Os Espíritos continuam a nos instruir nessas importantes lições:
Questão 915 – O egoísmo, sendo inerente a espécie humana, não seria um obstáculo ao reinado do bem absoluto sobre a terra?
- É certo que o egoísmo é vosso pior mal, mas ele se prende a inferioridade dos Espíritos encarnados sobre a Terra, e não sobre a Humanidade em si mesma. Ora, os Espíritos, em se depurando pelas encarnações sucessivas, perdem o egoísmo, como perdem outras impurezas. Não tendes sobre a Terra nenhum homem desprovido de egoísmo e praticando a caridade? Eles existem além do que acreditais, mas os conheceis pouco porque a virtude não procura se por em evidência. Se há um, porque não haveria dez; se há dez, porque não haveria mil, e assim sucessivamente?
Algumas vezes eu escuto, quando advogo a aplicação do Amor Incondicional para a construção do Reino de Deus entre nós, que isso é uma tarefa impossível, que somente os santos são quem podem ter tal comportamento. Talvez essas pessoas pensem assim, pois imaginam aplicar esse Amor de forma completa, de imediato. Isso realmente parece impossível a quem nunca tinha nem ao menos considerado essa possibilidade. Mas os Espíritos ensinam que isso é um processo lento, que leva um tempo superior a uma simples existência sobre a Terra. Outra informação interessante é que já existem na Terra muitas pessoas desprovidas de egoísmo e praticando o bem, apesar do mal ainda prevalecer entre nós. Como a virtude não procura se colocar em evidência, é importante que nós, desde que conheçamos alguma virtude em alguém, a coloque em evidência, pois assim colaboraremos para melhor disseminar as virtudes entre nós. E um momento importantíssimo para isso seria no momento das instruções para o nubentes que se dispõem a formar famílias íntegras.
Questão 916 – O egoísmo, longe de diminuir, aumenta com a civilização, que parece excitá-lo e entretê-lo; como a causa poderia destruir o efeito?
- Quanto maior o mal, mais ele se torna hediondo. Era preciso que o egoísmo fizesse muito mal para compreender a necessidade de extirpá-lo. Quando os homens tiverem se despojado do egoísmo que os domina, eles viverão como irmãos, não se fazendo mal, entreajudando-se reciprocamente, pelo sentimento mútuo da solidariedade. Então, o forte será o apoio e não o opressor do fraco, e não se verá mais homens a quem falta o necessário, porque todos praticarão a lei de justiça. É o reino do bem que os Espíritos estão encarregados de preparar.
Isso deve fazer parte do processo educativo para as futuras famílias. O mal que está tão enraizado na sociedade, só existe assim porque ele tem suas bases nas famílias. É importante que cada pessoa ao agir para formar uma família, tenha a consciência do egoísmo inerente que cada um possui e a partir daí envolver todo esforço para a sua extirpação, com pensamentos, palavras e ações, dentro da família e na comunidade. Este será o processo de formação do Reino de Deus, eu não tenho nenhuma dúvida quanto a isso. A dúvida que eu tenho é que em algum momento desse processo eu possa me desviar um tanto dele devido aos meus desejos egoístas que podem vir nas forças do meu inconsciente disfarçado de qualquer tipo de outra motivação mais nobre.
Até este ponto das minhas considerações sobre o matrimônio, casamento e desígnio de Deus, concordo plenamente com os documentos católicos quando dizem que é importante a educação para formar uma consciência crítica, atualizada e honesta entre os nubentes. Que não existam preconceitos de qualquer tipo para descartar a priori qualquer tipo de manifestação da Natureza. Vamos chegar inevitavelmente ao confronto: leis da Natureza x ética evangélica. As leis da Natureza mostram que o homem é formado de inúmeros instintos, todos enraizados na base do egoísmo e que são importantes para a sobrevivência corporal. A ética do Evangelho mostra que nossa vida neste mundo material é apenas um estágio de aprendizado na perfeição do amor e que isso deve levar ao completo domínio dos instintos, sem extirpá-los, o egoísmo sim! Isso é um processo lento e a forma de fazer isso é diminuir cada vez mais a força do egoísmo e promover o florescimento das virtudes. Para levar avante esse projeto, temos ótimas lições que podem ser encontradas em “O Livros dos Espíritos” a partir da questão 913:
Questão 913 – Dentre os vícios, qual o que se pode considerar como radical?
