Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
26/06/2012 00h44
TESTE DA CARIDADE (2)

            Estava mais uma vez na rodoviária esperando o ônibus para retornar para casa. Na mesma rodoviária onde de outra vez vi uma garota que despertou simpatia e que senti que poderia evoluir para uma possível relação afetiva. Dessa vez era uma senhora idosa, de pés tortos e de hálito alcoólicos. Estava lendo um livro e ela sentou perto de mim. Continuei a ler sem dar muita atenção a uma conversa que ela queria iniciar...

            “... Deus é amor. Deus tem tudo para dar a nós. Deus cura os cegos, os paralíticos, tudo em nome de Jesus, não é meu filho?” – e jogava a cabeça sobre meus ombros; sentia mais forte o hálito alcoólico. Ao mesmo tempo eu pensava que devia exercer a caridade com ela, de lhe dar um pouco de atenção, de tolerar a sua embriaguez, afinal ela estava abordando um assunto importante, a espiritualidade, o poder de Deus.

            “...minha filha diz, mãe você gosta de crente? Eu disse que gosto de Jesus! Você viu na televisão um crente curando em São Paulo? Ele curou os olhos de uma criança... mas isso é demais! Tinha uma criança aleijada, ele chamou e ela veio... mas isso é demais, não é? Quem pode fazer isso é Jesus!”

            Ela viu que eu não interagia com ela,  que agora eu estava escrevendo na contra capa do livro as suas palavras para repetir aqui neste blog. Enquanto isso eu ficava a pensar na caridade que eu estava dando a essa pessoa. Ás vezes eu caminhava pelas ruas, pelo campo, via pássaros e ficava a desejar que eles viessem até mim, que pousassem no meu ombro assim como faziam com São Francisco. Mas agora eu tinha ali uma cabeça que pousava vez de quando no meu ombro de um ser vivo muito mais importante para Deus do que um simples pássaro. Era uma pessoa, um ser humano e isso não me trazia nenhum tipo de orgulho. Um pássaro poderia significar para quem visse, o meu alto grau de espiritualidade; aquela cabeça de uma bêbada poderia causar censura, uma tolerância inaceitável aos bons costumes. Via assim uma série de conflitos incompatíveis com a Caridade que eu tanto desejo exercer.

            Ela ficou um tempo sem dirigir a palavra para mim. Ficava a murmurar: Deus é bom, Deus é bom, Deus é bom... tudo que temos é a vida para dar a Ele; Ele tem tudo para dar a nós... o que pede nós “ver”... depois voltou-se para mim:

            - Eu gosto de conversar com uma pessoa como o senhor. Quanto anos o senhor tem?

            - 59

            - Eu tenho 67 anos, sou de 1945... eu não minto não!

            Solta uma gargalhada. Olha com mais atenção para mim. Pergunta o que estou fazendo, o que estou escrevendo, se é a palavra de Jesus. Digo que pode ser. Ela olha com cuidado os escritos. Sei que mesmo ela sendo alfabetizada, não vai conseguir ler minha letra garranchosa. Diz que é bonitinho.

Vejo que chega o ônibus. Pego minha bolsa apressado e me despeço com palavras secas: - Chegou meu ônibus. Tenho que ir. Tchau.

Fiquei a avaliar o meu grau de caridade para com aquela senhora. Fiquei mais preocupado em escrever do que conversar com ela. Permiti que ela se apoiasse no meu ombro sem a repudiar, foi um avanço. Sem essa determinação em ser caridoso, eu teria saído do banco e deixado a bêbada chata entregue a própria sorte. Tive um desempenho um pouco melhor do que no último teste. Mereço um três.

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em 26/06/2012 às 00h44
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25/06/2012 00h41
TESTE DA CARIDADE (1)

            Os cruzamentos de carros por onde dirijo todos os dias são meus testes diários, ver se eu tenho a persistência de dar a caridade “capenga” que já alcancei, mesmo que venha na minha consciência toda a possibilidade que exista daquela pessoa estar sendo instrumentalizada de forma direta ou indireta para o mal. Dela estar colhendo dinheiro para logo mais ir em, busca de drogas, que tenha uma outra pessoa por tras operando para recolher para si o dinheiro como uma forma de praticar uma escravidão moderna. Deixo tudo isso em segundo plano e coloco em primeiro plano que a ação de doar o que o outro espera é a minha “obrigação” naquele momento e com uma intenção de melhorar esse ato a cada momento. Aliar ao ato de doar o benefício material, dar também algo afetivo... uma simples palavra, um olhar de compaixão?

