Li uma história que não sei bem citar aonde. Falava de uma pessoa que tinha um amigo e se desenvolveram, cada um por seu lado. Certa vez o amigo que teve um bom desenvolvimento... Ah! Lembrei agora, vou atrás do livro e transcrever a história, fica mais fidedigno o que quero considerar.
Encontrei no livro PONTOS E CONTOS, psicografia de Chico Xavier pelo espírito Irmão X no capítulo 40, “Olá, meu irmão!”. Dizia assim literalmente:
A disposição amiga – acentuava Cipriano Neto – é o verdadeiro tônico espiritual. Não raro, envenenamos o coração, à força de insistir na máscara sombria. Má catadura é moléstia perigosa, porquanto as enfermidades não se circunscrevem ao corpo físico. Quantos negócios de muletas, quantas atividades nobres interrompidas, em virtude do mau humor dos responsáveis? Claro que ninguém se deixe absorver pelos malandros de esquina, mas o respeito e a afabilidade para com as criaturas honestas, seja onde for, constituem alguma coisa de sagrado, que não esqueceremos sem ferir a nós mesmos.
À frente da pequena assembleia, toda ouvidos, Cipriano, com a graça de sua privilegiada inteligência, continuou após leve pausa:
- Na terra o preconceito fala muito alto, abafando vozes sublimes da realidade superior. Nesse capítulo, tenho a minha experiência pessoal bastante significativa.
Meu amigo calou-se, por alguns momentos, vagueou o olhar muito lúcido, através do horizonte longínquo, como a vascular o passado e prosseguiu:
- É quase inacreditável, mas o meu fracasso em Espiritismo não teve outra causa. Não ignoram vocês que meu coração de pai, dilacerado pela morte do filho querido, fora convocado à Doutrina dos Espíritos, ansioso de esclarecimento e consolação. Banhado de conforto sublime, senti que minhas lágrimas de desespero se transformaram em orvalho de agradecimento à bondade de Deus. Meu filho não morrera. Mais vivo que nunca, endereçava-me carinhosas palavras de amor. Identificara-se de mil modos. Não havia lugar à dúvida. Inclinei-me, então, à Doutrina renovadora. Saciado pela água viva de santas consolações, não sabia como agradecer à fonte. Foi aí que recordei as minhas possibilidades intelectuais. Não seria justo servir ao Espiritismo, através da palavra ou da pena? Poderia escrever para os jornais ou falar em público. Profundamente reconhecido à nova fé, atendi a primeira sugestão de um amigo e dispus-me a fazer uma conferência. Anunciou-se o feito e, no dia aprazado, compacta assistência esperou-me a confissão. Seduzido pela beleza do Espiritismo evangélico, discorri longamente sobre a caridade. Aplausos, abraços, sorrisos e felicitações. No círculo de meus companheiros de literatura, porém, o assunto fizera-se obrigatório. Voltando à avenida, no dia imediato ao acontecimento, meu esforço foi árduo para convencer os confrades das Letras de que não me achava louco. Infelizmente, porém, minha decisão não se filiava senão à vaidade. Pronunciara a conferência como se o Espiritismo necessitasse de mim. Admitia, no fundo, que minha presença honrara, sobremaneira, o auditório, e que a Codificação Kardequiana em mim encontrara prestigioso protetor. Desse modo, alardeava suma importância em minhas palestras novas. Citava a Antiguidade clássica, recorria aos grandes filósofos, mencionava cientistas modernos. Quando nos encontrávamos, meus colegas e eu, no ápice das discussões preciosas, eis que surge o Elpídio, velho conhecido meu e antigo tintureiro em Jacarepaguá. Sapatos rotos, calça remendada, cabelos despenteados, rosto suarento, abeirou-se de mim e estendeu-me a destra, exclamando alegre:
“Olá, meu irmão! Meus parabéns!... Fiquei muito satisfeito com a sua conferência!
“Entreolharam-se os meus amigos, admirados.
“E confesso que respondi a saudação efusiva, secamente, meneando levemente a cabeça e sentindo-me deveras humilhado.