- Nós o dissemos muitas vezes: é o egoísmo: dele deriva todo o mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos está o egoísmo. Inutilmente os combatereis e não conseguireis extirpá-los enquanto não houverdes destruído a causa. Que todos os esforços, portanto, tendam para esse objetivo, porque aí está a verdadeira chaga da sociedade. Todo aquele que quer se aproximar, desde esta vida, da perfeição moral, deve extirpar de seu coração todo sentimento de egoísmo, porque o egoísmo é incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades.
Considerando o abuso das leis da Natureza como uma forma de vício, vamos então entender que a raiz de todos os vícios está no egoísmo. É uma forma de energia, de sentimento, que procura alcançar tudo aquilo que considera importante para a sua formação biológica, para a sua manutenção e perpetuação. Não considera os direitos que os outros possam ter e que buscam os mesmos objetivos. Pelo contrário, muitas vezes subjuga o próximo e força que trabalhem em seus próprios benefícios. Isso é o que causa a chaga da sociedade citada pelos Espíritos. Chaga essa que tem a sua origem a partir da formação da família que permite o egoísmo dentro delas e com a inteligência dos seus membros formula leis para a manutenção dos seus mais diversos interesses, mesmo que a ignorância, fome, peste e guerra campeiem ao seu lado.
Questão 914 – O egoísmo, estando fundado sobre o sentimento de interesse pessoal, parece ser bem difícil de ser inteiramente extirpado do coração do homem: isso se conseguirá?
- A medida que os homens se esclarecem sobre as coisas espirituais, ligam menos valor as coisas materiais. Aliás, é preciso reformar as instituições humanas que o entretêm e o excitam. Isso depende da educação.
Perfeito! O esclarecimento das coisas materiais (instintos, desejos, egoísmo) e das coisas espirituais (Evangelho, ética, virtudes) deve ser feito com toda honestidade e profundidade, principalmente aos nubentes que irão formar a célula máter da sociedade: a família. De todas as instituições humanas é a família a mais importante, pois forma a base de onde surge a sociedade. Não podemos deixar de educar aos nubentes sobre essas questões cruciais, pois a omissão dessa tarefa nos deixará sempre dentro de uma sociedade cruel e hipócrita como a que vivemos.
O documento do Papa Francisco, seguindo a esteira dos documentos anteriores, o Humanae Vitae e o Familiaris Consortio, insiste na proposta do desígnio divino acerca da verdade originária do amor esponsal e familiar: “O lugar único que torna possível esta doação segundo a sua verdade total, é o matrimônio, ou seja o pacto de amor conjugal ou escolha consciente e livre, com a qual o homem e a mulher recebem a comunidade íntima de vida e de amor, querida pelo próprio Deus, que só a esta luz manifesta o seu verdadeiro significado. A instituição matrimonial não é uma ingerência indevida da sociedade ou da autoridade, nem a imposição extrínseca de uma forma, mas uma exigência interior do pacto de amor conjugal que publicamente se afirma como único e exclusivo, para que seja vivida assim a plena fidelidade ao desígnio de Deus Criador. Longe de mortificar a liberdade da pessoa, esta fidelidade põe-na em segurança em relação ao subjetivismo e relativismo, tornando-a participante da Sabedoria criadora.”