            Foi então aí que surgir a lição da caridade. Uma garota negra se aproximava. Senti que podia fazer algo além da moeda. Ela se aproximou, de forma rápida mecânica, nem mesmo procurou minha aprovação, foi logo jogando água e limpando o para-brisa que nem tão sujo se encontrava. Ao terminar parou ao meu lado na janela do carro, não deu nenhuma demonstração de consideração. Para ela eu era apenas uma peça daquela máquina caça-niquel onde a pessoa coloca uma moeda e aciona uma alavanca para ver se recebe alguma coisa. Ela fez o seu trabalho e agora estava parada na expectativa de como a máquina iria responder, dando ou não sua moeda. Dei a moeda como ela esperava e como eu estava programado. Foi tudo muito mecânico. Da minha parte havia o interesse da troca afetiva; da parte dela a indiferença com a resposta do mundo. Podia também está drogada, pensando em mil coisas, preocupada com outras mil... não sei. Sei apenas que agi como uma máquina que deu o que ela esperava, que tentei fugir dessa situação e responder como humano, mas respondi apenas como peça de uma máquina, o liberador de moedas. A Caridade fez um teste comigo e não me saí bem. Nota 1. O que me salvou do zero foi apenas a intenção de ir mais além.

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em 25/06/2012 às 00h41
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24/06/2012 23h39
O AMOR JAMAIS TE ESQUECE

 

            Hoje senti toda a magnificência do Amor Incondicional frente ao feérico amor romântico. Encontrei com minha amiga por quem no passado nutri enorme paixão. A paixão passou, nenhum resquício persiste em mim. O amor permanece, esplendoroso, magnífico, irradiante! Fui até a sua humilde casa no interior do Estado acompanhado dos meus parentes. Senti que ela se encontrava em dificuldade, devido um telefonema pedindo um encontro profissional comigo. Fui até lá como profissional, como amigo, como “amante”. Amante do Amor Incondicional! A abracei com ternura e senti nela o temor da humildade. Perguntei por seu marido, companheiro, ela disse que não se encontrava em casa, não soube explicar onde ele estava. Senti que a presença de tantas pessoas a deixava encabulada com o assunto. Desviei para a questão de sua saúde, que foi o motivo da sua ligação para mim. Explicou o que estava acontecendo, dos remédios que estava tomando. A orientei como devia e fiquei a disposição para em Natal aprofundar a ajuda que estava iniciando ali. Ela agradeceu, disse que havia pedido a irmã dela para fazer almoço para mim e talvez duas ou três pessoas que pudessem estar me acompanhando, não imaginava que nós éramos treze pessoas distribuídos em três carros. Eu disse que não era preciso fazer isso, que nós tínhamos ido apenas para lhe visitar; a maioria das pessoas ela já conhecia, todos a cumprimentaram e quanto mais próximos afetivamente de mim, mais sentimentos de compaixão e solidariedade desenvolveram para com ela. Senti que ela foi acolhida por todos nós, ela e sua filhinha que eu ainda não tinha conhecido, fruto da convivência com seu atual companheiro. Nos despedimos e deixamos aberta a possibilidade de cooperação em todas as áreas que pudéssemos ser úteis. Ela nos acolheu com sua humildade. Nós a acolhemos com nosso amor, solidariedade, compaixão. O amor erótico com todo o seu cortejo de ciúmes e possessividade não teve nenhuma necessidade de expressão. Os afetos se desenvolviam em plano mais alto, mais sublime, mais divino!

