Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
04/02/2015 00h59
O FANTASMA DA ÓPERA

            O amor é como um prisma que fraciona a energia dos sentimentos em miríades de vibrações que a partir do coração preenche o nosso corpo, mente e alma e se dilui no espaço por onde caminhamos, com as pessoas que se tornam nossos companheiros, eventuais ou constantes. Existem as vibrações pesadas, ligadas à terra, aos interesses espirituais. Existem as vibrações sutis ligados ao céu, aos interesses espirituais.

            Quando o amor funciona gera dentro de nossa consciência todos os efeitos vibracionais dos sentimentos, grosseiros ou sutis. Como fazer para separar as vibrações grosseiras que nos arrastam para baixo, para o inferno da materialidade, e deixar prevalecer as vibrações sutis, que elevam nossa alma em direção a Deus? Se essas vibrações estão intricadas umas dentro das outras? Como amar e odiar ao mesmo tempo? Como viver no paraíso e logo em seguida mergulhar no inferno? Se não soubermos separar e administrar com justiça e firmeza essas vibrações que surgem às vezes com a força das paixões, iremos irremediavelmente cair dentro dessa gangorra existencial.

            Um exemplo disso que estou querendo relatar é a obra literária de Gaston Leroux, “O Fantasma da ópera”. Ele é um ser deformado que se esconde atrás de uma máscara e vive nos subterrâneos de uma ópera em Paris, onde tudo de ruim que acontece é sua a culpa. Exige dos administradores uma quantia para que os espetáculos possam ser exibidos e que seja reservado o camarote número cinco.

            Christine, a bailarina, descobre que o seu guia, um “Anjo da Música” é na verdade Erik, o fantasma que aterroriza a ópera. Descobre que ele é fisicamente deformado, razão pela qual usa uma máscara para esconder a sua deformidade. Vendo a verdadeira imagem de Erik, ela entra em choque, e Erik decide prendê-la em seu mundo, dizendo que somente a deixará partir se ela prometer não amar ninguém além dele e voltar por vontade própria.

            Acontece que Christine passa a enfrentar uma luta interna entre o seu amor por Raoul, desde a infância, e a fascinação pelo gênio musical do Fantasma. Ela decide se casar com Raoul em segredo e fugir de Paris e do alcance do Fantasma. Mas o seu plano é descoberto e termina sendo raptada do palco pelo Fantasma e levada para os labirintos embaixo da ópera. Raoul tenta salvar Christine que está sendo forçada a fazer uma escolha entre o Fantasma e ele. Christine escolhe Erik com o intuito de salvar a vida das pessoas da ópera, dizendo ao Fantasma que concordará em ser a sua esposa se ele libertar Raoul.

            Christine se comporta como uma verdadeira noiva para o Fantasma. Ele lhe dá um beijo na testa e ela aceita sem rejeitá-lo ou demonstrar horror. Esse ato simples faz o nível vibracional do amor do Fantasma modificar radicalmente e lhe traz uma alegria imensa. É a primeira vez na sua vida que foi tratado como uma pessoa comum. Nesse momento a qualidade etérea do amor mostra toda sua magnitude. Faz ele mudar de ideia e diz que Christine pode ir embora e se casar com Raoul, e que ele, Erik, não passa de um animal aos seus pés, pronto para morrer por ela.

            Podemos ver assim toda a dimensão vibracional do amor fazendo as pessoas se comportarem como anjos ou demônios.

            Cada pessoa tem o seu prisma de amor incrustado em conceitos e preconceitos, que fazem esse prisma desviar para mais ou para menos os sentimentos vibracionais que motivam comportamentos coerentes ou incoerentes.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 04/02/2015 às 00h59
 
03/02/2015 00h59
TRABALHO

            O trabalho é visto como uma ação necessária, que todas as pessoas competentes devem realizar, nos mais diferentes níveis e especializações. É o motor que dinamiza e faz avançar a sociedade, da mesma forma que faz avançar cada indivíduo.

