Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
12/11/2018 12h09
CONFIANÇA, FÉ E CERTEZA

          Desenvolvemos nosso raciocínio dentro do mundo material, considerando tudo que nossos sentidos percebem como verdade, nunca tivemos instruções sobre o mundo espiritual, como se relaciona com o mundo material. Portanto, fica difícil, depois de adultos, acreditar num mundo que não conseguimos ver ou sentir de qualquer forma, a não ser através do relato de algumas pessoas sensíveis ou fatos que podem ser enganosos.

            Por outro lado, nossa intuição diz que existe alguma coisa além do mundo material, por isso a maioria das pessoas acredita em Deus e numa existência após a morte... não sabem bem como isso acontece...

            Para compreender essa dúvida, vamos ter que conduzir o nosso raciocínio através das orientações daquelas pessoas mais experientes que nos informam sobre o que ainda não sabemos. Dentro do conjunto dessas pessoas confiáveis, podemos destacar a pessoa de Jesus, pois assim afirmam todos que tiveram contato com ele, pessoalmente, enquanto ele estava encarnado entre nós, quanto através do que foi escrito ao seu respeito.

            Então, confiando em Jesus, desenvolveremos uma fé naquilo que ele falava e ensinava. Dizia que a morte não existia, que Ele voltaria dos mortos (do mundo espiritual) três dias após a sua morte. Se os apóstolos confiavam no Mestre, e sabiam que Ele nunca mentia ou se vangloriava de qualquer coisa, então deveriam ter fé nas suas palavras e ter certeza que isso iria acontecer. Mas o que foi que houve? Nenhum dos apóstolos, ninguém, esperava que isso fosse acontecer. Para todos foi uma surpresa quando a notícia chegou que o Mestre mais uma vez estava na Galileia se comunicando como antes fazia.

Chegou ao cúmulo do discípulo Tomé exigir colocar os dedos em suas feridas para comprovar que era Ele mesmo.

            Esse tripé de confiança, fé e certeza continua sendo útil até hoje, para quem deseja avançar em direção à purificação dos males da ignorância. O Mestre Jesus continua sendo o referencial dessas verdades espirituais que não podemos ignorar. Ele disse também que iria rogar ao Pai para mandar outro Mentor ao nosso convívio quando estivéssemos mais capazes de amar e compreender suas lições: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai para mandar outro Paráclito (que defende, guia e protege outra pessoa; intercessor, mentor, consolador) para que fique eternamente convosco. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós.” João: 15-17.

            Não quero ser como Tomé e exigir a todo momento prova material de uma certeza espiritual. Tenho Jesus Cristo como referencial de confiança, procuro evitar os erros do que escreveram sobre Ele, e acreditar sem dúvidas nas Suas palavras. Por isso, hoje tenho certeza que Ele já rogou ao Pai a vinda deste Espírito da Verdade, que já está entre nós, que se manifestou através das lições vindas do mundo espiritual e codificadas pelo mestre francês Rivail (Allan Kardec). Procuro lembrar e praticar Suas lições do Amor para me capacitar a recebe-Lo, está com Ele e viver com Ele.

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em 12/11/2018 às 12h09
 
11/11/2018 02h01
PECADO E PECADOR

             Pecado é um erro que se comete; pecador é aquele que comete o erro. Os ensinos cristãos dizem para amarmos o pecador, mas que abominemos o pecado. É uma sábia lição que se devidamente aplicada nos ajudaria bastante a atingir o ideal do Reino de Deus aqui na Terra.

            Tem um exemplo esclarecedor na doença do alcoolismo. Considerando a doença como o pecado, a pessoa embriagada estaria dominada pelo pecado. Nessas circunstâncias não podemos ter tolerância com o pecado, pois o pecador está incapacitado pelo tóxico que domina a sua mente. Porém, quando o pecador está sóbrio, a doença está adormecida, e posso falar com toda paciência, solidariedade e compreensão com os alegados problemas que justificam a queda no erro. A pessoa deve saber que tem todo o apoio enquanto está sóbrio, enquanto luta para não permitir que a doença volte a dominar a sua vida. E isso ele consegue evitando tomar o primeiro gole. Nesse caso está bem delimitado o doente/doença; pecador/pecado.

