Quando o Reino de Deus estiver formatado em nosso mundo material, iremos observar que o parentesco em todos os Seus filhos se dará da seguinte forma: parente natural, judicial e potencial.
O parentesco pode ser amplo, como observamos hoje em nossas relações: pai, mãe, filho, irmão, tio, avô, avó, sobrinho, neto, etc.. As famílias serão predominantemente ampliadas com mais mulheres que homens na condição de companheiros íntimos, de acordo com as atuais estatísticas onde predominam as mulheres. Podem viver juntos, numa mesma casa, em condomínio, ou mesmo em casas separadas. O que os ligam são os afetos recíprocos. A vantagem de viverem numa só casa ou em condomínio é que as ausências serão atenuadas; a vantagem de viverem em casas separadas, é que o contexto fica mais próximo do Reino de Deus. O importante é que não existe ciúme e o Amor flui entre todos com ampla liberdade, como é de sua natureza.
A família nuclear, exclusivista, não teria espaço consciencial para permanecer assim, mesmo que possam surgir na gênese da família ampliada. Mas, logo que o casal que iniciou a família com a força do amor romântico, dentro de um formato nuclear, perceber com honestidade as outras pessoas que o Pai permite que se aproximem, e que o coração aceita como companheiros íntimos, se quebra qualquer ideia de exclusivismo, de ciúme, e a família passa a se ampliar dentro do critérios do Amor Incondicional. A fraternidade e a justiça imperam nesse reino de amor.
Os parentes naturais serão aqueles que são condicionados pela biologia, e geralmente da relação do pai e da mãe como progenitores. Toda a relação do parentesco segue a mesma denominação do que acontece hoje, com a diferença que os pais que constituem o casal gerador dos filhos, não são limitados pelo casamento formal como acontece hoje. Teremos filhos com abundância sendo irmãos biológicos somente de pai ou somente de mãe. Os filhos irmãos de pai e mãe serão em menor número. Talvez até aconteça hoje isso dessa forma, mas de maneira clandestina. Eu mesmo, tenho apenas dois irmãos de pai e mãe, mas tenho muito mais irmãos apenas pela parte de minha mãe e igual quantidade apenas pela parte de meu pai.
Os parentes judiciais serão aqueles que por desejo próprio eu os adote frente a Justiça, que pode seguir o padrão atual dos filhos adotivos. Porém esse critério poderá ser muito aumentado, e poderá ser possível eu ir num abrigo de idosos e adotar uma pessoa como meu pai ou meu avô; ir num cartório e adotar um amigo muito próximo como meu irmão oficial. E assim por diante.
Os parentes potenciais são a infraestrutura do Reino de Deus. Qualquer pessoa que esteja próxima a mim, por necessidade, se transforma em meu parente imediato. Se eu sei de uma pessoa idosa que vive sozinha, eu chego perto e a considero como mãe ou avó, independentemente de qualquer condição biológica ou documento oficial. Se alguém se acidenta no transito e deixa seu filho órfão de pai e mãe, aquela criança passa automaticamente a ser o meu filho e toda minha atenção passa a ser nesse sentido, pois se não for encontrado nenhum parente biológico ou judicial, ele será meu de fato, e depois é só ir no juiz e o transformar em parente judicial. Os crimes, os moradores de ruas, as crianças em cruzamentos, não podem ser aqui considerados, pois a sociedade está tão evoluída que já não permite isso.
O que acho magnífico nesta sociedade que assim conseguir se estruturar, é que todos os nossos instintos, principalmente os sexuais, que são muito fortes, todos eles serão administrados pela consciência que aplicará em todos os casos a lei do Amor. Aquela mulher, por exemplo, que despertou o meu desejo, e que o desejo é recíproco, serão consideradas, por nós, as diversas circunstâncias de um e do outro, e se tudo obedecer a lei do amor, a intimidade sexual será realizada, a mulher ou o homem será incluído(a) em uma das famílias ampliadas na qual cada um pertença. Não existirá a possibilidade do uso da pessoa humana como objeto sexual, de usar e abandonar, desprezar, humilhar e muitas vezes chega a matar como acontece hoje.
Podemos ver que esse tipo de sociedade ainda está muito longe da realização, mas já possuímos as lições do Amor Incondicional, ensinadas por Jesus e por outros grandes avatares da humanidade, para começar a sua construção. Só depende de nós, de usar a inteligência para descobrir os caminhos, usar a justiça para escolher a porta mais coerente, do livre arbítrio para seguir a vontade de Deus, e da coragem para enfrentar os obstáculos mais severos.
