Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
13/11/2017 10h09
UM RESULTADO DA PRECE

            Uma consequência dos meus estudos espirituais é a valorização da prece, mesmo que eu não consiga fazer a prática suficiente. Encontrei um texto do médium Divaldo Franco na net que fala da operacionalização da prece numa ação cotidiana, que reforça a minha convicção da sua importância. Como considero um texto de “utilidade pública”, pois leva ao próximo a compreensão de mecanismos que favorecem a nossa evolução espiritual, irei transcrevê-lo neste espaço.

            A Moça Inocente de Catanduva

            Oportunamente fui pregar em Catanduva. Naquele tempo viajava-se muito em trens noturnos. Eu o tomava em Catanduva e ia até São Paulo. Era uma viagem razoavelmente confortável.

            Numa das vezes em que estive naquela cidade, ao regressar, Dona Lola Sanchez e outros confrades me levaram até a estação ferroviária. O trem saía às 22h30.

            Quando cheguei à plataforma de embarque chamou-me a atenção uma senhora camponesa despedindo-se da filha. A jovem era uma daquelas meninas bonitinhas, bem modestas, do interior, vestida com simplicidade, o cabelo liso, partido ao meio e muito mimosa.

            A mãe abraçava-a e despedia-se, beijava-a e abraçava-a de novo e a cena comoveu-me. Fiquei olhando a ternura da mãe com a filha de dezoito ou dezenove anos, mais ou menos. O trem deu o primeiro sinal de partida e me despedi dos amigos. A mocinha também subiu no trem, apressadamente.

            O vagão não estava muito cheio. Eu me sentei à janela, do lado da plataforma para acenar aos amigos, enquanto ela sentou-se do outro lado, sozinha.

            Quando a composição começou a mover-se, eu vi que da mãe partia um fluido vaporoso, como se fosse uma nuvem alongada, a ideia era de um arminho muito grosso de meio metro de circunferência, que brotava do centro cardíaco, entrava no trem e se implantava na moça.

            A medida que o veículo se movia, aquele fluido foi se afinando, quase desaparecendo.

            A mãe dava-lhe adeus e chorava; uma despedida quase trágica. A mocinha chorou um pouco e depois recostou-se, preparando-se para algum repouso, desde que a jornada seria longa: umas sete horas em média.

            A viagem prosseguiu.

            Quando chegamos a Araraquara, houve uma parada. Um rapaz entrou, daqueles tipos de conquistadores, num jeito de quem olha a pessoa e despe-a. Ele abriu a porta, entrou, olhou a todos, deteve-se na moça – o olhar dele era tão típico que me chamou a atenção. Examinou-a atentamente, ajeitou-se e foi sentar ao lado dela, que estava junto à janela.

            Passou o tempo. Fiquei distraído com outras coisas e quando percebi, ele havia passado o braço por trás da poltrona e se lhe chegara mais perto. Ela, tímida, encolheu-se um pouco.

            Eu pensei: que coisa estranha esse indivíduo! Parece-se a um desses conquistadores baratos, aliciadores de menores...

            Dentro em pouco ele já estava conversando com a jovem. Refleti, comigo mesmo: meu Deus, a coitada vai cair nas malhas desse sedutor, porque, totalmente desarmada, não saberá defender-se

            Ele parecia muito loquaz. Numa estação mais adiante, ele saltou, comprou frutas, ofereceu-lhas. Ante a gentileza, a moça ficou animada.

            Vendo a cena eu orei, temendo o que viria depois: meu Deus não deixe que ela seja seduzida – eu rogava. Recordei-me da sua mãe, e a lembrança me sensibilizou tanto que prossegui orando, pedindo a Jesus que a protegesse.

            Fiquei a imaginar: certamente ela é uma mocinha que vai tentar a vida em São Paulo, ameaçada de cair nas armadilhas de um sedutor profissional. Fiquei orando, pedindo por ela.

            De repente, entrou um Espírito vestido à espanhola, à antiga, tipo sevilhana, uma mantilha de renda, um vestido longo, muito bonito. Ela era uma Entidade veneranda. Olhou para mim e para o par.

            - A tua prece foi ouvida – falou-me.

            Dirigiu-se para os dois e começou a aplicar passes na moça. Eu, então, mentalmente, dizia: não é nela; é no homem. Afaste-o dela!

            O Espírito olhou-me, sorriu e continuou aplicando passes na moça. Terminou, fez-me uma saudação e desapareceu.

            Eu fiquei frustrado, pensando que algo estava errado.        

            De súbito, porém a moça deu um soluço, teve um engulho e vomitou no homem, atingindo-o de alto a baixo.

            O homem deu um salto e gritou:

            - Miserável! Veja o que fez! E saiu furioso tentando limpar-se.