            Agora, tem outras situações que este limite não fica tão claro assim. Vejamos a depressão. A pessoa está com o psiquismo íntegro e por algum motivo se torna negativista, sem prazer, angustiada, sem ânimo para viver. Ela não tomou nenhuma iniciativa, como o alcoolista faz, para entrar no nível da doença. Nesse caso, como podemos amar o pecador/doente e abominar o pecado/doença, se eles estão intrinsecamente dentro um do outro? Posso falar com o doente, mas ele está dominado pela doença, como acontece com o alcoólico quando está intoxicado. Se o alcoólico parar de beber, em 24 horas está desintoxicado, e posso falar com ele sem o efeito da doença. Mas tal não acontece na depressão. O doente mesmo tomando remédio específico, não vai se livrar da doença com 24 horas, uma semana ou um mês.

            Como vencer os sintomas da doença sem a ajuda da medicação? O doente teria que se determinar em enfrentar o desconforto de sair da zona de conforto, do sofá, da cama, de dentro de casa. Ele vai dizer que não consegue, que a doença é muito forte. Seu psiquismo se sente derrotado, não consegue ter a esperança de melhora com ações positivas. Sente que todos seus aparelhos, físico e psíquico estão paralisados, incapazes de reagir. Nesse momento é importante que pessoas próximas atuem como terapeutas, que motivem, que levantem os doentes de suas zonas de conforto, como se fossem deficientes físicos ou psíquicos, que realmente estão nessa condição, nesse momento.

            O doente deve entender que está numa situação deficitária e impotente em resolver sozinho o seu problema, e que mesmo sentindo-se desconfortável deve se submeter a ação ativa exercida sobre si, esperando que esse tipo de movimento vença a inércia que caracteriza a doença, assim como a intoxicação caracteriza o alcoolismo. No alcoolismo, o próprio metabolismo se encarrega de devolver o doente à normalidade, mas no depressivo o metabolismo não consegue fazer isso, principalmente em curto prazo, necessita de uma ação externa, seja química ou física.

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em 11/11/2018 às 02h01
 
10/11/2018 02h01
A FORÇA DO AMOR

            Que é o amor? Uma força ou um sentimento? Um sentimento-força? Começamos a associar esse sentimento com a essência do próprio Deus, e daí concluímos que é a maior força do Universo. Força creadora, sábia, onipresente, onipotente... possuímos Sua semente dentro de nós, mas o corpo biológico é cheio de instintos egoístas que não sintonizam com o amor divino, incondicional a todos os seres, toda Natureza.

            Este é o problema humano. Nossa biologia sufoca a semente divina do amor, e quando este sentimento chega à nossa consciência, vem geralmente associado a algum tipo de contrapartida, condicionada a algum tipo de benefício, quer seja a um filho ou pais, que levam consigo nossos gens, a amigos, colegas, amantes, todos que de alguma forma pode nos trazer algum tipo de privilégio. Para o amor incondicional, poucos despertam para sua importância, pois geralmente envolve a abnegação e isso poucos estão dispostos a praticar. O mais complicado é que inteligências perversas se ocupam em escravizar multidões através de mentiras e geralmente é necessária uma intervenção divina através da justiça, que é uma das formas de amor.

            A justiça divina é o poder que impede a propagação do mal. Ela é a lei que a todos obriga, sem exceção, a encarar a consequência dos nossos atos e escolhas. Para isso acontecer, existem no mundo espiritual os Guardiões que se associam no mundo material com as pessoas de bem. São entidades capacitadas para tamanha responsabilidade que podem empunhar a espada para estabelecer a lei e a ordem, sem se deixar levar pelos impulsos de violência e desatino, tão frequente em humanos. Mesmo vivendo dúvidas, hesitações e temores, eles lutam pela segurança planetária. Impõem limites para o crime e a leviandade entre governantes e governados, e batalham pela paz.