Nas compilações e florilégios/Compilação de Assis, “Fontes Franciscanas e Clarianas” observei um diálogo, perto do fim da vida encarnada de Francisco de Assis, quando um dos irmãos chega perto dele e faz a seguinte indagação, que gera a explicação sobre quem deverá ser o Ministro Geral da Ordem, na ausência do santo:
- Pai, tu passarás, e a família que te seguiu ficará abandonada no vale de lágrimas. Indica alguém, se o conheces na Ordem, em quem teu espírito repouse. Ao qual se possa impor com segurança o peso do ministério geral.
Respondeu São Francisco, revestindo todas as palavras em suspiros:
- Filho, não vejo ninguém suficientemente capaz de ser comandante de tão variado exército e pastor de tão amplo rebanho. Mas quero descrever para vós um que reluza, como deva ser o pai desta família.
Disse:
- Ele deve ser um homem de vida muito austera, de grande discernimento, de reputação louvável. Homem que não tenha amizades particulares para que não cause escândalo ao todo, por amar mais uma parte. Homem que tenha por amigo o empenho da santa oração, que distribua horas certas à sua alma e outras ao rebanho que lhe foi confiado. Pois, bem de manhã, deve colocar antes de tudo os mistérios da missa e com grande devoção recomendar-se a si mesmo e o rebanho à proteção divina. E depois da oração – disse -, coloque-se em público para ser investigado por todos, para responder a todos, para prover a todos com mansidão. Homem que, por preferência de pessoas, não faça a sórdida discriminação, diante de quem não vigore menos o cuidado dos menores e simples do que dos sábios e maiores. Homem que, se lhe foi concedido sobressair pelo dom das letras, traga em seus costumes mais a imagem da piedosa simplicidade e fomente a virtude. Homem que execre o dinheiro, principal corruptor de nossa profissão e perfeição, e que, como cabeça de nossa religião, oferecendo-se aos outros para ser imitado, nunca abuse de bolsa alguma.
- Deveriam ser-lhe suficientes, para si próprio – disse – o hábito e o caderno, e para os irmãos o estojo de penas e o selo. Não seja ele acumulador de livros nem muito dedicado à leitura, para que não subtraia do ofício o que fornece ao estudo. Homem que console os aflitos, pois que é o último refúgio para os atribulados, para que, se junto dele faltarem os remédios da saúde, não prevaleça nos enfermos a doença do desespero. A fim de dobrar os violentos à mansidão, prosterne-se e modere alguma coisa do seu direito, para lucrar a alma para Cristo. Não feche as entranhas da piedade aos que fugiram da Ordem, - como as ovelhas que pereceram -, sabendo que muito fortes são as tentações que podem impelir a grande queda.
- Eu gostaria que ele fosse honrado por todos no lugar de Cristo e que fosse provido em tudo com toda a benevolência de Cristo. Mas é necessário que ele não sorria para as honras nem se deleite mais com os favores do que com as injúrias. Se alguma vez precisar de alimento mais forte, tomá-lo-á não às escondidas, mas em lugares públicos, para que os outros possam suportar a vergonha de cuidar de seus corpos fracos; compete-lhe principalmente distinguir as consciências que se escondem e extrair a verdade de veias ocultas, de forma alguma prejudique o aspecto viril da justiça e sinta que tão grande ofício lhe causará mais peso do que honra. E de supérflua mansidão não nasça a moleza, nem de indulgência relaxada a dissolução da disciplina, de modo que seja amado por todos e não menos temido por aqueles que fazem o mal.
- Eu gostaria que ele tivesse companheiros dotados de honestidade, os quais se apresentassem a si mesmos – juntamente com ele – como exemplo de todas as boas obras; que fossem inflexíveis diante das angústias, e tão convenientemente afáveis, que acolhessem com santa jovialidade a todos os que chegassem. Eis – disse – como deveria ser o Ministro Geral da Ordem.
Esta declaração de Francisco calou fundo em minha consciência. Assim como ele, eu também tenho a intenção de criar uma família obedecendo a vontade de Deus. Não é semelhante a que ele criou, pois no caso dele, foi a partir do casamento dele com a senhora Pobreza que tudo começou. No meu caso o casamento se deu com o Senhor Amor Incondicional. As característica que ele descreveu, foi em cima do comportamento que ele procurava cumprir, e acredito que ele desenvolveu muito bem suas responsabilidades, mas não via ninguém ao seu redor que fosse capaz de levar adiante essas mesmas atitudes. Eu, particularmente, me considero ainda muito distante de alguns itens e isso me torna um “pastor” ainda muito imperfeito, para as “ovelhas” que giram em torno de mim. Pretendo fazer as correções e considero todas importantes, mas sei que a maior dificuldade que irei encontrar será na acumulação de livros, pois ainda dou grande importância a esse fato, ao estudo sequencial.
