Entrei numa fase em que passou a existir um forte apelo pela militância política, tendo em vista o alto grau de corrupção e de desmantelamento das instituições democráticas, com o atrelamento partidário de setores importantes da máquina estatal. Observando o que acontece nos países vizinhos e percebendo que existe todo direcionamento para fortalecer aquele tipo de política ali empregada, inclusive trazendo o modelo para o meu país, recebi um vídeo de uma militante latino-americana que abordava esse assunto e que vou reproduzir abaixo, devido ao seu alto conteúdo educacional e esclarecedor para a consciência política dos cidadãos.
“Muito obrigada a todos, ao Comitê Organizador, a todas as instituições de Zaragoza que nos receberam aqui.
Queridos amigos e companheiros latino-americanos. Creio que os desafios que temos neste primeiro Parlamento Líbero Americano são bem grandes, e a proposta que quero fazer, especialmente retomando o que o Dr. Florentino acaba de nos passar, é acabar com o Populismo através da tecnologia. E vou explicar por que.
Há debates sobre esquerdas e direitas, o que de fato é muito utilizado pelos populistas, do que pelas pessoas que estão tentando resgatar as instituições.
O Populismo que é praticado com as pessoas que convivemos, e compartilhado com as pessoas que interagimos, a primeira ação que faz é acabar com as instituições, pouco a pouco. Reescrever constituições para poder adequá-las aos desejos de diferentes líderes, corruptos, que temos na América Latina.
O Populismo, no entanto, não existe por casualidade. E também cabe a nós, não só denunciar as atrocidades que o Populismo comete contra as nossas instituições, mas também reconhecer o péssimo trabalho dos sistemas governamentais anteriores, que levaram à crise absoluta, às pessoas e às populações, que em desespero recorreram a esses líderes. Às vezes por vias democráticas, e que por isso, justificam sua permanência no poder.
Por isso, creio que mais que a batalha entre a esquerda e direita, nós que somos contra o Populismo, devemos falar de Populismo versus República. Por que a República é que realmente garante a institucionalidade do Estado.
Desde os tempos antigos dos gregos, filósofos como Sócrates e Aristóteles, viram os defeitos da Democracia. E por que viram? Porque há três direitos fundamentais e irrenunciáveis a cada um de nós. Nossa vida, através da qual podemos exercer nossos projetos. Nossa liberdade, através da qual podemos nos expressar, podemos comercializar, podemos trabalhar, podemos nos mobilizar para possuir a crença de nossa preferência, e poder expressar assim também nossos sistemas políticos, e o que esperamos de um governo. E por último, nossa propriedade privada. E nossa propriedade começa pelo nosso corpo. Pela nossa integridade. Nossa propriedade é o acúmulo desde o dia em que nascemos até o dia em que morremos, de todas as coisas que conseguimos realizar.
Estes três direitos, no entanto, podem existir em cada um de nós sem impedir os direitos de outra pessoa. Agora, e quanto aos outros direitos? Como por exemplo, direito à saúde, à educação, à vestimenta, e a uma série de direitos que foram exigidos pelos povos de cada um dos nossos países, e que não foram atendidos.
O problema desses direitos, e que os gregos já viam desde aquela época, é que eles precisam de uma renúncia prévia, do direito de propriedade de alguém, antes de serem outorgados. E é aí que nossos governos falharam. Porque ao falar que todos têm direito a essas coisas, nunca foi estipulado quem deveria renunciar a certos direitos para outorgar aos outros. E desse mal estar, é que nossos povos decidiram recorrer aos regimes totalitários e populistas que vemos hoje. Independente da nossa ideologia política, sejamos liberais, ou sejamos social-democratas, devemos reconhecer que esse é um debate necessário para a região. Se vamos dar direitos, de onde vamos tirá-los? E com que recursos vamos pagá-los? Por que se isso não for estabelecido, nossos povos vão seguir interminavelmente vendo nestes líderes a resposta e a solução.