            Sim, parece paradoxal quando dizemos “batalhar pela paz”. Então, temos que fazer guerra para conseguir a paz? Sim, as forças contrárias ao plano divino, forças que querem escravizar os seres humanos mais fragilizados, não irão deixar os seus intentos por puro convencimento em seguir as diretrizes fraternas do Criador e assim abandonar as diretrizes egoístas da perversidade, principalmente quando tem alguma forma de poder nas mãos. Por isso as pessoas de bem que compreendem as devidas estratégias do confronto entre o bem e o mal, são automaticamente convocados.

            Lembremos da II Guerra Mundial, quando as potências do Eixo, de intensões dominadoras sobre a Terra, se não fosse a formação de uma frente de batalha composta pelos Aliados, nós seríamos hoje vítimas de uma escravidão física e moral, se conseguíssemos sobreviver aos constrangimentos e trabalhos forçados.

            Os Guardiões do bem e da justiça agem como nunca nos bastidores da dimensão extrafísica. Nos porões do poder temporal, novos lances de uma batalha cósmica se desenrolam, e os amigos da humanidade não estão dispostos a deixar que o desequilíbrio prevaleça sobre as comoções sociais abrem caminho para grandes mudanças. Porém, quantos estão dispostos a colaborar?

            Os Guardiões da justiça precisam de agentes efetivos, e não apenas entre os espíritos desencarnados. É hora de os homens que se dizem adeptos de valores éticos e que proclamam condutas sérias e responsáveis se apresentarem, pois que a grande batalha se dá em todos os setores das sociedades física e extrafísica. Como em outros tempos, a besta arrasta um terço das almas com sua cauda. O falso profeta seduz a muitos com os prodígios que faz à vista dos homens e novamente se assiste ao nascimento de um anticristo, isto é, a aliança espúria dos interesses religiosos com o subterrâneo do poder político, com as práticas mais vis a troco de projeção, moedas, adeptos da tirania da moral e dos bons costumes.

            Se é verdade que a transmigração de almas está em curso e que é proclamado um novo tempo para a humanidade do planeta Terra, mais do que nunca Jesus conclama não aos religiosos, os quais tanto combateu durante sua vida, mas todos aqueles que estão dispostos a não se deixar corromper nem se levar pelas promessas fáceis. Lado a lado com os Guardiões e os emissários do Alto, o exército de Miguel movimenta-se a fim de assegurar que a Terra tenha um amanhã em que a luz não deixe de chegar a nenhum lugar, por mais remoto que possa ser, mesmo a mais longínqua das almas humanas.

            O céu está vazio. As cidades espirituais são grandes escolas que preparam mais e mais cidadãos espirituais de bem e de valor para um novo tempo. Os umbrais se esvaziam numa grande obra de reurbanização extrafísica, pois foi decretado o fim da escuridão; a ampulheta do tempo soou até para a mais alta patente dos dragões, os príncipes do mal.

            Será que temos colocado em prática nossas convicções em dias melhores? Será que estamos capacitados para surfar na força do amor, seja na vertente da misericórdia ou da justiça?  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 10/11/2018 às 02h01
 
09/11/2018 02h01
REINOS DA EXISTÊNCIA

            Há um primeiro entendimento que existem seis reinos na Natureza. E para poder compreendê-los é necessário “vê-los” como mundos não visíveis existindo simultaneamente. Os seres renascem nesses mundos, seguindo sua herança kármica e suas afinidades com os outros seres que lá vivem.

O segundo entendimento consiste em associar os seis mundos com as tendências psicológicas dominantes dos seres humanos e a diversidade das circunstâncias da sua vida.

Por fim, a um nível mais sutil ainda, podemos dizer que cada um dos nossos pensamentos e das nossas reações, pertence a um dos seis mundos.