            A moça, muito sem jeito, virou-se para mim e justificou-se:

            - Veja, eu nunca enjoei.

            Tirei um lenço, dei-o para ela e entendi a técnica que o Espírito usara. Sentei-me ao seu lado, para bloquear o lugar e perguntei-lhe:

            - Minha filha, você está doente?

            - Não senhor, de repente me deu uma coisa... logo aquele rapaz, tão delicado...

            - Você o conhece?

            - Não senhor.

            - Você está indo para onde?

            - Estou indo para São Paulo – explicou-me – para trabalhar como dama de companhia numa casa e, aquele rapaz, muito educado, veio dar-me o endereço de uma tia dele que recebe moças como pensionistas. Ele estava até me oferecendo um emprego melhor, porque ele tem a missão de contratar moças para trabalhar e a tia recebe-as. Ele estava explicando-me quando aconteceu isto. O que é que eu faço agora?

            - Você vai ser dama de companhia – respondi-lhe. Este rapaz é um aliciador de moças para a loucura do sexo desregrado.

            Expliquei-lhe o que era e ela ficou surpresa.

            - Mas não é possível, ele é tão delicado, respondeu-me – Falou até que estava apaixonado por mim, que nunca tinha visto uma moça tão bonita como eu, que me queria levar a casa da tia, a fim de defender-me dos “lobos” que existem em São Paulo.

            - Você vai fazer exatamente como sua mãe lhe mandou – aconselhei.

            Fiquei-lhe ao lado até que chegamos a São Paulo.

            Quando saltamos, segui com ela. Neste momento, vimos o rapaz descer do trem, todo sujo, a roupa branca com enormes manchas cor de café. Olhei-o e perguntei-lhe sorrindo:

            - Está melhor?

            Ele deu uma resposta a seu tipo e foi-se, enquanto eu fiquei a reflexionar na forma como os Espíritos agem.

            Com sua atenção despertada desde o início da viagem, Divaldo registra as más intensões do homem que toma lugar junto à jovem. Nesse momento, Divaldo utiliza a prece em benefício dela. A resposta ao pedido não se faz esperar. A técnica de ajuda que os Espíritos amigos adotam é digna de registro. É que nem sempre nos é dado avaliar ou entender como se processam os atendimentos. Nas ocorrências do cotidiano, o homem, não raras vezes, se revolta contra certos fatos que, em geral acontecem para seu próprio benefício. Se a Benfeitora Espiritual tivesse aplicado o passe no homem, visando retirá-lo do lado da moça, sempre haveria a possibilidade que ele voltasse à carga. Agindo diretamente sobre a jovem, da forma como aconteceu, o homem retirou-se revoltado e com asco. Isso o afastou de vez.

            A prece é o meio mais eficaz quando se deseja ser útil, especialmente quando nos faltem quaisquer outros recursos.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 13/11/2017 às 10h09
 
12/11/2017 09h20
VISITANDO A HISTÓRIA

            Tem um livro muito elogiado atualmente no mercado, Sapiens – Uma breve História da Humanidade, do escritor judeu Yuval Noah Harari, que faz no início um breve relato de nossa história a partir do Big Bang. Apesar de sua aclamação no público leitor, inclusive meu amigo Ivo e meu filho Marcelo fizerem bons elogios do conteúdo e da qualidade literária, percebo que não existe no conteúdo o contexto do qual eu valorizo e coloco como foco principal dos meus estudos e prática comportamental: a espiritualidade.

            Por esse motivo irei transcrever (em itálico) aqui o início do primeiro capítulo dessa obra, incluindo dentro dele os conteúdos que eu colocaria se de fato eu fosse o autor.

            Há cerca de 13,5 bilhões de anos, a Matéria, a Energia, o Tempo e o Espaço surgiram naquilo que é conhecido como o Big Bang. A história dessas características fundamentais do nosso Universo é denominada Física. Deus criou simultaneamente o princípio material e o princípio inteligente, ambos dentro dessa suposta explosão, e sem individualização. O princípio material passa a ser objeto da física enquanto o princípio espiritual, incluído intrinsecamente dentro da matéria, passa a ser objeto da metafísica.

            Por volta de 300 mil anos após o seu surgimento, a matéria e a energia começaram a se aglutinar em estruturas complexas, chamadas átomos, que então se combinaram em moléculas. A história dos átomos, das moléculas e de suas interações é denominada Química. Aqui, o princípio material passa a se individualizar nas diversas formas que vai assumindo. O princípio inteligente, devidamente acoplado, acompanha essa evolução da matéria, mas ainda sem individualização.