“Em vista do meu silêncio, o tintureiro despediu-se, mostrando enorme desapontamento.
“É de sua família?’ – indagou um companheiro mais irônico.
“Estes senhores espiritistas são os campeões da ingenuidade!’ – exclamou outro circunstante.
“Enraiveci-me. Não era desaforo semelhante homem do povo chamar-me de “irmão”, ali, em plena avenida, diante dos colegas de tertúlias acadêmicas? Estaria, então, obrigado a relacionar-me com toda espécie de vagabundos? Não seria aquilo irmanar-me a rebotalhos de gente, na via pública?
“O incidente criou em mim vasto complexo de inferioridade.
“Cegavam-me, ainda, velhos preconceitos sociais e a ironia dos companheiros calou-me fundo, no espírito. A ausência de afabilidade e a incompreensão grosseira dominaram-me por completo. O fermento da negação trabalhou-me o íntimo, levedando a massa de minhas disposições mentais. Resultado? Voltei a aspereza antiga e, se cuidava de Doutrina, confinava-me a reduzido círculo doméstico. Não estimava a companhia ou a intimidade daqueles que considerava inferiores. Os anos, todavia, correm metodicamente, alheios à nossa vaidade e ignorância, e impuseram-me a restituição do organismo cansado ao seio acolhedor da terra. Sabem vocês, por experiência própria, o que nos acontece a essa altura da existência humana. Gritos estentóricos de familiares, pavor de afeiçoados, ataúde a recender aromas de flores das convenções sociais. Em meio da perturbação geral, senti que sono brando se apoderava de mim. Nunca pude saber quantos dias gastei no repouso compulsório. Despertando, porém, debalde clamei por meu filho bem-amado. Sabia perfeitamente que abandonara a esfera carnal e ansiava por reencontrar-lhe o carinho. Deixei a residência antiga, ferido de amargosas preocupações. Atravessei ruas e praças, de alma opressa. Atingi a avenida, onde me dava ao luxo de palestrar sobre Ciência e Literatura. E ali mesmo, junto ao aristocrático Café, divisei alguém que não me era estranho às relações individuais. Não tive dificuldade no reconhecimento. Era o Elpídio, integralmente transformado, evidenciando nobre posição espiritual, trocando ideias com outras entidades da vida superior. Não mais os sapatos velhos, nem o rosto suarento, mas singular aprumo, aliado a expressão simpática e bela, cheia de bondade e compreensão.
“Aproximei-me envergonhado. Quis dizer qualquer coisa que me revelasse a angústia, mas, obedecendo a impulso que eu jamais soube explicar, apenas pude repetir as antigas palavras dele:
“Olá, meu irmão! Meus parabéns!’
“Longe, todavia, de imitar-me o gesto grosseiro e tolo de outro tempo, o generoso tintureiro de Jacarepaguá abriu-me os braços, contente, e exclamou com sincera alegria:
“Ó meu amigo, que satisfação! Venha daí, vou conduzi-lo ao seu filho!
“Aquela bondade espontânea, aquele fraternal esquecimento de minha falta eram por demais eloquentes e não pude evitar as lágrimas copiosas!...”
Nossa pequena assembleia de desencarnados achava-se igualmente comovida. Cipriano calou-se, enxugou os olhos úmidos e terminou:
- A experiência parece demasiadamente humilde; entretanto, para mim, representou lição das mais expressivas. Através dela fiquei sabendo que a afabilidade é mais que um dever social, é alguma coisa de Deus que não subtrairemos ao próximo, sem prejudicar a nós mesmos.
Parece que a espiritualidade superior sonda os nossos corações e observa que tem a intenção de melhorar a cada dia. Então apresenta lições através de vários canais que impressionam a nossa sensibilidade e estimulam a nossa razão no sentido de praticar aquilo que é ensinado. Há muito eu tinha parado a leitura desse livro exatamente nesse capítulo. Por algum tipo de intuição eu o encontrei e terminei de ler o capítulo que havia começado. Achei correta a lição da afabilidade e achei que não tinha dificuldade nessa área. Mas fui colocado à prova.