A cosmologia budista declara que o universo atravessa continuadamente várias etapas, sendo que cada uma dessas etapas possui um ciclo de nascimento, desenvolvimento e declínio que dura bilhões de anos e, em cada etapa de nascimento e desenvolvimento existem os seis reinos.

No budismo, o termo "sutra" se refere de forma geral às escrituras canônicas que são tratadas como registros dos ensinamentos orais de Buda Gautama.

1- O Reino dos Infernos.

Esse reino é produzido pela agressividade. É um mundo de terror onde reina um sentimento de insustentável claustrofobia e onde os seres se veem uns aos outros como inimigos. Situa-se na parte inferior. É o mais baixo e desprezível reino. As descrições falam de planícies e montanhas de ferro em fogo, atravessadas por rios de metais em fusão. O calor é sufocante o céu está sempre em brasa e ali todos sofrem diversos tipos de torturas. Pelo que dizem os textos, o sofrimento desses mundos é verdadeiramente inconcebível para nós. No inferno frio, a paisagem é apenas neve, gelo e desolação. O frio é tão intenso que só se avista neve e gelo. Nesses infernos recaem os seres violentos que não aceitam a ponderação e o acordo. O fato de renascermos no inferno não é um castigo infligido por alguém, a partir do julgamento moral das nossas ações, mas uma consequência lógica de termos alimentado estados mentais e físicos agressivos e paranoicos. Segundo os sutras, esse reino provoca estados mentais de grandes e insuportáveis dores e sofrimentos. O ódio, a aversão, a culpa e o remorso são os sentimentos que habitam os seres nesse reino.

            2 - O Reino dos Espíritos famintos (fantasmas ou Espíritos Ávidos) .

Como resultado de um desejo incontrolável caímos no mundo dos espíritos famintos que são atormentados pela fome e pela sede sem jamais se sentirem satisfeitos. Tradicionalmente são representados com um estômago do tamanho de uma montanha, um pescoço da espessura de um cabelo e uma boca do tamanho do buraco de uma agulha, são assim condenados a uma fome e sede constantes. O sofrimento deste mundo é um pouco menos intenso que o dos infernos e o tempo um pouco mais curto. Apesar de ser um pouco menos desfavorável que o reino dos infernos, ainda é um estado miserável. Os sutras descrevem os habitantes neste reino, como seres que vivem em constante sofrimento. Sentem muita fome e sede, quando encontram o que comer, há uma enorme dificuldade para engolir, pois a comida passa pela garganta com muita dificuldade. Mesmo assim, a fome é tanta que eles tentam comer qualquer alimento que possam. O castigo deles é que tudo que desce por suas gargantas o faz como fogo, queima seu organismo de uma forma terrível. Por mais que comam nada os satisfazem, continuam sempre com fome e sede, procurando mais comida e bebida na tentativa de saciar uma ânsia que não tem fim.

3 - Reino animal

Sob a influência da estagnação mental, da ignorância, da inércia e da estupidez caímos nesse reino, o único dos mundos não humanos que nos é diretamente perceptível. O mundo animal é dominado pelo torpor e pela falta de iniciativa, pela ausência de sentido de humor e de inteligência criativa. Sua condição é considerada inferior por não possuírem a liberdade para decidir que tipo de comportamento deve ser adotado em cada situação específica e por terem pouca ou nenhuma capacidade para obter o mínimo de bem-estar, apesar de alguns deles, por herança kármica terem uma vida bastante tranquila.

Quanto à libertação definitiva do sofrimento, um animal não tem essa capacidade, nem possui os meios de desenvolvê-la. Os seres dos infernos, os espíritos famintos e os animais constituem os três mundos inferiores onde o sofrimento é tão intenso e tão incessante que é impossível questionar-se sobre o sentido da existência ou buscar uma via espiritual. E o pior é que nesses reinos inferiores a possibilidade de produzirem mais Karma negativo é grande, perpetuando essa condição.

