Observamos que as promessas de Deus eram dependentes da obediência constante de Abraão. Mas aconteceu um evento que elevou a aliança de Deus com Abraão a um novo nível, mais elevado, e por uma boa causa... veremos.
Deus disse a Abraão para trazer Isaque, o filho da promessa, e sacrificá-lo como uma oferta queimada no Monte Muriá (Genesis 22:2). O principal teste de fé de Abraão havia chegado.
Nessa altura de sua vida Abraão tinha aprendido a confiar em Deus implicitamente. Ele tinha experimentado a sabedoria, a verdade e a fidelidade de Deus. Ele continuou fazendo conforme era instruído, até ser milagrosamente interrompido no exato momento em que mataria seu filho (versículos 9-11).
Podemos aprender diversas e profundas lições deste incidente.
Primeiro, Deus, seja no passado ou hoje em dia, nunca admitiu que O adorassem com sacrifícios humanos.
Segundo, Deus proibiu a Israel de seguir a prática pagã de oferecer os filhos primogênitos como sacrifícios a ídolos. O sacrifício humano fazia parte da cultura da sociedade mesopotâmica de onde Abraão foi chamado, assim como também das nações ao seu redor. Mas Deus certificou-se de que seu servo fiel não iria realmente imolar seu filho, embora Abraão não soubesse de antemão o que Deus tinha em mente.
No versículo seguinte, as palavras de Deus revelam o que realmente Ele queria descobrir sobre Abraão: “Agora sei que temes a Deus e não me negaste o teu filho, o teu único” (versículo 12).
Por estar disposto a obedecer a Deus, Abraão provou que renunciaria àquilo que era mais precioso para ele, seu único herdeiro (versículo 16). Deus não queria o filho de Abraão como sacrifício, mas queria realmente saber se Abraão confiava nEle o bastante para fazer a escolha mais difícil que Ele colocaria diante dele. Abraão passou no teste.
Aqui é outro ponto que o meu racional aponta uma incoerência. Deus não tem capacidade de sondar nossos corações, nossas intenções? Por que exigir uma prova de tal natureza, mesmo que se Abraão cumprisse ele não estaria seguindo a cultura do seu povo do sacrifício humano, principalmente dos primogênitos? Mas colocarei mais este trecho da narrativa no baú das dúvidas e seguir acreditando na narrativa.
O comportamento de Abraão demonstrou para Deus que ele era um homem qualificado para o papel de “pai de todos os que creem” (Romanos 4:11-22; Gálatas 3:9; Hebreus 11: 17-19), e que era um fundador adequado da família de descendentes incontáveis que poderia se tornar o povo de Deus (Gênesis 18:19).
Contudo, Deus não podia completar o plano que iniciara através de Abraão sem tocar no problema do pecado humano, e este problema iria, mais tarde, requerer o sacrifício do Redentor da humanidade, Jesus, o Messias, o Cordeiro de Deus (João 1:29).
Como forma de diminuir o tamanho da minha crítica frente a exigência de Deus sobre a fé de Abraão, elaboro o seguinte raciocínio. Tem um setor da existência humana que Deus não pode intervir: o livre arbítrio. Não porque Ele não possa efetivamente, pois Ele pode tudo. Acontece que Deus nos criou enquanto espirito, simples e ignorante, capaz de evoluir em ciência e sabedoria com nossos próprios recursos. Para isso realmente acontecer, devemos possuir o livre arbítrio, uma ferramenta da nossa individualidade, onde ninguém poderia intervir, nem mesmo Deus. Isso dá para a humanidade o potencial de evoluir por nossos próprios esforços, respondendo pelos erros e acertos de nossas decisões e comportamento.
Dessa forma pode ser explicado porque Deus fez o teste com Abraão, mesmo sondando o seu coração e sabendo de suas intenções. Ele precisava saber se Abraão iria usar seu livre arbítrio, uma área que Ele não podia prever, para se comportar conforme Ele pedira.
