Posso parecer um tanto pedante ao dar esse título a este texto. Como posso eu, um simples mortal, cheio de ignorância, ser capaz de interpretar a vontade de Deus como fazia os homens santos do passado, os ditos profetas, como Elias, Isaias, Jeremias, etc.?
Mas não deixo de sentir assim, e se assim não revelasse, não estaria sendo justo com o Criador que a todos influencia de acordo com a capacidade e a intenção individual de cada um.
Foi tal o caso dos 11.035,00 reais perdidos para um estelionatário. Deus me fez levantar da cama nesse dia, fato inédito, jamais tinha levantado da cama quando deito para dormir. Logo o sono chega e só acordo com o som do despertador, geralmente as 5h. Nesse dia o Pai não me deixou dormir. Encheu minha cabeça com suas argumentações e tive que voltar para o escritório e digitar de forma organizada. Depois, como os profetas fizeram, chamei as pessoas mais próximas para explicar o que eu tinha entendido e que para mim fazia toda a lógica, coerência e aplicação dentro do contexto que estamos vivendo. Isto talvez seja um pouco da sabedoria que tanto peço a Deus. No entanto, não é sabedoria suficiente para que eu me faça entender e repassar o entendimento claro do que Deus permite e deseja que aconteça como consequência.
Na pequena reunião que aconteceu logo em seguida, com alguns dos participantes da primeira reunião, tive a comprovação de que ninguém alcançou a real compreensão do que eu pretendia transmitir. Por isso, apesar de eu ter ido mais cedo para a cama, por já estar cochilando no sofá, mais uma vez o Pai interferiu na minha mente, não deixou eu dormir. É como se Ele tivesse chamando minha atenção, de não ter cumprido como devia uma tarefa que Ele me confiou. Fez com que eu voltasse para o escritório e digitasse mais uma vez o que Ele me disse antes e que eu não soube transmitir oralmente. Da mesma forma que Moisés, escolhido por Deus para transmitir ao faraó Sua vontade, e ele levou seu irmão, Aarão, por não saber se expressar oralmente, talvez eu tenha que recorrer ao meu notebook para digitar por escrito aquilo que não sei argumentar com a fala. Pois que assim seja.
Deus, a essência divina que a tudo criou e que a tudo permeia até os dias atuais e por todo o sempre, está fora e dentro de nós em qualquer lugar, em qualquer instante. Assim como não percebemos a lei da gravidade, ou mesmo o ar que respiramos a todo momento para nos manter vivos, não percebemos com os órgãos dos sentidos a presença e influência de Deus. Mas, pela nossa inteligência, razão e intuição, sabemos da existência da lei da gravidade e do ar que respiramos. Da mesma forma acontece com Deus. A nossa inteligência, razão e intuição termina por vencer a nossa ignorância inata e percebe a existência de Deus a todo momento em nossas vidas e os diversos caminhos que ele coloca ao nosso alcance para ajudar aqueles que já estão sintonizados com Ele e corrigir com o sofrimento de todos os matizes, aqueles que entraram em algum desvio.
Foi assim que o Pai fez a minha aproximação com a família Vital, pelos caminhos que a Sua divina sabedoria engendrou. Eu, pessoa dedicada a cumprir a sua lei do amor incondicional, de formar a família universal e consequentemente o Reino de Deus, tinha que provar meu valor dentro de uma família altamente religiosa, com uma mãe beata, uma filha freira, um filho pastor, e demais membros altamente atuantes dentro da igreja, com cantores, instrumentalistas, gestores, etc.