4 - O Reino Humano  

Neste reino o equilíbrio entre felicidade e infelicidade é de 50%, os seres humanos sabem por intuição que por maior que seja a sua dor, sua alegria acabará chegando e, por maior que seja sua dor, a alegria acabará retornando. Os sutras distinguem quatro sofrimentos que afetam os humanos. O primeiro é o nascimento. O bebê nasce com percepções: ouve, sente e vê a luz. Embora haja cada vez menos mulheres que morrem de parto e menos crianças que morram ao nascer, não é propriamente um momento de prazer, nem para a mãe nem para a criança. O segundo grande sofrimento é a velhice. Dentes postiços, cabelos pintados, botox e silicone permitem esconder ou retardar os sintomas dessa irremediável fase da vida. Mas, apesar de podermos melhorar nossa aparência, não conseguimos impedir os sintomas da decrepitude: A memória e a visão diminuem, a paciência esgota-se, a curiosidade se apaga. Pouco a pouco o mundo nos ultrapassa, sem qualquer consideração por nossa experiência de vida, as novas gerações tomam nosso lugar, deixam de nos respeitar e nos escutar. O terceiro é a doença que ataca novos e velhos sem distinção. Ao sofrimento da doença juntam-se os inconvenientes dos tratamentos, sempre dolorosos e caros, se não tiver assistência médica então, está perdido. As deficiências causadas pela idade nos tornam dependentes de outros. O corpo humano é uma máquina complexa e altamente sofisticada. Um arranhão nos faz sofrer, uma corrente de ar nos constipa, um ínfimo mosquito pode nos matar. O quarto grande sofrimento é a morte. Mesmo se adoecermos raramente e vivermos até muito velhos não escapamos à morte. Ao morrer temos de deixar tudo aquilo que amamos. Não é fácil nem agradável, ter que partir sem poder levar nada, rumo ao desconhecido. A humana é a primeira das existências dos reinos superiores, esse nível é o único dotado das condições necessárias para o progresso espiritual. Porém, estar no reino humano não garante esse progresso. O valor da vida humana é variável e apenas uns poucos se situam no patamar possível ao desenvolvimento espiritual. Renascer como humano, é quase um milagre, por isso não podemos nos dar ao luxo de não praticarmos. Dizem os sutras que a vida humana é considerada preciosa, quando não está sob o domínio das ações, atos e pensamentos.

5 - O Reino dos Semideuses (divindades humildes, titãs, deuses invejosos)

O resultado de ações positivas realizadas com alguma inveja ou com um sentido de competição, condiciona o “nascer” no mundo dos semideuses. É relatado que no mundo dos semideuses, existe uma árvore gigantesca cujos frutos só podem ser colhidos pelos deuses, que habitam um reino acima. Achando que os frutos da árvore deveriam ser seus, os semideuses sentem inveja dos deuses. Infelizmente para eles, o karma dos deuses é superior e os semideuses sofrem por não poderem se satisfazer com os frutos da tal árvore. Os semideuses vivem num estado muito alegre e feliz, mas como ainda possuem o sentimento da inveja e da competição não se espiritualizam porque estão imersos em facilidades e felicidades, deste modo, esgotado suas reservas kármicas renascem em outro reino – dizem os sutras.

6 - O Reino Divino.