Gostaria de retomar o que disse o Sr. Florentino sobre sua definição de Populismo. Ele disse que é o atalho pelo qual jogamos com paixões, ilusões e ideais do povo, para prometer o impossível, aproveitando-se da miséria das pessoas, deixando de fora, absolutamente, toda a razão e a lógica na tomada de decisões. Joga com a necessidade, para simplesmente impor uma ditadura. Joga com a necessidade dos nossos povos, e isso foi algo que os gregos previram. Desde que disseram: “Há três tipos de governo.” Onde há um governante, que se chama Monarquia, e pode acabar virando Ditadura. Onde governa um grupo, que se chama Aristocracia, e pode acabar virando Oligarquia. E nós da América Latina conhecemos bem isso. Porque nossos aristocratas, nossas elites, acabaram virando Oligarquias. Ou há uma Democracia, onde todos governam, que acaba degenerando numa Demagogia, algo que nós também conhecemos.
Quando os gregos viram essas três formas de governo, se deram conta que a República era a resposta. Porque a República dava essas três institucionalidades. O monarca na forma de presidente, a Aristocracia na forma de um Parlamento, e a Democracia como veículo e via de comunicação. É por isso que a República anula os vícios de cada uma das três formas de governo, para agrupar as três, e formar a institucionalidade que o Populismo, hoje, está destruindo.
Por isso o chamado que quero propor à vocês, é que acabemos com o Populismo através da tecnologia. E por que através da tecnologia? Porque hoje mesmo falamos, de que as mudanças que estão surgindo nos nossos países, e que estão surgindo com a tecnologia, não estão sendo acompanhados pela educação necessária. E o que acontece se eu passo a receber novas possibilidades, novas formas tecnológicas de me comunicar com o mundo, mas ao mesmo tempo não me educo? Não tenho prioridades claras. Por isso em nossos parlamentos, já não se trocam ideias, a razão e a lógica já perderam a importância que deveriam possuir. Já não há respeito pela discussão, por deixar de fora as falácias. E nossos líderes populistas anulam toda razão e toda lógica de seus argumentos, aumentando paixões. E nós também temos que utilizar uma paixão. Uma paixão pela educação, uma paixão pela troca de ideias, paixão pelo conhecimento, por querer ser pessoas e indivíduos com o poder da verdade. Por que outra coisa que o Populismo faz, é anular a dignidade das pessoas. Faz as pessoas se sentirem incapazes e sem dignidade para governar suas próprias vidas. Faz elas pensarem que precisam de um líder, para controlar absolutamente tudo, para poderem seguir adiante.
A definição do florentino também defende algo que nós do movimento dizemos. O Populismo ama tanto os pobres, que os multiplica. Porque o que busca, é essa multiplicação de miséria, para seguir recebendo um voto, através de qualquer objeto material que naquele momento as pessoas precisem.
Qual o desafio? Como fazemos? Para que um povo onde a Pirâmide de Maslow está no nível mais baixo, veja na República, a resposta institucional que as gerações futuras precisam para não seguir nesse ciclo de pobreza.
A admiração que há em países como o meu, pelo Regime Cubano, pelo Regime Venezuelano, é absurda. Essa admiração não é seguida pela razão e pelo conhecimento. São poucos os guatemaltecos que reconhecem, por exemplo, que em Cuba, um engenheiro civil prefere ser taxista. São poucos os guatemaltecos, as pessoas da América Central, os latino-americanos em geral, que veem no Regime Chavista as atrocidades e as violações de direitos que estão sendo cometidas, porque tudo que veem é: lá tem educação de graça, lá tem saúde de graça. Nada é de graça. Tudo é pago com algum dinheiro. E quando não há institucionalidade, é quando começa a corrupção. E quando ela começa, todo um sistema perde suas virtudes.
No caso de Guatemala, temos eleição ano que vem, e infelizmente, as três pessoas que vão chegar a presidência, os três candidatos que melhor se encaixam, vão pela via populista. Sejam de esquerda ou de direita. Porque outra coisa que temos de reconhecer, é que o Populismo está impregnado em todas as ideologias.