            Desde pequeno, quando eu ainda era criança, estava envolvido com o trabalho. De início era um trabalho doméstico, de arrumar a casa, varrer, lavar pratos... mesmo sendo menino, não tinha nenhum prurido em fazer esses trabalhos de características femininas, até gostava de fazer, e o fazia com esmero, cuidado, dedicação. Tudo que eu fazia era digno de elogio, pois ficava na perfeição que eu conseguia alcançar. A medida que eu crescia, outros trabalhos eu ia assumindo: carregar água nas costas, com um galão que suspendia duas latas de 20 litros, para dentro de minha casa e para vender aos vizinhos; trabalhava também vendendo balas e cigarros num carrinho que eu podia levar pela cidade e estacionar onde tivesse mais fluxo de gente. Esse local era geralmente o pequeno e disputado cinema de minha cidade, Macau. Acostumei com esse trabalho a ter contato com os cartazes do cinema, com as revistas, guris e semanários femininos, as românticas, Sétimo Céu, Capricho, etc. Daí formou-se no meu psiquismo uma boa associação do trabalho com o cinema e a literatura.

            Continuei os meus estudos e cada vez ia me capacitando a exercer cargos e trabalhos mais complexos. Fui servir à Marinha do Brasil aos 18 anos e esta minha disposição pela leitura, pelo conhecimento, fez com que eu desse um salto qualitativo nesse trabalho. De uma previsão de servir à Marinha como taifeiro ou barbeiro, saltei para a sala da secretaria do Hospital Naval de Natal, onde devido a minha boa pontuação na Escola de Formação de Marinheiros eu pude escolher, ao invés de embarcar num navio. Pude assim continuar a estudar em terra e me capacitar para a profissão de médico.

            Comecei a trabalhar como médico em comunidade recém criada no meu município e aliei ao meu trabalho profissional a atividade política. Fui presidente de Conselho Comunitário do Conjunto Santa Catarina e secretário do Partido Democrático Trabalhista em minha cidade.

            Atualmente estou colocando cada vez mais a força do meu trabalho naquilo que considero ser a vontade de Deus. Portanto, o meu trabalho não tem o objetivo de ser acumulado na forma de poupança e bens materiais. Tudo que adquiro como fruto do trabalho considero que foi Deus que colocou em minhas mãos, através do meu corpo que Ele usa como Seu instrumento, com a minha permissão. Claro que não serei irresponsável com esses recursos que tenho que administrar, pois o Pai está sempre observando minhas ações e sondando meu coração. Não permitirei que eu seja usado por quem quer que seja para usufruir bens ou qualquer tipo de vantagem em detrimento de outras pessoas, que tenha um caráter de injustiça.

            Sei que essa visão e forma de me comportar exige que eu execute um trabalho extra para cobrir compromissos extras que surgirão. Sei que esse esforço não está me trazendo nenhum benefício material, pois eu não procuro retê-lo, sem utilidade, ao meu à dispor a qualquer hora. Tenho sim, reservas estratégicas, mas nada de forma exagerada, que não tenha um caráter solidário... divino.

            Sei que essa é mais uma característica do meu comportamento que difere da “normalidade” do resto das pessoas. Não vejo também ninguém ao meu lado que se comporte dessa forma com o fruto do seu trabalho. Mas vejo que tudo isso está devidamente coerente com a vontade de Deus que eu já absorvi na minha consciência como se fosse a minha vontade.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 03/02/2015 às 00h59
 
02/02/2015 00h59
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS

            Recebi a indicação de um colega para a leitura do livro “Escritos de Santo Inácio de Loyola – Exercícios Espirituais”. Não encontrei nas livrarias, mas fiz o pedido e o livro chegou no fim do mês passado. No começo da leitura vi que foi mais uma ação de Deus a favor de meu crescimento espiritual e da minha disposição de caminhar em Sua direção. O livro chega exatamente neste mês que pretendo fazer a quarentena espiritual a partir do dia 18, com um rigor maior do que fiz no ano anterior.

            Observei que o livro está disposto para ser usado em quatro semanas, com toda metodologia voltada para a educação do espírito em sintonia com o Criador. Sugere que a pessoa que vai ser instruída, tenha um preceptor para orientar os estudos práticos e teóricos. No meu caso, penso em evocar o meu Anjo da Guarda para me servir intuitivamente como preceptor, já que seria impraticável para eu ir à busca de um preceptor presencial. O texto não fala de “retiro”, mas tem essa conotação quando se entende a pessoa dentro dos Exercícios Espirituais. Fala “daquele que recebe os Exercícios” e “daquele que dá os exercícios”, implicando que existe uma relação aluno-professor. Por isso, vou iniciar os exercícios com a compreensão que estarei sempre intuído pelo meu Anjo da Guarda como “aquele que me dá os exercícios”, o meu preceptor.