Pouquíssimas ações negativas, muitas ações positivas realizadas com alguma noção de individualidade e superioridade condiciona o renascimento no mundo dos deuses. Ao falarmos de deuses, estamos falando de seres que possuem uma condição mais elevada e mais feliz, sem que esta denominação tenha qualquer conotação transcendente. Não se trata de seres a quem nos dirigimos para obter favores e muito menos a libertação do sofrimento, mas seres muito favorecidos. Em vez de viverem em ambientes horríveis e sofrerem horrores, vivem num lugar lindo do qual não têm a menor vontade de sair. Na verdade, nem sequer se apercebem do quanto são livres, tão absorvidos estão na satisfação dos prazeres mais sofisticados. Os sutras descrevem três tipos de níveis ou residências divinas: o do desejo, o da forma e o do sem forma. Os deuses no nível do desejo têm vida muito longa e uma inconcebível capacidade de satisfação dos prazeres dos sentidos. Os textos descrevem-nos como sendo belos com perfumados corpos luminosos. Seu único sofrimento é no momento da dissolução, pois pouco antes de morrerem aparecem sinais precursores do seu declínio, sendo então rejeitados pelos outros deuses. Como têm clarividência, veem o local onde vão renascer e, quando se trata de um mundo inferior, sofrem terrivelmente com a sorte que os espera. Os deuses do nível da forma e sem forma são seres que, como resultado de sua herança kármica, advinda de práticas espirituais avançadas, nascem em níveis de existência superiores e usufruem de experiências muito profundas, durante um período de tempo muito longo. Não se trata do reino de Deus, descrito em outras religiões. No mundo sutil, eles ajudam os seres humanos em dificuldades, mas são benefícios condicionados, e não do tipo que produz libertação. Esse reino é o que os seres humanos buscam em seus sonhos. Vivemos almejando, trabalhando ou sonhando chegar lá. Segundo os textos, karma extremamente positivo, combinado com quase nenhum karma negativo, condiciona o nascimento nesse reino. É importante ressaltar que todos os reinos, desde os mais miseráveis até os mais felizes, estão sob o controle do desejo. Os seres no nível sem forma não experimentam nenhum sofrimento e não possuem desejos. Existem em forma sutil e suas mentes tem acesso a absorção do espaço infinito, absorção da consciência infinita e absorção do nada, mas tendo esgotado seu karma positivo, podem renascer em outros níveis. Para que não haja mais renascimento, devem se transformar na sabedoria primordial, pois ainda se encontram presos a roda do sansara, como não tem o poder de permanecerem nesse estado “ad eternun” ainda sofrem com isso.

Considerações: Se levarmos em conta a afirmação constantemente repetida de que podemos experienciar os seis reinos de existência em um único dia e, que em apenas 24 horas temos a capacidade de migrar pelos 6 reinos e sofrer os seus efeitos. podemos intuir que o sofrimento provém não da realidade objetiva desses reinos, mas sim, do fato de conferimos realidade a eles. Por outro lado, talvez não fosse contraditório dizer que a experiência sentida em cada reino “é” real, e ao mesmo tempo “não é”. Ora! Se o reino humano e o animal são reais, então todos os demais reinos também o são, porque os seres que neles habitam os experimentam como reais. Um fácil exemplo é perguntar a um presidiário como é a sua vida, ele certamente vai responder que é um inferno. Creio que a dificuldade do leigo em aceitar a existência de outros “mundos”, deriva do fato de seus sentidos não captarem todas as imagens observadas por sua retina, mas apenas aquilo que é capaz de identificar em função dos hábitos adquirido.

Uma revista informava que uma equipe de antropólogos quando estudava as reações de uma tribo primitiva afastada da civilização, projetaram um filme onde apareciam cidades, carros, aviões, relógios, elevadores, arranha-céus e homens indo para o trabalho. Os espectadores não tiveram qualquer reação até o momento em que, durante uma fração de segundos, o aparecimento de uma galinha na tela provocou ruidosas exclamações. Após a projeção os antropólogos recolheram as impressões: a única imagem que os indígenas tinham retido era a da galinha. Por conseguinte, mesmo que fôssemos confrontados (e somos) com formas de vida de outros reinos ou níveis de existência, não as reconheceríamos, porque vemos apenas aquilo que a nossa estrutura mental permite, estrutura mental essa, condicionada pelo reino que estiver habitando.

Falando de uma forma puramente qualitativa, cada aflição mental ou sabedoria propicia a queda ou a ascensão a um dos níveis superiores ou inferiores. Ou seja, o ódio leva ao inferno. A ganância aos fantasmas famintos. A estupidez ao animal. O apego ao humano. A inveja aos semideuses. O orgulho aos estados divinos.