Assim justifica Deus exigir a aprovação nesse teste que envolvia o livre arbítrio.
Conforme Abraão ia demonstrando sua fidelidade, Deus aumentava o escopo de Suas promessas a ele. Finalmente, elas envolveram muito mais do que Deus tinha revelado inicialmente.
A descrição mais detalhada das maravilhosas promessas de Deus a Abraão aparece em Gênesis 17.
“Sendo, pois, Abrão da idade de 99 anos, apareceu o Senhor a ele, e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito. E porei a minha aliança entre mim e ti, e te multiplicarei grandissimamente... Quanto a mim, eis o meu concerto contigo é, e serás o pai de uma multidão de nações. E não se chamará o teu nome Abrão, mas Abraão será o teu nome; porque por pai da multidão de nações te tenho posto. E te farei frutificar grandissimamente e de ti farei nações, e reis sairão de ti. E estabelecerei o meu concerto entre mim e ti e a tua semente depois de ti em suas gerações, por concerto perpétuo, para te ser a ti por Deus e à tua semente depois de ti. Eu te darei ti e à tua semente depois de ti. E te darei a ti e a tua semente depois de ti a terra de tuas peregrinações, toda a terra de Canaã em perpétua possessão, e ser-lhe-ei o seu Deus” (Genesis 17:1-8).
Sobre esta promessa, a bênção de Deus ainda era condicional e baseada na obediência e no compromisso de Abraão em amadurecer espiritualmente. Aqui Deus, mais uma vez, vem lembrar-lhe disso, dizendo: “Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito” (versículo 1).
Outro relato da promessa de Deus a Abraão aparece em Gênesis 18, num cenário imediatamente anterior à destruição das cidades infestadas de pecado, Sodoma e Gomorra. Os convidados angelicais de Abraão são mensageiros com notícias sobre a punição divina que estava para ocorrer nas duas cidades. Reconfirmaram o nascimento, em breve, de um filho a Abraão, com 99 anos de idade, e sua esposa Sara, dez anos mais nova (versículos 10-14).
Como Deus prometeu que não ocultaria de Abraão Suas intenções, os anjos, que visitavam o patriarca idoso, confirmaram as promessas de que ele iria certamente tornar-se uma grande e poderosa nação, uma aliança física, material e nacional abrangente. Eles também reconfirmaram a promessa messiânica de que nele serão benditas todas as nações da Terra (Gênesis 18:18).
Esta promessa foi cumprida quase um ano após este encontro, quando Sara deu à luz a Isaque (Gênesis 21:1-3). Primeiramente, Abraão demonstrou ser fiel a Deus. Agora, milagrosamente, Deus confirmava a fidelidade de Seu compromisso com Abraão.
Quando Abraão obedeceu prontamente, Deus então prometeu abençoa-lo e tornar grande o seu nome. Sua descendência também se tornaria grande.
Alguns versículos depois na leitura de Gênesis, Deus apareceu a Abraão e prometeu a seus descendentes a terra de Canaã. As promessas de Deus inequivocamente incluíam coisas materiais, como terra física e possessões.
Neste ponto eu deixo um vazio na minha compreensão que coloco na conta da sabedoria de Deus da qual não tenho acesso... como um Deus justo escolhe uma pessoa para entrar em terras habitadas para se desenvolver em detrimento de outros povos? Prefiro entender que tudo está correto, que a melhor decisão foi essa para que eu possa seguir aceitando a narrativa como a verdade dos fatos.
No capítulo treze de Gênesis existe mais detalhes sobre as promessas. Após o relato da disposição de Abraão em dar o campo fértil adjacente ao Rio Jordão ao seu sobrinho Ló (versículos 5-13), Deus, em contrapartida, prometeu toda a terra de Canaã a Abraão para sempre (versículos 14-17) indicando que os aspectos temporal e eterno de Sua promessa estavam intimamente relacionados.