O Pai usou a solidariedade profissional e a paixão carnal para fazer a minha conexão com a família. Usei a todo instante o exercício do amor incondicional para vencer todas as resistências sem causar ressentimentos. Porém, por mais que eu faça, continuo sozinho na trilha da construção da família universal, que é o meu projeto original. Deus resolveu intervir mais uma vez do seu jeito. Usou o mal para produzir um bem. Foi essa a compreensão da perda dos 11.035,00 reais. Foi o pagamento realizado por quem o praticou para ingressar no meu projeto espiritual, mesmo que fosse contrário à sua natureza. Aceitando isso, acabaria de imediato todo o constrangimento da perda do dinheiro, pois não mais seria uma perda, e sim um pagamento de algo bem maior, que poucas pessoas têm essa graça. Por isso eu, dentro desse raciocínio, não queria que o dinheiro fosse devolvido, pois pareceria que a vontade de Deus seria anulada. O pagamento foi feito de forma irreversível. Quem aceitar esta vontade de Deus e seus propósitos, fica de imediato harmonizado, dando glórias ao Senhor por Sua sabedoria ao nosso favor. Pois este benefício que o Pai traz para mim, de eu não caminhar sozinho por estradas tão estreitas, pedregosas e espinhosas, valeria bem mais dos frutos do meu esforço material. Mas, para quem não compreende essa estratégia divina ou não aceita por mexer na zona de conforto material ou zelo orgulhoso do ego, fica em débito com o Senhor, expresso na culpa da consciência.
Este raciocínio significa a mensagem que recebi do Pai. Explica que os talentos que Ele nos oferta para evoluir no mundo material, deve estar sempre à serviço das exigências espirituais. Quem não se enquadra neste perfil, sofrerá as consequências dos seus desvios equivocados até encontrar uma forma de retorno ao caminho do Pai. Enquanto isso, a consciência, onde está a lei de Deus, um dia despertará para a harmonia com o Pai, onde nenhuma dor ou frustração, trará sofrimento para a alma.
Sim, Pai, mais uma vez estou aqui ao seu colo, ao seu ouvido, colocando minhas queixas e lamentações, neste mês de agosto, considerado o mês do desgosto. Desgosto comigo mesmo, desgosto que cobre a minha alma...
O Mestre que Tu me enviou e a todos os meus irmãos, Jesus, aquele que conseguiu alcançar o nível de Cristo, está decepcionado comigo. Ele me observa com olhar compassivo, mostrando suas mãos perfuradas pela nossa brutalidade e ignorância e o seu coração inflamado, em fogueira radiante, onde todo o egoísmo do seu corpo está sendo consumido pelas labaredas da fé e sintonia conTigo.
Enquanto eu, Pai, pobre de mim. Por mais que estude, que tente manter o padrão que o Cristo ensina, que seja até admirado por quem não me conhece na profundidade, a consciência me acusa de fraco, de covarde, de preguiçoso...
Sei o que Ele espera de mim, Pai, assim como Tú. Que eu siga o padrão que Ele ensinou. Sei que Ele está de braços abertos, de mãos estendidas, de coração transparente, me olhando, compreensivelmente, como talvez tivesse olhado há dois mil anos o moço rico, que perdeu a oportunidade de segui-Lo.
Sei que o Cristo se aproximou tanto de Ti, Pai, que se confunde com a Tua figura, com a Tua essência. Sei que todos nós fomos criados para aprender a entrar neste redil da divina existência. Mas por que alguns avançam tanto, enquanto outros como eu, patino neste charco de ilusões materiais que nada acrescenta as necessidades do meu espírito.
Sou ainda fustigado pela ignorância, pela preguiça, pela covardia de mudar meu padrão comportamental... ainda me arrasto pelo chão da matéria como um verme, sem condições de manter a cabeça no alto. A consciência me aponta o caminho do amor incondicional, mas a vontade não obedece ao meu livre arbítrio em todos os sentidos, com fé suficiente para fazer uma fogueira no meu coração com os desejos egoísticos que são uma constante. Termino enveredado emocionalmente pelos caminhos largos do mundo material. Por mais que eu ore diariamente pedindo sabedoria, coragem e inteligência rápida, vejo o tempo passar sem alcançar essa graça.
Esta é uma reflexão abrangente que faço da minha vida. Quando adotei o paradigma de vida, reconhecendo a presença forte de Deus em minha vida, e tentando fazer a vontade dEle e não à minha, uma serie de dificuldades surgiram, principalmente no campo afetivo.
Fui abandonado pela primeira esposa pois adotei o paradigma espiritual com base no amor incondicional, que não coloca ninguém em exclusividade com relação ao amor afetivo, sensual ou sexual, desde que haja interesse dos dois e ética dentro da comunidade.
Sinto-me só nessa caminhada material, mas com muita fé em Deus e no que Ele coloca em minha mente. No entanto as pessoas próximas de mim sintonizam mais com os seus sentimentos e emoções que caminham em outra direção.