O mecanismo que os populistas usam é seguir com esse discurso. Você está mal, porque alguém está bem. E o que temos que resgatar, é que todos podemos estar bem. Que o fato de que uma pessoa acumula riquezas, não impede a outra de acumular também. Mas para isso precisamos de instituições. Precisamos de segurança jurídica. Precisamos de um Estado correto. E acima de tudo, resgatar nos nossos parlamentos, o respeito e admiração pelo debate de ideias com argumentos baseados na lógica e na razão. Mas um povo que não tem educação, não vai exigir de seus políticos um debate com lógica e razão, com argumentos, e será facilmente manipulado através das paixões.
As ferramentas que proporcionam a Era de Conhecimento são a chave. Utilizar as redes sociais, a tecnologia, e a facilidade de comunicação que temos com apenas um clique entre todo o continente, onde compartilhamos o mesmo idioma, compartilhamos a cultura, que compartilhemos agora uma troca de ideias, para começar a expor e acabar com o Populismo pelo que ele é, uma postergação da pobreza, da ignorância e de manter os povos submissos, sob a ilusão de que só os bens materiais importam ao votar.
É por isso, amigos, que lhes proponho, que no dia de amanhã ao assinarmos a Declaração de Zaragoza, todos, como os líderes latino americanos que somos, nos comprometamos a acabar com o Populismo utilizando a tecnologia, e usando como ferramenta a República, que é o único sistema que realmente resgata as instituições, baseando-se na razão, na lógica, nos argumentos, e na troca de ideias.
Muito obrigada.”
Eis uma palestra bem lúcida, objetiva, que foca os principais problemas que sofremos na atualidade brasileira e latino-americana e que aponta os caminhos mais racionais, sem qualquer tipo de radicalismo inconsequente, para a correção dos nossos rumos políticos.
Por mais que tenhamos evoluído em ciência e tecnologia, parece que a miséria humana continua a nos seguir, muito parecida com os tempos antigos. O poeta latino Virgílio, autor da Eneida, foi autor de uma poesia pastoril, a “Quarta Bucólica” há cerca de 40 anos antes da era cristã, e que exprime o clamor dos excluídos da época que ansiavam pelo advento de um novo tempo, uma nova era de justiça e paz. Lembrava muito o estilo de profetas como Isaías. Virgílio prediz o surgimento de um Deus menino cujo nascimento porá fim à raça de ferro e que, no mundo inteiro fará surgir a raça de ouro. Segundo o poeta, este menino receberá a vida divina, ele verá os heróis junto aos deuses, e estes o verão entre eles, e ele governará o universo pacificado pelas virtudes de seu Pai.
Vejamos só, como este advento da “era de ouro”, no dizer virgiliano, era naquela época o grande desejo das multidões subjugadas, famintas e alienadas de Roma, compostas majoritariamente por proletários urbanos, miseráveis provincianos e escravos barbarizados. Eles ansiavam pelo dia em que se ouviria a voz de seu sofrimento. Clamavam por alguém que os compreendesse e os defendesse, ainda que apenas moralmente de tantas e repetidas injustiças sociais. Interessante que o apelo estava presente tanto no povo dominado, como no dominador; tanto no povo espiritualizado escritores da Bíblia, como no povo pagão crente nos deuses do Olimpo.
Este desejo cresceu, amadureceu e foi preenchido pela chegada da fé cristã. O cristianismo apregoando a excelsa mensagem do amor divino pela humanidade, sobretudo pelos oprimidos, introduzida no império pagão pelo cajado apostólico e por tantos crentes anônimos, causou uma atração quase irresistível nas populações desfavorecidas. Eram as palavras ditas por Jesus e repetidas em vários ambientes e comunidades que causavam o encantamento: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.”
Era um quadro de solidariedade, de apoio, de compaixão. Causava júbilo discreto nos oprimidos e desvalidos sociais que agora se enchiam de esperança na vinda da justiça divina, que era ratificada pela dura admoestação profética: “E agora, vós ricos, chorai e pranteai, por causa das desgraças que vos sobrevirão. As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão roídas pelas traças. O vosso ouro e a vossa prata estão enferrujados; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e devorará as vossas carnes como o fogo. Entesourastes para os últimos dias. Eis que o salário que fraudulentamente retivestes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos clama, e os clamores dos ceifeiros têm chegado aos ouvidos do Senhor dos exércitos.”