            No caminho de volta lembrava desse meu encontro tão significante, uma prova viva de que O AMOR JAMAIS ESQUECE, que fica registrado pelo fogo divino em nossos corações como esse mesmo fogo registrou na pedra as Leis de Deus entregues a Moisés. Após o almoço, quando todos nos reunimos durante uma hora para falar sobre o Cristo, uma leitura intuitiva que nos foi indicada, e quando foi falado da beleza desse encontro que todos tivemos, senti as lágrimas caírem de par em par sem poder as controlar, como se as palavras tocassem com harmonia as cordas sensíveis do meu coração onde Deus deixou registrado o Seu amor e que todos nós naquele dia a tínhamos feito vibrar. A minha cabeça baixa tentava ocultar a vergonha das lágrimas que caiam, mas a minha alma senti que estava ao lado de Jesus, altiva como aluno orgulhoso de seu desempenho acadêmico e simplesmente dizia: Mestre, aqui está minha lição!

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em 24/06/2012 às 23h39
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23/06/2012 15h47
FRUSTRAÇÃO

            Quando algo acontece e interrompe algo prazeroso que iríamos fazer ou receber, vem logo a frustração. Em decorrência disso podemos ter raiva, paciência, compreensão, impaciência, enfim uma série de variáveis. Depende do nosso grau evolutivo escolhermos a variável mais conveniente para nossa qualidade de vida. Para fazer essa escolha de forma positiva é importante a compreensão de que tudo pertence a Deus, que não somos mais de que uma das suas criaturas, colocadas no espaço e tempo que Ele determinou e que temos uma missão a cumprir de acordo com nossa vontade e a dEle. É a nossa vontade que vai direcionar o nosso comportamento na direção que queremos, usando todos os recursos que Deus nos proporciona. Então, se algo acontece e frustra os nossos planos, é porque Deus permitiu e muitas vezes provocou para testar ou aprimorar o nosso aperfeiçoamento espiritual. Afinal, os desejos da carne, os interesses do mundo material, não são os nossos objetivos nessa vida. Tudo isso pode acontecer e até nos trazer alegria, mas sempre lembrando de que tudo deve ser feito para atender os planos do Senhor, que podem muito bem ser diferentes dos nossos naquela ocasião, os motivos da frustração. Com essa consciência, a raiva não se instala. Recebemos bem a frustração e procuramos com curiosidade saber o que ela quer nos ensinar ou testar.   

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em 23/06/2012 às 15h47
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22/06/2012 13h57
CARIDADE CAPENGA

 

            Decidi que seria caridoso. Não iria mais ver o irmão que estende mão para mim como um preguiçoso, um viciado, um explorado ou um explorador. Poderia até ser tudo isso, mas eu faria a minha parte enquanto um seu irmão que o que pode fazer na ocasião é dar uma moeda, é dar uma palavra, um pedaço de pão. É mais fácil dar a moeda ou o pedaço de pão. Basta estender a mão, posso nem mesmo olhar para a pessoa. Sinto no coração e leio nos livros, nas mensagens dos avatares, que a palavra, o compartilhar a dor do outro é a maior forma de caridade. Mas aí reside a dificuldade. Não encontro palavras para abordar o outro de forma caridosa, tudo parece tão forçado e artificial. A motivação deve partir do coração, e não da minha racionalização, mas porque o meu coração é tão duro, inflexível? A minha mente não aceita como positivo o exercício pleno da caridade? Então porque minha inteligência não encontra os caminhos para vencer esse bloqueio? Tenho a impressão que fazendo a caridade integral, obedecendo completamente as instruções dos avatares, eu me transportarei desse mundo material para o espiritual, estarei divorciado por completo das ligações que me atam aos interesses mundanos. Isso é apavorante! Tudo que fiz até hoje deixará de ter sentido, os bens materiais, os títulos acadêmicos, o status social, tudo se transformará! Será esse o meu medo? Será realmente a caridade a porta de entrada para outra dimensão? Ficarei mais perto de Deus dessa forma? Mas não é isso que desejo? Então, por que vacilo tanto? Será isso outra manifestação da covardia em minha vida? Não tenho resposta firme até esse ponto. Sei apenas da importância da caridade e que já dei um pequeno passo nessa direção, mesmo que seja com uma caridade capenga.

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em 22/06/2012 às 13h57
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