Insiste o documento na verdade total do matrimônio assim como ele é na formação do amor esponsal e familiar. Cita que é um pacto de amor conjugal consciente e livre. Como pode ser consciente e livre se não é acolhido a linguagem, pensamento e comportamento das ruas, do mundano, das forças instintivas do desejo na modulação da família? Se não acontece essa explicação para quem deseja contrair o matrimonio, quando as forças instintivas se manifestarem no psiquismo de um e no outro cônjuge, eles irão se digladiar em defesa dos compromissos e interesses que fazem parte do pacto realizado, os conflitos tenderão a se aprofundar cada vez mais e irão sentir sim, o casamento como uma ingerência sobre uma liberdade que ele descobriram ser necessária para a realização de desejos que não foram considerados antes. Como aceitar que essa limitação imposta pelo casamento e que não fora considerada antes seja um desígnio de Deus? Se Deus está representado na Natureza e essa mesma Natureza é quem mostra a existência desses desejos que clamam por sua realização?
Certamente que a satisfação dos desejos sem o conhecimento de uma ética por trás, irá beneficiar sempre o mais forte, o homem, o mais rico, o mais poderoso. A ética que o matrimônio traz para limitar os abusos que possam ser cometidos e construir um núcleo familiar é de grande importância para a sociedade. Também é desejo de Deus que não haja abusos na engenharia da Natureza que Ele deixou formada. Somente assim o processo evolutivo pode avançar na base da harmonia e fraternidade.
O Evangelho ensinado por Jesus é a grande lição que recebemos para fazer essa família ser construída nessa base e ser construído assim o Reino de Deus, como ele disse que já estava em tempo.
Então, possuímos assim duas principais cartilhas para nossa educação: a primeira é a lei de Deus escrita na Natureza, que devemos aprender e aplicar sem abusos; a outra é o Evangelho que serve como limite ético para evitar os abusos que nossos instintos animais possam cometer. Dessa forma podemos construir uma família baseada na verdade e mais próxima do Reino de Deus.
O outro documento citado pelo Papa Francisco é a Exortação Apostólica “Familiaris Consortio” de Sua Santidade João Paulo II ao episcopado, ao clero e aos fiéis de toda Igreja Católica sobre a função da família cristã no mundo de hoje.
Logo na introdução o documento diz que “A família nos tempos de hoje, tanto e talvez mais que outras instituições, tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e rápidas transformações da sociedade e da cultura. Muitas famílias vivem esta situação na fidelidade àqueles valores que constituem o fundamento do instituto familiar. Outras tornaram-se incertas e perdidas frente a seus deveres, ou ainda mais, duvidosas e quase esquecidas do significado último e da verdade da vida conjugal e familiar. Outras, por fim, estão impedidas por variadas situações de injustiça de realizarem os seus direitos fundamentais. Consciente de que o matrimônio e a família constituem um dos bens mais preciosos da humanidade, a Igreja quer fazer chegar a sua voz e oferecer a sua ajuda a quem, conhecendo já o valor do matrimônio e da família, procura vivê-lo fielmente; a quem, incerto e ansioso, anda à procura da verdade; e a quem está impedido de viver livremente o próprio projeto familiar. Sustentando os primeiros, iluminando os segundos e ajudando os outros, a Igreja oferece o seu serviço a cada homem interessado nos caminhos do matrimônio e da família. Dirige-se particularmente aos jovens, que estão para encetar o seu caminho para o matrimônio e para a família, abrindo-lhes novos horizontes, ajudando-os a descobrir a beleza e a grandeza da vocação do amor e ao serviço da vida.”
