Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
24/09/2012 00h16
AUDITORIA ESPIRITUAL V – GULA

            A próxima testagem envolveu a Gula. Um defeito que declaradamente sei que o possuo e que tento vencer com o artifício do jejum. Já descobri que funciono como os dependentes químicos que não podem tomar uma só dose de suas drogas, pois senão desencadeiam uma compulsão que só termina com a completa intoxicação. Da mesma forma sou eu com relação aos alimentos. Caso coma o primeiro bocado, não consigo parar até me empanturrar. Estava indo no segundo dia do meu jejum quando sou deparado com um self service. Entro na fila com a intenção de pegar apenas algumas frutas. Não consigo resistir a tentação de tantas opções saborosas ao paladar, mesmo que sabendo a inconveniência da quantidade e da qualidade. Vou colocando no prato tudo que me apetece, inclusive assados de mamíferos, os quais sei são alimentos inconvenientes para pessoas que como eu pretendem desenvolver o lado espiritual. Isso aconteceu ao meio dia e à noite, a testagem continuou. Os auditores ofereceram outra oportunidade de controle, mas não consegui mais. Aproveitei a chance de me deparar mais uma vez com a mesa farta e voltei ame empanturrar e sai do restaurante com o estomago dilatado, fazendo ver até a necessidade de se abrir o cinto da calça.

            Derrota completa, total. Tudo isso é traduzido na balança que aponta para um número que atinge o meu recorde para cima: 84 quilos. O meu espírito fica envergonhado com essa situação. Ele (eu) sabe (sei) que o corpo é propriedade que Deus me deu para que eu o trate bem para que me comporte de acordo com sua vontade na terra material. Eu já recebi sua vontade na minha consciência, já sei o que devo fazer na minha existência e com o uso do corpo. No entanto me submeto aos desejos dele e o empanturro de alimentos que leva ao sobrepeso, à obesidade a geração de doenças, a diminuição do tempo de vida, a incapacidade de realizar a vontade do Pai. Sei de todas essas consequências e sei que tenho que vencer nesse aspecto, apesar de na testagem ser vergonhosa e totalmente derrotado. Nenhum aspecto que eu possa pinçar como positivo.

            Continuarei a usar minha principal arma, o jejum, mesmo que seja tentado, principalmente pelas pessoas que amo, que temem que se eu não me alimentar eu vou me prejudicar. Mas eu tenho consciência de que é o contrário. Eu estou me prejudicando ao me alimentar em excesso, e o que eu conquistei agindo em demasia, comendo exageradamente, agora tenho que fazer o caminho contrário, deixar de me alimentar em exagero para que eu perca com o sacrifício o peso extra que adquiri.

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em 24/09/2012 às 00h16
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23/09/2012 00h13
AUDITORIA ESPIRITUAL IV - CORPO

            Fui ao dentista e ao sentar na cadeira e ser indagado se queria ou não anestesia para o procedimento que iria ser realizado, percebi de relance que este era o próximo teste. Nas minhas considerações paradigmáticas coloco o corpo como instrumento do espírito, que é a ferramenta material oferecida ao espírito para que possamos operar neste mundo espiritual. Da mesma forma que um mergulhador necessita de um escafandro para ir até as profundidades do oceano, assim o nosso espírito precisa do corpo biológico para se expressar neste mundo material. Portanto agora eu era chamado para testar se eu iria me comportar naquele momento com o corpo, como se ele fosse um escafandro e que estava ali para o consertar. Todo tipo de dor que fosse nele desencadeado, deveria ser tolerado pelo espírito com essa compreensão, “o que acontece não é comigo, é com o meu instrumento.” Disse então à dentista que podia fazer sem o anestésico. Ela ainda advertiu que se eu não suportasse, poderia levantar a mão que ela administraria o anestésico. Concordei.