            Há cerca de 3,8 bilhões de anos, em um planeta chamado Terra, certas moléculas se combinaram para formar estruturas particularmente grandes e complexas chamadas organismos. A história dos organismos é chamada de Biologia. Não só no planeta Terra, mas em diversos outros planetas da imensa criação da Inteligência/Poder Superior, vamos encontrar esse fenômeno acontecendo. O princípio inteligente que vem acompanhando a evolução da matéria, começa agora a sua individualização. Podemos ver um reflexo disso no comportamento dos cardumes, onde cada peixe é um indivíduo, mas ainda se comportam como um todo no deslocamento no seio das águas.

            Há cerca de 70 mil anos antes, os organismos pertencentes à espécie Homo sapiens começaram a formar estruturas ainda mais elaboradas chamadas culturas. O desenvolvimento subsequente dessas culturas humanas é denominada História. Podemos observar a plena individualização do princípio material e espiritual e o curso evolutivo de cada um deles. Observamos com clareza a evolução material onde está situado nossos corpos biológicos, bem demonstrados pelos trabalhos de Darwin e a antropologia. O Princípio Espiritual, agora individualizado como Espírito, que recebe o nome de alma quando incorporado num corpo biológico, tem oportunidade de acompanhar esse fluxo evolutivo, passando por minérios, plantas e animais até a posição cognitiva superior existente no homem, de reconhecer a existência e a importância do Espírito.

            Três importantes revoluções definiram o curso da História. A Revolução Cognitiva deu início à História, há cerca de 70.000 anos. A Revolução Agrícola a acelerou, por volta de 12.000 anos atrás. A Revolução Científica, que começou há apenas 500 anos, pode muito bem colocar um fim à História e dar início a algo completamente diferente. O Espírito começa a ser educado em todas as regiões do globo, pela presença intuitiva e muitas vezes físicas de diversos avatares, sendo o principal deles Jesus Cristo, que chegou a dividir o nosso calendário, antes e depois dEle. Após 2.000 anos de sua vinda, de tentativa de expandir seu Evangelho e de aplicar suas lições, reconhecidas por todos como um roteiro inatacável de evolução espiritual, precisamos colocar em prática a renovação da mente, a mais importante das revoluções, a Revolução Íntima de transformas os nossos valores instintivos associados ao egoísmo da preservação e reprodução do corpo, em valores morais associados à fraternidade da realização da vontade do Criador, no sentido da capacitação de cada alma/Espírito se aproximar da Sua essência e se capacitar na administração dos novos mundos que são criados a cada momento.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 12/11/2017 às 09h20
 
11/11/2017 04h22
UMA INVASÃO SILENCIOSA

            Li um texto no whatsapp, assinado por Emmanuel, que fala de uma mudança que está acontecendo na Terra e que achei bem interessante e factível. Colocarei como estava, na íntegra para despertar a reflexão em meus leitores, assim como aconteceu comigo.

            Na superfície da Terra, exatamente agora, há guerras e violência e tudo parece negro. Mas, simultaneamente, algo silencioso, calmo e oculto está acontecendo e certas pessoas estão sendo chamadas por uma Luz mais elevada.

            Uma revolução silenciosa está se instalando de dentro para fora, de baixo para cima. É uma conspiração global. Há uma conspiração espiritual. Há células dessa operação em cada nação do planeta. Vocês não vão nos assistir na TV, nem ouvir nossas palavras nos rádios e nem ler sobre nós nos jornais. Não buscamos a glória. Não usamos uniformes. Nós chegamos em diversas formas e tamanhos diferentes. Temos costumes e cores diferentes. A maioria trabalha anonimamente. Silenciosamente trabalhamos fora de cena, em cada cultura e lugar do mundo. Nas grandes e pequenas cidades, em suas montanhas e vales. Nas fazendas, vilas, tribos e ilhas remotas. Você talvez cruze conosco nas ruas. E nem perceba... Seguimos disfarçados. Ficamos atrás da cena. E não nos importamos com quem ganha os louros do resultado, e sim que se realize o trabalho. De vez em quando nos encontramos pelas ruas. Trocamos olhares de reconhecimento e seguimos nosso caminho. Durante o dia muitos se disfarçam em seus empregos normais. Mas à noite, por trás de nossas aparências, o verdadeiro trabalho se inicia. Alguns que conhecem o trabalho nos chama de “O Exército da Consciência”.

            Lentamente estamos construindo um novo mundo, com o poder de nossos corações e mentes. Seguimos com alegria e paixão. Nossas ordens nos chegam da Inteligência Espiritual e Central. Estamos jogando bombas suaves de amor sem que ninguém note: poemas, abraços, músicas, fotos, filmes, palavras carinhosas, meditações e preces, danças, ativismo social, sites, blogs, atos de bondade.

