Jeremias era um profeta relutante que precisava encontrar o seu tom. Deus o chamou para pregar a nação rebelde de Judá. O profeta respondeu dizendo que não estava preparado para a tarefa: “Ó, Senhor meu Deus, eu não sei como falar...” (Jeremias 1:6).
O profeta era medroso e tímido. Consigo me identificar com ele, pois a forma como fui educado, pela mão rigorosa da minha avó que tentava evitar a minha “perdição” entre os pecados do sexo e das bebidas alcoólicas que ela comercializava para sobreviver, terminou gerando em meu comportamento forte conteúdo de medo e timidez. Felizmente a parcela de verdade que fui descobrindo nos livros acadêmicos e espirituais, permitiu que eu me livrasse dessa excessiva carga, apesar de ainda permanecer com traços até hoje.
Também posso aprender com a experiência de Jeremias. Apesar do reconhecimento de suas deficiências ele foi em frente para proclamar a mensagem impopular de que a corrupta Judá seria destruída (Jeremias 20:4). Três coisas que o ajudaram foram:
1 – A promessa de Deus – “...Eu estarei com você para protegê-lo” (1:8);
2 – A palavra de Deus – “Ele mandou que eu ficasse ali e anunciasse ao povo a mensagem do Senhor Todo-Poderoso, o Deus de Israel.” (7:2; 19:2);
3 – A capacitação de Deus – “Farei com que você seja (...) como um forte muro de bronze” (15:20).
Embora Jeremias, às vezes, lutasse contra o medo e o desespero (20:10,18), ele finalmente encontrou coragem e esperança no Deus misericordioso que “...livra os pobres do poder dos maus” (v.13).
Jeremias encontrou o seu tom quando se apegou a promessa de Deus, a sua palavra e capacitação.
Posso fazer o mesmo? Sei que já tenho a Sua promessa, entendo que o Pai esteja a todo instante ao meu lado, para me proteger e instruir, inclusive com essa leitura acima tirada do livreto Pão Diário de 2013 que tão bem se encaixa nas necessidades de entendimento do caminho que Ele me reservou. Também tenho a consciência da missão que Ele destinou para mim, que eu aplicasse o Amor Incondicional em todos os meus relacionamentos, principalmente os afetivos com potencial de intimidade, com o objetivo de melhor colocar os alicerces do Seu Reino, na construção da Família Universal. Também sinto que estou capacitado, que Ele me protegeu e instruiu durante todos os dias da minha vida, mesmo nos momentos em que eu duvidava da Sua existência, mesmo nos dias em que eu convivia com a face prazerosa do pecado, nos cabarés da minha avó, no burburinho machista da Marinha, nas farras com parentes e amigos...
Estou agora no ponto em que Jeremias estava, lutando contra o medo e o desespero. A minha luta é contra meus adversários internos, a preguiça, a gula, principalmente, mas também tenho medo das consequências até da força e coragem que peço ao Pai para implementar a minha missão com mais eficiência e objetividade. Lembro-me do fato daquela pessoa que rezava fervorosamente e diariamente a Deus pedindo para que Deus abrisse seu coração, pois era uma pessoa muito rude e insensível. E o que aconteceu? Foi submetido a uma cirurgia onde foi necessário abrir o seu peito e corrigir as alterações anatômicas do coração. É um exemplo de que posso pedir algo ao Pai e Ele pode até me atender se achar que é conveniente para o meu crescimento e aperfeiçoamento, mas a forma disso acontecer é que não posso prever, depende da sabedoria do Pai que é bem maior que a minha. Então, o medo das consequências sociais da implementação da minha missão se soma com o medo do que o Pai pode fazer para me ajudar nessa tarefa. É um medo duplo! Pior que o de Jeremias que era apenas o medo de realizar a tarefa do Senhor. Mas assim como Jeremias encontrou o seu tom e conseguiu realizar sua tarefa, tenho esperança que também possa encontrar o meu e realizar da mesma forma que ele o meu trabalho. Mantenho a convicção, a vontade e a fé que isso vou conseguir, pois apesar de tudo tenho comigo as lições do Mestre Jesus e a proteção e instrução constante do Pai.