Agora, quantitativamente, estes diferentes estados resultam do Karma. Karma negativo joga o sujeito no reino infernal. Karma um pouco menos negativo, no dos fantasmas famintos. Um bocadinho menos no reino animal. Se o Karma positivo está misturado com alguns aspectos negativos, caímos em um dos 3 reinos superiores e assim por diante.

Considerando todos esses argumentos e acompanhando a sua lógica, concluímos que devemos administrar bem os nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos para melhor ficarmos situados dentro desses reinos que habitam o nosso psiquismo. Quando conseguirmos direcionar nossa civilização em direção aos reinos superiores, estaremos construindo o Reino de Deus fora de nós.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 09/11/2018 às 02h01
 
08/11/2018 02h01
O CENTRO DO MUNDO

            O Axis Mundi (em latim "centro do mundo", “eixo do mundo”,  "pilar do mundo") é um símbolo ubíquo que atravessa as culturas humanas. A imagem representa um centro no qual a eternidade e a Terra encontram-se entre os quatro cantos do mundo. Neste ponto correspondências são feitas entre os reinos superiores e inferiores, conforme a mística hindu. Mensagens dos reinos inferiores podem ascender à eternidade e as bênçãos dos reinos mais elevados podem descer a níveis mais baixos e serem divulgadas a todos. É o "omphalos" (umbigo), ponto de início do mundo.

            Essa imagem toma muitas formas e pode ser feminina (um umbigo fornecendo alimento) e masculina (um falo fertilizando). Pode ter origem natural (uma montanha, uma árvore, uma videira, uma haste, uma coluna de fumaça ou fogo, uma ilha) ou ser um produto da fabricação humana (um povo, uma torre, uma escada, um mastro, uma cruz, um campanário, uma corda, um totem, um pilar, etc.).

            O mitólogo Joseph Campbell trabalha com frequência a questão do Axis Mundi em suas obras:

            “O efeito da aventura bem-sucedida do herói é a abertura e a liberação do fluxo de vida no corpo do mundo. O milagre desse fluxo pode ser representado, em termos físicos, como a circulação da substância alimentar; em termos dinâmicos, como um jorro de energia; e, espiritualmente, como manifestação da graça. Essas variedades de imagens alternam-se entre si com facilidade, representando três graus de condensação de uma mesma força vital. Uma colheita abundante é o sinal da graça de Deus; a graça de Deus é o alimento do espírito; o resplandecente raio é o precursor da chuva fertilizante e, ao mesmo tempo, manifestação da energia liberada por Deus. Graça, substância alimentar, energia: esses elementos se precipitam sobre o mundo vivo e, sempre que falham, a vida se decompõe em morte. As torrentes se precipitam a partir de uma fonte invisível. Seu ponto de entrada é o centro do círculo simbólico do universo, o Ponto Imóvel da lenda do Buda, em torno do qual, pode-se dizer, o mundo gira. Sob esse ponto, encontra-se a cabeça — suporte da terra — da serpente cósmica, o dragão, que simboliza as águas do abismo — a energia e a substância divinas, criadoras de vida, do demiurgo, o aspecto gerador do mundo do ser imortal. A árvore da vida, isto é, o próprio universo, cresce nesse ponto. Está enraizada na escuridão e sustentada por ela; o pássaro dourado do sol está empoleirado em sua copa; uma fonte, poço inexaurível, borbulha a seus pés. Pode-se utilizar também a figura de uma montanha cósmica, com a cidade dos deuses, tal como um lírio de luz, no seu topo; em suas depressões, estão as cidades.”

            De que nos vale esse conhecimento? Despertar nossa consciência para entendermos a Terra como um ser vivo e que também está disposto à evolução, carregando todos os seus seres, vivos ou não.

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em 08/11/2018 às 02h01
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