            O mundo precisa de amor! Expressamo-nos de uma forma única e pessoal, com nossos talentos e dons. Sendo a mudança que queremos ver no mundo. Essa é a força que move nossos corações. Sabemos que essa é a única forma de conseguir realizar a transformação. Sabemos que no silêncio e humildade teremos o poder de todos os oceanos juntos. Nosso trabalho é lento e meticuloso. Como na formação das montanhas.

            O amor será a religião do século XXI. Sem pré-requisitos de grau de educação. Sem requisitar um conhecimento excepcional para a sua compreensão. Porque nasce da inteligência do coração, escondida pela eternidade no pulso evolucionário de todo ser humano. Seja a mudança que quer ver acontecer no mundo. Ninguém pode fazer esse trabalho por você.

            Você se junte a nós ou talvez já tenha se unido. Todos são bem vindos. A porta está aberta.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 11/11/2017 às 04h22
 
10/11/2017 08h52
DIMENSÕES DA VERDADE (25) – PESSOAS, OPINIÕES E NÓS

            Podes refletir... por que tantas aflições, lamentos, angústias, ingratidões, vindas de quem menos se esperava? Podes murmurar... até quando as pessoas manterão opiniões injustas e rigorosas contra ti? Sentindo-se ferido podes concluir na intimidade... como são impiedosas as pessoas que me combatem! Nem sequer procuram saber se agi como afirmam que agi. Dentro de lances tão doloridos podes verificar... mudaram de opinião os meus amigos, com a mesma rapidez que formularam opiniões anteriores. Lastimas, humilhado, monologando... estou expulso do afeto de tantas pessoas e torturado pela opinião de quem tanto amo! Sofrido... ainda acalentas uma união imediata com quem tanto ama, esquecendo que a recuperação de uma enfermidade exige tempo que faculta o refazimento e a adaptação. Sentes como espinho... lâmina cravada nos tecidos da alma, aceito como necessário, mas que provoca purgação. Absorves assim... o ópio da ingratidão na taça da amargura e segues a opinião deles como se fosses não o que és, mas o que eles dizem.

            Reflitas melhor... o que és? És o que vives intimamente na consciência. Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior.

            És oportunidade em ti mesmo, e, como diz o provérbio chinês – Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada, e a oportunidade perdida.

            Lembremos das grandes personalidades como Estêvão, que aceitou a oportunidade do Evangelho e transmitiu aos outros, mesmo sob a ameaça de morte, como de fato aconteceu; do próprio Paulo, que depois de perceber o erro que estava cometendo, aceitou a oportunidade que o Cristo lhe deu e se tornou o grande divulgador do cristianismo pelo mundo afora; de São Francisco de Assis, que aceitou a oportunidade de servir a Deus com modéstia e pobreza, e deixou para trás a riqueza e o orgulho da família abastada; de São Vicente de Paula que aproveitou a oportunidade de fazer a caridade e se tornou o Pai dos Pobres da França sitiada; de Tommaso Campanella, que mesmo preso durante 27 anos, teve a oportunidade de produzir uma vasta obra literária, sendo a principal A Cidade do Sol; de Jan Huss que teve a oportunidade de fortalecer a fé mesmo com a ameaça que se concretizou de ser queimado vivo; de Bernard Palissy, protestante, preso e morto na Bastilha, mas que teve oportunidade de deixar uma grande obra na paleontologia; e Paracelso, que vivia sem amigos e cheio de amarguras, mas teve a oportunidade de deixar a cultura hermética, a chave da alquimia, fundando a bioquímica e reformando o medicamento.

            Temos inúmeros exemplos de apóstolos e mártires, heróis da fé e filósofos, cientistas e pensadores de alto gabarito beberam a taça de excrementos da impiedade das pessoas, sofrendo-lhes as opiniões deprimentes, fiéis, no entanto, a eles mesmos e aos ideais que os sustentavam.

            A conduta evangélica é para nós a grande oportunidade de desenvolver o nosso roteiro evolutivo, desenvolver os talentos que Deus nos deu, cada qual à sua maneira, mesmo que nos tornemos alvos das deficiências humanas, com suas opiniões, críticas e ataques. Reconhecer que nós, encarnados e desencarnados, decididos a cumprir as orientações do Mestre, iremos ser atacados e menosprezados. Não nos aflijamos! Sigamos mesmo assim o Caminho, Verdade e a Vida que nos foi oferecido como oportunidade. Fomos convocados a função de carta-viva, expressando em atos a mensagem de luz que conduzimos, esquecendo imposições e desditas por imposição da própria tarefa.