Sei que é uma situação delicada, pois do mesmo jeito que eu tenho minhas opiniões e paradigmas, cada pessoa deve ter as suas. Acontece que quando se convive com outra pessoa, se existe uma sintonia de caminhadas é muito mais fácil. Como corrigir essas distorções? Acredito que a saída está na própria Bíblia, quando diz que o homem e a mulher se tornam uma só carne no matrimônio e que o homem é o cabeça do casal. Não quer dizer que a Bíblia seja machista, mas que deve ter um só direcionamento para o casal. Se o homem pensa de uma forma e a mulher de outro, haverá um distanciamento, um caminhar paralelo ou mesmo divergente.
Isso acontece agora com minha atual companheira. Ela tenta suportar a minha forma de amar sem exclusividade, é uma forma de se manter perto de mim, pois senão já teria seguido outro caminho, à procura de uma pessoa que pensasse da mesma forma que ela. Porém mantém outros comportamentos que se distanciam de mim. Lembro que no governo passado, de esquerda, de orientação comunista, que os grupos viviam bloqueando as estradas, queimando pneus, e certa vez corri risco de vida ao desviar de um desses bloqueios por ruas esburacadas e exposto à marginalidade. Ainda tive de ouvir dela a defesa desses ativistas. Reagi de forma contundente quanto ao modo de pensar, pois eu corria risco em ir ao trabalho atender meus pacientes e trazer dinheiro para casa, enquanto ela, sem sair de casa, defendia esse tipo de ato.
Agora, da mesma forma. Percebi a dimensão do retorno no trabalho bem feito com a Polishop e ela, com todos as circunstâncias que a levam para me ajudar com esse trabalho, se mantém afastada por não se sentir bem fazendo esse serviço.
Não posso deixar de fazer aquilo que acho correto e que foi uma alternativa que Deus colocou ao meu lado, só por causa da opinião negativa de quem está comigo. Certamente acontecerá um distanciamento, eu irei encontrar alguém que sintonize comigo neste caminho, mas por enquanto continuo sozinho.
Sei que o Pai não deseja que nós caminhemos pelo mundo sozinhos, tanto é assim que o Mestre mandou seus discípulos irem pelo mundo, não sozinhos, mas de dois em dois.
Enquanto o Pai decide quem irá me acompanhar neste caminho, neste trabalho, eu continuarei sozinho, sabendo que isso é a vontade dEle. Sozinho nos caminhos do Senhor.
Uma ideia muito comum que se tem do mundo espiritual. Quem não se comporta coerentemente com Deus, ao voltar para o mundo espiritual irá ficar no inferno, talvez eternamente.
A doutrina espírita tem outra visão deste problema, não é uma situação geograficamente delimitada no mundo espiritual. Jean Paul-Sartre, filósofo francês do Existencialismo, dizia que “o inferno são os outros”. Essa é a ideia de quase todas as pessoas do mundo, localizar o inferno nas outras pessoas. Parece certo ao observamos as maldades que a maioria dos outros fazem.
O inferno está sempre dentro de nós. Podemos ser o inferno ou o céu. Depende de nossa decisão. O céu ou o inferno não é um lugar, nós temos que cria-lo. É um estado psicológico. Quando entendemos que somos nós os criadores de tal lugar, vem uma grande situação de liberdade. Não é o outro que seja responsável, que crie o inferno nele, que crie amarguras ou infelicidade e faça com que ardemos dentro dele. Dos dois jeitos, inferno ou céu, sempre seremos dependentes dos outros, e ninguém gosta de ser dependente, a não ser que seja portador de algum transtorno mental.