            O primeiro toque com um instrumento metálico na raiz do dente provocou uma dor aguda de forte intensidade que me fez mover da cadeira num esgar de dor. Ela parou um instante para verificar se eu levantaria a mão. Resisti a tentação de o fazer. Então ela passou a usar o  motor para ajustar o trabalho que iria fazer atuando na periferia da raiz do dente mas com aproximações que levavam intensa dor. Pensava em levantar a mão, mas coloquei a mão direita sobre a esquerda no sentido de impedir dela levantar. O processo doloroso se desenvolvia na cavidade bucal, a dor percebida no cérebro era trabalhado a nível de contração de minhas mãos uma contra outra, numa espécie de luta pelo pedido do anestésico ou não. Resolvi levar à percepção da dor ao nível da consciência, fazendo a interpretação realmente do objeto (corpo) e do seu dono (espírito). Passei a ver os estímulos dolorosos como sinais que chegavam ao cérebro e que indicavam que alguma estrutura nobre do corpo estava sendo atingida e que necessitava de uma intervenção para sair daquela condição. Mas o meu espírito sabia que aquela condição era necessária, então a dor que sinalizava para o corpo uma emergência a ser retirada, o espírito considerava uma necessidade a ser operada em benefício do próprio corpo. Então passei a ver os impulsos dolorosos que chegavam sempre com intensidade variada como eventos que diziam respeito ao próprio corpo. Cheguei a esperar novos estímulos dolorosos com intensidade maior que os anteriores, o comportamento de luta nas mãos já não existiam e uma serenidade a nível mental se desenvolveu, o enfrentamento da dor já não provocava um sofrimento tão exasperador quanto antes. Enfim, terminou o procedimento. Senti que venci essa provação, mas ao mesmo tempo também percebi que fui testado com benevolência, nenhuma dor intensa da odontologia foi provocada, sei disso. Assim, essa vitória que adiciono ao meu relatório vem com esse adendo da benevolência dos meus auditores, aos quais agradeço por não testar com toda intensidade alguém que tanto eu como eles já sabem que não é tão forte como apregoava no início.  

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em 23/09/2012 às 00h13
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22/09/2012 00h09
AUDITORIA ESPIRITUAL III – CARIDADE

            Percebi que eu estava sendo auditado no campo espiritual em diversos aspectos. Então me preparei para o que viria a seguir. Foi a Caridade. Parei no sinal e os meninos estavam na sua labuta, com balde e rodo nas mãos limpando vidros, mesmo sem ser autorizados e depois estender a mão em busca da pratinha. Notei a resistência vir em minha direção. Sei de todas as qualidades para a febre ser digna do seu nome, e uma delas é considerar e respeitar, elo menos, o ser humano que se mostra necessitado. Não era isso que percebia naquelas crianças, eram pequenos aproveitadores explorando a caridade dos mais bondosos. Lembrei por outro lado, de que eu estava sendo auditado, lembrei de São Francisco que dizia que cada esmola servia como a água para lavar os pecados. Com toda essa argumentação me preparei para ser abordado, de olhar carinhosamente para o pequeno, lhe dirigir alguma palavra de solidariedade. Mas o sinal abriu e não chegou o meu teste real. Tudo se passou no campo da consciência e mesmo assim não consegui ter um bom desempenho. Notei que minha caridade não tem nada de espontânea, pelo menos nesse contexto das ruas. Mas esse é o único caminho que tenho para aperfeiçoar essa faceta da minha espiritualizada. Tenho que manter sempre esse comportamento de caridade forçada, sabendo que a devo fazer com alegria e simpatia, solidariedade e compaixão para quem sofre, mesmo que seja uma criança e não se veja lágrimas de dor em suas faces, muito mais se ver sorrisos debochados, indiferentes ao sofrimento que ronda a vida de todos eles.

            Cada vez mais percebo a minha incompetência espiritual em todos os aspectos da auditagem que estou sofrendo até o momento. Já reconheci com humildade a minha deficiência e agora peço apenas ao Pai forças para que eu possa me defrontar com os próximos testes e com a minha fragilidade com toda a hombridade possível. 

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em 22/09/2012 às 00h09
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21/09/2012 22h13
AUDITORIA ESPIRITUAL II – CONFIANÇA

            Surgiu outro evento que fez compreender que a auditoria não estava restrita somente ao Perdão. Uma das minhas companheiras sofreu ameaça no meio da rua, foi auxiliada por um vigia, mas entrou em crise emocional, tremores, náuseas, vômitos... tentou entrar em contato comigo, mas não conseguiu. Mandou uma mensagem que serviu como lamento: “você não me atendeu e eu só entro em contato com você quando é muito necessário”. Bem que eu tentei fazer o contato quando vi a chamada no meu celular, porém só fiz uma tentativa. Mas isso me levou a fazer um retrospecto do meu relacionamento com minhas companheiras, a base da confiança naquilo que eu defendo e pratico. Defendo a família ampliada onde as minhas companheiras mais íntimas fazem da estrutura mais interativa onde fatos dessa natureza devem ser de imediato compartilhados e desencadeado a rede de solidariedade por todos os membros, principalmente os mais próximos.