A Inteligência suprema aos nos criar na forma de espíritos ignorantes e habitáveis num corpo biológico cheio de instintos materialistas como forma de aprendizado, mas com a perspectiva de alcançar a angelitude, a proximidade com Ele, também deve ter deixado caminhos para nos aproximar dEle. Mesmo que ainda sejamos excessivamente ignorantes, que ainda não consigamos privilegiar a existência espiritual em detrimento da material, mesmo assim o Criador deve ter criado caminhos que o conduzam a Ele e que assim possamos usar a inteligência e o livre arbítrio.
A Bíblia Sagrada sempre está colocando essa questão em todos seus livros, desde o antigo ao novo testamento. Ela diz que tão logo Deus tirou o povo de Israel da escravidão do Egito, desejou habitar com o homem (Êxodo 15:17). Deu a Moisés instruções precisas para que se construísse um “tabernáculo” no qual descansaria a “arca”, uma espécie de cofre que, por sua estrutura e conteúdo, é um símbolo do Cristo. Tudo isso ficava no meio de um recinto chamado “átrio”.
Se examinarmos bem a ordem que os diferentes elementos que compunham o tabernáculo são apresentados, compreenderemos que Deus fez todo o necessário para conceder aos pecadores um acesso a Si mesmo. As instruções dadas ao povo de Israel começaram pela arca (figura do próprio Cristo) e continuavam com o altar onde as vítimas eram sacrificadas e queimadas, impressionante tipo do Senhor Jesus, santa vítima que tomou nosso lugar na cruz e suportou o juízo divino contra o pecado. Por último, a única porta de acesso ao átrio era enorme, pois tinha uns cinco metros de largura. Ainda hoje ressoam estas palavras do Senhor Jesus: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á (João 10:9).”
Esses escritos sagrados dão sempre a ideia de um caminho para Deus, desde um objeto material até o comportamento de um homem íntegro que serviu como modelo. Observamos assim uma evolução nesses conceitos e hoje não é possível mais acreditar nem no objeto material, nem que um espírito vem nos salvar de forma passiva. A lição que devemos acolher em nossa consciência, é que o seu comportamento mostra como devemos agir para seguir em direção ao Pai. Este é o caminho, a reforma íntima que devemos fazer constantemente para ajustar o nosso caminho ao do Pai e sairmos das veredas instintivas do comportamento animal, essencialmente egoísta. Devemos reconhecer a força que emana do Pai, o Amor Incondicional, e procurar segui-lo; não nos deixar envolver pelos derivativos do amor, conjugal, filial, fraternal, romântico, etc. e atropelar a lei maior.
É este o caminho que pretendo trilhar e que tanto conflito traz ao meu redor com as pessoas que ainda confundem a lei maior com as leis menores. Este é o caminho de Deus, e não o caminho de uma namorada, de um filho, de um irmão, de um amigo, etc. Todos podem existir e coexistir, mas todos subordinados a Lei Maior, ao Amor Incondicional, senão sairemos do caminho do senhor.
Na leitura que faço diariamente, encontrei na data de hoje este texto, no Livro Devocional de 2013 Boa Semente, com o título de “Confessar e Perdoar”, que o transcrevo literalmente:
Imagine que alguém lhe diga: “Se fiz qualquer coisa que lhe magoou, me desculpe.” Isso é confissão ou arrependimento? Não! Inconscientemente estamos declarando: “Se você é tão melindroso a ponto de se ofender com o que eu disse ou fiz, o melindre é problema seu!” Uma confissão (homologeo, ou seja, falar as mesmas palavras) exige que chamemos o que fizemos ou dissemos pelo mesmo nome que Deus o chama – ‘pecado’. Se alguém nos ofende, temos de ter certeza de que não julgamos mal a situação ou a pessoa, pois o amor sempre procura evidenciar a melhor face das palavras e ações dos outros (1Coríntios 13:7). Se houver uma prova clara e definitiva que o outro pecou contra mim, então é obrigatório que eu lhe dê uma oportunidade para contar o seu lado da história (Mateus 18:15). Porém, temos de estar preparados para a possibilidade de a ofensa ter sido uma resposta ou reação a algo que você ou eu fizemos antes. Neste caso, somos você ou eu que devemos confessar nosso erro e nos arrependermos!