Assim, ontem como hoje, a maioria daqueles que compõe as fileiras do cristianismo é formada por indivíduos das classes mais baixas e empobrecidas, como Paulo registrou em 1Coríntios 1: 26-28: “Ora, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir os fortes; e Deus escolheu as coisas ignóbeis do mundo, e as desprezadas, e as que não são, para reduzir a nada as que são; para que nenhum mortal se glorie na presença de Deus.”
Observamos tudo isso ainda hoje, apesar do cristianismo está disseminado e aceito pela maioria da população. Mas não sejamos iludidos, aceitar uma religião não significa aplicar os seus princípios sem dogmas ou interesses pessoais. No Hospital Universitário em que trabalho a maioria é cristã, disso tenho certeza. Existe até uma capela cristã dentro do Hospital com trabalhos eclesiásticos regulares. Mas ao lado do hospital existe uma comunidade carente, cheia de drogas, violência e prostituição. Todos sabem disso, mas passam ao largo das prostitutas nas esquinas, dos drogados nos becos, das vítimas da violência na cadeia ou no cemitério. A caridade cristã não consegue sair da aparência para a prática. O comunitarismo cristão que estamos desenvolvendo na comunidade da Praia do Meio, que tenta fazer essa prática, consegue sensibilizar em primeiro plano as pessoas humildes. Não observamos a aproximação daqueles sábios, nobres e fortes que Paulo citou.
O Reino de Deus que Jesus ensinou e que Virgílio citou como a Era de Ouro, continua a ser esperado; os pobres, miseráveis, desprezados continuam a existir à espera de nossas ações. Pelo menos nós já temos a teoria na mente; falta o Amor no coração e a ação nos braços. Talvez agora não seja mais necessária a vinda de um Deus menino, mas de velhos calejados no sofrimento e arrependidos dos seus pecados, que consigam pegar no arado sem olhar para trás.
Reunião realizada em 29-01-15 com a presença de: 1. Edinólia 2. Radha 3. Paulo Henrique 4. Nivaldo 5. Cíntia 6. Costa 7. Juliana 8. Washington 9. Luci 10. Ana Paula 11. Damares 12. Sued 13. Ezequiel 14. Luzimar 15. Raulinson 16. Vera 17. Sami 18. Francisco Rodrigues 19. Zélia. Francisco justifica a falta de Rosário que se encontra viajando, mas que está de volta à Natal a partir do dia 10-02-15. Foi lido inicialmente um preâmbulo espiritual com o título: “Pelos Frutos” e logo em seguida o registro da reunião anterior que foi aprovada sem alterações. Paulo informa que teve contato com a Sra. Bárbara, responsável pelo projeto 2º tempo do governo federal para apoio ao esporte e que pode ser aplicado em nossa comunidade. Zélia informa que chegaram alguns engenheiros para fazer a reforma da parte elétrica da escola, mas que ela não foi comunicada com antecedência. É importante que esse trabalho seja fiscalizado, pois existe uma verba de 14.000,00 reais para esses reparos. Falou também da necessidade de ser feita a eleição para o Conselho Escolar que deve ser composta por titulares e suplentes dos professores, dos funcionários, dos pais, dos alunos com mais de 16 anos e da comunidade, alem da presidência. Ficou encaminhado nesta reunião proposta de nomes para a presidência (Costa e Juliana) e para os representantes da comunidade (Washington e Nivaldo). Os representantes dos Professores, Alunos, Pais e Funcionários devem ser indicados com brevidade na próxima reunião na escola de pais e mestres. Para tanto a AMA-PM ajudará na divulgação com um carro de som. Paulo informa que já acertou com Bocão do carro de som cerca de três chamadas durante a semana. Edinólia informa que não foi possível ainda a comunicação com o Sr. Zezito que está viajando. Entrega no momento 26,00 reais a Paulo como venda do material do Bazar. Diz que fez doação de material de alfabetização para os alunos. Sugere que comecemos a organizar alguma atividade para o dia das mães, e foi levantado a proposta de doação