Taça de fel para mim, tu se tornou
O que era tão gostoso, puro mel
O tempo sem clemência transformou
Neste inferno que antes era o céu
Quando penso tão grande nosso amor
Que causou entre os deuses tal ciúme
E num feitiço nos encheu de amargor
Do brilho estelar, um mero vagalume
Mas a lembrança, doce-mel, não se apaga
E por mais que peça a Deus que traga
Não é o doce que sinto, é amargura
Quem me dera mudar minha desdita
Mas ninguém a minha vida facilita
Quem se importa minha sina, noite escura?
O carro avança por estrada afora
Pavimentada de tristeza e mágoa
Nem os pássaros que cantam nesta hora
Fazem enxugar dos meus olhos a água
Ela não quer a minha companhia
Não se importa com a minha solidão
Que na curva eu capote e vá pra tumba feia
Sem ato de amor ou consolação
Por que eu tenho que ainda viajar?
Se assim aumenta minha saudade?
E cada metro percorrido parece perguntar...
Ei! Cadê ela, a musa que eu via ao teu lado?
E que com ela nós fazíamos a Trindade?
Eu, só contigo, é puro e acre enfado!
Eu sou do sonho a flor misteriosa
Que se abriu no teu seio virginal
Como promessa de vida esplendorosa
Como milagre de um sonho surreal
Olha agora ao teu lado e veja
O que tenho de belo, flor carmesim
Tão confusas de dor e de tristeza
De hastes finas que esperam por um fim
Eu me plantei em ti, em algum dia
Quando te vi mesmo sendo uma menina
E previ assim mesmo a minha sina
Dar ao mundo meu perfume eu sabia
E por isso eu seria expulso do seu mundo
E afogo minhas pétalas em mar profundo
Minha querida, que vive sem deleite
Que chora um pranto, convulso, noite e dia
Eu sei que isso ela não merecia
Tamanha dor, te digo, não aceite
Eu vou colher, lá no meu jardim
Uma flor lilás pra lhe enfeitar
As mágoas do passado afastar
E dizer que és pérola para mim
Jamais te sintas do mundo desprezada
Pois sem você meu mundo era sombrio
Sem luz, sem calor, com muito frio
Quero, me vejas, e te sintas muito amada
E que possas gritar para o universo
Toda a ventura do amor em belos versos
Eu sou a dor de quem tanto lamenta
Eu sou a lágrima daquele que padece
Eu sou a mágoa de quem nunca esquece
Eu sou o medo de quem por nada tenta
Na Terra eu não tenho nenhum laço
Não tenho de ninguém um só sorriso
A promessa de um dia, o paraíso
Nunca tive a doçura de um abraço
Sou como tu, xique-xique desprezado
Que perfura quem de ti se aproxima
Sou como tu, um reles desgraçado
Mas eu tenho para mim atenuante
Para trazer de alguém alguma estima
Sou um poeta, transformo espinho/amante