Noutro trecho em que fala das Luzes e sombras da família de hoje, o documento diz da “Necessidade de conhecer a situação. Uma vez que o desígnio de Deus sobre o matrimônio e sobre a família visa o homem e a mulher no concreto da sua existência quotidiana, em determinadas situações sociais e culturais, a Igreja, para cumprir sua missão, deve esforçar-se por conhecer as situações em que o matrimônio e a família se encontram hoje. Este conhecimento é, portanto, uma exigência imprescindível para a obra de evangelização. É na verdade, às famílias do nosso tempo que a Igreja deve levar o imutável e sempre novo Evangelho de Jesus Cristo, na forma em que as famílias se encontram envolvidas nas presentes condições do mundo, chamadas acolher e a viver o projeto de Deus que lhes diz respeito. Não só, mas os pedidos e os apelos do Espírito ressoam também nos acontecimentos da história, e, portanto, a igreja pode ser guiada para uma intelecção mais profunda do inexaurível mistério do matrimônio e da família a partir das situações, perguntas, ansiedades e esperanças dos jovens, dos esposos e dos pais de hoje. Deve ainda juntar-se a isto uma reflexão ulterior de particular importância no tempo presente. Não raramente ao homem e à mulher de hoje, em sincera e profunda procura de uma resposta aos graves e diários problemas da sua vida matrimonial e familiar, são oferecidas visões e propostas mesmo sedutoras, mas que comprometem em medida diversa a verdade e a dignidade da pessoa humana. É uma oferta frequentemente sustentada pela potente e capilar organização dos meios de comunicação social, que põem sutilmente em perigo a liberdade e a capacidade de julgar com objetividade. Muitos, já cientes deste perigo em que se encontra a pessoa humana, empenham-se pela verdade. A Igreja, com seu discernimento evangélico, une-se a esses, oferecendo-lhes o seu serviço em prol da verdade, da liberdade e da dignidade de cada homem e mulher.”
O ponto central nessas considerações do documento, que merece ser detalhadamente analisado, ponto por ponto em outra ocasião, é a necessidade de CONHECIMENTO. Conhecimento da Natureza trazido pela ciência e das repercussões causadas no meio social, nos relacionamentos. Por exemplo, existe uma crônica escrita por Fabrício Carpinejar, em seu livro “Ai meu Deus, ai meu Jesus” editado pela Bertrand Brasil em 2013 que diz assim logo no início com o título – SEXO e sexo:
“Sexo é tudo para o homem, na primeira colocação do ranking, seguido de futebol e carro. O quarto e o quinto lugares ainda estão vagos.
“Sexo não é tudo para a mulher, situado no quinto lugar da lista, depoois de casamento, amor, romance e paixão.
“Sexo é envolvimento para o homem. É capaz de morar com uma mulher que faz sexo maravilhoso. Ele se apaixona pelo corpo para se apaixonar pela alma. Não desgrudará daquela que transa na primeira noite, as demais madrugadas são para confirmar que a estréia não foi uma alucinação. Admira quem é liberta de preconceitos, safada, exigente de posições fora do convencional. A possibilidade de experimentar uma vida extraordinária na cama arrebata sua confiança. O macho partilha de três fantasias: converter uma lésbica, tirar uma prostituta da profissão e casar com uma ninfomaníaca.
“Para a mulher, envolvimento depende de forte retranca: segurar a primeira noite. Pode ter sexo na primeira manhã ou na primeira tarde. Mas primeira noite, não. Não pode aparentar facilidade, senão ele dispensará o esforço da conquista e não lhe dará valor.
“Sua metodologia é retardar o grande momento até que ele se renda ao compromisso sério. Três dias de encontros sem nada é o ideal. Caso completar uma semana, é matrimônio na certa. Talvez até o candidato ficar alucinado de tesão a ponto de não diferenciar o que é real do que é imaginário. Existe um momento em que o parceiro, embriagado pelo próprio desejo, diz sim para qualquer pergunta. A fêmea acalenta três sonhos eróticos: que ele não ronque, não durma no sofá e não palite os dentes. Caso a trinca de modos aconteça, ela abrirá mão da fantasia com o dentista, o psiquiatra e o pediatra do filho.
“O homem nunca reclama do casamento ao transar sete vezes por semana. Chia diante de uma média menor. A mulher reclama do marido se ele pensa em sexo o tempo todo.
“O homem é o único mamífero que conta há quantos dias está sem transar. Pode perguntar agora ao seu parceiro: não duvido que não mencione as horas e os minutos. Ficar sem sexo é como uma prisão perpétua masculina. Uma contagem de confinamento. Logo depois que ele trepa, inicia de novo seu cronômetro. É um Sísifo dos travesseiros.