À noite quando voltava para casa, parei na sorveteria para comprar um depósito com 4 bolas, como muitas vezes faço. Estava debruçado sobre o balcão escolhendo os sabores, quando percebo atrás de mim uma voz tímida. Volto o olhar e percebo um velho conhecido meu que tentara parar de usar drogas, mas sofreu uma recaída e não mais se recuperou. Vive pelas ruas e agora estava ali na minha frente: magro, barbudo, sujo... estendeu a destra para mim e me cumprimentou com palavras que não consegui guardar. Respondi ao gesto e apertei a sua mão, mas com a mesma frieza que Cipriano relatou com relação ao tintureiro de Jacarepaguá. Dei a entender que ele estava perturbando a escolha dos meus sorvetes. O empregado da sorveteria fez sinais com rispidez para ele se retirar, que não perturbasse os fregueses. Ele olhava para mim como se quisesse um amparo. Procurei, felizmente, ser solidário e não me associar ao gesto de exclusão. Olhei com afeto para ele como forma de mostrar ao empregado que ele não estava me perturbando. Mas por dentro de mim se levantavam diversas críticas que me mantinham afastado. “Ele estava ali querendo dinheiro e certamente para usar drogas” pensava assim, se eu ceder e lhe der qualquer coisa, vai ser para o prejuízo dele. Dei as costas a ele para terminar de escolher os meus sorvetes. Estava decidido dar qualquer coisa para ele, mesmo que ele desviasse para o uso de drogas, seria agora responsabilidade dele, não minha. Quando recebi o sorvete e voltei para sair e falar com ele, não o encontrei mais. Eu não tinha demorado mais do que um minuto para receber o sorvete e voltar para falar com ele. Não consegui entender como ele desapareceu tão rápido. Se eu não tivesse apertado a sua mão poderia pensar que foi um fantasma.
Fui para casa meditando no fato e fiz a ligação com essa história relatada pelo Irmão X, por isso fiz questão de reproduzi-la fielmente. Após a leitura eu tinha plena convicção que a afabilidade não era problema para eu estudar para aperfeiçoar minha evolução espiritual. De imediato a espiritualidade que sonda o meu coração, quis verificar se isso que eu achava que tinha tanta certeza, de ser afável com qualquer pessoa, era real. Intuiu para que esse velho conhecido aparecesse na sorveteria com as mesmas características do tintureiro de Jacarepaguá. Não passei no teste, apesar de ter me saído um pouco melhor do que o Cipriano. Eu reconheci de imediato a minha falha, de não ter considerado o próximo que passa dificuldades como irmão. De não ter tido a afabilidade que ele esperava. Sei que naquele momento que subtrai a afabilidade, um dom de Deus que devo dividir com o próximo, eu prejudiquei a mim mesmo!
Mais um motivo para que eu corrija meu excesso de otimismo em me considerar muito bom na aplicação de diversas virtudes, pois na hora de ser testado eu não me saio à contento!
Sabedoria é o meu mais íntimo desejo frente ao Pai, associado a energia e determinação para vencer a preguiça e a gula, principais adversários do meu íntimo.
Na Bíblia encontrei no Livro da Sabedoria 1: 1-5 o seguinte texto:
1 Amai a justiça, vós que governais a terra, tende para com o Senhor sentimentos perfeitos, e procurai-o na simplicidade do coração,
2 porque Ele é encontrado pelos que não o tentam, e se revela aos que não lhe recusam sua confiança;
3 com efeito, os pensamentos tortuosos se afastam de Deus, e o seu poder, posto à prova, triunfa dos insensatos.
4 A sabedoria não entrará na alma perversa, nem habitará no corpo sujeito ao pecado;
5 O Espírito Santo educador (das almas) fugirá da perfídia, afastar-se-á dos pensamentos insensatos, e a iniquidade que sobrevém o repelirá.
Sei que nós, os humanos, fomos preparados por Deus para governar a terra, no sentido de usar a nossa inteligência privilegiada para levar a vontade de Deus em todos os lugares. Por mais simples que sejamos podemos exercer uma fatia desse governo.