Arrependimento significa reconhecer e abandonar o pecado! Temos de ser pacientes com os outros porque todos estamos aprendendo com nossos erros e, tomara!, nos corrigindo à medida que somos advertidos. No entanto, também pode haver um padrão repetitivo, o qual a pessoa “confessa” o mesmo pecado, mas não demonstra qualquer vontade de abandoná-lo ou de receber a correção devida. Se isso é algo que causa problema nos relacionamentos, com Deus e com os outros, então tem de haver intervenção de terceiros, e talvez até da assembleia (Mateus 18: 16-17).
Ganhar nosso irmão ou irmã é a prioridade mais alta! Portanto, precisamos ser prontos a confessar nossos pecados e a perdoar as ofensas que nos atingem. Não há outra maneira de se viver em comunhão, e é na comunhão que “O Senhor ordena a bênção e a vida para sempre” (Salmo 133:3).
Não consigo deixar de ficar maravilhado como Deus se faz presente em minha vida a qualquer momento e sente quando eu tenho dificuldade de expressar algum pensamento ou sentimento. Então escolhe qualquer situação, de preferência a leitura de um livro, de preferência espiritual, e passa a mensagem que eu preciso saber e anunciar. Foi assim com a leitura desse Livro Devocional. Foi o primeiro que peguei hoje pela manhã. Interessante os detalhes... sempre o primeiro livro que pego para a leitura é a Bíblia Sagrada, mas como ontem foi necessário ser lido dois capítulos seguidos dos Salmos para ser colocado neste diário, hoje não era necessária a sua leitura. O Livro Devocional era a sequencia natural!
Deus sabe que estou comprometido com Ele no sentido de aplicar Sua Lei maior, o Amor Incondicional, nos nossos relacionamentos, principalmente os afetivos com potencial de intimidade. Ele sabe como isso é difícil, desde que vivemos numa cultura dominada pelo amor romântico e suas exigências de exclusividade. Qualquer pessoa que se envolva comigo, mesmo sabendo dessa missão como foco prioritário na minha vida, sempre se deixa envolver pelo amor romântico e suas garras da exclusividade. Isso entra em conflito com meus objetivos mais profundos, pois o Amor Incondicional exige que não haja exclusividade na expressão e comunhão de qualquer tipo de amor, desde que sintonizado com a justiça, fraternidade, transparência. Quando eu me comporto sem exclusividade e divido meu tempo e meu amor com qualquer outra pessoa, aquela que ficou sozinha sofre a punhalada do amor romântico que exige a exclusividade. Temos aí dois tipos de comportamento: primeiro o amante incondicional que cumprindo a perspectiva da não exclusividade, está em algum momento, em algum lugar, integrando pessoas dentro dessa forma de amar; segundo, o amante romântico ou condicional, que sofre o efeito da solidão e da necessidade de exclusividade, e pode até pensar na falta de coerência do amante incondicional. Mas, onde está a incoerência, o erro, o pecado? O amante incondicional no momento que declara de forma transparente qual o seu objetivo prioritário, que no seu comportamento não existe a possibilidade de exclusividade, de direcionar o amor para uma única pessoa, deixa bem claro qual o limite da convivência harmônica no seu modo de pensar. A pessoa tem todo o direito de pensar, avaliar e decidir se isso satisfaz também os seus propósitos, pois caso contrário não pode querer uma intimidade com ninguém que possa gerar conflitos na sua essência de vida. Estamos assim no campo das avaliações, ponderações para partir para uma decisão. Nada está escondido e isso é importante, fundamental! Nem o amante incondicional pode se comprometer em amar com exclusividade, sabendo que não pode fazer isso, nem o amante romântico pode se comprometer a amar sem exclusividade sabendo que não pode cumprir isso. Observamos assim que existe uma profunda incompatibilidade nessas duas formas de amar, entre esses dois tipos de amantes.