            Lembremos sempre do Mestre que desconsiderou a negatividade de pessoas e opiniões do tempo que esteve na Terra. Ateve-se sempre ao desempenho do dever sublime de amar e servir. Convidava não apenas os que eram tidos como puros e nobres, e de todos conhecidos pelo valor que apresentavam. Convocava principalmente aqueles que, se arrependendo do mal praticado, ao ingressarem nas fileiras do Evangelho, promoveria alegria no Reino dos Céus.  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 10/11/2017 às 08h52
 
09/11/2017 08h03
DOUTRINA ESSÊNIA

            Como o fator que desencadeou a retirada do conceito de reencarnação foi a doutrina essênia apreendida pela imperatriz Teodora, vale a pena ver em que consiste, mesmo porque Jesus Cristo pode ter tido aí também muitas das suas inspirações, como alega alguns estudos. Vou reproduzir o trabalho de Rafael Kenski e Duda Teixeira, publicados na Revista Superinteressante de 31-10-2016.

            Em 1923, o húngaro Edmond Szekely obteve permissão para pesquisar os arquivos secretos do Vaticano. Estava à procura de livros que teriam influenciado São Francisco de Assis. Curioso e encantado, vagou pelos mais de 40 quilômetros de estantes com pergaminhos e papiros milenares. Viu evangelhos nunca publicados e manuscritos originais de muitos santos e apóstolos, condenados a permanecer escondidos para sempre. De todas essas raridades, uma obra em especial lhe chamou a atenção. Era o Evangelho Essênio da Paz. O livro teria sido escrito pelo apóstolo João e narrava passagens desconhecidas da vida de Jesus Cristo, apresentado ali como o principal líder de uma seita judaica até então pouco comentada – os essênios. Szekely não perdeu tempo. Traduziu o texto e o publicou em quatro volumes. Sentindo-se traída pelo pesquisador, a Igreja o excomungou.

            Não foi uma punição tão grave. Considere o que aconteceu com o reverendo inglês Gideon Ouseley. Em 1880, ele achou um manuscrito chamado O Evangelho dos Doze Santos em um monastério budista na Índia. O texto em aramaico – a língua que Jesus falava – teria sido levado para o Oriente por essênios refugiados. Ouseley ficou eufórico e saiu espalhando que tinha descoberto o verdadeiro Novo Testamento. Afirmava que a Bíblia estava incorreta, pois Cristo era um essênio que defendia a reencarnação e o vegetarianismo. Se hoje essa tese soa estranha, dizer isso na Inglaterra vitoriana do século XIX era blasfêmia da pior espécie. Resultado: os conservadores atearam fogo na casa de Ouseley e o original foi destruído.

O mistério que envolve esses dois textos e o tom místico que os descobridores deram aos seus achados acabaram manchando seu crédito diante dos historiadores. Além do mais, teorias exóticas sobre Jesus é o que não falta. Em 1970, o pesquisador inglês John Allegro, que já havia estudado os essênios, tentou provar que Jesus nunca havia existido e que teria sido uma alucinação coletiva causada pela ingestão de cogumelos. Por motivos óbvios, essa teoria não foi muito bem aceita pelos seus colegas cientistas. Segundo eles, Allegro entendia mais de cogumelos do que de Cristo.

Para os historiadores, os essênios seriam até hoje uma nota de rodapé na História se, em 1947, dois pastores beduínos não tivessem por acidente levado a uma das maiores descobertas arqueológicas do século. Escondidos em cavernas próximas ao Mar Morto, em Israel, 813 manuscritos redigidos pelos essênios entre 225 a.C. e o ano 68 da nossa era guardavam as mais antigas cópias do Antigo Testamento, calendários e textos da Bíblia. Perto das cavernas, em Qumram, estavam as ruínas de um monastério essênio e um cemitério com cerca de 1.200 esqueletos, quase todos masculinos.

O achado deu início a um longo e árduo esforço de tradução dos manuscritos por teólogos e cientistas de várias universidades no mundo. Milhares deles estavam em pedaços minúsculos, menores do que uma unha. “Hoje, 90% dos textos já foram transcritos”, diz o teólogo Geza Vermes, da Universidade de Oxford, que pesquisa os manuscritos. O que já é suficiente para moldar uma imagem mais precisa da história, da doutrina, da crença e dos hábitos essênios, que ficaram séculos a fio esquecidos nas ruínas daquele monastério.

O surgimento da doutrina essência aconteceu em tempos conturbados. Os judeus viveram sob dominação de diversos povos estrangeiros desde 587 a.C., quando Jerusalém foi devastada pelos babilônios, habitantes da atual região do Iraque. Por volta do século II a.C., o domínio era exercido pelos selêucidas, um povo grego que habitava a Síria. A cultura helenista proliferava e a tradição hebraica sofria fortes ameaças. Para recuperar o judaísmo, os israelitas acreditavam na vinda do Messias que chegaria ao final dos tempos para exterminar os infiéis e salvar os seguidores da Bíblia. A chegada do Salvador poderia se dar a qualquer instante.