                A expressão “Exercícios” quer referir-se a todos os elementos humanos que surgem na consciência do exercitante, para que aconteça a morte do eu egoísta e uma abertura total para Deus. Devo me deparar com as afeições desordenadas, as aspirações profundas, os instintos animais, que tendem a me distanciar de Deus.

            Buscar e encontrar a vontade divina é a finalidade última dos Exercícios Espirituais, mesmo que eu já possua certa clareza com relação a esta vontade para a minha vida.

            Os Exercícios Espirituais são, no seu conjunto orgânico, uma pedagogia espiritual mediante a qual se dá espaço para que os Espíritos Superiores (sob o comando do Espírito Santo de Deus) possam atuar, instruindo, movendo e robustecendo o exercitante. É preciso que o Espírito Santo seja o mestre interior que orienta a pessoa: ora chamando a atenção para um aspecto do assunto proposto; ora despertando sua memória para algo já conhecido, relacionando com o que está aprendendo; ora iluminando ou propondo algo para a vida através das moções espirituais.

            Toda luz desce do alto, do Sol da Inteligência divina. É ela que nos ilumina e nos faz participar dos dons divinos. Isso quer dizer que o meu Anjo da Guarda, na condição do meu orientador ou preceptor, não deve interferir de maneira alguma na comunicação divina, de Deus para comigo. O meu Anjo da Guarda não pode transmitir inadvertidamente, suas próprias convicções para mim. Eu devo agir sempre sob a graça de Deus, tentando descobrir com clareza o que Ele espera de mim.

            Nos Exercícios, a comunicação pessoal com Deus se estabelece pela união das vontades, a minha e a dEle, pela comunhão vital do Amor Incondicional. A minha vontade é uma inclinação da minha alma que me leva em direção ao Amor, que é a essência do Criador. Por causa desse contato mais íntimo, do diálogo mais pessoal, devo exigir da minha parte maior respeito e reverência para com Deus, pois Ele vai se encontrar muito mais presente na minha vida durante todo esse retiro espiritual, que consiste a aplicação desses Exercícios.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 02/02/2015 às 00h59
 
01/02/2015 00h59
POPULISMO

           Entrei numa fase em que passou a existir um forte apelo pela militância política, tendo em vista o alto grau de corrupção e de desmantelamento das instituições democráticas, com o atrelamento partidário de setores importantes da máquina estatal. Observando o que acontece nos países vizinhos e percebendo que existe todo direcionamento para fortalecer aquele tipo de política ali empregada, inclusive trazendo o modelo para o meu país, recebi um vídeo de uma militante latino-americana que abordava esse assunto e que vou reproduzir abaixo, devido ao seu alto conteúdo educacional e esclarecedor para a consciência política dos cidadãos.

            “Muito obrigada a todos, ao Comitê Organizador, a todas as instituições de Zaragoza que nos receberam aqui.

            Queridos amigos e companheiros latino-americanos. Creio que os desafios que temos neste primeiro Parlamento Líbero Americano são bem grandes, e a proposta que quero fazer, especialmente retomando o que o Dr. Florentino acaba de nos passar, é acabar com o Populismo através da tecnologia. E vou explicar por que.

            Há debates sobre esquerdas e direitas, o que de fato é muito utilizado pelos populistas, do que pelas pessoas que estão tentando resgatar as instituições.

            O Populismo que é praticado com as pessoas que convivemos, e compartilhado com as pessoas que interagimos, a primeira ação que faz é acabar com as instituições, pouco a pouco. Reescrever constituições para poder adequá-las aos desejos de diferentes líderes, corruptos, que temos na América Latina.

            O Populismo, no entanto, não existe por casualidade. E também cabe a nós, não só denunciar as atrocidades que o Populismo comete contra as nossas instituições, mas também reconhecer o péssimo trabalho dos sistemas governamentais anteriores, que levaram à crise absoluta, às pessoas e às populações, que em desespero recorreram a esses líderes. Às vezes por vias democráticas, e que por isso, justificam sua permanência no poder.