Sei que a transformação de Francisco de Assis foi quase de imediata, passou pelo sofrimento da cadeia dentro e fora de casa e por doença física demorada. Tudo isso contribuiu para sua emersão do mundo egoísta para o mundo espiritual. No meu caso a transformação é muito lenta. Há mais de três décadas essa transformação vem lentamente ocorrendo e junto com muitos erros de decisão. Sei que o Pai tolera, pois sabe de minhas dificuldades e de minhas intenções. Essa descrição de como deverá ser um Ministro Geral de uma Ordem Familiar, ajudou-me a diagnosticar com mais segurança os principais erros que devo ajustar. Depende agora da minha atenção e força de vontade. Também, se chegasse a desaparecer hoje, não saberia nem a quem dizer tais características para manter a família nos propósitos do Pai.
No mundo atual observamos que o Evangelho do Cristo fica cada vez mais conhecido pela humanidade. As suas lições baseadas no amor incondicional não sofre crítica moral de nenhuma cultura que considere a ética entre os cidadãos uma questão fundamental. No entanto, essas lições evangélicas apesar de serem consideradas positivas na prática a sua execução não é observada. Surge uma espécie de distonia cognitiva, onde o correto é aceito, mas não é praticado. Diversas justificativas são dadas para esse fato, muitas delas decorrentes de benefícios inadequados que recebemos, de forma direta ou indireta. A situação crítica pela qual passa o Brasil, país essencialmente cristão, indicado para ser o coração do mundo e a pátria do Evangelho, é um ícone dessa distonia cognitiva e comportamental da maioria dos brasileiros.
Vamos fazer uma retrospectiva para 2002, época que assumiu o poder no Brasil o Partido dos Trabalhadores, inclusive com o meu voto. O que se verificou em seguida? Diversas ações de cunho popular foram realizadas, muito dinheiro foi jogado na educação, principalmente a superior. Tudo isso merece aplauso, era isso que os eleitores queriam. Mas logo foi descoberto que o sucesso na aprovação de leis necessárias para que os projetos desse governo fossem aprovados, era devido a corrupção, ao pagamento regular dos deputados e senadores através de propinas, o chamado mensalão. Isto é, o dinheiro da nação estava desviado com essa finalidade positiva de dar bolsas aos pobres, verbas para ONGs e sindicatos, até mesmo para países de ideologia similar. Dinheiro que poderia ser aplicado nas áreas sociais como segurança, saúde e educação. Então, a pessoa que deseja seguir com fidelidade o Evangelho, qual posição deveria tomar?
Posso estar errado, mas na minha concepção, os fins positivos não justificam os meios negativos. Se para eu cumprir ações sociais de benefício para o povo, uma ação positiva, eu tenha que retirar os mesmos recursos que esse povo pagou através de impostos, para alimentar os corruptos e também a quem está com o poder de disponibilizar fraudulentamente esses recursos, ação negativa, isto não está correto!
Parece que esta é a encruzilhada onde se encontra hoje a divisão política da maioria dos brasileiros: apoiar ou não as ações negativas que garantem resultados positivos. Os que apoiam essas ações negativas, apoiam o governo ptista que as incrementou; os que não apoiam essas ações negativas, apoiam os mecanismos jurídicos e institucionais que punem aos que cometem crimes, qualquer que seja a ideologia dos criminosos.
Então, onde ficará posicionado o cidadão que deseja seguir com fidelidade as lições do Evangelho? Do lado dos criminosos ou do lado da Justiça? Para mim, que desejo seguir os caminhos cristãos, essa encruzilhada parece fácil de resolver. Devo seguir o caminho da Justiça e evitar o caminho dos criminosos, qualquer que seja eles. Na segunda eleição do candidato ptista, eu não dei mais o meu voto a ele, presidente que permitiu que toda essa compra de votos acontecesse ao seu lado, dentro do seu gabinete, mesmo ele dizendo que não sabia, que não via nada...
Mas, eu poderia estar errado... o outro caminho da encruzilhada é o que seria o correto, bom para o país, para o melhor equilíbrio dos desníveis sociais... mesmo apoiando ações criminosas. Quem poderia dizer qual o caminho correto? O tempo! O tempo é o maquinista da vida e se por ações erradas entramos em caminhos inadequados, ele mostrará logo em seguida os frutos dos erros. E isso começou a aparecer, na queda da produção nacional, o PIB, no aumento do desemprego, na falência e desacreditação de empresas, tão sólidas quanto a Petrobrás, o pífio desempenho dos estudantes, a descoberta de crimes recordistas a nível mundial, a revolta da opinião pública enchendo as ruas em todo o país...