O recente fato do estelionato que sofri de forma indireta, pois foi outra pessoa que foi vitimada com consequências sobre mim, traz bom exemplo. Enquanto as pessoas direta ou indiretamente envolvidas estavam desesperadas com o fato, eu mantinha a calma, tranquilidade, procurando saber o que Deus queria que acontecesse. Não descobri de imediato, mas lentamente as intuições foram surgindo com a carga de harmonização característica da ação divina. Se fosse uma ação maléfica, traria desarmonia à minha consciência. Enquanto as pessoas ao redor focavam na ação do mal e seus efeitos deletérios, eu focava na permissão de Deus e procurava entender o que Ele queria alcançar com Sua sabedoria. Enquanto eu via que o inferno que os outros estavam gerando em suas consciências traziam forte desarmonia e sofrimento emocional, eu mantinha a serenidade, um estado mais próximo do céu, apesar de toda tempestade ao redor. Procurava tomar algumas providências ao meu alcance para eliminar ou atenuar o problema, mas sabendo que qualquer que fosse o resultado, a vontade de Deus estaria operando através da atitude de cada um, com a sintonia com o mundo material ou espiritual.
Fiz uma reunião com as pessoas mais próximas e coloquei como estava funcionando a vontade de Deus, que envolvia todos nós, do meu ponto de vista. Porém, o pensamento majoritário esta focado na ação do mal, não conseguiam ver acima do malefício estava o benefício que Deus queria que fosse alcançado. Mesmo que as pessoas não percebessem de imediato o objetivo divino. Talvez esse fato, essa reunião, seja motivo para no futuro entendermos onde Deus queria que chegássemos.
Posso estar errado nestas considerações, mas acontece que o resultado de harmonia que essa explicação traz à minha consciência é sinal que Deus é quem está no comando, pelo menos da minha vida.
Esta frase, “ser ou não ser, eis a questão” foi escrita por William Shakespeare, na tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca, Ato III, Cena I. tem uma profunda filosofia, sendo uma das mais famosas frases da literatura mundial.
Ser ou não ser é exatamente isso: existir ou não existir, viver ou morrer. “Será mais nobre sofrer as intempéries da vida sem contestações ou insurgir-nos contra o mar de provocações e em luta pôr lhes um fim? Morrer, dormir”.
A vida é cheia de tormentos e sofrimentos, e a dúvida de Hamlet consiste em aceitar a existência com sua dor inerente ou acabar com a vida. Se a vida é um constante sofrimento, a morte parece ser a solução, porém a incerteza da morte supera os sofrimentos da vida. A consciência da existência é o que acovarda o pensamento suicida, pois diante dela se detém o medo do que possa existir após a morte. O dilema de Hamlet é agravado pela possibilidade de sofrer eternas punições por ser um suicida.
"Ser ou não ser" é sobre agir, tomar a ação e se posicionar ou não diante dos acontecimentos. No filme “Hamlet – Laurence Olivier (1948)” encontrado no Youtube, encontramos um trecho bem significativo:
Ocorre muitas vezes que certos homens, por um vício peculiar à sua natureza, por algum excesso do seu caráter, que derruba os limites e muros da razão ou por algum hábito arraigado em excesso, que esses homens que arrastam, como digo, o estigma de um defeito, mesmo as suas virtudes, puras como a graça, se corrompem perante os olhos do mundo por esse único defeito. Esta é a tragédia de um homem que foi incapaz de tomar uma decisão.
Porém, verificando a existência do mundo espiritual que a Tragédia de Shakespeare traz, o não ser é o único jeito de ser. Quando conseguimos eliminar o ego nos tornamos vastos e podemos experimentar a vida plena sem as exigências materiais.
O problema é que somos condicionados a obedecer aos interesses do ego que se projeta no campo mental, uma coisa minúscula, um pequeno microcomputador dos interesses corporais. Assim, nos tornamos por demais apegados ao corpo, identificados excessivamente com ele. É correto reconhecer a importância do ego como um biocomputador, um mecanismo sutil e delicado, mas não identificado com ele. É como se um motorista fosse identificado com o seu carro. Claro que ele está no carro, dentro do carro, mas não é o carro. É isto que fazemos, nos identificamos com o mecanismo do ego no qual vivemos. Passamos a ser o corpo, identificados com suas características: branco, preto, rico, pobre, etc.
Importante ficar sempre lembrando que somos na essência a consciência, o Espírito, uma percepção, uma testemunha na qual o ego se dissolve. Isso é a maior das revoluções. De repente somos transportados de um mundo pequeno e feio no qual vive Hamlet, para o vasto e eterno mundo espiritual, que fazemos a sua beleza com nossos atos morais dentro da materialidade. Saímos da morte do “ser”, do ego, para a imortalidade do “não ser”, do espírito.