            Por isso, creio que mais que a batalha entre a esquerda e direita, nós que somos contra o Populismo, devemos falar de Populismo versus República. Por que a República é que realmente garante a institucionalidade do Estado.

            Desde os tempos antigos dos gregos, filósofos como Sócrates e Aristóteles, viram os defeitos da Democracia. E por que viram? Porque há três direitos fundamentais e irrenunciáveis a cada um de nós. Nossa vida, através da qual podemos exercer nossos projetos. Nossa liberdade, através da qual podemos nos expressar, podemos comercializar, podemos trabalhar, podemos nos mobilizar para possuir a crença de nossa preferência, e poder expressar assim também nossos sistemas políticos, e o que esperamos de um governo. E por último, nossa propriedade privada. E nossa propriedade começa pelo nosso corpo. Pela nossa integridade. Nossa propriedade é o acúmulo desde o dia em que nascemos até o dia em que morremos, de todas as coisas que conseguimos realizar.

            Estes três direitos, no entanto, podem existir em cada um de nós sem impedir os direitos de outra pessoa. Agora, e quanto aos outros direitos? Como por exemplo, direito à saúde, à educação, à vestimenta, e a uma série de direitos que foram exigidos pelos povos de cada um dos nossos países, e que não foram atendidos.

            O problema desses direitos, e que os gregos já viam desde aquela época, é que eles precisam de uma renúncia prévia, do direito de propriedade de alguém, antes de serem outorgados. E é aí que nossos governos falharam. Porque ao falar que todos têm direito a essas coisas, nunca foi estipulado quem deveria renunciar a certos direitos para outorgar aos outros. E desse mal estar, é que nossos povos decidiram recorrer aos regimes totalitários e populistas que vemos hoje. Independente da nossa ideologia política, sejamos liberais, ou sejamos social-democratas, devemos reconhecer que esse é um debate necessário para a região. Se vamos dar direitos, de onde vamos tirá-los? E com que recursos vamos pagá-los? Por que se isso não for estabelecido, nossos povos vão seguir interminavelmente vendo nestes líderes a resposta e a solução.

            Gostaria de retomar o que disse o Sr. Florentino sobre sua definição de Populismo. Ele disse que é o atalho pelo qual jogamos com paixões, ilusões e ideais do povo, para prometer o impossível, aproveitando-se da miséria das pessoas, deixando de fora, absolutamente, toda a razão e a lógica na tomada de decisões. Joga com a necessidade, para simplesmente impor uma ditadura. Joga com a necessidade dos nossos povos, e isso foi algo que os gregos previram. Desde que disseram: “Há três tipos de governo.” Onde há um governante, que se chama Monarquia, e pode acabar virando Ditadura. Onde governa um grupo, que se chama Aristocracia, e pode acabar virando Oligarquia. E nós da América Latina conhecemos bem isso. Porque nossos aristocratas, nossas elites, acabaram virando Oligarquias. Ou há uma Democracia, onde todos governam, que acaba degenerando numa Demagogia, algo que nós também conhecemos.

            Quando os gregos viram essas três formas de governo, se deram conta que a República era a resposta. Porque a República dava essas três institucionalidades. O monarca na forma de presidente, a Aristocracia na forma de um Parlamento, e a Democracia como veículo e via de comunicação. É por isso que a República anula os vícios de cada uma das três formas de governo, para agrupar as três, e formar a institucionalidade que o Populismo, hoje, está destruindo.

            Por isso o chamado que quero propor à vocês, é que acabemos com o Populismo através da tecnologia. E por que através da tecnologia? Porque hoje mesmo falamos, de que as mudanças que estão surgindo nos nossos países, e que estão surgindo com a tecnologia, não estão sendo acompanhados pela educação necessária. E o que acontece se eu passo a receber novas possibilidades, novas formas tecnológicas de me comunicar com o mundo, mas ao mesmo tempo não me educo? Não tenho prioridades claras. Por isso em nossos parlamentos, já não se trocam ideias, a razão e a lógica já perderam a importância que deveriam possuir. Já não há respeito pela discussão, por deixar de fora as falácias. E nossos líderes populistas anulam toda razão e toda lógica de seus argumentos, aumentando paixões. E nós também temos que utilizar uma paixão. Uma paixão pela educação, uma paixão pela troca de ideias, paixão pelo conhecimento, por querer ser pessoas e indivíduos com o poder da verdade. Por que outra coisa que o Populismo faz, é anular a dignidade das pessoas. Faz as pessoas se sentirem incapazes e sem dignidade para governar suas próprias vidas. Faz elas pensarem que precisam de um líder, para controlar absolutamente tudo, para poderem seguir adiante.