de brindes, de fazer oficina para ensinar produtos de artesanato abrindo uma fonte de renda para os interessados. Ezequiel diz que pode trazer uma atividade de Teatro para essa data, do Teatro Alberto Maranhão. A reunião foi bastante concorrida com diversas sugestões. Foi colocada a necessidade de nós refletirmos sobre o preâmbulo espiritual lido no início da reunião, pois lembramos que todos estamos neste trabalho cumprindo a vontade de Deus em nossas consciências e Deus sabe quais são os seus melhores frutos de acordo com o trabalho que cada um realiza. Portanto, é importante que nos reunamos regularmente, que apresentemos ideias, mas o que vai dar a característica do fruto bom que queremos ser é a qualidade e efetividade do nosso trabalho, de realizar aquilo que planejamos. Ninguém do nosso grupo será censurado por ninguém, pois todos somos irmãos e estamos trabalhando com as mesmas dificuldades. Quem faz a censura é o Pai no silencio de nossas consciências, e o nosso papel é simplesmente trabalhar e nos apoiar fraternalmente uns nos outros para atenuar nossas dificuldades. Ao chegar 20:30h fizemos o circulo para fazer a oração do Pai Nosso conduzida por Zélia, seguido por Costa com uma canção evangélica. Finalizamos com uma oração inspirada pelo coração de Luzimar. Finalmente nos juntamos para a foto e nos despedimos em harmonia.
Eu vivo dentro de paradoxos. Defendo a família universal onde todos saibam aplicar o Amor Incondicional dentro dos relacionamentos, que o Amor seja capaz de incluir tantos quantos simpatizarem uns com os outros em todas as dimensões e profundidades, sem ficar detido por nenhum obstáculo. Pois eu vivo na mente e no coração dentro desta família, minha família universal, sem sofrer qualquer tipo de pressão do egoísmo por qualquer uma das suas formas, quer seja ciúme, vaidade, orgulho, intolerância. Mas todos que se aproximam de mim até o momento, principalmente aquelas que se dispõem a serem minhas companheiras, mostram com intensidade a força do egoísmo que ainda preenche os seus corações. Não conseguem viver dentro da harmonia, da solidariedade, da tolerância... percebo além disso a luta surda ou declarada de umas contra as outras... Não conseguem fazer parte da família universal!
Dessa forma eu me sinto só, moro só e no meu coração eu sou solitário. Por mais que eu seja harmônico e saiba distribuir amor, na fala ou no silêncio, ninguém consegue a sintonia com o meu coração. Estou dentro da família universal, mas sozinho. Posso amar ao mundo, mas não recebo a mesma forma de amor, sempre o amor que chega até mim está contaminado pelo germe dos condicionamentos, de amar em função de algo, na perspectiva de receber algo, mesmo que seja exclusividade...
Sei que nada disso que minhas companheiras fazem é por maldade pura. Ninguém quer o mal de forma objetiva para ninguém, disso tenho certeza. Até mesmo a ojeriza que uma tem pelas outras, até mesmo a minha expulsão da casa onde morei com algumas, nada disso foi feito por maldade, mas sim pelas ações do egoísmo, do ciúme, da raiva, da intolerância. É esse egoísmo, as vezes transformado em amor romântico, que pode se transformar em ódio, que prevalece em nas ações de quem o pratica. O Reino de Deus assim fica distante.
O meu Amor Incondicional, que deixo sempre acima do amor romântico, não sofre esses efeitos. Não deixei de amar nenhuma de minhas companheiras, legais ou clandestinas conforme a lei, mesmo que tenha sofrido por causa delas a pior das punições. Mesmo distante delas, o amor desperta algumas vezes a memória e a saudade enche meu coração que chega a transbordar pelos meus olhos.
É este um dos meus paradoxos, vivo mentalmente dentro do mundo da família universal onde prevalece o Amor Incondicional, e, na realidade, vivo dentro do mundo onde prevalecem as famílias nucleares, onde predomina o amor condicional.