Os mais ortodoxos seguiam tão à risca os preceitos religiosos e buscavam a ascese e a pureza com tal fervor que ficavam chocados com os hábitos mundanos dos gregos e a presença de leprosos, cegos, surdos e cachorros passeando pela cidade e pelos templos. Entre eles estavam os essênios. Um dia boa parte deles, liderados por um sacerdote, partiu para o deserto da Judéia (atual Israel) para orar, meditar e estudar as leis sagradas. Longe, bem longe, de tudo o que eles consideravam impuro. Surgia assim o monastério de Qumran, uma das primeiras comunidades monásticas do Ocidente.

A região escolhida para a construção do monastério é a de menor altitude no planeta – 400 metros abaixo do nível do mar. As chuvas são raras e o mar é tão salgado que é impossível mergulhar nele, pois a enorme densidade da água mantém o banhista na superfície. Para prosperar, os bens individuais e as tarefas foram divididas entre toda a comunidade e regras de disciplina e de hierarquia foram instituídas. A presença de mulheres em Qumran, por exemplo, era proibida. Transgressões eram duramente punidas. A interpretação das leis e profecias cabia ao mestre da justiça, o mesmo sacerdote que teria guiado os essênios até Qumran. Ele era respeitado e cultuado por todos e logo virou uma entidade mítica. O guardião, por sua vez, presidia as refeições e decidia as questões a respeito da doutrina, justiça e pureza. Essa figura inspirou a formação da palavra grega “epis copus” (aquele que olha de cima), que foi a origem de “bispo”.

É possível conhecer o dia-a-dia dos essênios a partir do legado do historiador judeu Flávio Josefo (37-100). Aos 16 anos, Josefo recebeu lições de um mestre essênio, com quem viveu durante três anos. Os membros da seita acordavam antes do nascer do sol. Permaneciam em silêncio e faziam suas preces até o momento em que um mestre dividia as tarefas entre eles de acordo com a aptidão de cada um. Trabalhavam durante 5 horas em atividades como o cultivo de vegetais ou o estudo das Escrituras. Terminadas as tarefas, banhavam-se em água fria e vestiam túnicas brancas. Comiam uma refeição em absoluto silêncio, só quebrado pelas orações recitadas pelo sacerdote no início e no fim. Retiravam então a túnica branca, considerada sagrada, e retornavam ao trabalho até o pôr-do-sol. Tomavam outro banho e jantavam com a mesma cerimônia.

Os essênios tinham com o solo uma relação de devoção. Josefo conta que um dos rituais comuns deles consistia em cavar um buraco de cerca de 30 centímetros de profundidade em um lugar isolado dentro do qual se enterravam para relaxar e meditar.

Diferentemente dos demais judeus, a comunidade usava um calendário solar de 364 dias, inspirado no egípcio. O primeiro dia do ano e de cada mês caía sempre em uma quarta-feira, porque de acordo com o Gênesis, o Sol e a Luz foram criados no quarto dia. O calendário diferente trouxe vários problemas para os essênios. Outros judeus poderiam atacar o monastério no shabbath – o dia sagrado reservado ao descanso, no qual era proibido qualquer esforço, inclusive o de se defender.

A correta observação das regras garantia a salvação dos essênio quando chegasse o apocalipse, que seria a vitória dos puros “filhos da luz” contra os “filhos das trevas”. No mundo essênio, aliás, tudo era dividido segundo uma visão maniqueísta que tornava possível até mesmo determinar quantas porções de luz e de escuridão cada um possuía. Um sectário de dedos rechonchudos, coxas grossas e cheias de pelos teria oito porções na casa das trevas para uma de claridade. No mesmo manuscrito, um outro membro obteve um placar mais favorável. Por ter olhos negros e brilhantes, voz suave, dentes alinhados, dedos longos e canelas lisas seu espírito foi condecorado com oito partes de luz para uma de trevas. Para os essênios, a beleza do corpo também era sinal de pureza espiritual.

Graças a essa organização toda, Qumran produzia tudo de que precisava. A dieta era vegetariana. Os essênios tinham um enorme respeito pela natureza. Nenhum homem poderia sujar-se comendo qualquer criatura viva. A regra permitia uma única exceção. Eles podiam comer peixe, desde que fosse aberto vivo e tivesse seu sangue retirado. As refeições eram frugais, com legumes, azeitonas, figos, tâmaras e, principalmente, um tipo muito rústico de pão, que quase não levava fermento. Eles possuíam pomares e hortos irrigados pela água da chuva, que era recolhida em enormes cisternas e servia como bebida. Além dela, as bebidas essênias se resumiam ao suco de frutas e “vinho novo”, um extrato de uva levemente fermentado. No shabbath, os sectários deveriam passar o dia inteiro em jejum. Os hábitos alimentares frugais e a vida metódica dos essênios garantiam-lhes uma vida saudável. Segundo Josefo, muitos deles teriam atingido idade extraordinariamente avançada.