“Mulher apenas contabiliza os dias de abstinência quando completa três meses. O trimestre é um sinal preocupante, a ameaça da seca. Falta de sexo é como gestação para a ala feminina, demora para ser vista.”
Esta é a linguagem e o pensamento que predomina dentro da comunidade. O matrimônio, o casamento como ensinado pela Igreja, é considerado pelas mulheres e principalmente pelos homens como posto num altar, como está a maioria dos santos. Todos devem ser referenciados, respeitados, mas dentro do templo. Ao sair na rua ou adentrar nos grupos ou na intimidade da alcova, tudo isso fica muito distante. Fazer a junção do comportamento da rua com a ética do Evangelho é uma tarefa que cada discípulo do Cristo, independente da Igreja que ele freqüente, ou que não freqüente nenhuma, mas que tenha a intenção de cumprir com fidedignidade as lições evangélicas, deve procurar fazer, e a partir do seu próprio comportamento.
Nesse aspecto a Igreja católica tem dificuldade, pois quer ensinar uma coisa que não possui a experiência prática. Nenhum padre ou freira tem a experiência de um relacionamento íntimo homem-mulher com a perspectiva de formar uma família para entrar nessa discussão com bases próprias. É parecido com o que acontece com os Alcoólicos Anônimos. Pessoas que se reúnem para combater o alcoolismo que cada um reconhece ser portador. Esse tipo de atitude traz um grande recurso terapêutico, superior a qualquer outra forma de tratamento que seja empregada. O sucesso é entendido porque todos que ali se acham reunidos conhecem a mesma linguagem do que está sendo abordado: a dependência do álcool. Na Igreja é como se os técnicos, padres e freiras, quisessem ensinar algo do qual eles não tem experiência própria. Perdem grande parte de sua força educacional.
Portanto, é assim que entendo e que os próprios textos da Igreja confirmam: o ensino da verdade qualquer que seja ela, desde que seja pertinente a vida dos nubentes, que sejam de interesse para o projeto de vida de cada um, e que seguem os caminhos da Natureza, devem ser feito sem nenhum resquício de preconceito. Apenas com o intuito de esclarecer devidamente o que cada um irá experimentar no futuro e a fazer a devida avaliação se consegue ou não cumprir determinada exigência legal ou espiritual. Neste caso a honestidade de quem ensina e de quem aprende é fundamental.
O documento do Papa Francisco cita a Carta Encíclica Humana Vitae de sua Santidade Papa Paulo VI, publicada em 1968, como mais um esforço da Igreja na educação das famílias. Reconhece este documento que o homem fez progressos admiráveis no domínio e na organização racional das forças da natureza, de tal maneira que tende a tornar extensivo esse domínio ao seu próprio ser global: ao corpo, à vida psíquica, à vida social e até mesmo às leis que regulam a transmissão da vida.
Lança uma reflexão nova e aprofundada sobre os princípios da doutrina moral do matrimônio: doutrina fundada sobre a lei natural, iluminada e enriquecida pela Revelação divina. Diz que compete ao Magistério da Igreja interpretar a lei moral natural. Lembra que Jesus Cristo, ao comunicar a Pedro e aos demais apóstolos a sua autoridade divina e ao enviá-los a ensinar todos os seus mandamentos, os constituía guardas e intérpretes autênticos de toda a lei moral, ou seja, não só da lei evangélica, como também da natural, dado que ela é igualmente expressão da vontade divina e que a sua observância é do mesmo modo necessária para a salvação.
Diz que o matrimônio não é fruto do acaso ou produto de forças naturais inconscientes. É uma instituição sapiente do Criador, para realizar na humanidade o seu desígnio de amor. Mediante a doação pessoal recíproca, que lhes é própria e exclusiva, os esposos tendem para a comunhão dos seus seres, em vista de um aperfeiçoamento mútuo pessoal, para colaborarem com Deus na geração e educação de novas vidas.