            Verifiquei assim que estou falhando também nesse aspecto que é da maior importância para mim, pois faz parte da minha missão nesta fase da minha vida na terra. Defendo a inclusão de todas as pessoas dentro de uma rede de família ampliada, onde todas pessoas que dela participem sejam tratadas com respeito, justiça e igualdade. Sei que as minhas companheiras tem muita dificuldade em incorporar esses conceitos e os praticar, no entanto, eu como o propositor, com maior tempo de reflexão sobre a coerência racional e espiritual de sua aplicação, não posso a essa altura ter pruridos de varão da família nuclear. Tenho que deixar de lado a delicadeza de não causar constrangimento a quem está ao meu lado devido eu me comportar dentro dos critérios da inclusividade. Se alguém fica constrangida por eu me comportar dentro da inclusividade, é porque ainda não está preparada para fazer parte da minha caminhada, de ombrear comigo na jornada. Tenho que seguir em frente exibindo o comportamento que Deus colocou na minha consciência como o mais correto.

            Então, esse foi mais um teste aplicado em mim e que não me sai dele à contento. Resta o consolo de que o descobri e que estou disposto a superá-lo, para ser digno da confiança de minhas companheiras em qualquer contexto, social ou particular. Peço ao Pai sabedoria para ser firme, mas sem perder a ternura, jamais!

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em 21/09/2012 às 22h13
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20/09/2012 11h24
AUDITORIA ESPIRITUAL I – PERDÃO

            Logo que declarei a minha superioridade no campo do perdão, inclusive com o merecimento de uma medalha de ouro caso houvesse uma competição nesse sentido, sou colocado em teste. Considero o evento que aconteceu como uma auditoria da espiritualidade naquilo que eu disse com tanta confiança.

            Estava saindo do trabalho dirigindo meu carro novo, recém tirado da loja, quando paro no sinal e sou abalroado na traseira. Desligo o carro, desço com minha bata branca de médico e vou ver o que aconteceu. Era uma carroça cheia de lixo dirigida por dois meninos. Vejo que foi amassada a lataria. Pergunto cheio de raiva o que foi que aconteceu. O mais velho, por volta dos 14 anos, justifica que o burro é novo e ainda não está acostumado. Meus pensamentos incendiados pela raiva procuravam uma alternativa... não adiantava chamar os guardas de trânsito, aqueles meninos ou seus familiares não poderiam pagar o prejuízo; eu poderia causar algum prejuízo a eles também, cortar as correias do burro, rasgar os sacos do lixo... o ponto senso prevaleceu. Voltei para o carro ainda incendiado pela raiva e da impossibilidade de não ter podido fazer nada. Procurei acalmar os pensamentos e foi aí que chegou à memória do que eu escrevera há dois dias sobre o perdão. Avaliei de imediato que a medalha de ouro eu ainda não mereço. Em evento tão simples, sem grandes prejuízos materiais, sem nenhum dano físico, eu perco o controle de minhas emoções e deixo a raiva tomar conta dos meus pensamentos e comportamento, é porque eu tenho muito que aprender, inclusive não ser tão orgulhoso e deixar de lado a modéstia quando percebo facilidade em desenvolver determinada virtude. A medida que o tempo passava, essas reflexões tomavam conta dos meus pensamentos, os valores espirituais iam prevalecendo sobre os impulsos animais. Ainda fazia considerações sobre a situação difícil que a cidade atravessa, com lixo acumulado em todos os bairros, com buracos disseminados pelas ruas, impotência dos cidadãos em resolver a situação...

            Agora, 24 horas depois de ter passado o evento, não sinto mais aquela raiva que incendiava os meus pensamentos. Vejo a ocorrência como mais um fato da vida, não percebo sentimentos negativos a me incomodar. Posso dizer que agora perdoei aquelas crianças, ao prefeito por permitir tanto tráfego de carroças pela cidade e até o burro por não ser mais calmo no trânsito. Mas agora sei que ainda estou muito distante da medalha de ouro.  

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em 20/09/2012 às 11h24
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