Na minha experiência eu observo que a maioria das mulheres não aceita esta forma de amar incondicional, sem exclusivismo. Preferem me ter como amigo, no máximo, pois em muitas delas a sentimento de rejeição quando sabem que estou com outra, termina por gerar raiva e até ódio. As poucas que aceitam essa convivência, não conseguem se libertar das garras do exclusivismo do amor romântico. Ficam sempre numa postura de antagonismo uma com as outras, com sofrimento nos momentos que está só, com ciúmes gerados por mínimas circunstâncias. Como eu posso chegar para uma pessoa dessa e dizer “me desculpe, se fiz algo que te magoou” se o que fiz está dentro dos meus princípios de vida? Como é que eu faço uma revisão do meu comportamento para ver se existe a coerência, se tudo que eu fiz está dentro do que desde o início foi advertido que poderia acontecer? Como posso me arrepender e abandonar o pecado se o que eu faço é colocado na minha consciência como a vontade de Deus? Por acaso, se eu quisesse seguir a minha vontade humana, animal, não seria melhor ter ficado até hoje com minha primeira esposa, no aconchego dos filhos, construindo um belo patrimônio material, curtindo o sexo sem compromisso com todas que se oferecessem ao meu assédio? Ao invés de viver sozinho, num apartamento de um só quarto, com tanto trabalho a ser realizado tanto no campo material quanto no campo espiritual? Se eu pensasse somente em mim, seria uma tremenda incoerência a situação em que me encontro. Só encontro coerência quando entendo que a minha vida, não é um projeto meu. É um projeto de Deus do qual eu aquiesci dentro do meu livre arbítrio.
Com relação as mulheres que aceitam se envolver com esse projeto que Deus colocou em minha consciência, e que sofrem pelos efeitos do amor romântico, a leitura do texto traz grande lição. Se o pré-requisito para viver comigo é rever a força do amor romântico e o deixar submetido ao amor incondicional, se não conseguem fazer isso e se comportam de forma reativa, agressiva e antagônica, naturalmente vão se distanciando do processo, da convivência, pois cada reação no sentido conflituoso afasta o amante incondicional cuja essência é a harmonia. O texto lembra que pode haver um padrão repetitivo no qual a pessoa confessa a intenção de mudar determinado comportamento, mas não demonstra qualquer vontade (fora dos olhos do amante incondicional) de fazer isso ou de receber a correção devida. Essa é a causa do problema no relacionamento, que pode ser necessária a intervenção de terceiros e talvez até da assembleia, da reunião de amigos, da reunião de parentes.
O texto termina com a prioridade mais alta para com Deus: ganhar o nosso irmão ou irmã. Para isso é preciso estar prontos a confessar nossos pecados e a perdoar as ofensas que nos atingem. Não há outra maneira de se viver na comunhão, e é na comunhão que o Senhor nos quer como seus filhos.
O salmista já escrevia em 118 25-40: Prostrada no pó está a minha alma: restituí-me a vida conforme Vossa promessa. Eu Vos exponho a minha vida, para que me atendais: ensinai-me as Vossas leis. Mostrai-me os caminhos de Vossos preceitos, e meditarei em Vossas maravilhas. Chora de tristeza a minha alma; reconfortai-me segundo Vossa promessa. Afastai-me do caminho da mentira, e fazei-me fiel à Vossa lei. Escolhi o caminho da verdade, impus-me os Vossos decretos, apego-me as Vossas ordens, Senhor. Não permitais que eu seja confundido. Correrei pelo caminho de Vossos mandamentos, porque Sois Vós que dilatais meu coração. Mostrai-me, Senhor, o caminho de Vossas leis, para que eu nele permaneça com fidelidade. Ensinai-me a observar a Vossa lei e a guardá-la de todo o coração. Conduzi-me pelas sendas de Vossas leis, porque nelas estão minhas delícias. Inclinai-me o coração às Vossas ordens e não para a avareza. Não permitais que os meus olhos vejam a vaidade, fazei-me viver em Vossos caminhos. Cumpri a promessa para com Vosso servo, que fizestes àqueles que Vos temem. Afastai de mim a vergonha que receio, pois são agradáveis os Vossos decretos. Anseio pelos Vossos preceitos; dai-me que viva segundo Vossa justiça. (Biblia Sagrada, Ed. Ave-Maria ltda.).
Diz também Lucas de forma complementar, na Parábola do Filho Pródigo, em 15 18-20: Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados. Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu, e movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. (Bíblia Sagrada, Ed. Ave-Maria ltda.).
São dois exemplos que mostram como os caminhos que Deus tem para nós podem ser desviados a qualquer momento, por quaisquer motivos. O salmista se sente derrotado, mas implora a Deus a misericórdia para ser recuperado, pede como uma criança desamparada, para que seja posto novamente no caminho. No segundo exemplo, Jesus ensina que por motivos que pensamos ser justos, entramos em outro caminho, mas depois de reconhecido o erro e arrependido, o pai nos acolhe com compaixão.