Sei que é difícil fazer uma auto-avaliação justa dos meus sentimentos quanto à sua perfeição, sempre posso minimizar ou aumentar qualquer aspecto do meu interesse mundano, egóico. Mas sinto que desenvolvo pelo menos a intenção de aperfeiçoar os meus sentimentos para com todos e principalmente para o Senhor, meu Deus, que é representado no todo. Essa orientação de procurá-Lo na simplicidade do coração vai ser muito útil prá mim, pois direcionará a minha consciência no ato de orar, quando muitas vezes não consigo encontrar palavras para falar com “alguém” como o Pai que parece estar localizado no confins do Universo.
Não procuro tentar Deus de nenhuma forma, procuro sempre ficar submetido à Sua vontade, mesmo que tenha dúvidas muitas vezes de qual seja essa vontade. Mas é uma dúvida que a cada dia vai se dissipando e fico com a convicção do que Deus deseja para mim, para o cumprimento de um trabalho que é de Seu interesse na organização e harmonização de todos os seus filhos. Tenho plena confiança nEle e não recuso Sua confiança, pelo contrário, a ela imploro colocando meu coração à Sua sondagem.
Meus pensamentos podem ser tortuosos no momento da dúvida, quando imagino que os meus interesses egoístas podem estar se sobrepondo à vontade de Deus. Por isso desejo tanto a sabedoria, para não correr o risco de desviar do meu caminho por ignorância e não por maldade.
Sinto que a minha alma não é perversa, não procura fazer o mal, as vezes de forma instintiva quer se rebelar e atingir com violência algum mal que foi feito por outros. Procuro domesticar essas emoções para que não contaminem a minha alma e deixar o meu corpo livre do pecado, e assim me habilitar para receber a sabedoria que o Pai considerar necessária para mim.
Sei que o Espírito Santo está sempre vigilante quanto aos pensamentos que posso alimentar; não posso evitar que chegue a minha mente algum pensamento pérfido, mas posso de imediato o desconsiderar e passar o foco de minha atenção para outra situação, para não ser caracterizado como insensato e não ficar exposto à iniquidade.
Com essas considerações alicerçadas no Livro Sagrado, eu acredito que esteja no bom caminho.
O Baghavad Gita diz que a caridade é própria dos pais de família. Que os pais de família devem subsistir por meio de métodos honestos e aplicar 50% de sua renda em propagar a consciência de Krsna por todo o mundo. Assim o pai de família deve fazer caridade a sociedades institucionais que desenvolvem esse tipo de atividade. A caridade deve ser dada a pessoa certa. Há diferentes tipos de caridade, no modo da bondade, paixão e ignorância. A caridade no modo da bondade é recomendada pelas escrituras, mas não se recomenda a caridade nos modos da paixão e da ignorância, que é um simples desperdício de dinheiro. Deve-se fazer a caridade apenas para propagar a consciência de Deus por todo o mundo. Esta caridade está no modo da bondade.
Essa lição do Baghavad Gita me traz um alívio à consciência, pois eu quero ser caridoso, mas resisto fortemente a dar uma moeda aquelas pessoas que ficam nos cruzamentos, geralmente oferecendo serviços de limpar para-brisas. Penso que a moeda por menor que seja, pode ser desviada para uso de drogas ou para alguém inescrupuloso que operaciona à distância os mais fracos numa forma de escravidão. Então, por mais que eu decida racionalmente que devo ser caridoso, não importando qual seja o destino que seja dado àquela moeda, algo mais forte me trava e não consigo fazer esse tipo de caridade. O Bhagavad Gita dá essa orientação que alivia a minha consciência, fico coerente com a ajuda que já presto às instituições. Devo ter preocupação sim, com essas pessoas dos semáforos, encontrar uma forma de ajudá-los sem estar ajudando aos seus vícios ou a pretensos exploradores. Uma instituição deve assumir essa responsabilidade e ver onde cabe a caridade no modo da bondade com essas pessoas.
