espiritual e fazendo o contraponto com essa visão que Deus permitiu que eu tivesse da aplicação do Amor Incondicional, sem qualquer tipo de barreira, dentro de nossas relações interpessoais, principalmente entre os gêneros e que viabiliza a permanência da vida na terra.