Esses dados são por demais esclarecedores, não necessita de especialistas para explica-los, basta sentir na pele os seus efeitos. Não sou juiz para condenar A, B ou C, mas enquanto cidadão, candidato ao Reino de Deus, disposto a ser fiel ao Evangelho, não posso compactuar com esses crimes que causaram o caos onde agora nos encontramos. Deixo a questão do julgamento com a Justiça que nós criamos, e se alguém dela conseguir escapar, não escapará da justiça divina, incluindo eu mesmo, que, se uso o meu raciocínio para induzir em erros os meus irmãos, que eu seja devidamente punido pelo Pai que constantemente sonda o meu coração.
Podemos observar nos debates políticos, as diversas correntes usarem o nome do Cristo como se o seu partido fosse o máximo em conduta cristã, e, portanto, tem o direito de ser o juiz e o carrasco de quem não pensa igual.
O Evangelho não é de direita, centro ou esquerda. O Evangelho é de Cristo. É certo que na condição de cristãos, podemos votar, apoiar, protestar e nos envolver com os sistemas sociais que apresentem afinidades com os valores do Evangelho. Não para protegermos nossas posições em um movimento de corporativismo religioso, mas por entendermos que o Evangelho e seus valores promovem a Verdade, a Liberdade e a Justiça, visto que não cega, mas aguça a nossa cidadania
O Evangelho não se conforma a sistemas sociais, pois representa a “vontade de Deus para a salvação de todo aquele que nele crê, confia e segue a Sua vontade. Tentativas de igualar os valores do Evangelho aos sistemas sociais culturais, científicos, políticos ou partidários, resultaram em frustrações e distorções, pois não se consegue confinar os claríssimos raios do sol em frágeis caixinhas de papelão.
No início do século III os cristãos se encantaram com o apoio e os favores do imperador Constantino, associando o Evangelho ao império romano. A partir daí, deixou de haver as cruentas perseguições aos cristãos, culminando com os seus sacrifícios. Nos dias atuais o Evangelho tem sido comumente associado a estruturas culturais, linhas de pesquisas científicas e posicionamentos sociopolíticos. Nos últimos meses, ouvimos amplas discussões norte-americanas sobre os valores democratas de republicanos e aquilo que mais se assemelha ao Evangelho. Frente a essas posições, devemos lembrar que o Evangelho não se conforma com o mundo, mas o confronta, expõe, redime e julga.
O Evangelho não é de direita, centro ou esquerda. Não é ptista, psdebista, republicano ou democrata, comunista ou capitalista. Não é da zona norte ou sul, dos países ricos ou pobres. Não segue a escola positivista de Comte ou interpretativa de Geertz. O Evangelho tem origem divina, é um tipo de manifesto de Deus, que orienta ao mundo e mostra que existe uma lei maior da qual nenhum delinquente consegue escapar.
Sistemas sociais colaboram para que o homem compreenda a si mesmo e possam conviver civilizadamente, desenvolvendo padrões saudáveis de vida e de relacionamento, mas não mostra ao homem o caminho para a divindade. Muitas vezes faz o contrário, incentiva o caminhar pelas estradas do materialismo, do egoísmo, da selvageria, do usar o suor alheio em benefício próprio sem o menor senso de honradez, quanto mais de princípios divinos.
Podemos perceber as tentativas de associar o Evangelho aos sistemas sociais, nas diversas esferas do saber ou fazer humano. Mas precisamos de discernimento suficiente para perceber quando as lições do Cristo estiverem sendo usadas em benefício pessoal ou de determinados grupos, pois nesse caso não podemos acatar como Evangelho.
Devemos apoiar o que for bom e justo em nossa sociedade, bem como repudiar, protestar e boicotar aquilo que for degradante, imoral e corrosivo, mesmo que sejam apresentadas sob uma falsa etiqueta de justiça e solidariedade. Devemos ser argutos e observar o que existe por trás, sermos simples como as pombas e vigilantes como as serpentes.
Percebo que uma certa afinidade moral e harmonia espiritual são essenciais à amizade entre duas pessoas. Uma personalidade amorosa dificilmente pode revelar-se a uma pessoa incapaz de amar. Como Deus é a essência do Amor e com Ele pode ser confundido, para aprimorar o meu conhecimento dEle, todos os dons da minha personalidade deve consagrar-se inteiramente a tal esforço. Uma devoção parcial, com a metade do coração, não aprimorará a minha capacidade de amar.