A água também era canalizada para os banhos rituais, que eles tomavam duas vezes ao dia para se redimir dos pecados e das impurezas do corpo. O ritual consistia em relatar todas as faltas e então submergir. “Essa prática influenciou o batismo e a confissão dos católicos”, dia z historiadora Ruth Lespel, da Universidade de São Paulo. Outro ponto em comum entre os essênios e o catolicismo seria a figura de São João Batista, o profeta que batizou Jesus Cristo. O santo promovia batismos no Rio Jordão numa região próxima a Qumran. Sua postura messiânica era muito próxima à dos essênios. Há quem acredite que, quando foi batizado, Jesus teria visitado o monastério e sido influenciado por sua doutrina.

Há outras relações entre essênios e cristãos. “Existem passagens dos Manuscritos do Mar Morto, aqueles encontrados em 1947 nas cavernas de Qumran, que soam como as do evangelho cristão”. Traços da doutrina dos primeiros seguidores de Jesus - como o elogio de uma vida humilde, a proibição do divórcio e a invocação a Deus como um pai – têm ressonância na fé de Qumran. É possível que essênios e cristãos tenham entrado em contato.

Quanto a Jesus Cristo, apesar das descobertas e polêmicas levantadas por Ouseley e Szekely, não há nos manuscritos encontrados nas cavernas do Mar Morto uma única menção a ele. É por isso que a maioria dos pesquisadores duvida da teoria de que Jesus tenha se aproximado dos essênios. “Não existe nenhuma evidência concreta disso”, diz o historiador Nachman Falbel, da USP. Para o exegeta Valmor da Silva, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Jesus pode ter recebido influência das mais diversas correntes do judaísmo, inclusive deles. “Mas não dá para garantir que ele tenha frequentado uma de suas comunidades.”

Afirmar que Jesus se alimentava apenas de vegetais é ainda mais complicado. “Eu duvido muito que Cristo tenha sido vegetariano, pois ele celebrou a páscoa judaica, que envolve alimentos como ovo, patas de cordeiro e frango”, diz Vanderkam. Fernando Travi, líder da pequena igreja essênia do Brasil, tem um ponto de vista oposto ao de Vanderkam. “Cristo pregava o amor a todos os seres vivos e não matava animais para aliviar a sua fome”, afirma. Assim como ele, os seguidores de Szekely e Ouseley duvidam da veracidade das passagens do Novo Testamento em que Jesus se alimenta de carne. Eles acreditam que essas histórias não passam de invenções criadas pelo apóstolo Paulo, já na segunda metade do século I. A doutrina do vegetarianismo não seria bem recebida pelos judeus, acostumados a fazer sacrifícios e a comer carne, e Paulo teria modificado os evangelhos para tornar o cristianismo mais popular. Um exemplo dessas alterações estaria na passagem do Novo Testamento em que Jesus multiplica pães e peixes para alimentar uma multidão. O Evangelho dos Doze Santos, encontrado por Ouseley traz uma outra versão desse milagre, na qual os peixes são substituídos por uvas.

No ano 68 o monastério de Qumran foi aniquilado numa devastadora investida do exército romano que arrasou a Judéia e destruiu Jerusalém. O ataque era dirigido principalmente aos judeus zelotes, que se insurgiram contra o domínio romano. Qumran, que não era nenhuma fortaleza, foi presa fácil para as legiões do César. Mas nem todos os essênios morreram aí.

Alguns fugiram para Massada onde, aí sim, no ano 73, descobriram o que é um final trágico. O esconderijo, uma fortaleza zelote ao sul de Qumran, localizada no alto de uma colina, parecia impenetrável. Mas 15.000 romanos fizeram um cerco que durou dois anos e metodicamente construíram uma rampa de terra e areia para alcançar o topo da fortaleza. Quando os soldados finalmente invadiram Massada tiveram uma surpresa: todos os 1.000 rebeldes estavam mortos. Em um sorteio, os zelotes haviam escolhido um grupo de soldados para assassinar todos os habitantes da fortaleza e, em seguida, cometer suicídio. Eles preferiram morrer entre os judeus a se tornar escravos dos romanos. Sobraram para contar a história apenas duas mulheres e cinco crianças, que haviam se escondido nos reservatórios de água. O episódio foi relatado por Josefo e provou ser verdadeiro em 1965, quando arqueólogos pesquisaram a região. Eles acharam as marcas dos oito acampamentos romanos e pedaços de cerâmica com inscrições dos nomes dos zelotes, utilizados no dramático sorteio.