Apesar de Abraão ainda não ter filhos, Deus também prometeu que seus descendentes seriam contados como o pó da terra; de maneira que se alguém puder contar o pó da terra, também a descendência de Abraão será contada (versículo 16). O imenso escopo desta promessa, a expansão quase ilimitada dos descendentes de Abraão, não deve ser tomado como de pouca importância, pois ela tem implicações colossais.
Aproximadamente uma década mais tarde, Deus apareceu novamente a Abraão em uma visão. Apesar de que ele ainda não tinha filhos, outra vez, Deus lhe prometeu um herdeiro, e este herdeiro, disse Deus, seria gerado de ti (Gênesis 15-4).
Sempre vem em minha consciência uma crítica repetitiva: como Deus, o Criador de todo o universo, mantém uma preocupação tão localizada, num planeta tão ínfimo, numa pessoa tão simples. Consigo coloca-las no baú das dúvidas para seguir a narrativa como a verdade que pode ser entendida por meu ínfimo psiquismo, para assim seguir no caminho e traçando as minhas metas sobre ele.
Segundo a promessa de Deus, uma incrível multidão de pessoas viria daquele herdeiro, Isaque. Abraão creu nessa promessa e isso foi lhe imputado como um ponto positivo frente à justiça de Deus.
A certeza de Abraão de que Deus manteria Sua promessa, mesmo num futuro distante, foi uma das razões pela qual Deus o amou com mais distinção. Deus o designou para ser o pai de diversas nações poderosas, mas também o pai de todos os que creem (Romanos 4:11). Deus estava trabalhando em um duplo papel para o fiel Abraão.
Alguns versículos depois, Deus lhe prometeu, além de inumeráveis descendentes, todo o território que se estendia desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates (Gênesis 15:18). Este espaço de território cobria muito mais terra que a terra incluída por Deus em Sua promessa original da terra de Canaã (Gênesis 12:6-7; 17:8; 24:7).
Paulo escreveu que quando qualquer pessoa, de qualquer raça ou origem, entram num relacionamento pactual com Cristo, elas também se tornam descendentes de Abraão (Gálatas 3:28-29). Dessa forma não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos somos um em Cristo Jesus. E, se somos de Cristo, também somos descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa.
Esta explicação deveria fazer parte da catequese em todas as igrejas cristãs. Confesso que sempre li este livro da Bíblia, sei da história de Abraão, da sua fé, do pai de grandes nações, mas nunca me senti incluído da forma que me sinto agora, lendo o relato desta forma.
Assim, desde o início da interação de Deus com Abraão, fica cada vez mais claro que o objetivo de Deus é tornar a salvação acessível a todos. O restante da Bíblia deve revelar muito mais detalhes de como Deus executará este plano. Com essa forma de relatar, encontro esses fundamentos no livro de Gênesis, nas promessas que Deus deu a Abraão.
Agora vou reler a Bíblia com esta nova perspectiva, de encontrar as revelações dos muitos aspectos do plano mestre de Deus para a salvação da humanidade. A dimensão espiritual de Sua tarefa a Abraão é apenas uma parte da história. Como seres físicos nós interagimos em um mundo físico. Por esta razão, Deus sempre atinge Seus alvos espirituais através de meios físicos, como dar e tirar bênçãos físicas – usando o princípio de recompensas por bom comportamento e punição pelo pecado.
Precisamos refletir sobre o porquê Deus prometeu fazer de Abraão uma grande “nação” (Gênesis 12:2). Muitos estudantes da Bíblia não conseguem entender a importância dessa grandiosa promessa física. Geralmente, os críticos da Bíblia zombam disso porque acham que o povo de Israel nunca foi mais do que um par de reinos insignificantes na ponta oriental do Mar Mediterrâneo. Mas eles estão errados. Deus não mente (Tito 1:2). Ele mantém Suas promessas.