Mas tudo ainda não é tão simples, a caridade mesmo no modo da bondade é um ato difícil, pois implica em tirar algo que é nosso para dar ao outro sem nenhum tipo de recompensa material, quando é feito no modo da bondade. É semelhante a aplicação do Amor Incondicional. No exato momento que estava digitando este texto, recebo uma ligação da ex-mulher do meu primo, que sempre procura minha ajuda quando se acha necessitada. Ela mesma realça a minha bondade em tanto lhe ajudar sem eu ter com ela nenhum parentesco, não esperar dela nenhuma recompensa material pela ajuda. De início sobe à consciência certa resistência e tendência em cortar esse tipo de ajuda que algumas pessoas consideram como exploração. Mas está registrada em minha consciência uma ajuda valiosa que o seu ex-marido, meu primo, fez para mim, conseguindo me matricular numa escola pública para que eu terminasse o segundo grau e me habilitasse para a Universidade. Nem o meu próprio irmão fez qualquer gesto mais eficaz para me ajudar. Foi somente ele que fez de tudo para me ajudar, como era o seu jeito com todas as pessoas. Mas comigo ficou gravado no mármore da minha memória esse benefício e que até hoje não se apaga. Ele morreu precocemente devido o alcoolismo, mas o efeito de sua boa ação continua reverberando em meu coração. Qualquer parente seu ou pessoa amiga que o ajudou enquanto vivo, eu tenho uma consideração especial e a caridade não se deixa intimidar pelo possível mau uso que possa ser feita com minha ajuda. Considero ainda que esteja atuando no modo da bondade.
Na continuidade do texto do dia 10, “Louvores do esposo”, encontrei no Cântico dos cânticos 7: 11-14 a resposta da esposa:
11 Eu sou para o meu amado o objeto dos seus desejos.
12 Vem, meu bem-amado, saiamos ao campo, passemos a noite nos pomares;
13 Pela manhã iremos às vinhas, para ver se a vinha lançou rebentos, se as suas flores se abrem, se as romãzeiras estão em flor. Ali te darei as minhas carícias.
14 As mandrágoras exalam o seu perfume; temos a nossa porta frutos excelentes, novos e velhos que guardei para ti, meu bem amado.
Aqui também é feita a mesma observação, que o texto ressalta apenas o amor romântico e que poderei trazer ao destaque o Amor Incondicional da seguinte forma:
15 Eu sou para o meu amado a fortaleza dos seus pensamentos, o estímulo dos seus ideais.
16 Saímos pela estrada que o Pai determinou para ele e sinto no meu coração ser a companheira fiel para garantir a retidão do caminho, mesmo que minhas tendências individuais queiram atrapalhar.
17 Serei capaz de acolher perto de mim todos o amores que o Pai dispuser para tecermos a rede de fraternidade para a composição de seu Reino.
Podemos ver que nessa complementação a mulher tem um papel de apoio aos pensamentos e ideais do companheiro. Não quero dar uma conotação machista a este texto, mas acredito que na composição do casal o homem deva ter a prioridade na execução dos seus pensamentos. A mulher que se aproximar do homem deverá analisar se esses pensamentos e ações dele são coerentes com sua forma de pensar, mesmo que não seja idêntico. O que não se pode admitir é que o homem tenha um propósito e a mulher tenha outro e entrem em conflito devido a isso. No atual contexto a composição do par deve obedecer a hierarquia do homem como o condutor do caminho. Isso não leva a mulher um prejuízo irreversível, pois isso se passa numa única existência. Existem diversas existências para serem cumpridas por esses espíritos e no decorrer das vidas o sexo se alterna entre um e outro. O homem de hoje será a mulher de amanhã e cada um tem a oportunidade de viverem os respectivos contextos, e aprenderem os respectivos papéis. Portanto, nesta atual vivência ser homem ou ser mulher com suas respectivas hierarquias, não leva prejuízo nem um nem ao outro, pois tudo no final será devidamente compensado. Esta é a beleza da Lei de Deus! Eu já estou pronto para numa outra oportuna vivência aproveitar o papel de mulher seguindo o caminho de um companheiro ou mais que eu achar conveniente.