No meu mundo eu posso amar a toda a natureza, e especialmente ao próximo; no mundo ao meu redor eu só posso receber amor de alguém se for exclusivo desse alguém. Por isso eu olho ao redor e não vejo ninguém sintonizado com o meu amor. É uma via de mão única. Estou só dentro da família universal, a família que devia abranger o máximo de pessoas possíveis e só tem um. Sou a família de um só.
Também sei que isso está bem próximo da loucura, da esquizofrenia, doença mental que é caracterizada pela criação de um mundo paralelo pelo doente, um mundo de fantasia onde ele passa a viver como se fosse o seu mundo real. O que me salva é que o meu mundo paralelo, o mundo do Amor Incondicional, da Família Universal, eu sei que está ainda distante da realidade e que estou vivendo dentro de um mundo diferente daquele que eu sonho e imagino que um dia será realizado.
Mas se um dia eu pensar que ele está realizado para mim e viver exclusivamente dentro dele? Que acontecerá comigo?
A cultura mostra uma obra literária que fala de duas personalidades que se expressam numa mesma pessoa, o livro “O médico e o monstro”, que deu inspiração pra diversas obras no cinema e na literatura.
Todo esse fascínio é porque essa condição parece existir dentro de nós, uma personalidade que poderíamos classificar como boa e outra que tem aspectos mais egoístas, mais voltadas para o mal.
Fui fazer um atendimento médico particular na residência de um paciente que se encontrava acamado, obeso, doente mental. Notei que a casa era de muita pobreza, mesmo assim a família fez um esforço para pagar essa visita a fim de ser produzido um laudo que a justiça exigia. O Estado devia oferecer esse serviço aos cidadãos, afinal todos pagamos impostos para termos esses serviços essenciais à nossa disposição. Mas isso não acontece. A pessoa peregrina por todos os postos de saúde da cidade, do estado e não consegue ser atendido. A solução é ir em busca de um profissional como eu que se disponha a atender, em casa ou em consultório, pagando os honorários correspondentes.
Foi nesse momento do recebimento do valor acordado, que veio à minha mente essa reflexão, do esforço que a família estava fazendo para obter esse serviço. Senti que a crítica partia de outro aspecto da minha personalidade que se contrapunha a ação do médico. Parecia que um Francisco, espiritualista, dizia que esse era um ato errado, e criticava o Dr. Rodrigues, médico.
Sai daquela casa com essa reflexão: quem estaria certo, o Francisco espiritualista ou o Dr. Rodrigues.
Então continuei refletindo... ora, quem foi até aquela casa foi o Dr. Rodrigues, que pegou o seu carro e se deslocou de um extremo ao outro da cidade. Para fazer isso o Dr. Rodrigues gastou anos de estudo em Universidades, economizou dinheiro, comprou um carro, dois, e frequenta congressos e compra DVDs para se atualizar em sua área. Tudo isso só funciona se tiver o dinheiro, inclusive para viver com dignidade e colaborar com a família, com amigos, e com qualquer que seja o próximo necessitado. É esse Dr. Rodrigues que faz funcionar a máquina materialista em benefícios amplos com quem está ao redor. Sei que o Francisco espiritualista é importante, faz com que eu não fique bitolado apenas nos ganhos materiais e não veja o lado da solidariedade. Eu sei que é o Francisco espiritualista que faz o meu contato com Deus, é quem faz me agir de acordo com a vontade de Deus instalada na minha consciência. É ele que me faz compreender que tudo que possuo pertence ao Pai, e que eu sou apenas um administrador.
Então, quando eu faço um serviço dessa natureza e que recebo meus honorários, não estou explorando a miséria de ninguém, pois é um valor justo dentro do trabalho que vou realizar, e que se esse dinheiro tivesse ficado com a família, provavelmente fosse utilizado em coisas menos nobre do que eu utilizarei. Sem falar dos diversos serviços paralelos que eu forneci sem cobrar, como fazer receitas e dar atestados, que estava fora do nosso trato.
Assim deve essas duas instâncias da minha personalidade, o Francisco espiritualista e o Dr. Rodrigues, funcionarem harmonicamente, pois ambas fazem a vontade de Deus, cada uma atuando em caminhos diferentes, mas paralelos.