As leituras desses trechos da Bíblia podem ser feitas de forma cética ou acreditando que faz parte de uma realidade, mesmo que tenha alguns erros, inconscientes ou propositais. Sempre é bom conhecer as diversas narrativas que nos sãos apresentadas com uma peneira crítica, mas não com um perfil cético impenetrável.
Tirando as partes que não compreendo dessa narrativa, que imputo vir da sabedoria de Deus da qual não tenho acesso pleno, encontro muito coerência e possibilidade de aplicação pratica na vida cotidiana, que pode ser um guia no meu direcionamento de vida. Portanto, acho conveniente seguir por ela, ajustando com visão crítica, comparando com o que já aprendi e que achei coerência.
Considero-me como coerdeiro da promessa feita por Deus a Abraão, entrando na genealogia dEle, desde que reconheci a autoridade e sabedoria do Cristo e que decidi seguir pelo Caminho de Verdade em direção à Vida eterna, como Ele ensinou.
A narrativa cristã informa que Deus criou todos os povos da terra “de um só sangue” (Atos 17:26). A história dos israelitas é sobre uma única família que o Criador Deus favoreceu o aparecimento entre todos os povos da Terra para o Seu serviço.
Embora os israelitas sejam o povo que foi construído segundo a vontade de Deus, de nenhuma forma deveriam ser considerados superiores, tanto na antiguidade como agora. O apóstolo Pedro explicou posteriormente que “Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que O teme e faz o que é justo lhe é aceitável” (Atos 10:30-35). Isso sempre foi verdadeiro.
Alguns podem pensar que Deus escolheu trabalhar com Abraão e seus descendentes porque, de alguma forma, eles eram mais importantes ou naturalmente melhores que as outras pessoas. Mas absolutamente este não era o caso. Deus intencionalmente escolheu lidar com um pequeno grupo de pessoas que não tinham proeminência internacional.
Vejamos o que Deus disse à antiga Israel: “O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos, mas porque o Senhor vos amava; e, para guardar o juramento que jurara a vossos pais, ... Saberás, pois, que o Senhor, teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda o conceito e a misericórdia até mil gerações aos que O amam e guardam os seus mandamentos” (Deuteronômio 7:7-9).
Deus escolheu Abraão para uma tarefa específica. Mas Ele também testou Abraão para ver se ele Lhe seria fiel. Abraão passou nesses testes. Então, Deus começou a usa-lo porque ele acreditava e confiava em seu Criador. “Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Romanos 4:3).
Deus moldou a antiga Israel, sob a Sua cuidadosa orientação, das doze tribos relacionadas ou famílias estendidas, cujos ancestrais eram Abraão, seu filho Isaque e o filho de Isaque, Jacó.
As famílias estendidas de Abraão cresceram, formando uma multidão ainda maior, os descendentes dos doze filhos de Jacó. Deus os constituiu uma nação e fez uma aliança e fez uma aliança com eles. Juntos, eles ficaram conhecidos como “Israel” ou “os filhos de Israel”.
Israel foi outro nome dado a Jacó. Quando Deus começou a trabalhar diretamente com Jacó Ele o nomeou Israel, que significa “aquele que prevalece com Deus” ou “um príncipe com Deus” (Gênesis 32:24-30).
Os descendentes de Israel também seriam conhecidos como “a semente de Abraão”, “a casa de Isaque”, “a casa de Jacó” ou simplesmente “Jacó”, e pelos nomes individuais das tribos, de Rubem, Simeão, Levi, Judá, Zebulon, Issacar, Dã, Gade, Aser, Naftali, Benjamim e José.
Mais tarde, o patriarca Jacó adotou Efraim e Manassés, seus netos através de seu filho José, como seus próprios filhos quanto a sua herança. Consequentemente, a nação de Israel tem sido mencionada historicamente como sendo composta tanto de doze ou de treze tribos, dependendo se os descendentes de José sejam contados como uma tribo (José) ou duas (Efraim e Manassés).