            A definição do florentino também defende algo que nós do movimento dizemos. O Populismo ama tanto os pobres, que os multiplica. Porque o que busca, é essa multiplicação de miséria, para seguir recebendo um voto, através de qualquer objeto material que naquele momento as pessoas precisem.

            Qual o desafio? Como fazemos? Para que um povo onde a Pirâmide de Maslow está no nível mais baixo, veja na República, a resposta institucional que as gerações futuras precisam para não seguir nesse ciclo de pobreza.

            A admiração que há em países como o meu, pelo Regime Cubano, pelo Regime Venezuelano, é absurda. Essa admiração não é seguida pela razão e pelo conhecimento. São poucos os guatemaltecos que reconhecem, por exemplo, que em Cuba, um engenheiro civil prefere ser taxista. São poucos os guatemaltecos, as pessoas da América Central, os latino-americanos em geral, que veem no Regime Chavista as atrocidades e as violações de direitos que estão sendo cometidas, porque tudo que veem é: lá tem educação de graça, lá tem saúde de graça. Nada é de graça. Tudo é pago com algum dinheiro. E quando não há institucionalidade, é quando começa a corrupção. E quando ela começa, todo um sistema perde suas virtudes.

            No caso de Guatemala, temos eleição ano que vem, e infelizmente, as três pessoas que vão chegar a presidência, os três candidatos que melhor se encaixam, vão pela via populista. Sejam de esquerda ou de direita. Porque outra coisa que temos de reconhecer, é que o Populismo está impregnado em todas as ideologias.

            O mecanismo que os populistas usam é seguir com esse discurso. Você está mal, porque alguém está bem. E o que temos que resgatar, é que todos podemos estar bem. Que o fato de que uma pessoa acumula riquezas, não impede a outra de acumular também. Mas para isso precisamos de instituições. Precisamos de segurança jurídica. Precisamos de um Estado correto. E acima de tudo, resgatar nos nossos parlamentos, o respeito e admiração pelo debate de ideias com argumentos baseados na lógica e na razão. Mas um povo que não tem educação, não vai exigir de seus políticos um debate com lógica e razão, com argumentos, e será facilmente manipulado através das paixões.

            As ferramentas que proporcionam a Era de Conhecimento são a chave. Utilizar as redes sociais, a tecnologia, e a facilidade de comunicação que temos com apenas um clique entre todo o continente, onde compartilhamos o mesmo idioma, compartilhamos a cultura, que compartilhemos agora uma troca de ideias, para começar a expor e acabar com o Populismo pelo que ele é, uma postergação da pobreza, da ignorância e de manter os povos submissos, sob a ilusão de que só os bens materiais importam ao votar.

            É por isso, amigos, que lhes proponho, que no dia de amanhã ao assinarmos a Declaração de Zaragoza, todos, como os líderes latino americanos que somos, nos comprometamos a acabar com o Populismo utilizando a tecnologia, e usando como ferramenta a República, que é o único sistema que realmente resgata as instituições, baseando-se na razão, na lógica, nos argumentos, e na troca de ideias.

            Muito obrigada.”

            Eis uma palestra bem lúcida, objetiva, que foca os principais problemas que sofremos na atualidade brasileira e latino-americana e que aponta os caminhos mais racionais, sem qualquer tipo de radicalismo inconsequente, para a correção dos nossos rumos políticos.