No meu caso, pareço ser extremamente severo comigo mesmo, conforme o olhar de meus amigos, das pessoas que me amam. Todos sabem da minha dedicação a Deus, de procurar seguir o caminho que Ele colocou na minha consciência. Sabem do trabalho que executo nos dois campos, material e espiritual e julgam que não estou em débito com o Pai e que mereço descanso, férias e lazer de vez em quando. Mas a minha consciência não consegue aceitar esse tipo de lazer, de férias, dissociados da vontade de Deus, é como se eu tivesse saído da trilha. Sei que é importante o lazer e o descanso do corpo, mas sei também que o corpo é o instrumento que Deus me deu para fazer aqui no mundo material a sua vontade. Então por que me empanturrar com comida, bebida (mesmo que seja refrigerantes, sorvetes ou gelo), sexo (mesmo que seja em pensamentos, carícias e olhares lascivos), com a preguiça (mesmo que tenha dentro dela o sono necessário ao descanso do corpo), com jogos e diálogos sem sintonia com o divino...? Sei que ao usar a palavra “empanturrar” para caracterizar toda essa listagem posso estar sendo muito severo comigo mesmo e até incriminando os meus irmãos que dividem comigo essa jornada. A eles peço desculpas, pois sei que só o bem desejam para todos nós, principalmente prá mim, e nenhum mal para quem quer que seja. Eu agradeço ao Pai por ter colocado todos eles em minha vida e toda essa crítica que faço é comigo mesmo, e em nenhum momento implica em querer colocar culpa em ninguém. Pelo contrário, é necessário até pedir perdão a eles por desenvolver esse sentimento de culpa devido um dia tão agradável que eles me proporcionaram.
Mas a minha prestação de contas é com o Pai. Eu sei o quanto Ele investiu em mim, desde a minha mais tenra formação, de criança criada dentro de um cabaré até chegar a um alto nível universitário com tanto conhecimento sobre a matéria e sobre a Sua existência, Suas leis e a minha obrigação enquanto filho! É por isso, por sentir que tanto me foi dado, que sinto que devo ser MUITO COBRADO! Não é justo que tanto investimento que o Pai tenha feito em mim, seja desperdiçado por comportamentos, mesmo que não perversos, mas inócuos frente ao trabalho que o Pai necessita que seja feito e com o qual já me comprometi de consciência livre.
Falso ego significa aceitar que este corpo é a própria pessoa. Quando alguém compreende que não é este corpo, mas sim uma alma espiritual, chega então ao seu verdadeiro ego. O ego existe. Condena-se o falso ego, não o verdadeiro ego. Este sentido de “eu sou” é ego, mas quando o sentido de “eu sou” é aplicado a este corpo falso ele é ego falso. Quando o sentido do eu é aplicado à realidade, isto é o verdadeiro eu. Há alguns filósofos que dizem que devemos abandonar nosso ego, mas não podemos abandonar nosso ego, porque ego significa identidade. Devemos, é claro, abandonar a falsa identificação com o corpo.
Tenho esta compreensão bem clara em minha consciência. O corpo falso, como o Baghavad Gita o classifica, é porque ele se transforma ao longo do tempo e chega um dia que voltará ao pó de onde se originou. Então, este corpo que hoje eu possuo, que já passou por tantas transformações ao longo da minha vida, logo mais retornará ao pó, desaparecerá da face da terra. Então, quando isso tiver acontecido, eu também terei desaparecido? Claro que não! Todos os estudos místicos, religiosos e até os científicos, defendem que a vida continua alem do corpo físico. A minha consciência permanecerá viva, não importa quantas experiências eu tenha ao longo de minhas existências em corpos materiais.
Esta dicotomia de corpo e alma também me ajuda a melhor manter o Autocontrole sobre as exigências do corpo. Caso eu permanecesse com o falso ego, de acreditar que “eu sou o meu corpo” haveria uma tendência maior de procurar cumprir os desejos. Mas como não é assim, eu vejo o corpo como um veículo, um instrumento de educação que o Pai me permitiu para que eu aprendesse as lições fundamentais que a matéria pode oferecer. A minha devoção ao Pai não é contaminada pelo erro do falso ego e sei da responsabilidade do espírito em administrar os desejos e necessidades do corpo.