Diz ainda que o amor conjugal é plenamente humano, ao mesmo tempo espiritual e sensível. Não é, portanto, um simples ímpeto do instinto ou do sentimento; mas é também, e principalmente, ato da vontade livre, destinado a manter-se e a crescer, mediante as dores da vida cotidiana, de tal modo que os esposos se tornem um só coração e uma só alma e alcancem juntos à sua perfeição humana.
É depois, um amor total, quer dizer, uma forma muito especial de amizade pessoal, em que os esposos generosamente compartilham todas as coisas, sem reservas indevidas e sem cálculos egoístas. Quem ama verdadeiramente o próprio consorte, não o ama somente por aquilo que dele recebe, mas por ele mesmo, por poder enriquecê-lo com o dom de si próprio.
É, ainda, amor fiel e exclusivo, até a morte. Assim o concebem, efetivamente, o esposo e a esposa no dia em que assumem, livremente e com plena consciência, o compromisso do vínculo matrimonial. Fidelidade que por vezes pode ser difícil, mas que é sempre nobre e meritória, ninguém o pode negar.
É, finalmente, amor fecundo que não se esgota na comunhão entre os cônjuges, mas que está destinado a continuar suscitando novas vidas. “O matrimônio e o amor conjugal estão por si mesmos ordenados para a procriação e educação dos filhos. Sem dúvida, os filhos são o dom mais excelente do matrimônio e contribuem grandemente para o bem dos pais”.
O documento citado pelo Papa Francisco mostra assim avanços no Magistério da Igreja com relação a educação das famílias. Reconhece o avanço humano no conhecimento das leis da natureza e o conseguinte domínio e organização. Reconhece o fundamento do matrimônio sob a lei natural, mas não vai além disso, não aprofunda no que a lei natural exige das criaturas. Quanto ao mandato dado por Jesus Cristo aos apóstolos como guardas e interpretes da lei moral que inclui o Evangelho e a Natureza, tanto um como outro depende de aprendizado. Quanto ao Evangelho o próprio Cristo ensinou as diretrizes que se reproduzem ao longo do tempo. Com relação a Natureza é a ciência quem vem desvendando os seus mistérios e necessita de uma constante atualização dos atuais discípulos de Jesus para melhor aplicar a lei moral. Os instintos e herança genética fazem parte da natureza humana e o devido conhecimento dessa força é importante para aplicar melhor os ensinamentos evangélicos.
Diz de forma temerária que o matrimônio não é fruto do acaso ou produto de forças naturais inconscientes. Acredito que ainda não temos domínio completo da Natureza para afirmar isso, e pelo pouco que já conhecemos essas forças naturais inconscientes podem sim, ter um papel muito importante na motivação para o matrimonio. A instituição do matrimônio pode ter sido inspirada pelo Criador, mas como é uma criação humana, com certeza dentro dela se reflete nossas imperfeições. Cabe a nós ter humildade, rever os ensinamentos evangélicos, aprofundar no conhecimento científico da Natureza e ajustar passo a passo a instituição matrimonial para que seja mais coerente com o próprio Reino de Deus que é a sua finalidade.
Agora acredito que o documento esteja certo quando diz que o amor conjugal é plenamente humano, ao mesmo tempo espiritual e sensível. É um ato da vontade livre que desejam se tornar uma só alma e um só coração. Carne da mesma carne, como está escrito na Bíblia. Está cheia de verdade o documento, quando diz que quem ama verdadeiramente o próprio consorte, não o ama somente por aquilo que dele recebe, mas por ele mesmo, por poder enriquecê-lo com o dom de si próprio. Perfeito! Mas para que isso possa acontecer, para que esse amor seja puro até a morte, é necessário que exista plena consciência de quem seja o consorte, o que ele pensa, o que deseja alcançar, quais são seus paradigmas de vida, etc. somente depois de bem conhecer a pessoa que se candidata a consorte, e aceitar esses princípios como seus também, é que se estabelece a condição de um matrimônio consciente e sintonizado com o Evangelho e com a Natureza, onde os preconceitos de toda espécie deixam de existir e prevalece a consciência, onde está escrita a lei de Deus.