 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 01/02/2015 às 00h59
 
31/01/2015 00h59
ERA DE OURO

            Por mais que tenhamos evoluído em ciência e tecnologia, parece que a miséria humana continua a nos seguir, muito parecida com os tempos antigos. O poeta latino Virgílio, autor da Eneida, foi autor de uma poesia pastoril, a “Quarta Bucólica” há cerca de 40 anos antes da era cristã, e que exprime o clamor dos excluídos da época que ansiavam pelo advento de um novo tempo, uma nova era de justiça e paz. Lembrava muito o estilo de profetas como Isaías. Virgílio prediz o surgimento de um Deus menino cujo nascimento porá fim à raça de ferro e que, no mundo inteiro fará surgir a raça de ouro. Segundo o poeta, este menino receberá a vida divina, ele verá os heróis junto aos deuses, e estes o verão entre eles, e ele governará o universo pacificado pelas virtudes de seu Pai.

            Vejamos só, como este advento da “era de ouro”, no dizer virgiliano, era naquela época o grande desejo das multidões subjugadas, famintas e alienadas de Roma, compostas majoritariamente por proletários urbanos, miseráveis provincianos e escravos barbarizados. Eles ansiavam pelo dia em que se ouviria a voz de seu sofrimento. Clamavam por alguém que os compreendesse e os defendesse, ainda que apenas moralmente de tantas e repetidas injustiças sociais. Interessante que o apelo estava presente tanto no povo dominado, como no dominador; tanto no povo espiritualizado escritores da Bíblia, como no povo pagão crente nos deuses do Olimpo.

            Este desejo cresceu, amadureceu e foi preenchido pela chegada da fé cristã. O cristianismo apregoando a excelsa mensagem do amor divino pela humanidade, sobretudo pelos oprimidos, introduzida no império pagão pelo cajado apostólico e por tantos crentes anônimos, causou uma atração quase irresistível nas populações desfavorecidas. Eram as palavras ditas por Jesus e repetidas em vários ambientes e comunidades que causavam o encantamento: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.”

            Era um quadro de solidariedade, de apoio, de compaixão. Causava júbilo discreto nos oprimidos e desvalidos sociais que agora se enchiam de esperança na vinda da justiça divina, que era ratificada pela dura admoestação profética: “E agora, vós ricos, chorai e pranteai, por causa das desgraças que vos sobrevirão. As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão roídas pelas traças. O vosso ouro e a vossa prata estão enferrujados; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e devorará as vossas carnes como o fogo. Entesourastes para os últimos dias. Eis que o salário que fraudulentamente retivestes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos clama, e os clamores dos ceifeiros têm chegado aos ouvidos do Senhor dos exércitos.”     

            Assim, ontem como hoje, a maioria daqueles que compõe as fileiras do cristianismo é formada por indivíduos das classes mais baixas e empobrecidas, como Paulo registrou em 1Coríntios 1: 26-28: “Ora, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir os fortes; e Deus escolheu as coisas ignóbeis do mundo, e as desprezadas, e as que não são, para reduzir a nada as que são; para que nenhum mortal se glorie na presença de Deus.”

            Observamos tudo isso ainda hoje, apesar do cristianismo está disseminado e aceito pela maioria da população. Mas não sejamos iludidos, aceitar uma religião não significa aplicar os seus princípios sem dogmas ou interesses pessoais. No Hospital Universitário em que trabalho a maioria é cristã, disso tenho certeza. Existe até uma capela cristã dentro do Hospital com trabalhos eclesiásticos regulares. Mas ao lado do hospital existe uma comunidade carente, cheia de drogas, violência e prostituição. Todos sabem disso, mas passam ao largo das prostitutas nas esquinas, dos drogados nos becos, das vítimas da violência na cadeia ou no cemitério. A caridade cristã não consegue sair da aparência para a prática. O comunitarismo cristão que estamos desenvolvendo na comunidade da Praia do Meio, que tenta fazer essa prática, consegue sensibilizar em primeiro plano as pessoas humildes. Não observamos a aproximação daqueles sábios, nobres e fortes que Paulo citou.

            O Reino de Deus que Jesus ensinou e que Virgílio citou como a Era de Ouro, continua a ser esperado; os pobres, miseráveis, desprezados continuam a existir à espera de nossas ações. Pelo menos nós já temos a teoria na mente; falta o Amor no coração e a ação nos braços. Talvez agora não seja mais necessária a vinda de um Deus menino, mas de velhos calejados no sofrimento e arrependidos dos seus pecados, que consigam pegar no arado sem olhar para trás.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 31/01/2015 às 00h59
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