Como já tenho essa percepção bem desenvolvida no meu psiquismo, ao descrever essas minhas experiências e sentimentos espirituais, não é para convencer os descrentes, mas para a edificação e satisfação mútua dos que já acreditam.
Entendo Jesus como o Mestre que o Pai nos enviou para falar sobre Ele, nos ensinar sobre o Amor no qual Ele é a essência. Jesus é o exemplo superior que possuímos dessa capacidade de amar. Nos ensinou que a natureza do Pai pode ser estudada pela revelação das ideias superiores, que o caráter divino é uma representação dos ideais superiores. A própria vida encarnada de Jesus serve como a própria base de revelação de Deus para os homens. Assim, ele nos ensinou que podemos expressar a nossa capacidade de amar por ações caridosas, por símbolos verbais em qualquer tipo de idioma a respeito da natureza divina
Jesus ensinou que o Pai celestial, cuja fagulha de luz reside em nós, Seus filhos, não é uma personalidade agressiva e vingativa como aparece no Velho Testamento, com o codinome de Deus dos Exércitos. Ele também não requer um mediador, padre, pastor ou qualquer tipo de mentor, para assegurar o seu favorecimento ou o perdão de Pai.
Este Deus que Jesus ensinou e no qual acredito, não é irado, vingativo ou enraivecido. Porém, por respeito à Justiça, o Seu amor pela retidão não pode evitar que com a mesma intensidade, seja manifestado como ódio ao pecado. Pode parecer uma incoerência, este Deus que acredito ser capaz de amar e odiar, sentimentos contraditórios. É necessário que eu me explique. Deus ama a toda a sua criação, porém deixou um espaço nos seres inteligentes, como nós, humanos, onde Ele decidiu não penetrar. Este espaço cognitivo é o Livre Arbítrio, associado à consciência e instrumentalizado pela vontade. É neste espaço que podemos ser co-criadores com o Pai, que podemos escolher os caminhos por onde seguir, dentre as diversas opções que tenho ao meu alcance. Se por ignorância ou má vontade, escolho seguir caminhos errados, se construo contra as leis da Natureza, do Amor Incondicional, esses erros serão chamados de pecados e não podem ser amados como é amado o que é correto, o que obedece a Lei do Amor. Então, é correto que o Criador tenha um sentimento de ódio por essa ação negativa, nefasta, produzida por sua criatura. Mas isso não quer dizer que Ele passe a odiar a Sua criatura. Ele faz isso com perfeição, ama incondicionalmente a sua criatura, mas odeia o pecado. Ama o pecador, mas odeia o pecado.
Acontece algo parecido na minha capacidade de amar, na atuação enquanto médico. Trabalho com dependência química e tenho que fazer essa mesma distinção: amar ao alcoólico e odiar ao alcoolismo. O alcoólico por repetidos erros na sua forma de usar as bebidas alcoólicas, termina por se tornar um dependente, um alcoólico. Caso ele não use a bebida alcoólica, a doença do alcoolismo não se manifesta. Então, tenho que usar toda a minha capacidade de amar para conversar com esse alcoólico enquanto sóbrio, para fazer com que sua consciência aceite os argumentos da verdade e evite o primeiro gole, conforme orienta os grupos de Alcoólicos Anônimos. Mas se a pessoa sofre recaída e se apresenta alcoolizada, sob o domínio da doença, então tenho que agir com o máximo rigor contra esse resultado (erro, pecado) que foi criado. Não é que eu esteja atuando com ódio contra o alcoólico, quando oriento aos familiares a não dar nenhum apoio ao seu parente quando este estiver embriagado, que ele sofra as consequências dos seus atos, quer seja na higiene, no trabalho, na justiça. Somente dessa forma, as consequências dos seus atos podem despertá-lo para o erro que está cometendo, uma vez que a minha orientação não seja suficiente.
Dentro dessa conjuntura da capacidade de amar, posso dizer que: Deus ama o pecador e odeia o pecado; eu, amo o alcoólico, mas odeio o alcoolismo. O pecado/alcoolismo não é uma pessoa. O amor salva a pessoa; a lei destrói o pecado.
Mas, se o pecador se identifica completamente com o pecado, tornar-se-ia inteiramente não espiritual na sua natureza humana e caminharia para a sua extinção, incapaz de ser alcançado por minha capacidade de amar enquanto terapeuta.