Huberto Rohden tinha uma preocupação toda especial em esclarecer o significado desses dois termos, crear e criar. Ele sempre gosta de fazer a seguinte advertência: “A substituição da tradicional palavra latina crear pelo neologismo moderno criar é aceitável em nível de cultura primária, porque favorece a alfabetização e dispensa esforço mental – mas não é aceitável em nível de cultura superior, porque deturpa o pensamento. Crear é a manifestação da Essência em forma de existência – criar é a transição de uma existência para outra existência. O Poder Infinito é o creador do Universo – um fazendeiro é criador de gado. Há entre os homens gênios creadores, embora não sejam talvez criadores. A conhecida Lei de Lavoisier diz que na natureza nada se crea, nada se aniquila, tudo se transforma, se grafarmos nada se crea, esta lei está certa, mas se escrevermos nada se cria, ela resulta totalmente falsa.”
Fiquei em dúvida quando ele diz que há entre os homens gênios creadores, pensava que isso fosse um atributo exclusivo de Deus. Talvez seja porque eu ainda não domino a profundidade do seu pensamento.
Ele também faz uma crítica severa à humanidade, pois a que é conhecida não é de forma alguma, feita a imagem e semelhança de Deus, a que se refere o Gênesis. A intelectualização do instinto fez do homem um monstro de ganância e agressividade, cujas garras e dentes se aperfeiçoaram em forma de metralhadoras, bombas atômicas e aviões de bombardeio; fez dele uma repugnante caricatura de sexualismo desbragado e um inferno de doenças físicas e mentais, que nenhum animal selvagem conhece. Ele observa ainda que, de longe em longe, aparece algum homem individual que lembra um reflexo da Divindade, mas esses homens são esporádicos, não representam nem sequer 1/1000% da humanidade total.
Faz em seguida uma pergunta que é um verdadeiro cheque. Devemos admitir então que as Potências Cósmicas falharam quando diziam “façamos do homem nossa imagem e semelhança”? Devemos supor que a tal serpente astuta tenha derrotado Deus? E que tenha frustrado a obra do Cristo Redentor, que parecia ter vindo para reintegrar a humanidade no seu grande destino?
Mas ele mesmo responde... Se não podemos ver no homem a coroa da creação, e se por outro lado, não podemos admitir uma falência da Divindade e do Cristo, só nos resta recorrermos a uma terceira alternativa:
“Deus creou o homem o menos possível, para que o homem possa se crear o mais possível”. Ao crear o homem, as Potências Cósmicas o dotaram de uma parcela da genialidade creadora da própria Divindade, para que ele, em virtude dessa creatividade, se pudesse fazer melhor e maior do que Deus o fez.
Nessa creação indireta se revelou o Creador maior do que em todas as suas creações diretas. Todas as creações eram boas, mas a creação do homem é muito boa.
Mas se o homem tem a intrínseca possibilidade de se fazer melhor do que o Creador o fez, possui também a possibilidade de se fazer pior do que Deus o fez. Se não houvesse duas alternativas opostas, não haveria livre arbítrio.
Uma única creatura auto-realizável reverte em maior glória do Creador do que milhões de creaturas alo-realizadas.
Assim, o plano das Potências Cósmicas não foi frustrado por um poder adverso. Esse poder adverso era necessário para que o homem fizesse de si algo maior do que dele fizera o Creador. O aparente caráter adverso da serpente era, na realidade, um fator complementar para atualizar a potencialidade creadora do homem embrionário.
Tudo isso serve para aperfeiçoar o meu pensamento, de ser uma criatura creada pelo Creador, que sou um criador na transformação da matéria prima que o Pai colocou à minha disposição. E o mais importante, que as adversidades colocadas no meu caminho servem como estímulo para eu me tornar melhor do que o Pai me creou.
Posso continuar a usar a linguagem primária, como fazia antes, mas agora sei o significado num nível de cultura superior.