Segundo Josefo, os essênios existiam em grande número em diversas cidades da Judéia. Mas algumas variações da seita podem ter ocupado regiões ainda mais distantes. Uma comunidade egípcia do século I, os terapeutas, possuía um modo de vida semelhante ao da seita de Qumran e a mesma divisão entre luz e trevas. Também é possível que ebionitas e nazarenos, duas das primeiras seitas cristãs, sejam descendentes dos essênios. Há quem acredite que os nazarenos formaram uma grande comunidade em Monte Carmel, no norte da Israel atual, que seguia os ensinamentos de Qumran, mas com algumas diferenças. As regras seriam muito próximas daquelas encontradas nos escritos de Szekely e Ouseley. Ao contrário de Qumran, eles não praticavam o celibato e até mesmo formavam famílias. Fanáticos pelo princípio de amar todos os seres vivos, eram muito mais rigorosos em relação ao vegetarianismo: não comiam peixes nem matavam os vegetais para comer (comiam folhas de alface, por exemplo, sem arrancar o pé!)

“Eles viviam em tendas, que mudavam de lugar frequentemente, pois construções permanentes matariam a relva”, afirma Fernando Travi. Ele acredita que Jesus, apesar de ter passado por Qumran, viveu muito mais tempo em Monte Carmel. A região em que teria existido essa comunidade está próxima ao local em que Jesus nasceu e realizou muitos de seus milagres. Afirma também que Cristo não era conhecido como “Jesus de Nazaré”, mas sim como “Jesus, o Nazareno”.

Algumas dessas comunidades essênias existem, de certa forma, até hoje. Na região sul do Iraque e do Irã, cerca de 38.000 pessoas, os mandeans, mantém uma tradição muito semelhante à doutrina essênia. Eles afirmam ser seguidores de João Batista e praticam o batismo. Sua origem, no entanto, ainda não é de todo compreendida.

No Ocidente, e essenismo surgiu com a divulgação dos escritos de Szekely e Ouseley. Na sua época, Szekely quase abandonou seus planos de difundir a doutrina quando a tradução rigorosa e detalhada que fez do segundo volume do Evangelho Essênio da Paz não contou com a aprovação de um amigo seu, o escritor Aldous Huxley, autor de Admirável Mundo Novo. “Isto está muito, muito ruim” disse-lhe Huxley, “é até pior do que o mais chato dos tratados enfadonhos dos escolásticos, que ninguém lê hoje em dia.” Szekely ficou sem fala. Huxley continuou: “Faça-a literária, legível e atraente para os leitores do século XX. Tenho certeza de que os essênios não falavam uns com os outros em notas de pé de página”. A crítica abalou Szekely e ele pôs de lado o trabalho durante muito tempo. Mas, anos mais tarde, seguiu o conselho do amigo e reescreveu o manuscrito inteiro em linguagem contemporânea, mais coloquial. Foi um sucesso. O livro, publicado em 1928, já foi traduzido para dezenas de línguas e vendeu milhões de exemplares em todo o mundo. Com o respaldo editorial, Szekely construiu em 1940 um SPA no México onde praticava tratamentos com base nas práticas essênias. Cerca de 350.000 pessoas já se hospedaram no chamado Rancho La Puerta nos seus sessenta anos de existência. Até hoje, muitas pessoas vão ao lugar em busca de um estilo de vida baseado nos ensinamentos de Szekely, que inclui exercícios, meditação e, principalmente, dieta vegetariana.

A alimentação possui um papel central na doutrina encontrada nos evangelhos de Szekely e Ouseley. Ao afirmarem que Jesus era frugívero, ou seja, que ingeria apenas alimentos que não significavam a morte de nenhum ser vivo, como folhas e frutos, eles pregam que as refeições devem ser um momento de compaixão e comunhão com Deus. O contato com a natureza é essencial. Tanto que os novos essênios possuem uma planta em todos os cômodos de sua casa.

Os essênios permanecem como um assunto vivo. Os pergaminhos e evangelhos que eles deixaram são exaustivamente estudados por cientistas e religiosos do mundo inteiro. Seus ensinamentos recrutam milhares de fiéis e, qualquer que seja a relação que mantiveram com Cristo, deixaram, sem dúvida, sua influência impressa no coração e na mente do cristianismo.

Agora, os essênios jamais iriam imaginar que, uma certa imperatriz, Teodora, ao ter contato e ficar preocupada com seus ensinamentos sobre a ressurreição, fosse induzir no cristianismo nascente a retirada deste importante mecanismo da nossa evolução e deixou os católicos e a quase totalidade das igrejas cristãs, muito mais submissos à dogmas.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 09/11/2017 às 08h03
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